Resumo: O presente trabalho visa a trazer à baila algumas circunstâncias que, analisadas em sua conjuntura histórica, permitem entender o porquê de os Estados Unidos da América terem se transformado na única superpotência capitalista pós-guerra fria, e bem assim as consequências que advieram cingidas no seu bojo, máxime a imposição de uma supremacia inescrupulosa, supeditada na lógica capitalista e na apropriação de discursos universais, que sob sua égide, constituem-se em falaciosos argumentos que impingem opressão, dominação e temores, e que por outro lado, pelos mesmos fatos, provocam reações por todos os cantos do mundo.
Palavras-chave: EUA, hegemonia, superpotência, pós-guerra fria, dominação, resistências.
As primeiras civilizações surgiram na chamada “crescente fértil”, denominação cunhada pelo arqueólogo James Henry, por visualizar que no Oriente Médio, sobretudo Israel, Cisjordânia e Líbano, bem como parte do Iraque, sudeste da Turquia e Jordânia, e ainda parte da Ásia e África, traçando-se uma linha imaginária, formava-se uma figura semelhante a uma meia-lua.
Aludida região, banhada por importantes rios como Tigre e Eufrates na Mesopotâmia, Nilo no Egito, Rio Jordão etc., constituíam-se de terras agricultáveis, as quais favoreceram a fixação do homem a terra, propiciando assim o surgimento das primeiras cidades, e por corolário, Estados.
Dos antigos impérios, o Romano foi o que mais influenciou o mundo ocidental. E desde sua segunda queda, em 1453, quando os turcos otomanos tomaram Constantinopla, que era a capital do Império Romano do Oriente, ou Império Bizantino (o Império Romano do Ocidente caiu em 476 a.C.) que as civilizações subsequentes herdaram uma espécie de complexo e tentam resgatar de alguma forma tão marcante civilização.
Diante disso, muitos teóricos debruçam-se sobre o tema para teorizar paralelos entre o Império Romano e os EUA, prelecionando muitos que, de fato, muitos pontos de semelhança subsistem.
À parte as várias minúcias que envolvem o tema, não se prendendo a essas particularidades, que, com efeito, não são os objetos do presente trabalho, há que se considerar que independente dos modos de produção escravista e capitalista, que obviamente se diferenciam, temos que tanto em um como em outro, encontram-se a forte influência política, fatores econômicos, poderio bélico, e transferência de riquezas da periferia para o centro.
Nesse diapasão, considerando que a história nos mostra que não foi apanágio apenas do Império Romano a ascensão, o auge, o declínio e a suplantação por outra civilização, estaria os Estados Unidos da América em iminente queda?
Sem a pretensão de mergulhar nesse tema, colimando até mesmo não desviar do assunto proposto, mas só para esposar uma resposta à indagação aludida, a título de contribuir com um postulado, obviamente não estanque, David Harvey vai sustentar que os países asiáticos vão tomar a supremacia norte-americana para si.
Voltando os olhos precipuamente para a epígrafe acima exposta, a “dominação” ali esculpida, traz implícita os Estados Unidos da América.
Os autores pesquisados, David Harvey, com a obra “O Novo Imperialismo”, Michael Mann, com o “Império Incoerente”, Michael Hardt e Antônio Negri, com “Império” e José Luís Fiori, ”O Poder Americano”, denota-se o tangenciamento teórico, tendo em vista que todos abordam a dominação dos EUA.
Há que se estabelecer, por ser necessário, que não o obstante a clara delimitação histórica, ou seja, o “pós-guerra fria”, é inarredável voltarmos um ou dois passos na história para que se possa entender como os Estado Unidos da América conseguiram estabelecer sua hegemonia grassante.
Em 1944, em Bretton Woods, em New Hampshire, Estados Unidos da América, aconteceu uma célebre Conferência, à qual foi fundamental para que os EUA se firmassem como a principal potência no pós-Segunda Guerra Mundial, que acabou oficialmente em 1945.
