1.Introdução
Atualmente, com o cenário empresarial cada vez mais competitivo, as organizações têm se mostrado abertas para inovações que venham agregar valor ao seu negócio e estabelecer um diferencial com relação à concorrência. Diante disso, surge um novo conceito de empreendedorismo, proporcionando ao funcionários das organizações, uma maior liberdade de criação e potencialização de suas habilidades dentro da empresa: o intraempreendedorismo.
Mas assim como no setor privado, as instituições públicas também podem se valer desse novo conceito para aprimorar a qualidade dos seus serviços. Nesse sentido, pretende-se no presente trabalho, apresentar breves considerações acerca do intraempreendedorismo (fazendo-se necessário explanar, inicialmente, sobre o empreendedorismo) e a sua utilização no funcionalismo público.
2. Empreendedorismo
O empreendedorismo é um termo que está sendo cada vez mais difundido e é notável a importância dos empreendedores para o desenvolvimento econômico de um país. O empreendedorismo é definido por Dornelas (2005) como o envolvimento de pessoas e processos que transformam ideias em oportunidades, ao atuarem em conjunto. O autor afirma ainda que essa oportunidade, sendo implementada da maneira correta leva à criação de um negócio de sucesso.
Para Peter Drucker (1987, apud Costa, Barros e Santos, 2007), o empreendedor é aquele que busca a mudança, reage a ela, vislumbrando uma oportunidade, nem sempre percebida pelos demais. É o empreendedor que cria algo novo, diferente, inovando ou transformando valores e conseguindo conviver com as incertezas e riscos inerentes ao negócio.
Apesar de cada vez mais pessoas estarem interessadas em abrir seu próprio negócio atualmente, sabe-se que o termo empreendedorismo não é um termo tão novo. Ele vem ganhando cada vez mais popularidade, mas segundo Dornelas (2005), o seu uso vem desde os tempos das viagens feitas por Marco Pólo.
Segundo Dornelas (2005), a palavra empreendedor (entrepreneur) vem do francês, que caracteriza uma pessoa que assume riscos e começa algo novo. Ao fazer uma análise histórica do desenvolvimento da teoria do empreendedorismo, o autor coloca Marco Pólo como um primeiro exemplo de definição do empreendedorismo, visto que como empreendedor, assinou um contrato com um homem que possuía dinheiro, para vender suas mercadorias. Como o termo “entrepreneur” sugere, era Marco Pólo o empreendedor, que assumia os riscos de forma ativa, enquanto o capitalista assumia os riscos de forma passiva.
Nota-se que o termo empreendedorismo é utilizado já há bastante tempo em todo o mundo. No Brasil o empreendedorismo também se popularizou, e segundo Dornelas (2005), esse movimento começou a tomar forma no país, quando foram criadas entidades como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e a Sociedade Brasileira para a Exportação de Software (Softex). Através de programas criados em todo o Brasil, juntamente com incubadoras de empresas e universidades na área de computação e informática, o termo empreendedorismo começou a aparecer.
Ainda de acordo com Dornelas (2005), pode-se dizer que o país tem todo o potencial para desenvolver um dos maiores programas de ensino de empreendedorismo de todo o mundo, e já existem muita ações que apontam para essa direção e demonstram que isso é possível. Infelizmente ainda faltam políticas públicas que durem e que sejam dirigidas à consolidação do empreendedorismo no país, e a valorização de homens e mulheres que são grandes empreendedores e que não são reconhecidos como tais. Isso pode levar alguns anos, mas já está sendo trabalhado para que possa ser uma realidade num futuro próximo.
Diante desse contexto, percebe-se que o empreendedorismo vem ganhando mais espaço a cada dia no mundo dos negócios. Para Salim et al. (2004), empreender, hoje, tem sido um caminho escolhido por muitos jovens que se formam, profissionais que já estão estabilizados ou aposentados que resolvem criar seu negócio por conta própria. Inúmeras são as razões para que as pessoas decidam abrir seu próprio negócio e diversas situações que influenciam para que isso ocorra.
