RESUMO : O objetivo deste texto é demonstrar as características e vantagens do método de ensino jurídico baseado nas teorias de Kurt Lewin e Moreno e sua importância para a educação, sugerindo sua adequação e aplicabilidade como método de ensino jurídico direito. As teorias conjugam técnicas de jogos, dinâmicas de grupo e atividades lúdicas do psicodrama com objetivo de contribuir no combate das diferenças sócio-culturais e econômicas que são fatores de impedimento para desenvolvimento dos aspectos cognitivos da aprendizagem no curso superior de direito.
Palavras chave. Dinâmica de grupo. Método de ensino. Direito
ABSTRACT: The aim of this paper is to demonstrate the features and advantages of the method of teaching based on the theories of Kurt Lewin and Moreno and their importance for education, suggesting its appropriateness and applicability as a method of teaching legal right. Combine the techniques of game theory, group dynamics and psychodrama playing with the aim of helping combat the differences in socio-cultural and economic factors that are unable to develop the cognitive aspects of learning in higher education in law
Key words. Group dynamics. Teaching method. Law
1-Introdução
Pretendemos neste texto tratar sobre as descobertas e resultados positivos das teorias de Kurt Lewin e Jacob Moreno, no avanço da compreensão da importância da atividade em grupo, brincadeiras e jogos como forma de fortalecer o indivíduo com o grupo e o ambiente escolar no processo ensino aprendizagem e propor sua utilização ao ensino jurídico como método de ensino.
Vamos destacar ao longo do texto, alguns aspectos conceituais e práticos destas teorias para análise da possibilidade de aplicação deste método em cursos jurídicos cujo ‘mito’ foi construído em torno de um ensino tradicional e formal.
O questionamento que trazemos como proposta de análise seria: “Será que a Dinâmica de Grupo e o Psicodrama, teorias baseadas em estudos da psicologia social, cujos resultados de aplicação de atividades de jogos, brincadeiras lúdicas e sócio-educativas no processo de ensinar resultaram positivas, poderiam subsidiar qualitativamente o exercício da docência no ensino jurídico?
Estas teorias defendem a idéia de que os indivíduos de modo geral, têm origem em um grupo, passam a vida entre estes e outros grupos que se formam ao longo da sua vida conforme se desenvolvem, e se inserem a cada um deles, seja em razão do trabalho, estudo, atividade musical, desportiva ou religiosa dando origem a diversidade cultural cada vez mais forte.
Perrenoud (1986 p. 28) explica que as diferenças sociais, culturais e econômicas, colaboram para as desigualdades no ensino formal, assim cabe ao professor garantir que todos os alunos tenham acesso a uma cultura de base comum na luta contra estas diferenças.
Encontrar diferenças deve ser um fator de desenvolvimento de situações de aprendizagem diferenciada. Diferenciar o ensino é organizar as interações e atividades de modo que cada aluno se defronte constantemente com as situações didáticas que lhe sejam mais fecundas.
Afirma ainda que:
A diferenciação reconhece a força do grupo como oportunidade de educação mútua e de aprendizagem. O professor deve ser como animador, ajudar o grupo a construir sua identidade coletiva, aprender a trabalhar em grupo, tomar consciências de suas limitações e dificuldades, e passar agir de acordo com elas. (Perrenoud, 1986 p.16).
Ao se observar o ser humano no seu cotidiano, pode-se constatar o quanto é grande o tempo que ele passa reunido em grupo. Desde o convívio com a família, escolas, igrejas, trabalho e outras atividades como diversão ou guerra.
Este argumento é sustentado por Zander e Cartwritgt (1975) em seu livro ‘Dinâmica de Grupo - Pesquisa e Teoria’, existem uma série de questões que se relacionam justamente com essas colocações. Entre algumas delas seriam as condições necessárias para o desenvolvimento e funcionamento de um grupo eficiente, e como os grupos influenciam o comportamento, o pensamento, a motivação e o ajustamento dos indivíduos.