Em aventada Conferência, por pressão norte-americana, o dólar se afigurou na principal moeda do mundo, sendo que foi estabelecido um câmbio fixo, em que o indexador foi definido como sendo o ouro.
O denominado padrão dólar-ouro era assim definido: cada U$ 35 dólares equivaliam a uma onça troy de ouro. A título de curiosidade, esclarece-se que troy é a unidade onça para aferição do peso de metais e gemas, subsistindo outro padrão de onça para a aferição do peso de outros objetos, sendo que uma onça troy corresponde a aproximadamente 31,1g (trinta e um vírgula um gramas).
Outra medida importante da Conferência foi a criação de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BIRD) e o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércios (GATT), que passaram a ser organismos fiscalizadores.
A primazia de emissor de dinheiro mundial foi possível aos EUA tendo em vista o seu poder financeiro, industrial, tecnológico, militar e competitivo, bem superior aos demais países capitalistas do imediato pós-guerra.
Esse contexto possibilitou aos EUA a acumulação de superávit nas suas contas externas, adquirindo desta forma, reservas em ouro e obrigações de outros países, sendo válido trazer a lume que, à época, os EUA detinham cerca de 80% das reservas de ouro do mundo.
Assim, os EUA transformaram-se numa sólida base econômica, controlando as instituições monetárias internacionais e promovendo a expansão de suas corporações.
O período compreendido entre o final dos anos cinquenta e início dos setenta foi marcado por grande expansionismo dos países capitalistas mais desenvolvidos, mormente, os Estados Unidos da América. É o chamado “anos dourados” ou “os trinta anos gloriosos”.
Após a desastrosa experiência de um liberalismo radical, que culminou na crise de 1929, e passou para a história como a “grande depressão” ou o crasch das bolsas de Nova Iorque, os países mais desenvolvidos lançaram mão do intervencionismo do Estado lastreado nas teses do economista Jonh Maynard Kaynes, surgindo o welfare state (citamos aqui de forma genérica, sem as particularidades).
Essa é a fase em que se estabelece o auge da hegemonia norte-americana sobre o mundo capitalista, proporcionando o desenvolvimento econômico com altas taxas de lucro a todos os países capitalista avançados.
Em que pese a fase de crescimento e expansão ventiladas, calcado nas lições de Marx, que predizia que o capitalismo padecia de suas próprias contradições, junto com o franco enriquecimento dos países capitalistas, advieram no bojo dessa pujança fatores e condições que trariam iminentes crises, tendo em vista as próprias competições entre as nações capitalistas.
Isso se deveu ao fato de que mesmo com uma “hegemonia benevolente” norte-americana, essa não parou de crescer, bem como os demais países capitalistas como Alemanha e Japão, da mesma forma, conheceram grande expansão econômica.
Nesse período surgem poderosas corporações transnacionais, inclusive fora dos lindes norte-americanos, ocasionando forte competição e disputas por mercados, notadamente nos países periféricos.
Assim, em meados dos anos 60 a economia norte-americana passa a experimentar um excesso de capacidade e produção, tendo por consequência imediata a queda da taxa média de lucro.
É lícito asseverar que a economia capitalista entrava numa crise de superprodução.
Há que se acrescentar a esse contexto de crise o choque do petróleo de 1973/1974, que se não foi o seu motivo determinante, sem dúvida potencializou a gravidade da crise, fazendo com que se encerrasse a fase expansionista comentada.
Naquele momento já se formava o arcabouço da atual fase capitalista, isto é, o deslocamento dos capitais da esfera produtiva para a seara financeira.
Alguns fatores deram azo à ameaça da hegemonia norte-americana, a seu turno, as corporações, especialmente as estadunidenses, passaram a depositar parte de seus capitais na cidade de Londres, acarretando numa fuga maciça de capitais da economia norte-americana.
Ademais, os EUA vinham desde o fim da Segunda Guerra mundial acumulando gastos vultosos com a reconstrução da Europa e do Japão, com a manutenção de bases militares e o financiamento de guerras pontuais, gerando uma crescente emissão de dólares além da capacidade das reservas em ouro.
