(...) A JT reflete toda convalescente prestação jurisdicional do judiciário brasileiro, e por ser uma especializada, a lesão é do trabalhador, não bastando à morosidade, temos que conviver com o péssimo humor de serventuários no atendimento nos balcões, no interior das VT e até mesmo a juizite aguda”...
Cercada de incerteza, contrariedade e morosa, a justiça especializada é hoje uma caricatura da Carta Celetista idealizada em 1943, com permissa vênia deformada pelas injunções dos seus integrantes que pugnam pela reserva de mercado, em flagrante desafio a sua realidade material e jurisdicional. Compõem o elenco do artigo 7º da Carta Magna, sem contar as leis posteriores criadas com objetivo de fortalecer as conquistas do trabalhador, os direitos basilares do trabalho. Existindo este arcabouço de leis e jurisprudências, a priori não haveria a menor necessidade do juízo esbarrar em obstáculos a sua aplicação, a ponto de externar para sociedade que a causa da morosidade está na parte externa do sistema, ou seja: aquele que produz a causa e efeito é a própria sociedade, como se o juiz e o servidor não fossem parte deste segmento. Entendo que o judiciário laboral sofre da síndrome de “Paroski”, (Mauro Vasni) que vaticina: (...) há uma considerável redução da efetividade e da celeridade do processo e da eficiência da prestação jurisdicional, colocando as instituições judiciárias em condição de impotência, diante das atitudes procrastinatórias do litigante, transmitindo à opinião pública a impressão de que o sistema judiciário não funciona a contento, é lento, é ineficiente e é incapaz de resolver seus próprios problemas internos, o que dirá os problemas dos jurisdicionados (PAROSKI, 2008).
O preço de praticas lesivas as partes no jurisdicionado, causa efeito colateral na economia do país, quadro em que o governo por pressão da sociedade civil iniciou a partir das criticas a morosidade. Os julgadores da JT forjaram este modelo diferenciado de entrega da prestação jurídica, através de enunciados genéricos, arquitetado no Encontro de magistrados, organizado pela entidade classista Anamatra, na cidade de Salvador, no ano de 2001. Lógico que nesta oportunidade não foram tratados temas relativos a torneios de futebol, viagens turísticas e outros lazeres, forjou-se ali, o marco inicial de uma nova justiça laboral, a de que o juiz é o núcleo de toda estrutura de leis e jurisprudências. E tudo acontece sob regra do mencionado apoio da CLT, o Art. 765 - Os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas. E o mais manipulado o Art. 769 - Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título. Neste capitulo fonte, reside claramente, as injunções detectadas na lide trabalhista, começando porque o dispositivo celetista foi criado antes dos Códigos vigentes, (CPC, lei Fiscal, Lei do Consumidor).
Sendo as fontes subsidiárias, que permitem aos magistrados a utilização deste “expediente de forma deturpada” para mesclar suas decisões, é preciso bom senso para que se coloque na posição de legislador. Existe até certa razão quanto ao fator externo, um desses é a ineficácia da parte preventiva estatal junto aos empregadores. Há muito se fala na ampliação dos quadros da fiscalização trabalhista, a cargo do Ministério do Trabalho (são 3 mil em todo o país). Segundo estimativas, dado o crescente número empresas, seria necessário 12 mil, fiscalizado o cumprimento da legislação trabalhista, e seriam assim reduzidos os casos de sonegação de direitos e menor seria a demanda processual. Depois, a aprovação imediata de alterações nas Comissões de Conciliação Prévia, onde não se permitiria a intromissão dos juízes, duas estruturas administrativas que poderiam constituir poderoso instrumento de desobstrução da Justiça do Trabalho, com a composição autônoma dos litígios, mas que, por defeitos em sua estruturação, vem permitindo toda sorte de fraude contra os direitos dos trabalhadores. Por outro os legisladores ao invés de aprovarem dispositivos faz-de-conta, a exemplo da recente que criou a Certidão de Débitos Trabalhistas, tirem do elenco de proposta que compõe a reforma, aquelas que possibilitem reais condições de atender o clamor da sociedade.