Obviamente, por esses motivos, que há muito tempo pesquisadores de diversas áreas, principalmente filósofos e psicólogos, dedicam-se a estudar os fenômenos grupais. Desde antiguidade, filósofos gregos como Platão, Sócrates e Aristóteles já introduziam a idéia de que uma melhor interação com os outros, um melhor conhecimento dos outros levava a um melhor conhecimento de si mesmo. Porém foi no século XX que uma forma de estudar os grupos, diferentes das anteriores, foi desenvolvida, chamada ‘Dinâmica de Grupo’.
A expressão Dinâmica de Grupo, desde 1935 era utilizada vagamente por vários autores, porém, somente em 1944 com Kurt Lewin, um psicólogo judeu alemão radicado nos Estados Unidos é que ela veio a ser usada oficialmente.
Até o começo do século XX, quem quisesse estudar sobre a natureza dos grupos teria que recorrer à experiência pessoal ou a explicações complexas e amplas de escritores que não viam a necessidade de uma cumulação de dados empíricos cuidadosamente reunidos. Assim que o estudo da Dinâmica de Grupo resultou de muitos estudos durante um período de vários anos em diversas disciplinas e áreas profissionais. Dentre estas áreas que encorajam e acreditam na aplicabilidade desta atividade estão: o serviço social, educação, psicoterapia e administração.
Historicamente falando a “Dinâmica de Grupo pode ser vista como produto da sociedade específica em que surgiu”. (Cartwrigt 1975). A sociedade americana da década de 30 ofereceu condições culturais e econômicas favoráveis e propícias para o desenvolvimento desta técnica.
Darwin Cartwright e Alvim Zander (1975 p. 36), colegas e discípulos de Kurt Lewin, escreveram a célebre e hoje clássica coletânea organizada em 1952 com outras reedições 1967 e 1975 a seguinte definição: “A Dinâmica de Grupo é um campo de pesquisa dedicado ao desenvolvimento de conhecimento sobre a natureza dos grupos as leis de seu desenvolvimento e suas inter relações com indivíduos, outros grupos e instituições mais amplas”.
Segundo Minicucci (1993, p. 29) a Dinâmica de Grupo “constitui um campo de pesquisa voltado ao estudo da natureza do grupo, às leis que regem o seu desenvolvimento, e às relações indivíduo-grupo, grupo-grupo, e grupos-instituição”.
No mesmo sentido é a opinião de Matta (1975, p.02) que define esta metodologia como:
Um campo de investigação social interdisciplinar que se dedica a pesquisa sistemática, seja básica ou aplicada, em torno do modo como os grupos sociais se formam, desenvolvem e desintegram como ele afetam a conduta do indivíduo que os compõe, como esta modifica o comportamento dos grupos e de que maneira se inter-relacionam indivíduos, grupos, e estes com a vida coletiva na sociedade maior.
Também Lima, (1979, p.217) desenvolveu no Brasil pesquisas pioneiras na divulgação da orientação piagetiana do trabalho de grupo. Segundo ele: “A Dinâmica de Grupo é a explicação de como se estabelece a interação entre os indivíduos que não nascem programados para interagir”.
O professor Balduíno Andreola traz sua contribuição afirmando que:
No mundo agitado em que vivemos marcados pela massificação, é urgente que se criem espaços para que a pessoa humana possa desabrochar a caminho de sua plenitude. Espaços onde se busque ultrapassar as formas de relacionamento marcadas pela máscara, pelos mecanismos inconscientes, pela agressividade, pela competição e pela dominação. Isto só poderá acontecer através da experiência do outro, através da vivência grupal, num clima de liberdade, de aceitação, de diálogo, de encontro, de comunicação e de comunhão. Este é o sentido da Dinâmica de Grupo.(Andreola 1991 p.16)
Ao se observar atentamente as várias conceituações acima, pode-se perceber como são semelhantes às de Zander e Cartwright no que diz respeito principalmente ao concordarem que a Dinâmica de Grupo, é um campo de pesquisa voltado ao estudo de como os grupos nascem, desenvolvem, acabam e também como o grupo influencia o indivíduo e vice-versa.
