A aprendizagem organizacional tem como pano de fundo a gestão da informação (BEMFICA, BORGES, 1999). Nas organizações modernas, prolifera a construção de modelos de aquisição de conhecimento organizacional baseado em infra-estruturas e sistemas em redes que se tornam fontes básicas de informação acessível por todas as pessoas e setores na busca de significados para a solução de problemas.
No contexto da investigação criminal, ou seja, acerca de como obter aprendizagem por meio de um processo cognitivo, é necessária uma abordagem menos fundamentada e mais pragmática do tema da informação como recurso essencial à investigação criminal. Conceitualmente, informações é em larga medida, instrumental, e matéria prima da investigação criminal.
A Investigação criminal é um conjunto de procedimentos para o esclarecimento de fato delituoso e descoberta de autoria. É um conjunto de providências informativas desenvolvidas para esclarecer condutas criminosas. Tem como base a instrução, conjunto de dados e informações coletados para formar a convicção.
Nesse sentido as organizações policiais não podem prescindir de enormes avanços em infra-estrutura tecnológica em relação ao próprio funcionamento e no tratamento de quantidade imensurável de informações, incrementando áreas específicas de análise e gestão do conhecimento, comunicação formal e informal, administração de redes e logística.
A questão básica se refere à efetiva estrutura de gestão da informação, promovendo uma adaptação do sistema e reconstrução de procedimentos para a inovação da investigação criminal, tecnicidade, análise e integração de bases informacionais. Na essência, o processo conduz as organizações policiais para aumento da capacidade investigativa com visão de contexto, global e em rede multidimensional, cujo processo caminha para a multiplicação de de habilidades, gerando aprendizagem contínua. Isso demonstra de forma pragmática a necessidade de alteração de procedimentos investigativos e reestruturação do circuito do método e o fluxo da informação.
A atualização da doutrina da investigação criminal ocorre pelo ciclo de aprendizagem que envolve a crítica de várias regras empíricas, tradicionais, procedimentos e o funcionamento do processo atual. Uma das grandes barreiras é a legislação processual penal. Entretanto, há uma relevante importância no processo de coleta, armazenamento, interpretação e análise da informação, cujo principal resultado é inovar os procedimentos investigativos.
O que muda na organização policial é a perspectiva de visão dos fatos que ocorrem no ambiente social, principalmente em casos complexos. Alguns fatores evidenciam a capacidade de visão ampliada do crime e as vezes preditiva na aplicação da análise de vínculos:
• Rápida identificação de relacionamentos, participação, co-autoria e associação;
• Capacidade aumentada pela extração de volume de informações e fluxo de comunicações entre criminosos, gerado pela análise dos dados de ligações decorrentes da interceptação telefônica;
• Verificação da movimentação financeira e ramificações de contas bancárias (lavagem de dinheiro);
• Constatação de transferência de bens móveis e imóveis;
• Demonstração gráfica do movimento do crime pela análise do posicionamento de sinais nas estações de rádio base das operadoras de telefonia;
• Detecção instantânea do vínculo e reatividade de pessoas com fatos e ocorrências armazenadas;
• Localização textual de argumentos e palavras nas bases armazenadas em tempo real e associação de documentos e textos referente a assuntos semelhantes;
• Visualização de várias entidades num mesmo gráfico, sendo que entidade é uma representação para identificar a natureza das informações no sistema.
Além dos aspectos acima, a organização policial ganha em celeridade das demais atividades acessórias, a partir da condição de que todos têm acesso ao conhecimento novo armazenado no “Cérebro de Informações” da Organização. No nível estratégico, a memória de inúmeros casos solucionados, evita-se diligências repetitivas para a busca de informações, ou seja, retrabalho cumulativo.
No nível operacional, principalmente pelo exercício do monitoramento, os setores investigativos conseguem detectar uma re-atividade de ações e de criminosos que agem novamente com outros comparsas, podendo-se ainda, pela ação da Inteligência, se antecipar na identificação de conexões de grupos (quadrilhas) com outros grupos e sua atuação interestadual.
Dependendo da massa de informações que o investigador obtém e a complexidade das relações ilícitas possíveis que surgem no caso investigado, ele passa a ter dificuldades de estabelecer as conexões lógicas dos fatos e realizar as associações necessárias entre pessoas, empresas, objetos etc. É nesta situação que um sistema (processo de fluxo de informação) como se fossem neurônios apresenta sua importância, bem como a atuação do analista que interage entre o investigador e a tecnologia.
Não é difícil deduzir que em pouco tempo todo investigador tornar-se-á um analista e fará uso da análise antes da investigação, operando a rede de conhecimento, obtendo uma aprendizagem dinâmica a cada situação nova.
De acordo com Choo (2003), o conhecimento reside na mente dos indivíduos, e esse conhecimento pessoal precisa ser convertido em conhecimento que possa ser partilhado e transformado. Quando existe conhecimento suficiente, a organização está preparada para a ação e escolhe seu curso racionalmente, de acordo com os objetivos.
As organizações policiais articuladas para a aprendizagem adquirem uma compreensão de que a ação eficaz é devido ao resultado dinâmico de relações entre informações, eficiência potencial e relacionamentos interpessoais, eficiência real, permitindo modificações substanciais nos seus procedimentos.
Para Chiavenato (2004) a eficiência potencial compreende as tarefas, instalações físicas, equipamentos e instrumentos utilizados, envolve a tecnologia e a operação das tarefas. A eficiência real compreende as pessoas, sua características físicas e psicológicas, relações sociais entre indivíduos encarregados da tarefa e sua organização formal e informal na situação de trabalho.
Na verdade, a soma de habilidades (experiência e análise com tecnologia) torna-se relevante para a organização, pois estabelece um curso de aprendizagem conjunta. Senge (2006) afirma que habilidades desenvolvidas em equipes podem propagar para outros indivíduos e outras equipes e definir o ritmo da organização, estabelecer um padrão para a aprendizagem conjunta de toda a organização.
BEMFICA, Juliana do Couto; BORGES, Mônica Erichsen Nassif. Aprendizagem organizacional e informação. Ci. Inf., Brasília, v. 28, n. 3, 1999. Disponível em: . Acesso em: 16/07/2007.
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. Elsevier Editora. 3ª edição. Rio de Janeiro. 2004.
CHOO. C. W. A Organização do Conhecimento: Como as Organizações Usam a Informação Para Criar Significado, Construir Conhecimento e Tomar Decisões. Editora Senac São Paulo. São Paulo. 2003.
SENGE, P. M. A Quinta Disciplina: Arte e prática da organização que aprende. Editora Best Seller. 2006
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