Resumo: Em que se pesem os conhecimentos contemporâneos sobre a questão social, existiram autores que resguardam perspectivas que influenciam os caminhos dos pesquisadores atuais e que são determinantes para o real conhecimento metodológico social. Assim, a presente exposição visa discorrer sobre os principais apontamentos que Federico Luis Schuster teceu sobre as distintas visões sobre o conhecimento do social presente em Weber e em Dilthey. Assim, observa-se que a ideia proposta por Weber, pautada pela construção dos Tipos ideais apresenta-se como uma superação da perspectiva de Ditlhey, que se baseia na Empatia. Logo, compreender o social na contemporaneidade requer o conhecimento dos ideários passados, compreendendo os avanços e retrocessos metodológicos.
Palavras – chaves: Tipos ideais. Empatia. Metodologia Social.
Breve INTRODUÇÃO
Primeiramente antes de discorrer sobre as perspectivas de Weber e Dilthey torna-se necessário expor alguns apontamentos iniciais feitos por Schuster (1995), quando afirma que hoje não é só possível detectar a diversidade dos métodos entre a ciência social e a ciência natural, para que em sua realidade se pudesse pensar que incluso dentro da ciência social há diversidades na tarefa de investigação de distintas ciências. Assim, observa-se que há campos científicos que possuem problemas específicos.
Diante do asseverado será exposta a visão metodológica social alvitrada por Dilthey e, posteriormente, será apresentada a visão conflitante e avançada proposta por Weber. Por fim, mas não menos importante serão tecidas considerações finais.
Dilthey e o conhecimento do social
Schuster (1995) declara que Dilthey é um autor que reapareceu e que trouxe subsídios muito ricos e interessantes, pois teceu contribuições para a construção de uma metodologia para as ciências sociais e para as ciências do homem, do espírito ou ainda para a ciência da cultura. Para tanto, utiliza da compreensão como método das ciências de espírito ou da cultura.
Dilthey afirma que a ciência da investigação social reproduz o lugar dos sujeitos investigados, portanto, ele usa a perspectiva histórico-cultural reportando a ideia geral do passado. O autor utiliza de uma concepção de que se deve por no lugar do outro, e isto só é possível a partir da compreensão, pois possibilita que todo o estado mental, em certo sentido, produza um resultado. Schuster (1995) ao apresentar estas ideias reforça a importância das contribuições de Dilthey, pois o que representa um escritor é o que está em suas obras, assim como o que concebe um pintor é o que contêm as suas pinturas ou ainda o que identifica um político são as suas ações realizadas como ator político.
Assim, hoje esta concepção histórica e cultural está sendo revalorizada, “como los de la experiencia y la relación entre lo que somos y lo que hacemos, una serie de cosas que actualmente están siendo otra vez estudiadas con mucho entusiasmo” (Schuster, 1995, p. 18). Em Dilthey compreender a outro sujeito é uma ideia constitutiva da imagem de compreensão, em que compreender significa entender o outro como sujeito igual a mim e não como um objeto a ser analisado.
Em outras palavras a ideia de compreensão é assimilar dimensões subjetivas de outro sujeito a partir da reconstrução dos estados psicológicos do outro. Isto remonta a ideia de empatia, que para Dilthey não é necessariamente subjetiva, pois para ele o sentido de subjetividade do outro é decidir o que parece possível reconstruir em regras metodológicas que permitem a qualquer investigador desenvolver os mesmos passos para chegar à mesma situação empática que qualquer outro investigador.
A hermenêutica em Dilthey adquire uma dimensão de ciência social como técnica de interpretação, Schuster (1995, p. 21) alega que:
Como técnica de interpretación, la hermenéutica adquiere una dimensión metodológica diferente, ya no es una técnica para una cosa específica sino que es El Método de la interpretación, en tanto remite de la apariencia a la esencia, es decir, del producto cultural, lo que uno ve reflejado de una cultura, los productos culturales, a la esencia de esa cultura, a lo que los sujetos que produjeron esos productos, que dieron lugar a esos productos, tenían en mente, sus motivos, sus intenciones, sus ideas […].
Assim, Dilthey relata sobre compreensão como método das ciências de espírito ou ciência cultural. Para tanto, compreender é perceber as dimensões subjetivas do outro, ou seja, através da empatia, colocando-se sempre no lugar do outro.
Weber e o conhecimento do social
Schuster (1995) afirma que Weber dá um salto importante principalmente no cenário epistemológico, pois o ponto de vista epistemológico apresentado por Weber nem sempre foi considerado pelos filósofos da ciência. Contudo, atualmente se observa a reinvenção dos estudos e pensamentos weberianos.