A explicação mais plausível é que a obra dos autores americanos é um clássico de referência mundial e uma das poucas sobre Dinâmica de Grupo, justificando assim a grande quantidade de consultas e versões.
2-A Teoria de Kurt Lewin - Dinâmica de Grupo.
Kurt Lewin, juntamente com outros dois pesquisadores Lippit e White, desenvolveram um estudo entre 1937 e 1940 na Iowa Child Welfare Reserch Station[1] considerado como o de maior influência nos primórdios da Dinâmica de Grupo. Neste período, mais precisamente 1939 a 1940, passou do interesse da psicologia individual como a frustração e regressão, para psicologia dos grupos, articulada e definida por referencia constante ao meio social no qual se formam, integram-se e desintegram-se.
O objetivo básico dessas pesquisas era :
Estudar a atmosfera de grupo e tipos de liderança. Eles se apoiaram nos progressos anteriores das ciências sociais e nas suas aplicações práticas. Porém conseguiram sintetizar as diversas tendências com grande originalidade e significação provocando grande impacto na época e inspirando pesquisadores ate hoje. Inclusive foi em seu artigo sobre tipos de liderança que Kurt Lewin utilizou pela primeira vez a expressão ‘Dinâmica de Grupo’.[2]
Primeiramente dedicou-se a estudar os grupos marginalizados, ou minorias psicológicas a partir da própria experiência como judeu. Com este trabalho chegou a duas conclusões:
Primeira toda exploração científica deve operar-se com referência á sociedade global na qual estes fenômenos se inserem; Segundo para abordar e interpretar estes fenômenos somente é possível com aproximação complementar do social e suas variáveis.(MAILHIOT 1977 p.45).
Com estas conclusões passou a opor-se às pesquisas laboratoriais para o estudo da psicologia social, pois as pesquisas só teriam valor se pudessem ser aplicadas e seus resultados constatados de forma eficaz e durável. Segundo ele, a pesquisa em psicologia de grupo deve originar-se de uma situação social concreta a modificar. (MAILHIOT, 1977 p.46)
Em seus estudos sobre resistências emotivas à mudança social, afirma que a adaptação social não pode definir-se operacionalmente. “Deduz que a conduta de todo indivíduo em grupo é determinada de uma parte, pela dinâmica dos fatos, e de outra pela dinâmica dos valores que percebe em cada situação”. (MAILHIOT 1977 p.57).
A mudança social implica em uma modificação do campo dinâmico no qual o grupo se encontra. Podem-se identificar três tipos de fenômenos distintos: os grupos não sentem nem experimentam nenhum desejo a evoluir é o caso de grupos conformistas; tentam mudar, mas esbarram na parte dos membros do grupo que tem interesses diversos, e o caso dos grupos compostos por indivíduos não-conformistas.
Em 1945, já professor em Harvard, funda a pedido do M.I.T. Massachusetts Instituto of. Technology, um centro de pesquisas em dinâmica de grupos, o ‘ Reserch Center for Group Dynamics’. Neste instituto, Lewin contribuía para criar um clima de “fervor intelectual excepcional, exigindo que tudo fosse discutido explorado e decidido pelo grupo como as hipóteses, objetivos, metodologia e experimentação, estabelecendo com seus colaboradores relações igualitárias”.
A metodologia desses cursos era um conjunto de atividades que consistia basicamente em estudos de casos, palestras, jogos de desempenho de papéis etc. Em 1946, em um desses cursos, os participantes por não terem o que fazer à noite, pediram aos observadores para que os deixassem assistir as reuniões em que estes trocavam informações sobre as atividades do dia.
Os alunos começaram então a reagir questionando e refletindo, quando tomaram conhecimento das observações feitas sobre eles. Assim, essas reuniões noturnas com objetivo de organizar as atividades do dia seguinte, tornaram-se um local de discussões acaloradas e interessantes.