Aliado a isso ainda, há que se destacar a ação de especuladores, e bem assim a postura dos países petrolíferos, que vislumbrando os déficits da balança de pagamento dos EUA, converteram grandes quantias de dólares em outras moedas.
Abrindo um parêntese, e sintetizando as crises que ocorrem na ordem capitalista, resta oportuno colacionar a citação que David Harvey traz de Rosa de Luxemburgo para explicar a acumulação ampliada e por desapossamento:
“Um diz respeito ao mercado de mercadorias e ao lugar aonde o valor excedente é produzido – a fábrica, a mina, propriedade agrícola. Considerada sob esta luz, a acumulação é um processo puramente econômico, cuja fase mais importante se realiza entre os capitalistas e os trabalhadores assalariados (...) Aqui, na forma de qualquer valor, paz, propriedade e igualdade prevalecem, e a apurada dialética da análise científica é requisitada para revelar como o direito de propriedade se converte no curso da acumulação em apropriação de propriedade alheias, como a troca de mercadorias se transforma em exploração e a igualdade torna-se domínio de classe. O Outro aspecto da acumulação de capital diz respeito às relações entre capitalismo e formas de produção não capitalistas, que se desenvolvem no cenário internacional. Seus métodos predominantes são a ‘polícia colonial’, um sistema de empréstimos internacional – política de interesses privados – e a guerra. Violência, fraude, opressão, roubo são abertamente revelados sem nenhum esforço para descobrir no meio desta confusão de políticas de violência e disputas de poder as severas leis do processo econômico”.
Para Marx a teoria geral de acumulação é fundada sobre pressupostos que, quase invariavelmente, coincidem com os da economia política clássica e deixam de fora os processos de acumulação primitivos.
Aludidos pressupostos seriam os mercados agindo livremente sob o manto de acordos institucionais que garantem a propriedade privada, individualismo jurídico, liberdade de contrato e estruturas legais e governamentais.
Para Harvey então, a acumulação por desapossamento é a pilhagem (como ocorreu no imperialismo europeu), o “roubo”, sendo que esse modo de acumulação é sempre utilizado nas crises de sobreacumulação, em que a acumulação ampliada não é suficiente para resolver as crises capitalistas, então se lança mão de um modo expropriatório, arvorando-se na riqueza alheia, sobretudo a dos países ditos periféricos.
A acumulação por desapossamento queda cada vez mais sutil, como no caso hodierno da biopirataria, por exemplo.
Por meio de medidas unilaterais, o presidente norte-americano Richard Nixon, em 1971 e 1973, sepultou o sistema dólar-ouro, e impingiu ao resto do mundo um câmbio flutuante. Essas medidas reafirmaram o dólar como moeda exponencial do sistema capitalista.
A reciclagem dos chamados petrodólares por todas as instituições privadas norte-americanas, e não somente pelas instituições que atuavam no mercado financeiro, constituiu-se em outra medida que favoreceu os estadunidenses.
Em 1979, o FMI, num arroubo de autonomia, tentou instituir uma cesta de moedas de vários países, mas os EUA, em nova medida unilateral, aumentaram as taxas de juros interna, o que atraiu novos investimentos, e se firmou como a principal moeda utilizada para transações comerciais do mundo.
A tomada dessa postura econômica implicou mudança de controle financeiro em âmbito internacional, isto é, os bancos centrais nacionais, sobretudo dos países concorrentes dos Estados Unidos da América, foram relegados a segundo plano, enquanto as instituições privadas é que passaram a deter a primazia sobre as transações comerciais.
Aventadas medidas unilaterais possibilitaram aos EUA maior poder de manobra monetária e financeira do que aquela que o país conheceu sob o manto das regras de Bretton Woods.
Assim, a desvinculação às reservas de ouro, permitiu que os estadunidenses decidissem o preço do dólar ao seu arrepio, conforme suas próprias conveniências.
O Fortalecimento do dólar tinha se transformado em uma questão fundamental para a manutenção da liderança do sistema financeiro e bancário norte-americano no âmbito da concorrência global.