Mas para Dornelas (2004, apud Marsiglia, Minuzzi e Santos, 2010), a ênfase do empreendedorismo, que trabalhava sua vinculação à criação de novos empreendimentos, passou a admitir outro enfoque. Ele refere-se ao empreendedorismo desempenhado em empresas já estabelecidas e em plena atividade, que buscam novas alternativas para seu desenvolvimento. Esta nova linha do empreendedorismo é denominada de intraempreendedorismo ou empreendedorismo corporativo.
3. O intraempreendedorismo
Intraempreendedorismo pode ser entendido, segundo Almeida (2010), como a capacidade que têm os funcionários de uma organização, para agir como empreendedores, instigando a inovação dentro da instituição. A inovação pode ocorrer dentro do âmbito de atuação de cada funcionário, e depende somente de seu perfil e das condições que a empresa oferece para que isso ocorra.
Os intraempreendedores são pessoas que conseguem concretizar uma ideia própria ou a de outros, reunindo pessoas e recursos para tal e enfrentando os obstáculos que surgem no processo, sem medir esforços. Os intraempreendedores possuem características que os tornam competitivos e indispensáveis ao bom desempenho das organizações, visto que apresentam aptidão para gerenciar, criar e implementar inovações, agregando valor para a sociedade em que atuam. Esses indivíduos são importantes, pois agem como verdadeiros agentes de mudanças, transformando as ideias em produtos ou serviços de sucesso, se empenhando a favor da organização e em busca de sua realização pessoal (CIELO, ROEHRS E SCHMIDT, 2010).
Atualmente, como se pode ver, é essencial que as organizações que pretendem obter sucesso e atingir seu objetivos, percebam como é importante incentivar as características empreendedoras em seus cooperadores, independente da função ou atividade que cada um desempenha. Esse incentivo proporciona vantagem tanto para os indivíduos, que tem maior liberdade de criatividade, quanto para as empresas, que se utilizam dessa criatividade e iniciativa para aprimorar o seu negócio.
Esse fato pode ser confirmado por Marsiglia, Minuzzi e Santos (2010) ao afirmar que nas organizações, os indivíduos que possuem um comportamento empreendedor demonstram uma nova forma de agir, identificar oportunidades e desenvolver novos conhecimentos ou habilidades (MARSIGLIA, MINUZZI E SANTOS,2010).
Percebe-se que seja qual for o tipo de negócio, procura-se a cada dia a melhoria contínua, a qualidade nos produtos e serviços oferecidos e a inovação, como forma de adquirir vantagem frente a concorrência cada vez mais acirrada, e o intraempreendedorismo, tem sido uma ferramenta para o alcance desses objetivos.
4. Intraempreendedorismo em Instituições Públicas
Dias (1998, apud Macêdo e Pires, 2005) afirma que as organizações públicas têm como objetivo prestar serviços para a sociedade e são consideradas como sistemas dinâmicos, complexos, interdependentes e inter-relacionados, envolvendo informações e seus fluxos, estruturas organizacionais, pessoas e tecnologias. Elas cumprem suas funções, buscando uma maior eficiência da máquina pública e um melhor atendimento para a sociedade.
Diante dessa afirmação, pode-se perceber que assim como no mundo dos negócios, o setor público também procura melhorar seus serviços e obter a satisfação daqueles que os utilizam, já que estes são os objetivos dessas instituições. O intraempreendedorismo pode ser, então, utilizado como um instrumento para se chegar a estes objetivos, através de funcionários pró-ativos, que trabalhem em favor da organização.
Contudo, dentro de organizações públicas, o empreendedorismo cresce de forma mais tímida. Há o estímulo do governo, mas o setor público ainda sofre com o excesso de regras, que dificultam a inovação e desestimulam o surgimento de intraempreendedores. É necessário então, uma gestão inovadora da organização governamental, como a que permite participação em resultados, para incentivar o intraempreendedorismo (AQUINO, 2005, apud CIELO, ROEHRS E SCHMIDT, 2010).
No contexto de uma Instituição Pública existem, ainda, características inerentes aos funcionários públicos, como poder de barganha, estabilidade no trabalho, flexibilidade de horários e processos burocráticos, que são fatores que fazem com que os servidores não tenham nem desenvolvam atitudes e comportamentos empreendedores. (MAXIMIANO, 2006, apud COSTA, BARROS E SANTOS, 2007).