Assim surgiu o T. Group- Traninig Group[3], segundo Maria Ferreira Aguiar ( 1989 p.99): “A grande contribuição de Kurt Lewin foi trazer para a psicologia o conceito de grupo como uma entidade psicossociológica com características próprias e a noção de que o comportamento de um indivíduo é altamente influenciado pelos vários grupos aos quais ele pertence. Por meio de contribuição de Lewin, tornou-se possível à abordagem científica dos processos grupais”.
A experiência preparada por Lewin no M.I.T., com seus colaboradores mostrou-se concludente.Eles descobriram que a produtividade de um grupo e sua eficiência estão estreitamente relacionada não somente com a competência de seus membros, mas sobretudo com solidariedade de suas relações interpessoais.
Esta experiência de Kurt Lewin influenciou também um psicólogo americano, professor em Harvard, W.C. Schutz. O resultado de seu trabalho foi publicado em 1958 que inclui ao mesmo tempo uma teoria de comportamento interpessoal e um instrumento que permite avaliar a qualidade funcional da teoria.
Durante o desenvolvimento dos jogos didáticos simula-se a ocorrência de fatos e situações reais ou hipotéticas. Nesse contexto, os jogos didáticos devem ser desenvolvidos tendo como base os objetivos docente-educativos, por meio da simulação das situações reais.
Gimenez (2003) lista os seguintes benefícios dos jogos didáticos: (abaixo transcrevemos na íntegra as condições indicadas pelo autor).
- Desenvolvimento agradável das aulas
- Formação e estímulo do interesse cognoscitivo
- Aumento da compreensão dos conteúdos
- Desenvolvimento das relações interpessoais e a formação de hábitos de convivência
- Desenvolvimento de atitudes e habilidades práticas.
Com a morte de Lewin em 1947, com 57 anos, o T. Group sofreu muitas influências de algumas tendências que já existiam na época e de outras que apareceram depois, o Psicodrama de Moreno.
3-A teoria de Jacob Moreno – Psicodrama e jogos lúdicos
Jacob Moreno é considerado um dos precursores da Dinâmica de Grupo juntamente com Kurt Lewin, mas inovador ao associar o trabalho de grupo ao teatro através do Psicodrama e do Sociodrama. Aliás, vale ressaltar que Moreno foi também pioneiro na utilização do grupo como elemento de Psicoterapia. Este associando ao modelo do teatro e ao trabalho de grupos introduziram terminologia própria em Dinâmica de Grupo, como Psicodrama, Sociograma, Sociometria, desempenho de papéis e outros.
Diniz, (1995, p.46) afirma que o trabalho de Moreno “consiste numa fundamentação sólida, tanto teórica quanto prática, o que significa seu método. O Psicodrama tem como apoio uma justificativa consistente e uma prática que o concretiza”.
Bernard Mailhiot (1977 p.49) ressalta que o foco no interesse no comportamento do grupo e suas atitudes sociais, é a diferença fundamental entre a obra de Moreno e Kurt Lewin. Moreno, antes e depois de Lewin, preocupou-se constantemente com o problema da socialização do ser humano, seus trabalhos, suas pesquisas e suas descobertas estiveram sempre polarizadas por aquilo que lhe parecia e sempre foi o problema fundamental da psicologia, que era determinar qual o momento mais propício ao aprendizado das atitudes sociais. Assim Moreno, não só teorizou como passou a desenvolver técnicas e instrumentos que favorecessem e facilitassem o aprendizado ou o re-aprendizado das atitudes sociais, enquanto que Lewin inicialmente interessou-se pelas pesquisas das diferenças e comportamento individual e posteriormente coletivas.