Destarte, de maneira unilateral, e, portanto, sem receber reparos de outros países, os EUA impuseram às outras nações a adoção do dólar puro, reforçando o papel internacional do dólar.
O processo de liberalização financeira e, por consequência, o fortalecimento do setor financeiro dos EUA (Wall Street), ainda foi complementado com a mudança do ideário econômico mundial, a partir dos governos neoliberais de Margaret Tatcher e Ronald Reagan.
Analisadas em conjunto, em suas implicações históricas e teóricas, as decisões unilaterais dos EUA, que levaram ao desmanche da ordem monetária do pós-guerra, decretaram um breve período de “hegemonia benevolente” norte-americana e anunciaram o início de um projeto imperial que se projetou para os dias hodiernos.
O fim da guerra fria não foi seguido de nenhum grande acordo internacional envolvendo as grandes potências, o que poderia resultar em uma nova ordem política, monetária e financeira mundial.
Ao contrário, o mundo pós-guerra fria vem sendo marcado pela afirmação da supremacia militar, monetária e financeira norte-americana a serviço de seu grande capital.
Impede, de um lado, o fortalecimento ou surgimento de potências concorrentes e, de outra banda, a realização de um grande acordo internacional que limite suas ações.
Desde os anos 80, com a administração Reagan, está em curso um amplo processo de expansão de gastos e das intervenções norte-americanas, buscando a garantir a sua supremacia no mundo.
A guerra-fria encerrou-se oficialmente em 1991, e desde então os EUA emergiram como uma superpotência, não tendo mais a URSS como grande poder que a contrastava e de alguma forma refreava suas intenções megalomaníacas de ser constituir em um verdadeiro império global.
Quadra aqui observar, que alguns estudos do passado, como os de Kindelberger e Gilpin, na década de 70, destacam os EUA como um necessário Leviatã de Hobbes, ou seja, seria imprescindível para manter a ordem e a paz mundial, e preservar a fluidez da economia internacional (José Luz Fiori).
Nenhuma nação do planeta possui investimentos tão estratosféricos na área militar como os Estados Unidos da América, e talvez isso, como sustenta David Harvey, é o que mantém os norte-americanos na dianteira como única superpotência do mundo.
Tanto é assim que países como o Japão e Alemanha, e atualmente a China, possuem uma economia que em alguns setores já se rivalizam com à norte-americana, e em alguns aspectos até a suplantam.
Contudo, o poderio militar americano é absurdamente superior a de qualquer outro país do mundo, e por isso mesmo, como muitos prelecionam, seria esse o fator que ainda mantém os norte-americanos como a potência proeminente.
Assim, quando não conseguem êxito em esferas competitivas, como agrícolas, industriais, econômicas etc., são pródigos em lançar mão da ameaça militar a quem quer que seja.
É sintomático que os Estados Unidos assim ajam, tendo em vista que não exercem a hegemonia lastreada em autoridade, mas sim em poder, ou seja, não por um respeito balizado em admiração, mas em temor.
É certo que os Estados Unidos possuem bases militares espalhadas por todos os cantos do mundo, são cerca de 700 (setecentas), em pontos adredemente sopesados, sobretudo em regiões em que se busca neutralizar um suposto inimigo, como no caso da China e da Coreia do Norte, ou por interesses baseados nas reservas petrolíferas.
A escalada militar norte-americana ganhou novo impulso com os ataques de 11 de setembro de 2001 ao território norte-americano. Nesse dia, os principais símbolos que servem de discurso para a dominação e imposição de um império foram afrontados.
Retomando o velho e poderoso discurso da “mão civilizatória” conferida por Deus à nação exponencial do mundo, lançou sua doutrina da “guerra preventiva”, com a publicação do documento “A Estratégia de Segurança Nacional” dos Estados Unidos.
Nesse documento os EUA, de forma unilateral, reservam-se no “justo direito” de intervirem militarmente onde bem quiserem, basta uma suposição, ou nem isso, de que a segurança norte-americana e a do mundo estejam sendo ameaçadas.
