Renomados cientistas sociais, objetivando ampliar a perspectiva da análise organizacional, procuraram compreender as organizações da forma como os bioecologistas ou naturalistas enxergam a vida animal.
Nesse sentido, Michael Hannan e John Freeman, no texto denominado “Ecologia populacional das organizações”, argumentam que existem pressões inerciais diversas e que para lidar com elas é preciso que a perspectiva de adaptação seja suplementada com a orientação de seleção. Consideram dois aspectos que são preliminares para o modelo ecológico, quais sejam unidades apropriadas de análise e aplicabilidade de modelos da ecologia populacional ao estudo da organização social humana, utilizando modelos de competição explicita para especificar o processo de produção do isomorfismo entre a estrutura organizacional e as demandas ambientais e utilizando a teoria do nicho para estender o problema para ambientes dinâmicos.
Para os autores, o analista organizacional depara-se com cinco níveis de análise em seu estudo: membros, subunidades, organizações individuais, populações de organizações e comunidade. Sugerem pesquisa em nível de comunidade (população). Organização é vista como análoga a comunidade, possuindo seus meios coletivos de se adaptar às situações ambientais. Em um segundo sentido, população refere-se mais aos agregados das organizações do que aos membros. Pela abordagem ecológica, sugere-se que um enfoque no resultado final com relação às variáveis ambientais. A forma organizacional seria uma matriz para uma ação organizacional, para transformar insumos em produtos finais.
Fazendo analogia com as espécies, Hannan e Freeman dizem que devemos procurar diferenças qualitativas entre as formas, como estrutura forma e ordem normativa. Dizem que a organização pode ser considerada uma unidade em adaptação.
Passam em seguida, a argumentar que a diversidade das formas organizacionais é isomórfica a diversidade dos ambientes. Em cada configuração ambiental distinguível encontramos, em equilíbrio, somente aquela forma organizacional otimamente adaptada às demandas do ambiente. Cada unidade experimenta restrições que a forçam a se assemelhar as outras unidades com o mesmo conjunto de restrições. Existiriam, ao menos, dois particulares em que a formulação do isomorfismo deve ser modificada e estendida para dar uma resposta satisfatória á pergunta feita. Uma diz respeito ao mecanismo ou mecanismos responsáveis pelo equilíbrio. A esse respeito o princípio do isomorfismo deve ser suplementado por um critério de seleção e uma teoria de competição. Outra modificação mostra que o princípio do isomorfismo não trata do problema da adaptação ótima para ambientes que estão sofrendo mudanças nem reconhece que as populações de organizações frequentemente enfrentam ambientes múltiplos que impõem algumas demandas inconsistentes. Uma compreensão das restrições sobre as formas organizacionais parece requerer uma modelagem múltipla e dinâmica dos ambientes.
Ressaltam que o enfoque na seleção provoca uma ênfase na competição, onde algumas organizações não conseguem prosperar devido a circunstâncias ambientais, uma vez que outras organizações competem pelos mesmos recursos essenciais.
Hannan e Freeman explicam também a teoria do nicho, onde nicho de uma população seria definido como sendo aquela área no espaço restrito no qual a população compete com todas as outras populações. Assim o nicho consistiria em todas aquelas combinações de níveis de recursos para os quais a população pode sobreviver e se reproduzir.
Concluindo os autores resumem a discussão, indagando o motivo de existirem tantos tipos de organizações. Respondem, com foco no princípio do isomorfismo, afirmando que existe uma correspondência entre os elementos da organização social e aquelas unidades que agem como intermediárias dos fluxos de recursos essenciais para o sistema. Para muitas classes de organizações existem pressões de inércia muito fortes sobre a estrutura surgindo tanto os arranjos internos (políticas internas, por exemplo) quanto do ambiente (legitimação pública da atividade organizacional etc). O que se quer é embutir o princípio do isomorfismo dentro de uma estrutura de seleção explícita. Ao final, rebatem algumas críticas feitas aos seus estudos, dizendo que não desenvolveram uma discussão em nível metafórico, pois não aplicaram leis da biologia à organização social, defenderam sim a aplicação da ecologia populacional.