Weil (1967, p.55) indica que Mailhiot trabalhou no Centro de Pesquisas em Relações Humanas, Universidade de Montreal, e reestruturou as concepções atuais sobre o T-Group, apresentou seus estudos baseados na importância da presença de um monitor nos grupos e que os trabalhos se desenvolvem em duas fases principais, sendo a primeira quanto aos problemas da Dependência e Interdependência.
O psicodrama, o jogo do papel, e o sociodrama, constituem, para ele, tanto instrumentos pedagógicos como terapêuticos, conforme sejam utilizados para socializar ou re-socializar o ser humano.
No Psicodrama Terapêutico, a idéia era de que o indivíduo ao tentar desempenhar ou representar comportamentos, percebe-se preso pelo conjunto de papéis sociais que aprendeu durante sua vida e a possibilidade de liberação desse contexto rígido dá-se à medida que ele libera as suas emoções e sentimentos por meio do desempenho dramático. Através do Psicodrama é possível representar os papéis passados, os atuais e até os possíveis que a vida não permite assumir livremente. É importante ressaltar que para a prática do Psicodrama terapêutico se faz necessário que quem esteja coordenando tenha uma sólida formação terapêutica, além de aptidões específicas e formação filosófico–científicos para lidar com segurança diante das várias situações que se apresentam.
No Psicodrama Pedagógico, ao considerar a aplicação do seu método na educação, principalmente a espontaneidade, acreditava que este seria de grande ajuda tanto no aprendizado formal quanto no informal e, em 1923 já constatava que a principal tarefa da escola do futuro seria a de exercitar e formar a espontaneidade. “As implicações educacionais da técnica do Psicodrama, mais que jogos espontâneos, são também importantes. O processo de aquecimento é uma técnica educacional válida em muitos aspectos da educação”. (Weil 1967, p.51)
A pioneira na aplicação das técnicas dramáticas na educação foi a Maria Alicia Romana, pedagoga psicodramaticista, Argentina, radicada no Brasil que juntamente com Regina Monteiro, psicóloga e dramaticista paulista, as duas comungam a idéia de que o “Psicodrama pedagógico pode auxiliar o educador tanto diretamente na sala de aula para a transmissão de um conceito como para criação de um clima educacional para se chegar até ele”. (Monteiro 1994, p.92)
É importante destacar que se o Psicodrama se caracteriza entre outras coisas pela dramatização de conflitos intrapsíquicos liberando dificuldades e traumatismos, o Psicodrama Pedagógico não se aprofunda em problemas pessoais, não trabalha patologias, não remexe no passado e nas feridas de cada um, porém, apesar de pedagógico, acaba proporcionando benefícios terapêuticos.
Na escola, o Psicodrama deve ter uma abordagem metodológica, didática e ativa para poder produzir ao mesmo tempo a adequada aquisição de conhecimentos e uma educação para a espontaneidade. A improvisação espontânea pode ser um auxiliar eficaz para o aprendizado de conteúdos curriculares.
O Psicodrama Pedagógico pode ser utilizado por professores desde o ensino fundamental até universidade, sem esquecer também do importante papel que ele pode representar na empresas durante a seleção de pessoal e treinamentos.
Segundo Yozo: Atualmente o Psicodrama Pedagógico recebe várias denominações como Psicodrama Educacional, Organizacional e outros, com objetivo de especificar áreas de atuação. (Yozo, 1996 p.17).
Sobre a importância da presença de jogos ao ensino, Rodrigues, (1976 in Yozo 1996, p.16) considera que um jogo é: “dramático porque o prazer e a diversão se originam fundamentalmente na representação, ainda que o jogo possa envolver competição acaso ou habilidade, o foco do prazer do jogo dramático, não está em competir, ter sorte ou acertar”.
Pode-se perceber que o conceito de Jogos Dramáticos volta-se para o campo terapêutico ou para o campo aplicado, ou seja, organizacional ou pedagógico. Como o foco desta pesquisa não é área terapêutica e sim pedagógica, optou-se por destacar jogos dramáticos relacionados a esta área.