Com os ataques de 11 de setembro os EUA estabeleceram seu novo inimigo pós-guerra fria, denominado como “terrorismo internacional”.
Assim Como a administração Bill Clinton, na qual os interesses do mundo estiveram disfarçados de intervenções militares “humanitárias”, de forma mais incisiva, ocorre com a intervenção militar preventiva de Bush, o filho.
No plano geopolítico, com as operações “justiça infinita”, “liberdade duradoura”, e outras, explicita-se que, além de combater o terrorismo, essas intervenções têm servido a outros objetivos estratégicos dos EUA nessa região.
A invasão do Afeganistão, a partir de 2002, com o intuito de combater o terrorismo da Al-quaeda de Osama Bin Laden, por exemplo, tem possibilitado aos EUA instalar bases militares no corredor euro-asiático, próximos à fronteira com a Rússia, onde se localizam as grandes reservas de petróleo do mar Cáspio.
Além das perspectivas de debilitar o controle Russo sobre as reservas de petróleo e gás da região do Cáspio, a instalação de bases militares norte-americanas deve ao mesmo tempo proteger as reservas de petróleo da região, diminuindo a dependência do Ocidente em relação ao Golfo Pérsico e proteger os interesses privados das grandes corporações petrolíferas norte-americanas.
Cabe destacar que o Afeganistão está localizado no centro de cinco potências nucleares, que podem trazer problemas futuros ao expansionismo norte-americano, a saber: a China, Rússia, Índia, Paquistão e Cazaquistão.
Por essas razões, a guerra contra o Iraque a partir de 2003 não pode ser explicada somente pela questão de segurança dos EUA, que alegavam a presença de armas de destruição em massa sob o controle de Saddan Hussein, fato que foi refutado por todas as investigações realizadas.
Em 21 de janeiro de 2005, Bush deu início ao segundo mandato com presidente dos EUA, asseverando que era “preciso expandir a liberdade”, leia-se, expandir o projeto neoliberal, e defendendo a intensificação de intervenções militares em países que “atentem contra a segurança dos EUA”, onde a população esteja vivendo sob governos tirânicos ou opressores.
“A Estratégia de Defesa dos EUA”, no qual o nome “da guerra ao terrorismo” e da “mudança de mundo”, defende-se a ideia de promover intervenções militares também em países que não esteja naquilo que eles convencionaram em chamar de “eixo do mal”, e que não esteja em conflito.
É oportuno destacar que passadas quase duas décadas após o fim da guerra fria, o projeto imperial norte-americano não foi capaz de garantir a paz mundial, a democracia, o progresso material, e muito menos a estabilidade política dentro do sistema internacional.
As conseqüências sociais catastróficas da globalização neoliberal pelo mundo todo juntamente com as não menos catastróficas intervenções militares “humanitárias” e “preventivas”, constituem um bom exemplo disso.
A estratégia de segurança norte-americana, sob a marca da guerra preventiva, trouxe um ambiente de insegurança geral e permanente no sistema mundial, fato que levou, por exemplo, a Coreia do Norte a reativar suas usinas nucleares e o Irã a incrementar seu programa de enriquecimento de urânio.
Ainda que de forma lenta, percebe-se a volta das lutas sociais à cena internacional, com o aparecimento de um movimento democrático mundial de constestação à globalização neoliberal.
Além disso, também está em curso uma reavivamento do nacionalismo no âmbito de determinados Estados nacionais (China, Rússia, Índia, Japão, alguns países, europeus, e Venezuela e Bolívia, por exemplo, na américa-latina).
Muitos asseveram que está em curso uma segunda guerra fria ou uma permanente guerra fria.
No caso da Rússia, porque dificilmente uma nação que perdeu tanto território e prestígio como os alcançados ao tempo da URSS, quedará conformada, e em algum momento tentará reaver o que considera que lhe foi tirado.
