O mundo e o Brasil vivem hoje várias crises (crise do capitalismo neoliberal especulativo, crise do Estado-nação, crise ética e cultural, crise de representatividade política, crise do Estado de direito), mas nenhuma supera a crise de confiança, que constitui a causa primordial das frustrações, insatisfações, iras e indignações populares. Não se confia mais no Estado, nem no modelo capitalista praticado atualmente (em razão das suas injustiças e dos seus desvios), nem nas instituições (políticas, jurídicas, educativas, da saúde etc.).
Pesquisa nacional do Ibope, chamada Índice de Confiança Social, feita anualmente desde 2009 e divulgada em 01.08.13 (O Estado de S. Paulo de 02.08.13, p. A8) revela que todas as 18 instituições pesquisadas, ineditamente, perderam (em maior ou menor grau) a confiança dos brasileiros. A média ficou em 47 pontos (contra 54, do ano de 2012, e 58 em 2009). A confiança na presidente da República foi a que mais caiu (perdeu 21 pontos em um ano – baixou de 63 para 42, ou seja, menos 33%), mas nenhuma escapou da insatisfação massiva externada nos protestos de junho. O Congresso e os partidos políticos são as instituições menos confiáveis do País (com 29 e 25 pontos, respectivamente), desde 2009. Bombeiros ficaram com 77 pontos (queda de 7%), Igrejas com 66 pontos (queda de 7%), Governo Municipal com 41 pontos (queda de 9%) etc.
Em julho de 2013 foram registradas crise de confiança no governo e na economia (pesquisa da CNT/MDA), queda na confiança do empresário industrial (pesquisa da CNI) e queda na expectativa dos novos empregos (aliás, em junho, o desemprego atingiu a marca de 6% e isso se deve ao desânimo dos empresários para abrir ou ampliar negócios e o consequente temor por menos vagas). A sensação é de que a “era de ouro” do emprego no Brasil está correndo sério risco, seja porque os EUA estão se recuperando, seja porque a China está com seu crescimento estacionado (o que significa menos exportações dos nossos produtos, das comodities). Ambiente externo menos favorável mais os protestos deixam os agentes econômicos mais cautelosos (para não dizer parados, à espera do que virá amanhã). Não falta capital para os investimos privados e ampliação dos negócios, sim, confiança. Em julho o Índice de Confiança da Indústria foi 3,6% mais baixo que junho (FGV – O Estado de S. Paulo de 23.07.13, p. A3). O Índice de Confiança do Consumidor caiu (em julho) 4,1% (segundo a FGV).
Grande parcela da população considera que as principais instituições do país são, ademais, corruptas ou muito corruptas: em primeiro lugar vêm os partidos políticos, que são corruptos ou muito corruptos para 81% dos brasileiros, conforme pesquisa Ibope divulgada em 08.07.13, pela Transparência Internacional. Quatro em cada cinco pessoas não acreditam na representação política do País (O Estado de S. Paulo de 09.07.13, p. A4). O Congresso é corrupto ou muito corrupto para 72% dos entrevistados; Polícia: para 70% (é corrupta ou muito corrupta); Sistema de Saúde: para 55%; Judiciário: para 50%; Funcionalismo público: para 46%; Imprensa: para 38%; ONGs: para 35%; Militares: para 30%.
A consequência drástica desse grave quadro de desconfiança é a seguinte: em primeiro lugar, rompe-se a coesão social. A fratura gerada pela desconfiança faz desmoronar o contrato social, quebrando os vínculos associativos, dando ao indivíduo a sensação de isolamento, de impotência, o que lhe conduz a lutar pela sua sobrevivência (quando tudo está se desmoronando, especialmente a esperança num futuro melhor, só resta ao cidadão acuado a luta individual pela sobrevivência). De outro lado, é de se presumir que a falta de confiança (no Brasil) possa afetar, no campo econômico, em primeiríssima mão, os investidores estrangeiros (que pensarão duas vezes antes de jogarem mais dinheiro no nosso país), assim como os turistas (em 2012 o Brasil, com 65 bilhões de dólares investidos, ficou em quarto lugar em volume de investimentos estrangeiros, atrás dos EUA - 168 bilhões -, China – 121 bilhões - e Hong Kong – 75 bilhões – Carta Capital de 03.07.13, p. 51). Um outro efeito da crise de confiança diz respeito aos votos nulo e branco. Eles podem chegar a mais de 15% (como fruto da desilusão) (veja a 114ª pesquisa da CNT/MDA, feita em julho de 2013). Todos os que perderem a esperança no futuro do País tendem a anular o voto.
Tudo o que acaba de ser evidenciado vai demandar um choque de gestão eficaz dos governantes (ainda que seja uma gestão de emergências), pois do contrário perderão o poder, que jamais se sustenta sem boa reputação, sem gerar confiança na população, nos investidores, nos turistas etc.
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