INTRODUÇÃO
O presente artigo busca apresentar as evoluções científicas e a decorrente mudança de paradigmas que engrandecem o campo de pesquisa jurídica. Em sua obra, Thomas Kuhn vai abarcar sobre como o cientista inicia suas pesquisas, por meio de aspectos mais sutis e, na medida em que avançam com os conhecimentos, irá se debruçar no importante papel que a mudança de paradigmas contribui para toda a pesquisa, especialmente, a jurídica.
Palavras chave: Mudança de paradigmas. Pesquisa. Ciência. Jurídico.
DESENVOLVIMENTO
Capítulo 1 – A Rota para a ciência normal
“Neste ensaio, “ciência normal” significa a pesquisa firmemente baseada em uma ou mais realizações científicas passadas.” (KUHN, 2007, p. 29)
“Homens cuja pesquisa está baseada em paradigmas compartilhados estão comprometidos com as mesmas regras e padrões para a prática científica. Esse comprometimento e o consenso aparente que produz são pré-requisitos para a ciência normal, isto é, para a gênese e a continuação de uma tradição de pesquisa determinada.” (KUHN, 2007, p. 30)
“Dado o manual, o cientista criador pode começar sua pesquisa onde o manual a interrompe e desse modo concentrar-se exclusivamente nos aspectos mais sutis e esotéricos dos fenômenos naturais que preocupam o grupo. Na medida em que fizer isso, seus relatórios de pesquisa começarão a mudar, seguindo tipos de evolução que têm sido muito pouco estudados, mas cujos resultados finais modernos são óbvios para todos e opressivos para muitos.” (KUHN, 2007, p. 40)
O primeiro capítulo explica como definir uma ciência normal. Para isso, Kuhn conceitua termos como paradigmas os quais se referem a própria ciência normal. Estes são aceitados por determinado grupo de uma comunidade cientifica por serem atraídos pelas suas realizações capazes de afastar de outras formas de atividade científica dissimilares. A ciência normal, portanto, é composta por teorias, pesquisa baseadas em realizações científicas passadas. (KUHN, 2007, pp. 29, 30)
É por meio dos paradigmas que se prepara o estudante que fará parte da comunidade científica porque seus trabalhos posteriores deverão estar de acordo com os modelos concretizados pelos membros de dada comunidade científica sem, portanto, contradizê-los. Esse modelo retrata os pressupostos para que haja uma ciência normal e, por conseguinte, a continuação da tradição desta. (KUHN, 2007, p. 30)
Kuhn cita paradigmas como a Óptica de Newton, a Eletricidade de Franklin os quais servem como base para o estudo por muitas gerações. Essa base que sustenta as pesquisas dos próximos estudantes propõe um melhor desenvolvimento da ciência se comparado a um estudo com a ausência desse critério. Kuhn analisa épocas em que se divergiam os paradigmas e, por consequência, qualquer fato que surgisse em determinada área tornaria relevante. Desse modo, as pesquisas desenvolveriam vagarosamente porque não há nenhum paradigma concretizado que faça excluir alguns fatos irrelevantes. (KUHN, 2007, pp. 31, 35)
Quando ainda não há criação das escolas pré-paradigmáticas, os homens divergem na opinião com relações aos fatos por cada um possuir uma crença diferente mesmo que seja, na maioria das vezes, implícita. Kuhn afirma ser este o estágio inicial de uma ciência o qual possui interpretações divergentes mesmo se tratando da mesma gama de fenômenos. Essas diferenças são supridas quando as escolas científicas começam a surgir por causa da existência dos paradigmas que evitam a contradição na interpretação de dado fato. (KUHN, 2007, p. 37)
A maneira de se chegar a uma teoria a qual possa ser aceitada no âmbito científico deve estar relacionada ao fato de que a escolhida é a melhor de todas as propostas e não necessita de explicar todos os fatos que venham a ser questionados. No entanto, possa ser que surja um novo paradigma por um grupo, por exemplo, o qual revela a invalidade do antigo. Atraindo a maior parte dos membros, um novo ponto de partida será adepto à comunidade científica. Aqueles que negarem a nova posição, têm suas ideias ignoradas. (KUHN, 2007, pp. 38, 39)
Kuhn analisa de forma eficiente a adequação de um paradigma para a busca de uma ciência normal. É importante que haja um conceito entre os praticantes científicos para que não possua um determinado fato várias interpretações que tornam difíceis a compreensão e definição deste. A existência de um paradigma faz com que os cientistas façam pesquisas voltadas aos fatos que realmente são necessários sem que atrase o progresso científico.
