Os 25 “quadrilheiros da república”, como disse o ministro Celso de Mello, foram condenados a 268 anos e 8 meses de prisão, o que equivale às condenações (pela média brasileira) de 30 a 35 homicídios. Muitos acharão pouco! Nenhuma sentença consegue agradar todo mundo. Mas para quem está por dentro do funcionamento do Judiciário brasileiro, sabe que as penas não foram brandas (nem tampouco os crimes foram de menor importância, porque em jogo estava a democracia). Como se vê, o STF, embora retardatariamente, reagiu com inusitado rigor (se tomamos como referência os parâmetros brasileiros). E reafirmou a tendência (antes rara) de que rico também pode ser condenado e ir para a cadeia (como veremos nos próximos dias). O STF com sua sentença está dando um basta ao parasitismo sugador (corrupção, neoescravagismo), que é uma das raízes do Brasil atrasado (ao lado do ignorantismo e do selvagerismo). Pena é que tudo isso faz parte da nossa formação cultural (M. Bomfim, A América Latina) e cultura não se muda da noite para o dia. Mas se a mudança nunca começar, a cultura nunca muda.
Do total das penas dos mensaleiros (268 anos e 8 meses), 31 anos estão em jogo no novo recurso (ou seja: 11,53%). Isso significa que 88,47% já se tornaram indiscutíveis. Serão cumpridos inicialmente em regime fechado ou regime semiaberto (conforme o caso). Dentro de poucos dias começam a sair os mandados de prisão (quem viver, verá). A mídia perdeu uma grande oportunidade de explicar didaticamente para o povo o que é o devido processo legal. É que ninguém pode ser condenado criminalmente sem observância das leis. Se as leis são ruins, que sejam mudadas. Que todos os parasitas e corruptos devam pagar pelo que fizeram está muito certo (pouco importando se são do PT, PSDB ou qualquer outro partido, banqueiros ou operários etc.)! Mas ninguém pode ser processado e condenado sem a observância do devido processo legal. A punidade depende, em todos os países civilizados do mundo, da tecnicidade (que não se confunde com malandragens processuais – chicanas). Em outras palavras, tecnicidade não é impunidade, é respeito ao Estado democrático de Direito (porque tecnicidade não se confunde com chicanas).
Que pena que a mídia manipuladora, no caso mensalão, só exaltou a necessidade de condenação (nisso está certa), mas não explicou para a população o correto funcionamento da Justiça, que poderia ter evoluído democraticamente nesse ponto. Que pena que essa mesma mídia não explicou que Celso de Mello apenas cumpriu o que está na lei (lei essa que o Congresso Nacional não quis revogar em 1998). As penas em breve já começarão a ser executadas, o malfeito dos parasitas foi censurado. A ética determina que assim seja. Mas foi descomunal o quanto a grande mídia mentiu para a população nesses últimos dias, aproveitando a emoção gerada pela justa indignação generalizada contra os mensaleiros. O “efeito mídia”, nesses dias, foi devastador. E tudo por uma manipulação dela mesma. Minha indignação com o parasitismo dos mensaleiros atingiu o mesmo nível diante das malandragens e manipulações midiáticas, que surfaram nas ondas do ódio na internet, que nada tem contribuído para o melhoramento da humanidade (veja “Viral Hate – Containing its spread on the internet – Foxman e Wolf; e Reprodução, de Bernardo Carvalho). Tão nefasta quanto a impunidade dos parasitas sugadores da república, é a existência de uma mídia manipuladora dos ódios da internet.
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