Macedo e Pires (2005), também reforçam essas ideias ao afirmarem que as condições e a organização do trabalho tendem a uniformizar-se no setor público. Os trabalhadores das organizações públicas acabam por encontrar-se em idênticas situações laborais e de organização do trabalho, proporcionadas pela burocracia estatal que gera, assim, uma tendência à centralização das decisões. As organizações públicas mantêm as mesmas características básicas das demais organizações, mas possuem ainda outras especificidades como: apego à regras e rotinas, supervalorização da hierarquia, paternalismo nas relações, apego ao poder, entre outras.
Nesse panorama, observa-se que o intraempreendedorismo é de grande importância para o setor público, podendo gerar grandes avanços, ao se permitir que servidores tenham maior liberdade de iniciativa e diminuindo a burocracia e o formalismo, porém ainda existem inúmeros fatores que interferem no desenvolvimento dessa ferramenta nesse setor, fazendo com que essas características empreendedoras sejam reprimidas.
Sendo assim, Cielo, Roehrs e Schmidt (2010), sugerem que assim como em organizações privadas, nas instituições públicas, o intraempreendedorismo seja implementado de forma integrada em toda a organização e não apenas como uma ação isolada de um determinado setor ou grupo de pessoas, cabendo aos gestores das instituições públicas suscitar e dar espaço à vocação empreendedora interna, concentrando esforços em buscar maior flexibilidade estrutural e agilidade nos processos burocráticos, a fim de reduzir custos e dar suporte à ação inovadora permanente.
5. Conclusão
Apesar do intraempreendedorismo ter ganhado espaço nas diversas organizações da sociedade, e ter se mostrado fator relevante para o sucesso de muitos empreendimentos, observa-se que no setor público, falta ainda a conscientização para o desapego à burocracia e à centralização, que apesar de necessárias em alguns casos, acabam muitas vezes por atrapalhar o desenvolvimento das tarefas e funções e inibir as características empreendedoras e que demonstram o potencial de seus servidores.
Conclui-se, então, que as organizações públicas carecem, ainda, de incentivos para que o intraempreendedorismo venha a ser utilizado de forma mais consistente, gerando os benefícios esperados.
6. BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Vera Neida Cardoso de. Intraempreendedorismo – É tempo de inovar. Disponível em <www.techoje.com.br/site/techoje/categoria/detalhe_artigo/580 > [on-line]. Acessado em out. De 2010.
CIELO, Ivanete Daga; ROEHRS, Maria Damke Anschau; SCHIMIDT, Carla Maria. Intraempreendedorismo feminino no contexto público. Disponível em <www.ead.fea.usp.br/semead/12semead/resultado/trabalhosPDF/362.pdf > [on-line]. Acessado em out. De 2010.
DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: transformando idéias em negócios. 2.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
SALIM, César Simões; NASAJON, Cláudio; SALIM, Helene; MARIANO, Sandra. Administração empreendedora: Teoria e prática usando estudos de casos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
MACÊDO, Kátia Barbosa; PIRES, José Calixto de Souza. Cultura Organizacional em Organizações Públicas no Brasil. Disponível em <www.scielo.br/pdf/rap/v40n1/v40n1a05.pdf > [on-line]. Acessado em out. de 2010.
MARSIGLIA, Duílio Cleto; MINUZZI, Josiane; SANTOS, Paulo da Cruz Freire. Potencial e propensão ao intraempreendedorismo em servidores de um Hospital Universitário. Disponível em <www.clee2008.ufsc.br/11.pdf > [on-line]. Acessado em out. de 2010.
BARROS, Carlos Eduardo Cavalcanti; COSTA, Antônio Carlos Silva; SANTOS, Suziane de Alcântara. Capacidade intraempreendedora dos funcionários públicos: um estudo realizado em uma Instituição Federal. Disponível em <www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2007_TR630470_290.pdf > [on-line]. Acessado em out. de 2010.
Graduada em Administração pela Universidade Federal de Sergipe. Técnica do Ministério Público de Sergipe.
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: TAVARES, Erika Valeria Cabral. O intraempreendedorismo e a sua utilização em instituições públicas Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 29 out 2010, 09:43. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/22024/o-intraempreendedorismo-e-a-sua-utilizacao-em-instituicoes-publicas. Acesso em: 23 dez 2024.
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