Não é necessário dizer que estamos a falar do Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa, que sediará a copa do mundo e, ainda, as olimpíadas...
É muito sério o fato de uma tempestade por mais incessante que seja, por mais que os índices pluviométricos sejam agudos e altos, que não haja planejamento urbano capaz de prover a contenção de encostas, barragens,e a drenagem das águas das chuvas evitando assim redundantes alagamentos, alguns dos quais históricos... como o da praça da Bandeira, Maracanã e áreas vizinhas.
É muito sério que tenhamos de nos abster de sair de casa para que as vítimas das tempestades sejam mais facilmente e adequadamente socorridas... que tenhamos um “dia morto” por uma catastrófica chuva...
Apesar de tudo, enxergo como boa a iniciativa do Prefeito Eduardo Paes em solicitar que as pessoas se abstivessem de sair... Pois com certeza, diminuiu o número de possíveis vítimas e transtornos.
O TJ não funcionou, o MP não funcionou, a Defensoria não funcionou, as escolas públicas e privadas igualmente não funcionaram... e a perplexidade nos assedia, pois será que temos falta de estrutura e de meios para superar tal incidente.... Ou é de fato, como tantos argumentam, problema de gestão?
Por que, senhores leitores, os projetos dormem meditabundos nos papéis encerrados em gavetas? Por que as possíveis soluções de engenharia, de arquitetura e de planejamento não migram do linho do papel e ganham as ruas, os rios, as calçadas e as vidas cidadãs tão castigadas quer pela pobreza, quer pela indiferença de tantos governantes...
É bom lembrar que estamos em ano de eleições, a quem devemos empenhar nosso voto de confiança, transmitindo-lhe a nobre missão de representar-nos... É bom que o dever cívico de votar seja também acompanhado de consciência e de politização necessária e honesta para prover uma vida melhor de toda a sociedade.
Em pouco mais de 24 horas depois da tempestade já computamos 120 mortos no Estado do Rio de Janeiro, precisamos reassentar as pessoas residentes em áreas de risco, e garantir lhes não só o direito de moradia mas o direito à vida digna.... e, não uma vida qualquer minguada e molhada pelas intempéries tropicais.
Enquanto a imprensa mundial destaca o quão deficiente é a estrutura do Rio de Janeiro, que no passado já foi até capital do Brasil, especialistas apontam que a geografia dificulta as ações de prevenções de catástrofes... porém, muitos dos óbices provém principalmente de cunho legislativos e judiciário.
Outra questão incômoda é pensar o quão responsável juridicamente falando, é o poder constituído (seja da Prefeitura, seja do Governo Estado) na falta de manutenção de áreas sabidamente críticas e reconhecidamente problemáticas.
E, não se trata apenas dos danos materiais sofridos pela população, mas também dos danos morais. Por que os alertas já realizados não foram atendidos? De quem é a culpa, afinal? Da falta de educação do povo que joga lixo em lugar indevido?
Não é possível pontuar apenas um só motivo, e devemos desafiar nossa inteligência para perceber a amplitude da conjuntura dos fatos.
Por que a antecedência dos fatores metereológicos detectados não foi suficiente?
Chuva forte segundo os especialistas é acima de 60 mm em uma hora, o que ocorreu foi em torno de 200 mm no mesmo período temporal.
O Ministro das Cidades, Márcio Fortes afirma que é necessário verificar o dano imediato, e preocupado com salvar vidas principalmente, acena com concessão de recursos futuros para reconstrução da cidade, apontando em sua breve aparição na TV que é preciso “domar as águas da cidade”.
Só espero que não usem “cadeirinha e chicote” e que o talento ilusório dos domadores de circo passe a ser apurada técnica e a perspicácia de gestores capazes de implementar melhor estrutura urbana para superar não só chuvas intensas e nem apenas eventos internacionais.
Mas mesmo nesse momento de enormes dificuldades e agonia, não podemos deixar de render sinceras homenagens aos repórteres, aos jornalistas, aos profissionais da comunicação social, as suas equipes técnicas, e ainda, aos bombeiros, aos funcionários da Defesa Civil, aos guardas municipais, polícias militares e civil e, todos que são heróis da ocasião, como Torben Grael que conseguiu embora frustrado, a salvar mãe e filha sem lograr êxito em salvar o pai, isso às três horas da manhã da terça-feira, dia 06 de abril.
Assim como muitos outros heróis anônimos que serão esquecidos tanto como a dor daqueles que perdem tudo, perdem entes queridos e, ficam ao relento a esperar o abrigo generoso do Estado ou de parentes.
A cidade ficou sem metrô, sem trens urbanos, e praticamente sem coletivos... A cidade parou para chuva passar... Espero e me perdoem a paródia com a música “A Banda” de Chico Buarque de Hollanda, “ A minha gente sofrida, despediu-se da dor; Pra ver a banda passar, cantando coisas de amor (...)”
Será que tudo tomará o seu lugar, depois que a chuva passar? Quantas vidas foram indefectivelmente alteradas para sempre...? Será que poderemos resgatar nossa dignidade e cidadania dessa enxurrada e tornar a acreditar no poder constituído, no poder público, na sua capacidade de gestão?
É preocupante observar ,por exemplo,que vias urbanas como a Linha Amarela e a Linha Vermelha que são recentes em relação ao resto da cidade, apresentam sensíveis alagamentos, o que denuncia a deficiente drenagem dessas pistas.
Só nesses dois únicos dias choveu mais de 400 mm, assistimos deslizamentos que destroem não só casas, estradas e vidas. Mas também nossa imagem no cenário internacional principalmente em face de importantes compromissos assumidos. Mas não deixemos morrer afogadas nossas esperanças por dias melhores.
Rezemos nós cariocas para São Pedro e Santa Bárbara e na fé que a consciência edificará uma fortaleza para nossa cidadania.
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