Se me perguntarem qual é a mais bela especialização da Medicina, respondo sem pestanejar: a Pediatria.
A família espera do pediatra que ele seja amigo, confidente, solidário, pronto para proporcionar conforto moral em qualquer situação. O pediatra é responsável pelo bem mais precioso que alguém pode ter: um filho, e mais que um filho, um filho pequenino.
Se todo médico tem obrigação de ouvir, o pediatra tem redobrado dever de ouvir.
Se o Juramento de Hipócrates deve acompanhar o médico no seu cotidiano, no caso do pediatra o Juramento de Hipócrates deve ser pronunciado de joelhos.
Se a Pediatria deve ser compreendida como a suprema altitude que a profissão médica pode alcançar, que dizer do pediatra que via em cada criança a seus cuidados o rosto do Deus Menino?
Com que palavras podemos reverenciar Rogério Coelho Vello, pediatra capixaba, que se debruçava com ternura e carinho diante de seus pequenos pacientes, como se cada um deles fosse testemunha de sua fidelidade ao sacerdócio médico, conforme depoimento emocionado que ouvi de Mães agradecidas, no dia em que o médico foi sepultado, em Vitória, no Cemitério Jardim da Paz?
Rogério tinha a compreensão de que seu trabalho de pediatra prolongava-se no seu grupo profissional. Deveria contribuir para o crescimento científico, ético e humano dos pediatras, especialmente dos jovens pediatras, motivo pelo qual foi sócio fundador da Sociedade Espírito-Santense de Pediatria.
Na Universidade Federal do Espírito Santo, além de professor dedicado, ocupando a cadeira de Pediatria, Rogério desenvolveu belíssimos trabalhos de extensão universitária, objetivando a educação para a maternidade, zelo no cuidado com a criança, melhoria de condições sanitárias de bairros pobres etc.
Rogério foi também um militante social, como decorrência de um compromisso de Fé. Exercitou esse papel na Comissão de “Justiça e Paz”, um grupo pluriprofissional e pluriconfessional, onde sua experiência de médico mostrou-se relevante. Foi o segundo presidente da CJP, sucedendo-me nesta função. Lembro-me de um episódio no qual Rogério foi ao mesmo tempo militante social e médico. Foi quando os despejados de Rosa da Penha foram abrigados na Catedral de Vitória. Cuidando de cada uma daquelas pobres criaturas, vacinando crianças e adultos, Rogério evitou que, naquele espaço sagrado, explodisse uma epidemia.
Referir-me a Rogério, que se comprometeu nas lutas pela Justiça com o Evangelho nas mãos, é muito importante no momento atual das Igrejas. Está muito corrente uma visão intimista de Fé: a Fé para consumo íntimo, para alívio de dores, explicitada através da oração. Não é que isto seja um desvio da Fé. A Fé é sustento nas angústias sim, mas não é apenas isso. A Fé é compromisso com a transformação do mundo, luta pela Justiça, exige que nos coloquemos do lado dos oprimidos para que se rompam os grilhões da opressão. A vida de Rogério testemunhou esta visão de Fé.
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