Yozo conceitua muito bem “Jogos Dramáticos” aplicados a contextos delimitados por regras e valores instituídos como empresas e escolas:
Jogos dramáticos são atividades que permite avaliar e desenvolver o grau de espontaneidade e criatividade do indivíduo através das suas características, estado de ânimo e emoções na obtenção e resolução de conflitos ligados aos objetivos propostos. (RODRIGUES, 1976 in YOZO 1996 p.17)
Os pensadores e autores dessa área são unânimes em afirmar que as diferenças entre Jogos dramáticos e Técnicas Psicodramáticas são tão pequenas que fica difícil demarcá-las, é mais fácil encontrar semelhanças como a improvisação, cena imprevista, o respeito e a valorização da espontaneidade.
Entre as diferenças observam-se que os Jogos Dramáticos possuem técnicas com estilos mais simples, mais livres sem normas rígidas, sem a presença de tanto componentes introduzidos em sua seqüência cênica como as técnicas psicodramáticas. Em outras palavras, no Psicodrama se imita uma ação e dá-se a ela uma significação mais intensa, porém no Jogo Dramático a imitação se satisfaz em si mesma.
Os Jogos Dramáticos quando utilizados no Psicodrama, tanto terapêuticos como pedagógico, seguem as mesmas etapas (aquecimento, dramatização e comentários) e utilizam os mesmos instrumentos (protagonistas, diretor, ego - auxiliar, cenário auditório).
O Jogo Dramático canaliza a ação do grupo, favorece um campo agradável, relaxado e livre de tensão: facilitando o fluxo da espontaneidade, beneficiando o Psicodrama. É muito importante conhecer as características do Jogo dramático para poder saber que jogo se quer utilizar e qual a sua finalidade e assim situar e classificar o papel do diretor/ facilitador/ professor. (Andreola 1991, p.54)
O primeiro recurso material é a sala de aula destinada às vivências. Ela deve ter o espaço adequado de acordo com número de participantes, boa iluminação, boa ventilação, almofadas de vários tamanhos e não ter interferências ou ruídos de qualquer espécie.
Outros tipos de materiais utilizados que devem ser preparados com antecedência são: lousa, giz, papel, canetas e bolas. Não se deve esquecer o recurso da música que deve ser utilizada de acordo com os objetivos propostos e do tipo do jogo escolhido. Musica instrumental não conhecida são preferíveis por oferecerem menor risco de relacionar com fatos da vida real.
Quanto aos participantes, alguns aspectos devem ser ressaltados para que se obtenham resultados favoráveis. É importante que as pessoas se vistam com roupas confortáveis, leves que permitam liberdade de movimentos.
4-Dinâmica de grupo, jogos e Psicodrama – considerações finais.
Estes Recursos Didáticos defendidos por Kurt Lewin e Moreno, podem ser aplicados ao curso de direito como metodologia jurídica?
De todo o exposto sobre as características, resultados de sua aplicabilidade em que o aluno aprende de uma forma muito mais satisfatória quando vivencia os conteúdos que lhe foram explicados do quando fica em nível apenas teórico, poderíamos afirmar que sua adequação a aplicação do ensino jurídico poderia trazer êxitos satisfatórios.
O ensino tradicional feito apenas através da linguagem verbal e da escrita, além de não ser eficaz, leva ao individualismo, o que não condiz com o mundo moderno de hoje, tão necessitado da integração social do homem. A proposta do educador que utiliza os chamados métodos de ação é justamente estimular o desenvolvimento do comportamento social do aluno, seu juízo crítico, suas criatividade, espontaneidade e criatividade.
Fazendo uma comparação entre ensino tradicional e o chamado ensino moderno observa-se que: no tradicional, além de ter o enfoque centrado na palavra, como já citado antes, a ordenação das cadeiras, uma atrás da outra, dificultam a interação e o aprendizado. Já no ensino moderno há uma imensa preocupação com os sofisticados equipamentos audiovisuais também dificultando a interação professor e aluno.
