Na manhã do dia 06 de maio, policiais civis do Rio de Janeiro entraram no morro do jacarezinho, zona norte do Rio, com o intuito de cumprir mandados de buscas e prisões. Uma das maiores favelas cariocas, subjugadas pelo tráfico e o estado, quando lá chegou, dezenas de baixa, tanto das força de segurança como da comunidade.
Jacarezinho, 37 mil habitantes, considerada uma das favelas mais negras do Brasil, vive sob o jugo da facção Comando Vermelho. Sim, há uma facção lá, que comanda, impõe o medo, comercializa drogas e subjuga pessoas, pois o Estado não consegue suprir as necessidades daquela população, a qual em sua maioria, trabalha, sonha e tem o direito de melhores condições de vida.
Em outro viés, o Estado, representado pela polícia, através de uma operação planejada, adentrou em um lugar hostil, imprevisível, no qual um policial foi abatido. As mortes foram necessárias? A polícia errou? foi arbitrária? A operação mais sangrenta do Rio de Janeiro? Muitos já opinaram! “Especialistas” ou palpiteiros das mais diversas áreas indigitaram e julgaram o Estado como culpado. Não ouso me pronunciar sob o acontecido, pois lá não estava, mas a polícia carioca tem atributos para planejar e adentrar em cenários sensíveis e beligerantes.
Uma coisa é fato. Essa violência não vai parar, pois quando se fala em polícia, população, facção e morte, induz-se ao termo consequência. Não se pode tentar falar em diminuição de índices, sensação de segurança, paz social, pensando só em polícia, coerção e imperatividade da administração pública. Agindo assim, estamos atirando apenas na consequência e tangenciando as causas. A violência não é um problema só policial, mas desemboca na segurança pública. Ao comparar com uma partida de futebol, quanto menos aparece o árbitro, é porque o jogo transcorreu sem violência e por consequência, houve uma boa partida. Em contrapartida, no Estado em que o assunto é a polícia, a violência prepondera e o povo sobrevive.
No ano de 2008, o Rio de Janeiro lançou a política das UPPS – Unidades de Polícia Pacificadora – a qual foi inserida no seio das comunidades violentas com o fito de desarticular as associações criminosas que ali agiam. Rememoro a espetacularização fomentada diante da instalação da célula do Complexo do Alemão. Escroques corriam, a mídia filmava e o povo comemorava. Cheguei a imaginar que após aquela fuga, os egressos da comunidade estariam tirando suas carteiras de trabalho ou estudando para concursos. No ano seguinte, assisti a uma palestra do então Secretário de Segurança do Rio, após a instalação das 38 fases do projeto. Bradava o representante da segurança que chegou a ser cotado, á época, para ocupar a cadeira do chefe do executivo: - “não podemos ficar só, necessitamos de atuação conjunta de outros órgãos”.
Isso não aconteceu, as UPPS tiveram a sua epopeia, mas naufragaram. A voz de Beltrame quedou-se inerte, ou seja, a polícia não conseguiu agir sozinha, sem políticas públicas que caminhassem paralelamente. O Estado do Rio e a União têm que reconhecer que chafurdaram e várias gerações se perderam. As instituições encontram-se incrédulas, sem respaldo social, impregnada por corruptos, isto é, um Estado em que em um retrospecto não muito distante, teve um governador impedido, dois pretéritos que experimentaram o cárcere e a cúpula da assembleia legislativa e do tribunal de contas estadual seguiu pelo mesmo atalho. Não só o Rio, mas o Brasil deve clamar por uma educação de qualidade das próximas gerações, propiciando a todos, saúde, saneamento básico, junto a uma polícia de qualidade, com salários dignos e atraentes para bons profissionais. Não é justo e prudente tratar o povo das favelas como indignos. Jacarezinho, local que nos abrilhantou com o Rumba Gabriel e o craque e hoje senador Romário, é palco deste sistema que aliena, discrimina e pune sumariamente os pobres e negros que foram colocados compulsoriamente às margens.
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