Escrevo este artigo dentro do apartamento 318 do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Daqui eu o enviarei pela internet para ser publicado em jornais do país.
O Hospital Sírio-Libanês foi fundado em 1921, por um grupo de mulheres da colônia sírio-libanesa de São Paulo, sob a liderança de Dona Adma Javet. Presentemente, uma neta de Dona Adma, Violeta, 101 anos de idade, faz parte da diretoria da Sociedade Beneficente de Mulheres, que mantém e administra o Hospital.
Estou neste apartamento como acompanhante de minha mulher, que se submeteu a uma intervenção coronariana realizada pelo Dr. Roberto Kalil Filho, médico altamente credenciado, neto de libaneses. Minha mulher está recebendo atencioso cuidado, quer do Dr. Roberto Kalil, quer de suas competentes e dedicadas assistentes – Dra. Ariane Vieira Scarlatelli Macedo, Dra. Marianna Andrade e Dra. Ana Maria Betin.
Há onze anos, neste mesmo hospital, invertia-se a situação: minha mulher era acompanhante e, eu, o paciente. Dr. Miguel Srouge, também descendente de libaneses, foi quem me operou naquela ocasião. Cheguei aos cuidados do Dr. Srougi por indicação do nosso respeitadíssimo médico Dr. Roberto Zanandréa. Ele mesmo competentíssimo cirurgião, com operações que tiveram pleno êxito, semelhantes àquela que eu deveria fazer, o Dr. Zanandréa, com a humildade que caracteriza os espíritos de escol, preferiu encaminhar-me a São Paulo dizendo que desejava que eu estivesse nas mãos de um grande cirurgião da área, no Brasil. De fato não exagerou o Dr. Roberto Zanandréa, minha cirurgia foi um êxito.
Foi e continua sendo extraordinariamente útil para o Brasil a imigração sírio-libanesa. Onde quer que haja, em nosso país, colônias de descendentes sírio-libaneses, essas pessoas têm características inconfundíveis: um grande amor ao trabalho, um espírito arraigado de família e uma grande capacidade de serviço ao bem comum. Jamais a alma sírio-libanesa restringe-se à preocupação com o crescimento da fortuna pessoal. Há sempre o empenho de estar a serviço da comunidade.
O Hospital Sírio-Libanês é um vigoroso exemplo do devotamento dos sírios e libaneses ao progresso e do compromisso deles para com a coletividade. É um hospital que não atende somente a quem pode pagar, mas também a muitas pessoas pobres. É uma instituição que contribui para o avanço da Ciência, especialmente através do Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP), mantido pelo Hospital.
Os Estados brasileiros, onde a imigração sírio-libanesa é mais forte, são Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Bahia.
As cidades capixabas que têm maior imigração sírio-libanesa são Vitória, Cachoeiro de Itapemirim e Alegre. As características do espírito sírio-libanês manifesta-se fortemente nesses três municípios.
Ali onde os sírios-libaneses estão localizados, é expressivo o compromisso deles com o bem comum. Nenhuma iniciativa útil à coletividade – hospitais, instituições educacionais e culturais, clubes de serviços – fica à margem da atuação e da diligência dos libaneses e dos sírios. Nada se faz em prol do povo que não conte com o apoio dos sírio-libaneses.
Se tivermos a curiosidade de verificar quais as pessoas que integram a diretoria de instituições beneficentes, ou comprometidas com o coletivo, ou voltadas ao interesse geral, diretorias onde se trabalha gratuitamente, ficaremos surpresos de constatar que sempre há libaneses ou sírios fazendo parte dessas diretorias.
De minha parte, devo dar um depoimento pessoal. A obra educacional erguida por meu Pai, em Cachoeiro de Itapemirim (ES), e levada avante por filhos e netos durante cinquenta anos, só foi possível graças ao apoio de um libanês – Oscar Chamon, cidadão exemplar, cujos descendentes até hoje prestam serviços ao povo capixaba. Oscar Chamon emprestou a meu Pai o dinheiro necessário para comprar o terreno que foi a semente da velha Escola de Comércio, escola que formou e preparou para a vida milhares de jovens cachoeirenses, alguns dos quais vieram a desempenhar papel relevante na vida da cidade, do Estado e até mesmo do país. O empréstimo foi feito sem juros e sem qualquer documento que comprovasse a entrega do dinheiro. Oscar Chamon compreendeu a importância social do projeto: uma escola profissional noturna que iria alcançar justamente os estudantes mais pobres, pois o ginásio público (o tradicional Liceu Muniz Freire) era, naquela época, exclusivamente diurno.
Precisa estar logado para fazer comentários.