As técnicas psicodramáticas se utilizam a formação circular, proporcionando interação face-a-face, favorecendo a participação dos alunos e aumentando a interação entre os mesmos.
Para as crianças, é importante representarem papéis que irão desempenhar mais tarde, adaptando-se assim aos poucos ao mundo dos adultos. Para Diniz “Na representação muitas situações reais da própria vida são imitadas e simuladas, facilitando o entendimento de um problema, através da vivencia na dramatização”. (1995 p .79)
Em qualquer plano curricular, de qualquer disciplina, o Jogo Dramático e o Psicodrama Pedagógico podem ser utilizados, despertando a sala de aula em um local agradável e prazeroso. A escola não precisa ser um local aborrecido e constrangedor e sim um lugar que desenvolva o potencial do aluno e facilite seu crescimento pessoal.
O grupo para chegar ao ponto de aprendizagem, passa por diversas divergências que podem se amenizado com a aplicação de dinâmicas de grupo, objeto deste trabalho, que tem a finalidade primordial a de elaborar formas de interação e cooperação mútua.
A proposta do educador que utiliza os chamados métodos de ação é justamente efetivar os estímulos e o desenvolvimento do comportamento social do aluno, criticidade, criatividade e espontaneidade.
A experiência preparada por Lewin conforme descrito anteriormente mostrou-se concludente. Eles descobriram que a produtividade de um grupo e sua eficiência estão estreitamente relacionada não somente com a competência de seus membros, mas sobretudo com solidariedade de suas relações interpessoais.
Gerald Mailhiot (op. cit. p. 88) descreve que uma das hipóteses do aprendizado autêntico formulado por Kurt Lewin é que a integração não se realizará no interior de um grupo e em conseqüência, sua criatividade não poderá ser duradoura, enquanto as relações interpessoais entre todos os membros do grupo não estiverem baseadas em comunicações abertas, confiantes e adequadas.
Monteiro (1994, p. 95) defende que: “O elemento lúdico fica, então, como elemento essencial a todo processo de aprendizado. O jogo propicia o aquecimento para o aparecimento do processo espontaneidade criatividade aprendizagem”.
Para efetivar a motivação, a união do grupo, o principal instrumento a ser utilizado é o próprio professor. A realização do ensino depende deste, da sua ação didática ao conhecer o alunado, e ao adaptar os conteúdos. Motivar o ensino, é torná-lo tanto quanto agradável e interessante.
Theobaldo (1961.p.27-28)destaca que as fontes da motivação são entre outras as tendências instintivas, que são os fatores mais poderosos da aprendizagem infantil; os hábitos e os jogos e o meio ambiente, que valorizam o prazer de aprender brincando, imitando e experimentando.
Com a intenção de entender melhor o que é jogo, buscou-se a sua definição em alguns dicionários, que definem jogo como:
Jogo é “Exercício ou divertimento sujeito a regras determinadas, com ou sem apostas. Brincadeiras, folguedo, divertimento”.[4]
Outra definição: “jogo é atividade física ou mental organizada por um sistema de regras que definem a perda ou o ganho de brinquedo, passatempo, divertimento, jogo cênico, jogo de cena, dramático”.[5]
Observa-se nestas definições que jogar e brincar são palavras semelhantes no seu significado e extremamente relacionadas entre si. Muitos médicos, pedagogos e psicólogos dedicam-se a estudar a importância do brincar e do jogo em si para o desenvolvimento social, emocional e intelectual da criança como do adulto.
Ao oferecer oportunidades para o indivíduo brincar e jogar, terapeutas, pais e educadores estão permitindo que eles saiam da rotina, explorem com liberdade o mundo da imaginação. O homem assim como a criança busca o prazer. O brincar lhe proporciona isso, logo, o jogo lhe proporciona o prazer. Ao brincar, o homem não se sente constrangido, pois na sua concepção está apenas jogando.
Diniz (1995 p.61) explica que através do jogo, o indivíduo pode brincar naturalmente, testar hipóteses, explorar toda a sua espontaneidade criativa.