No esteio da reforma trabalhista em curso no Congresso há 17 anos, o principal avanço é a redução da jornada de trabalho (de 44 para 40 horas semanais), alterando o art 7°, inciso XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho. Na anunciada reforma fatiada simulada nos oito anos do governo Lula, (2003 a 2010), na esteira do compromisso de “modernizar as relações de trabalho no Brasil”, em maio de 2003 foi constituindo o Fórum Nacional do Trabalho, uma instância tripartite com o objetivo de discutir as futuras alterações na legislação. Por imposição dos sindicalistas (leia-se CUT), o FNT decidiu iniciar as mudanças pela reforma sindical, sob o argumento de que era necessário primeiro fortalecer os interlocutores para depois discutir as alterações trabalhistas. No final de março de 2004, o FNT apresentou seu relatório final, mas o desfecho da reforma sindical só passou a ser analisado pelo Congresso em 2005 e finalizada em 2010. Lula fez a reforma sindical, mas deixou o “patinho feio”, da trabalhista para a sua companheira petista, presidenta Dilma Roussef.
O fato é que a CLT já passou por várias mudanças, e foi renovada na Constituição de 88, mas em momento algum, foram criados dispositivos capazes de estancar, por exemplo: a avalanche de informais. Números da FGV de 2005 indica que existiam 1,7 milhões de jovens aptos a ingressar no mercado de trabalho, mas, apenas 340 mil tiveram a carteira assinada, - onde se conclui que a reforma trabalhista, não resolverá este drama sócio laboral. No universo do trabalhismo, os números da negatividade avançam a cada ano, temos 5,4 milhões de aposentados que são obrigados a trabalhar para completar renda. Existe registro de que 3,5 milhões de crianças ajudam no sustento familiar; e 28 milhões de brasileiros trabalham acima das 44 horas semanais. Em 2050, informa o IBGE, seremos 259,8 milhões de brasileiros e nossa expectativa de vida, ao nascer, será de 81,3 anos, (a mesma dos japoneses). Em janeiro de 2004, a população brasileira ultrapassou os 180 milhões de habitantes (hoje é de 192 milhões). A duas principais cidades do País; São Paulo (10.838.581 habitantes) e Rio de Janeiro (6.051.399 habitantes), juntas são as responsáveis por quase 10% do total da população brasileira. Em suma cresce a população, com ela os problemas e o agudo mecanismo judicial acaba sendo o ancoradouro das mazelas sociais.
Especializada abriga um exército de mal humorados
Não é comum para advogados e partes que demandam no judiciário trabalhista serem recebidos nas varas, por juízes e serventuários solícitos, ao contrário (com algumas exceções), é um exército de mal humorados e impacientes, e por isso, quando as partes precisam interagir no interesse da causa processual, se torna um autêntico martírio. O fato é que a Justiça do Trabalho precisa ser direcionada para o desempenho de seu real papel de judiciário que prima pela solidariedade e humanismo. Vale registrar que a sociedade vem se manifestando incrédula e por isso não aceita o custo e a morosidade de uma ação trabalhista quando se vê que 68% da receita destinada à Justiça Federal é absorvida pela do Trabalho. Não temos a menor dúvida de que a JT está em rota de colisão com seu exterior, sua magistratura é personalíssima, propugna pela “reserva de mercado”, e trabalha isolada dos atores que compõe o universo laboral, estando por seguinte divorciada dos principais que são os, sindicatos, a Ordem dos Advogados do Brasil e do próprio legislativo.
Que avaliação seria melhor que as negativas já divulgadas, para um judiciário que opera o direito, a partir da prolação de uma sentença condenatória, se a efetiva e real entrega da prestação jurisdicional, com a execução do julgado, é demorada? Lembrando Rui Barbosa - Justiça tardia é injustiça. Números divulgados em 2010 pelo Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), apontavam que “a Justiça do Trabalho possibilitou a quitação de débitos trabalhistas da ordem de R$ 11,2 bilhões – um crescimento de 10,3% nos valores pagos em 2010 em comparação com 2009”. A nota no site do CSJT indica, que a “fase de execução processual persiste como o maior desafio da Justiça do Trabalho, na medida em que o índice de congestionamento nesse momento é de 69%”. No entanto enquanto os resultados positivos são anunciados, a prestação jurisdicional é decadente, com alvarás demorando meses para serem liberados, processos não são encontrados para vista do advogado, e se requerer a certidão incidente, (dificilmente o serventuário a entregará de pronto conforme manda a lei), os atos administrativos noticiados no sistema on-line, são verdadeiros desastres, na maioria dos casos não espelham exatamente o que o juiz decidiu.
