O jornal francês La Dépêche du Midi atribui a frase que intitula o presente texto a Jens Breivik, pai de Anders Behring Breivik, autor confesso de 76 assassinatos na Noruega. O pai do “terrorista” teria ainda, afirmado que seria melhor que o filho tivesse se suicidado ao invés de cometer os homicídios.[i]
Seria uma completa insanidade tentar encontrar explicações lógicas e coerentes para uma tragédia dessa magnitude. Acreditar que crenças étnicas ou políticas podem levar à tamanha violência não é o caminho. Não podemos nos esquecer do que a intolerância pode fazer ao ser humano, daí a obrigação que se impõe de nunca perdermos de vista o Holocausto.[ii]
Renegado pelo próprio pai, o destino de Anders Behring Breivik deve ser o pior possível, desde já! Sem qualquer benevolência do povo Norueguês, profundamente atingido pela sua fúria assassina. Pena de morte, prisão perpetua, tortura...tudo isso é muito pouco! Não há punição suficiente e não há adjetivos para qualificar esse “monstro”. Nada mais natural, afinal, o que fazer/pensar diante de tamanha barbárie?
E que não venham os “insensíveis defensores da impunidade” falar em direitos humanos. Que não se fale em dignidade da pessoa humana. É hora de vingar os mortos e a dor de suas famílias e amigos. Só mesmo o sofrimento de Andres poderá aplacar tamanho desolamento.
Esse tipo de pensamento tem se tornado cada vez mais comum no Brasil. É nesse clima - fomentado por boa parcela da mídia e pelos pretensos defensores da segurança e do fim da impunidade - que grande parte dos brasileiros encara a questão da criminalidade.
O quadro acima contrasta, entretanto, com notícias vindas da Noruega. “Atirador norueguês pode cumprir pena em prisão de luxo”[iii] é a manchete que causa espécie! Fotos de Halden Frengsel - a prisão de luxo - têm chamando atenção. O presídio é conhecido como um dos “mais humanos” do mundo e foi construído para abrigar os criminosos mais perigosos do país, onde a reabilitação é o foco principal do modelo penitenciário.
O mais incrível é que com esse modelo a Noruega tem registrado uma taxa de retorno à prisão de 20%, no período de 2 anos após a soltura dos condenados que cumpriram pena.[iv] Bem diferente das altíssimas taxas de reincidência verificadas entre nós e mundo afora.
Após ser detido no luxo de Halden Frengsel, Andrés teve a prisão preventiva decretada por 8 semanas - após esse período a necessidade da continuidade da prisão será avaliada - e já se anunciou que o julgamento ocorrerá no ano de 2012. Situação muito diferente da vivida no Brasil, onde a prisão provisória e por tempo indeterminado é vista como regra para determinados crimes – contrariando, assim, a Constituição Federal –[v] e o julgamento acaba à mercê da ineficiência/morosidade do sistema judiciário, ou seja, sem qualquer previsão de que ocorra em tempo razoável.
Como se vê a frieza nórdica do povo Norueguês é manifestação afeta somente ao clima do país. A civilidade dispensada a quem mostrou não ser, adequadamente, civilizado causa perplexidade. E é exatamente por isso que se pode afirmar que Noruega é um país civilizado. A reação das autoridades e do povo da Noruega, após tamanha e gratuita violência, nos mostra que é nesses momentos que se faz uso dos conceitos ético-morais de um povo.
As palavras de Jens Breivik são influenciadas pela torrente de sentimentos que, por certo, tomou conta dos seus sentidos, e outra coisa não se podia esperar. Chama atenção, entrementes, o relato acerca da reação dos seus vizinhos: “Eles nos protegem desse furor midiático”.[vi] Pasmem! Os visinhos não apedrejaram a casa, nem fizeram protestos com cartazes e palavras de ordem. Ao contrário disso, prestaram solidariedade ao pai do “terrorista”.
A forma como o povo Norueguês tem lidado com a questão é, especialmente, didática. Temos muito a aprender com esse povo. Evidentemente, o “luxo” de Halden Frengsel é algo distante da nossa realidade. A esmagadora maioria dos brasileiros não vive em situação de conforto equivalente e não podemos, portanto, esperar isso das nossas prisões.
Podemos esperar, no entanto, uma postura diferente no trato da questão da criminalidade. Podemos entender, definitivamente, que tratamento indigno do criminoso não vai nos aproximar do baixo índice Norueguês de reincidência. Ao contrário disso, vai fazer com que o nosso já elevado índice de reincidência, seja cada vez mais alto.
O pior é que, se por um lado, não temos razões para temer um ataque homicida de um jovem extremista, seja de direita ou esquerda. Por outro lado, temos razões suficientes para temer que o aumento da ânsia punitiva - inspirada na vingança, pura e simples - leve a índices cada vez maiores da “nossa criminalidade”, que é, em grande medida, relacionada às gritantes diferenças sociais do Brasil e, além disso, fomentada pela forma como tratamos os criminosos no cárcere.
Notas:
[ii] Massacre de judeus e de outras minorias, efetuado nos campos de concentração alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
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