O que esta na essência do jogo é a capacidade de espontaneidade, o sentido de liberdade que o ser humano experimenta ao poder criar e imaginar. Porém é importante que ele queira jogar, caso contrário perde-se o sentido da espontaneidade e da liberdade do jogo.
Regina Monteiro também ressalta essa questão ao dizer que:
O jogo permite, pois ao homem, reencontrar sua liberdade, através não só de respostas, mas também na procura de formas novas para os desafios da vida, liberando sua espontaneidade criativa. O jogo nos devolve, na sua intensidade, uma fascinante energia que nos possibilita ir e vir, trocar e transformar, promovendo a descoberta, o encontro do homem consigo mesmo, com os outros e com Universo. (Monteiro 1994 p. 19)
Considerações finais.
É importante que se faça uma ressalva aos professores que se interessam por este assunto no sentido de que as técnicas de ‘Dinâmicas de Grupo’ não são fórmulas mágicas nem panacéia que possam resolver todos os problemas em sala de aula. O professor facilitador deve estar consciente que as técnicas de Dinâmica somente serão estratégias educacionais eficientes na medida em que estiverem embasadas numa visão interacionista de aprendizagem, isto é, a troca de influências entre professor e aluno, a participação ativa entre os próprios alunos, construindo e dando significado às situações de aprendizagem. Assim esta técnica pode ser implantada como filosofia de trabalho por todo corpo docente, inclusive do curso de direito desde que com objetivos bem delineados.
O professor também não deve se esquecer que por mais adequada que seja a estratégia metodológica adotada, ele deve dominar o conteúdo específico de sua disciplina, deve ser justo em suas avaliações e primar pela postura ética de um educador.
O propósito de sugerir esta teoria como método de ensino é uma contribuição aos docentes do curso de direito que sentem necessidade de conhecer mais sobre o processo didático metodológico de ensino, observando que cada professor, pode e deve buscar sempre diversificação em sua prática com objetivo de atender as necessidades e realidades diversas que se apresentam no cotidiano da práxis pedagógica.
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[1] Estação de pesquisa para o Bem estar da Criança Iowa.
[2] Vários autores como Minucci e Matta colocam o ano de 1944 como sendo a primeira vez que Lewin utiliza oficialmente esta expressão. Porem Cartwright & Zander, discípulos de Lewin, citam em 1939 para esta 1º publicação. Após exaustiva pesquisa não se conseguiu determinar o porque desse desencontro de informações.
[3] -Centro de pesquisa de Dinâmica de Grupo e grupo de treinamento de habilidades básicas.
[4] Larousse Cultural –Dicionário de Língua Portuguesa p.256
[5] Holanda.B. Novo dicionário da Língua Portuguesa pag.411
Graduada em Pedagogia pela Universidade de Cuiabá (2002); graduada em Direito pela Universidade de Cuiabá (1994);Especialista em Direito Empresarial (1996);Especialista em Direito Processual Civil (1997); Especialista em Docência do Ensino Superior (2005). Mestre em Educação pela Universidad Marta Abreu de Las Villas - Cuba (2005). Mestre em Educação Universidade Oeste Paulista- Unoeste ( 2010), doutoranda em Direito Universidade de Burgos Espanha (suspenso) e Doutoranda Educação Instituto de Educação Universidade de Lisboa. Professora no Estado de Mato Grosso desde1989 ensino básico e EJA, Docente do Ensino Superior desde 2000 com disciplinas de Direito Consumidor, direitos autorais e Falência. Atua como advogada em Direito Empresarial .
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: BARROS, Jessika Matos Paes de. Dinâmica de Grupo e o Psicodrama: Uma Proposta Metodológica ao Ensino Jurídico Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 24 jun 2009, 07:40. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/17681/dinamica-de-grupo-e-o-psicodrama-uma-proposta-metodologica-ao-ensino-juridico. Acesso em: 23 dez 2024.
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