Diante disso, percebe-se que Weber quis encontrar uma síntese entre o que representava o positivismo e o antipositivismo. Weber valorizava a ciência social positiva, a sociologia positivada, a capacidade explicativa, o rigor metodológico, a objetividade, entre outros elementos que contribuíam para a ciência social positivada. Contudo, para Weber a ciência social positivada não possibilitava o aprofundamento da ação, essa ideia defendida por ele o diferenciou dos demais sociólogos, colocando-o como centro da sociologia da ação.
Para Weber, o indivíduo é o agente social que faz com que haja a produção da realidade social, ou seja, se fala em ação e se põe a ênfase nesta dimensão, e nesta dimensão se produz a ação. Sempre permaneceu nas ciências sociais esse problema dicotômico, com esta duplicidade da dimensão da ação: tomar o resultado da ação; ou tomar uma dimensão produtiva onde aparece o sujeito com suas intenções, motivos e finalidades. Weber enfatiza esse último viés ao valorizar a perspectiva das intenções, dos motivos e propósitos do sujeito, para tanto o autor utiliza da compreensão, que se dá através da capacidade do investigador de reconstruir os motivos que fizeram com que o sujeito agisse.
Destaca-se que o avanço metodológico de Weber se deu com o método dos tipos ideais, em que desenvolve o conceito de tipo ideal, a sociologia compreensiva, enveredando pela objetividade científica. Deste modo, se constrói um modelo ideal de onde um sujeito ideal e típico, puramente racional, que se move incluso nesse modelo, assim, partindo do tipo puro ideal pode realizar-se uma casuística sociológica. Entretanto, Weber relatou que além dos tipos ideais deve-se considerar a sociologia compreensiva, que apesar da falta de segurança e certeza, possui um caráter de aprofundamento importante para a ciência social.
Para Weber, a ação se define como uma conduta subjetivamente significativa, sem motivo não há ação. Schuster (1995) afirma que de todos os modos segue-se com o problema psicologista, que busca compreender os estados mentais do outro. Este retorno metodológico dos tipos ideais permite escapar da hermenêutica de Dilthey, entretanto, não permite sair do problema que compreende e reconstrói na consciência do investigador, na consciência do outro e na consciência do investigado.
Schuster (1995, p. 25) alerta que “hemos encontrado una vuelta metodológica interesante para escaparle a la empatía, por lo menos en parte. Hay autores que dicen que en el fondo la garantía última está dada por empatía en Weber, pero supongamos que no”. Observa-se assim, que para Weber, compreender não significava ser coautor de obras do passado através de um processo de empatia, como afirmava Dilthey, porém deve-se captar o sentido da ação humana no conjunto de outras ações, numa situação histórico-social, tomando sempre a ação racional como a mais inteligível (WEBER, 1994).
Palavras finais
Por tudo exposto, observa-se que Dilthey foi o responsável pela origem da compreensão, abordando desde o antipositivismo a concepção empática do método científico social. Enquanto Weber representou uma superação da perspectiva de Dilthey ao abordar a compreensão da ação como um avanço metodológico contra a empatia, porém, Weber ainda apresenta problema psicologista, em que busca compreender os estados mentais do outro.
Em suma, observa-se que embora Weber não se afaste da perspectiva historicista, toma a categoria da compreensão numa vertente racional científica, concebendo a realidade como inesgotável e infinita e que o conhecimento dessa realidade infinita complexa é limitado. Por outro lado, Dilthey toma a categoria de vivência como um construto para o conhecimento da realidade, buscando na historicidade e na vivência, os construtos de compreensão da realidade.
referências
Schuster, F. L. Exposición. Hermenéutica y ciencias sociales. In: Schuster, F. L. et al. El oficio de investigador. 2ª ed. Buenos Aires: Homo Sapiens Ediciones, Instituto de Investigación en Ciencias de la Educación: Facultad de Filosofía y Letras, UBA, 1995.
WEBER, Max. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília/DF: Editora da Universidade de Brasília, 1994.
Mestre pela Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES) e Docente no curso de Direito na Faculdade Guanambi.
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: PEREIRA, Deborah Marques. O conhecimento do social em Weber e Dilthey: principais apontamentos de Federico Luis Schuster Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 04 maio 2015, 04:30. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/44170/o-conhecimento-do-social-em-weber-e-dilthey-principais-apontamentos-de-federico-luis-schuster. Acesso em: 23 dez 2024.
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