Normalmente os protestos massivos, inclusive em rede, nascem para derrubar um ditador (luta pela liberdade: foi isso que ocorreu no Egito, por exemplo, contra Mubarak; isso também ocorreu no Brasil contra a ditadura militar) ou por causa de uma grave crise econômica local (luta pelo pão, pela sobrevivência imediata). Nossos protestos (na jornada de junho) não se encaixam nesses figurinos (nesses leitos de Procusto). Quem não captar a singularidade da nossa indignação massiva terá muita dificuldade em pensar nas soluções para nossos problemas.
Considerando que minha preocupação é entender e desvendar todas as nuances dos protestos massivos de junho, não tenho intenção nem interesse em defender os petistas, mas, neste ponto, uma análise isenta e sincera nos conduz a afirmar que não parece correto (ou totalmente correto) assinalar que estamos vivendo uma séria crise econômica. Há problemas vários (sendo muito acertadas algumas críticas contra a condução da economia: muito centralizadora, intervencionista em excesso, protecionista, eleitoreira, populista, clientelista etc.), mas ainda não atingimos o estágio de uma grave crise econômica (como a do Egito, por exemplo).
Luís Eduardo Assis (O Estado de S. Paulo de 08.07.13, p. B2), desde uma perspectiva prudente e sensata, foi ao ponto: “A economia brasileira não está em crise [ao menos não está em crise aguda; a prova disso é que ninguém saiu às ruas para pedir a queda do ministro da economia; nem a queda do governo pela ingovernabilidade econômica]; a inflação não escapou do controle [está sob sério risco de descontrole, visto que os mais pobres já sentem o seu peso no bolso, mas ainda está dentro dos patamares previstos]; não existe ameaça imediata de recessão [pode ser que o PIB não cresça o que se esperava – 3% -, mas ninguém está afirmando que o trem da economia, que está lento, vai começar a andar para trás]; Nem mesmo o economista mais infausto deixa de admitir que o PIB de 2013 crescerá mais do que no ano passado [por ora, esse é o quadro; o PIB baixo, aliás, não foi o alvo central dos protestos]; a taxa de desemprego aberto (5,8% em maio) é uma das mais baixas da história e causa inveja aos países ricos [mas os sinais de maio indicam que vamos ter complicação nesse item]; A inflação mensal acumulada nos últimos 12 meses é alta (6,5%), mas nos últimos dez anos ela superou esse patamar nada menos que 32 vezes. O saldo líquido de contratações e admissões com carteira assinada aponta a criação de 533 mil novos empregos em 2013. O custo da cesta básica em São Paulo representava 50% do valor do salário mínimo em maio, a mesma proporção registrada para a média dos últimos cinco anos. O rendimento médio real das pessoas ocupadas em 2013 ficou em R$ 1.864,44 nos primeiros quatro meses de 2013, 5,5% maior que o rendimento médio de 2010, ano de forte crescimento do produto. A inadimplência das pessoas físicas vem caindo sistematicamente depois de ter alcançado 6% dos empréstimos em maio do ano passado.
O trem da economia não parou, mas está andando devagar
Conclusão do articulista (Luís Eduardo Assis): “Devidamente torturados, portanto, os dados recentes da conjuntura confessam que não estamos diante de um quadro agudo de crise econômica. Mas isso não significa que tudo vai bem. Desde 2012 estamos vivendo uma forte reversão de expectativas. O trem continua andando para frente, mas a velocidade se reduziu drasticamente, forçando as pessoas a reagendarem seus compromissos. O PIB no período Dilma crescerá cerca de 6%, contra 43% na primeira década deste século. É muito pouco. A evolução do produto per capita desde 2010 está em 1,2% ao ano. Nesse ritmo demoraremos 60 anos para alcançar a renda per capita da Grécia, país que pouco serve para o imaginário do brasileiro”.
A falta de confiança no futuro, em razão das baixas perspectivas de crescimento, sobretudo das classes D e C, constitui um dos fortes motivos dos protestos. O país do futuro, de repente, mostra uma roupagem de país sem futuro. Avante Brasil!
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