Outra contribuição para o estudo da matéria é o texto “Organizações, recursos e a luta pela sobrevivência: análise aos níveis organizacionais e ecológico”, de Miguel Pina e Cunha, que tem por objetivo a tentativa de integração de duas abordagens da relação organização – ambiente: a teoria ecológica de Hannan e Freeman e a perspectiva da dependência de recursos, de Pfeffer e Salancik.
O autor explica que a teoria ecológica, tomando como unidade de análise as populações de organizações e não as organizações individuais, adota uma perspectiva dinâmica e contextualizada de análise dos fenômenos de nascimento, crescimento e morte organizacionais. Diz que Hannan e Freeman, reconhecendo a dificuldade das organizações em responderem rapidamente às alterações no ambiente, conceitualizam a mudança e a variabilidade organizacionais como resultantes de processos competitivos do tipo darwiniano. Diante desta dificuldade de acompanhar as mudanças no ambiente, os gestores das organizações ficam quase sem possibilidades de ação.
A teoria ecológica encontra resistências na perspectiva da dependência dos recursos de Pfeffer e Salancik. É que a teoria ecológica desconsidera a possibilidade de acesso privilegiado a recursos escassos por determinados atores organizacionais, ao mesmo tempo em que minimiza os papéis da estratégia e do marketing. Parece revelar uma acuidade limitada no que concerne particularmente ao estudo do comportamento das organizações de grandes dimensões. Além disso, esta teoria seria de difícil aplicação prática além de ser deficiente a operacionalização de alguns de seus conceitos centrais.
Sobre a perspectiva da dependência de recursos, o autor identifica os princípios desta teoria como sendo: para sobreviver as organizações precisam de recursos; como, por norma, não detém tais recursos, mostram-se dependentes e tem que interagir com as organizações que a elas permitem acesso. A sobrevivência das organizações seria, então, consequência, ainda que parcial, de sua capacidade de adquirir recursos vitais, onde a negociação e o relacionamento interorganizacional constituem duas das atividades fundamentais da organização. Elenca, ainda, uma série de diferenças conceituais entre as teorias.
Entretanto, apesar das diferenças, as teorias podem ser consideradas complementares, na medida em que ambas elegem os recursos como posição central no funcionamento das organizações, sendo decisivo quanto à sobrevivência. Além do fato de que ambas consideram o ambiente como fator chave do funcionamento organizacional.
Os textos tratam com certa complexidade do elemento ambiente no contexto das organizações. Utilizam-se de metáforas e comparações com outras áreas da ciência para explicar os mecanismos de funcionamento das organizações e suas interações com o ambiente em que estão inseridas. Compreender o elemento ambiente, a luta por recursos, a competição entre as organizações são questões fundamentais para o nascimento e desenvolvimento da organização. Além disso, estas compreensões possibilitam que a organização se modifique e se modernize para acompanhar o mercado, ou seja, que ela permaneça em atividade ao longo do tempo. Entretanto, na minha opinião, estas teorias não devem ser consideradas isoladamente. Devem, sim, ser compreendidas juntamente com as demais teorias que estudam o papel das pessoas dentro das organizações. Serão os gestores que analisarão o ambiente, tentarão compreender as mudanças que estejam ocorrendo, buscarão recursos e promoverão as modernizações para que a organização se mantenha viva por muito tempo, desempenhando suas atividades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HANNAN, Michael; FREEMAN, John. Ecologia populacional das organizações. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v.45, n.3, p.69-104, jul.-set. 2005.
CUNHA, Miguel Pina e. Organizações, recursos e a luta pela sobrevivência: análise aos níveis organizacionais e ecológico. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v.33, n.5, p.34-47, set./out. 1993.
Procurador Federal; Procurador-chefe da Procuradoria Federal junto ao Instituto Nacional do Seguro Social em Contagem/MG; Coordenador do Serviço de Previdência e Assistência Social da Procuradoria Federal no Estado de Minas Gerais; Especialista em Direito Previdenciário; Mestrando em Administração Pública - Fundação João Pinheiro.
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: ARMANDO, Anibal Cesar Resende Netto. Ecologia Organizacional Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 28 jun 2014, 04:00. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/39977/ecologia-organizacional. Acesso em: 23 dez 2024.
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