No caso da Alemanha e Japão, a questão é, fundamentalmente, econômica, disputa por mercados, mormente, os dos países chamados periféricos, do terceiro-mundo (expressão que tinha mais sentido quando da guerra fria), e mais modernamente dos denominados “emergentes”, como é o caso do Brasil.
Países asiáticos como a Coreia do Sul, também fazem frente muitas vezes aos Estados Unidos na questão econômica, e outros como a China, além da competição econômica, de algum modo, impõe respeito aos EUA no campo militar, não permitindo que esses se aventurem a invadi-los como uma nação qualquer.
Na américa-latina, a ascensão de alguns governos de esquerda, trouxe a falsa sensação de que, finalmente, soergueria um programa que reduzisse a dependência econômica dos EUA, e reduzisse a subserviência aos seus mandos, fortalecendo assim a soberania, à qual, da forma que está, resta relativizada.
Alguns países, como o Brasil, sob o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, que sucedeu ao governo declaradamente neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, muitas vezes, demonstra que se trata de um continuísmo, isso para dizer o mínimo.
Na Venezuela, o presidente Hugo Chaves, afigura-se numa incógnita, tendo em vista que às vezes a verborragia e o discurso antiamericanismo, por certo empolga, mas esconde, em dados momentos, a falta de ações mais concretas e efetivas.
A insistência de se manter no poder, é vista como uma forma autoritária e espúria, e não obstante os programas voltados às classes mais baixas, é acusado de populista, sendo que uma nova elite se forma no país, que é aquela que trabalha no setor público, é a chamada “elite bolivariana”.
De qualquer sorte, é uma nação que tem arroubos de enfrentamento ao poderio norte-americano, e aos demais grandes países capitalistas.
Para citar o único país do continente, que de fato, não é subserviente aos EUA, e por isso mesmo sofre as consequências com pesados embargos econômicos impostos pelos norte-americanos, é Cuba.
Não se atreverá aqui em discorrer acerca dos erros e acertos de Cuba, nem sobre a propalada ditadura cubana, mas se concentrará no termo “reações” ao domínio, o não conformismo, e aqui, nesse ponto, ninguém pode infirmar que Cuba não se submete aos mandos e desmandos dos EUA.
O mundo neoliberal, globalizado e “desapossador” liderado pelos Estados Unidos da América, ameaça o equilíbrio mundial, vale dizer, suga as riquezas dos países periféricos, o que enseja a manutenção do luxo em seu quintal, criando uma falsa ilusão de que o capitalismo, em estágio avançado e bem estruturado, é um modelo econômico que se mesclado com justiça social, democracia, liberdades etc., seria um modelo ideal.
Essa manipulação de quem detém o poder transnacional, é causa de miséria, sofrimento e indignação nos demais países que são escorchados, aviltados, que tem sua supremacia relativizada, e inclusive acusada de supostos atos atentatórios que afetariam o equilíbrio da ordem mundial.
Há que se destacar por oportuno, que a sede por lucros e acúmulo de riquezas, trilha uma senda ainda mais sombria, o desequilíbrio ecológico, poluição pesada ao meio ambiente, contaminação dos solos, reserva de água doce, e outros fatores que anunciam uma catástrofe mundial.
Essa postura incita a natural reação de indivíduos e nações do mundo inteiro, inclusive organismos internacionais advindos de países capitalistas desenvolvidos.
Para destacar um dístico dessas reações, traz-se à baila o denominado “Fórum Social Mundial”.
Já de início, tarefa difícil é denominar o que seja o Fórum Social Mundial, por isso, são comuns expressões afetadas ou mesmo pejorativas, e só para citas algumas temos que o Fórum Social Mundial seria a “Nova Internacional”, “Movimento pela Justiça Global”, “Conferência de Bandung ressuscitada”, “Partido de Oposição”, “Woodestock Político Cultural Itinerante” etc.
A idealização é franco-brasileira, constituindo-se de um movimento contra a globalização neoliberal, a guerra e o domínio imperial.
É um espaço de troca, debate e articulação de movimentos e organização da sociedade civil de todos os países do mundo.