Na execução (o calcanhar de Aquiles da JT), temos as maiores agressões ao direito, com latente agressão ao: art.5°, incisos LIV (“due process of law”), LXXVIII, parágrafo único, 184, 189, 190, 194 e 231 do CPC, c/c os art. 35, incisos I, II e III e 49, inciso II, parágrafo único da Loman, sem mais acréscimos, permissa venia este é o retrato disforme da JT. No ano passado o Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CJST) criou uma comissão para fazer levantamento da estrutura de todos os órgãos de primeiro e segundo graus da Justiça do Trabalho – instalações, equipamentos, material e recursos humanos – para apresentar sugestão de uniformização de todas as instalações do país. O objetivo era uniformizar o atendimento dos 24 Tribunais e 1.363 Varas do Trabalho e o TST, mas decorridos 15 meses pouco se tem notícia da implementação do projeto. Na mesma oportunidade o CSJT, criou uma assessoria de Relações Institucionais, com objetivo de centralizar as atividades relativas ao acompanhamento e tramitação de projetos de leis e processos de interesse da Justiça do Trabalho nos órgãos e poderes federais, que está funcionando com resultados satisfatórios para os magistrados.
A JT reflete toda convalescente prestação jurisdicional do judiciário brasileiro, e por ser uma especializada, a lesão é do trabalhador, não bastando à morosidade, temos que conviver com o péssimo humor de serventuários no atendimento nos balcões, no interior das VT e até mesmo a juizite aguda. O judiciário não é barato, o poder público gastou mais em 2008 para manter a máquina funcionando (mal) do que no ano anterior. Dados compilados pelo CNJ revelam que tribunais e varas de todo o país precisaram de R$ 33,5 bilhões no ano passado para garantir a prestação do serviço. Em 2007, a despesa foi de R$ 29,2 bilhões. O levantamento mostra, ainda, que em 2008 chegaram mais processos à Justiça do que no ano anterior. Em comparação ao número de habitantes, o Judiciário gastou R$ 177,04 por brasileiro em 2008, exatamente R$ 48,80 por habitante, contra R$ 43,55 em 2007. No ano anterior, foi registrado o custo de R$ 158,87 por habitante. Embora os gastos e a demanda tenham aumentado, o número de juízes brasileiros se manteve praticamente o mesmo: em 2007, havia 15.623 profissionais. No ano seguinte, 15.731. O número atual de juízes é considerado baixo - 7,78 por grupo de 100 mil brasileiros. A Justiça do Trabalho custou R$ 9,2 bilhões, dos quais R$ 8,5 bilhões referem-se à folha de pagamento. (fonte: CNJ).
Voltando ao nosso tema central, destaco que o DO da União publicou a Lei nº 12.440 de 7 de julho de 2011, sancionada pela presidenta da República, Dilma Roussef. A referida lei inclui na CLT o título VII-A, que instituiu a Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas, "expedida gratuita e eletronicamente para comprovar a inexistência de débitos inadimplidos perante a Justiça do Trabalho". A princípio este mecanismo acena como o antídoto para os maus pagadores, mas olhando os apontamentos no Serasa, concluímos que existe um percentual residual permanente no calote brasileiro, onde ironicamente a União dá o mau exemplo, com a “bandalheira” dos precatórios. Assim o CDNT breca o interessado, que não obterá a certidão quando em seu nome constar o inadimplemento de obrigações estabelecida em sentença condenatória transitada em julgado, proferida pela Justiça do Trabalho, ou em acordos, inclusive no tocante aos recolhimentos previdenciários, honorários, custas, emolumentos, ou o inadimplemento de obrigações decorrentes de execução de acordos firmados perante o Ministério Público do Trabalho ou Comissão de Conciliação Prévia. Ocorre que não existe na Lei, ressalva, e todos os devedores serão negativados, inclusive o micro empresário. Perigo maior é quanto o acionamento do dispositivo por parte dos juízes do trabalho, que no afã de resolver a execução, cadastra prematuramente o titulo no órgão de protesto sem o transito julgado na execução.
Foi diretor de Relações Internacionais da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), editor do Jornal da Cidade, subeditor do Jornal Tribuna da Imprensa, correspondente internacional, juiz do trabalho no regime paritário, tendo composto a Sétima e Nona Turmas e a Seção de Dissídios Coletivos - SEDIC, é membro da Associação Brasileira de Imprensa - ABI, escritor, jornalista, radialista, palestrante na área de RH, cursou sociologia, direito, é consultor sindical, no setor privado é diretor de RH, especialista em Arbitragem (Lei 9.307/96). Membro da Associação Sulamericana de Arbitragem - ASASUL, titular da Coluna Justiça do Trabalho do jornal "Tribuna da Imprensa" do RJ, (Tribuna online), colunista da Tribuna da Imprensa online), no judiciário brasileiro.
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: PINHO, Roberto Monteiro. Lenta e caricata JT é um mar de incerteza Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 20 jul 2011, 05:15. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/25036/lenta-e-caricata-jt-e-um-mar-de-incerteza. Acesso em: 29 set 2024.
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