A primeira edição, em 2001, foi realizada no Brasil, em Porto Alegre, a qual foi escolhida tendo em vista o forte movimento social do MST (Movimento dos Sem Terra), da CUT (Central Única de Trabalhadores), à época forte presença de um partido dito de esquerda, no caso o PT (Partido dos Trabalhadores).
Depois de mais duas edições realizadas em Porto Alegre, 2002/2003, em 2004 a versão do Fórum Social Mundial foi sediada em Mumbai, na Índia.
Não tem caráter deliberativo, exclui explicitamente organizações e movimentos armados, não aceita subvenções de governos e instituições internacionais.
Não há como negar que ainda se trata de um movimento repleto de contradições, mas que se encaminha para se transformar numa espécie de porta-voz da insatisfação mundial.
A utopia seguida como lema é: “outro mundo é possível”.
É desnecessário asseverar que foi exposto apenas os principais acontecimentos de um momento histórico tão complexo e que ainda se encontra em franco desdobramento.
Com efeito, o neoliberalismo é uma realidade, e está intimamente cooptado aos grandes países capitalistas do mundo, sobretudo dos EUA.
E esse neoliberalismo está arraigado ao que se convencionou chamar de globalização ou mundialização.
As consequências são catastróficas para as nações que não alcançaram o mesmo nível de desenvolvimento, pois assim como acontecia no imperialismo europeu, as nações periféricas continuam sendo achacadass e proporcionam, à custa de sua exploração, o bem-estar da população de centro.
As desigualdades sociais por conta disso são cada vez mais gritantes, e muitas vezes é desolador analisar em que estágio chegamos.
Os Estados Unidos da América é o dístico de toda essa ordem mundial que privilegia o capital e homenageia o fetichismo, a coisificação ou reificação do ser humano.
Destaca-se, que o a principal potência capitalista são os Estados Unidos da América, mas não há que se atribuir todas as mazelas de desigualdades na conta exclusiva dos norte-americanos.
Em que pese suas ações unilaterais, tresloucadas e cingidas a um complexo de serem o novo Império Romano, utilizando-se para isso de embustes como argumentos, não são a única nação do mundo que promove a exploração alheia e impõe suas próprias regras.
Assim, um onda antiamericanista, tendo por alvo única e exclusivamente os Estado Unidos da América, pode ter o condão de ocultar a verdeira questão da desigualdade econômica mundial, o estágio atual do modo de produção capitalista, sobretudo a financeirização, isto é, o deslocamento de investimentos do setor produtivo para a mera especulação no mercado financeiro.
Destarte, se os Estados Unidos da América fossem suplantados hoje por outra nação, essa nova potência iria dar continuidade em maior ou menor grau, à postura capitalista norte-americana.
Nesse tanto, havendo uma ordem econômica mundial e uniforme, os países que são coagidos a se submeterem, implicando na relativização de sua soberania, e mero simbolismo de seu ordenamento jurídico-legal, experimentam desigualdades sociais estarrecedoras e inaceitáveis, dignas de revirar o estômago.
Com isso, é necessário buscar formas de controlar, ou pelo menos mitigar as consequências desse capitalismo ávido por lucros, que muitas vezes está acima dos governos ou é o próprio governo.
Se o neoliberalismo é global, o que decorre dele também o é. Assim, há que se traçar caminhos dentro da própria globalização.
As discussões e debates acadêmicos são importantes e podem se converter num referencial, mas um discurso arrebatador ou apenas eficiente será sempre um discurso se não colocado em prática.
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: JUNIOR, João Romano da Silva. Dominação e resistências na ordem mundial pós-guerra fria Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 22 out 2010, 10:04. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/21968/dominacao-e-resistencias-na-ordem-mundial-pos-guerra-fria. Acesso em: 23 dez 2024.
Por: Guilherme Waltrin Milani
Por: Beatriz Matias Lopes
Por: MARA LAISA DE BRITO CARDOSO
Por: Vitor Veloso Barros e Santos
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