2. A Natureza da ciência normal
“Tal como uma decisão judicial aceita no direito costumeiro, o paradigma é um objeto a ser melhor articulado e precisado em condições novas ou mais rigorosas.” (KUHN, 2007, p. 44)
“Os paradigmas adquirem seu status porque são mais bem sucedidos que seus competidores na resolução de alguns problemas que o grupo de cientistas reconhece como graves. Contudo, ser bem sucedido não significa nem ser totalmente bem sucedido com um único problema, nem notavelmente bem sucedido com um grande número.” (KUHN, 2007, p. 44)
“Poucos dos que trabalham realmente com uma ciência amadurecida dão-se conta de quanto trabalho de acabamento desse tipo resta por fazer depois do estabelecimento do paradigma ou de quão fascinante é a execução desse trabalho.” (KUHN, 2007, p. 44).
No segundo capítulo, Kuhn apresenta os limites que os paradigmas possuem. Por mais que um paradigma seja bem sucedido que os demais (e, por isso, aceito pela comunidade), ele é incompleto com relação aos diversos fatos existentes no mundo científico, isto é, ele não resolve todos os problemas. Quando é aceito por certa comunidade científica, o paradigma parece ser o próprio sucesso. Por mais que haja incompletude na sua prática, ele traz apenas uma promessa desse sucesso. (KUHN, 2007, p. 44)
A ideia não é de se criar novas teorias. O objetivo é o amadurecimento da ciência. A maneira com que os cientistas analisam, por meio de diferentes métodos e articulações, é o que se busca na pesquisa científica normal. Os limites trazidos pelo paradigma são necessários para que através deles os estudantes busquem maior detalhe em determinado fato. A atenção dada a um caso específico propõe maior desenvolvimento da ciência. Grandes cientistas se destacam por desenvolver precisão e segurança na análise de determinados fatos. (KUHN, 2007, pp. 45, 46)
Kuhn discorre sobre a análise do paradigma pautada na determinação do fato significativo, harmonização dos fatos com a teoria e articulação da teoria. Determinando-se o fato utilizando as características já ditas como precisão, é possível harmonizar os fatos introduzindo-os em outras áreas e, por fim, por em prática a realização dos métodos. Nessa última análise empírica, é a ocasião em que surge a solução ou não dos problemas que não se obtêm somente pela teoria. (KUHN, 2007, pp. 46, 56).
Entendendo a natureza da ciência normal, nota-se a influência do paradigma na ciência normal sendo que a negação deste traduz na própria negação desta ciência. Existe a reformulação de muitos paradigmas, porém, não afirma a sua eliminação. Há uma crítica à visão que muitos têm de que o sucesso se alcança somente por meio de descobertas científicas, novas teorias. O sucesso se alcança, na maioria das vezes, por meio de aplicações mais sutis aos fatos que o descobrimento destes.
3. A Ciência normal como resolução de quebra-cabeças
“Talvez a característica mais impressionante dos problemas normais da pesquisa que acabamos de examinar seja seu reduzido interesse em produzir grandes novidades, seja no domínio dos conceitos, seja no dos fenômenos.” (KUHN, 2007, p. 57)
“Resolver um problema da pesquisa normal é alcançar o antecipado de uma nova maneira. Isso requer a solução de todo o tipo de complexos quebra-cabeças instrumentais, conceituais e matemáticos.” (KUHN, 2007, p. 59)
“O critério que estabelece a qualidade de um bom quebra-cabeça nada tem a ver com o fato de seu resultado ser intrinsicamente interessante ou importante.” (KUHN, 2006, p. 59)
“A ciência normal é uma atividade altamente determinada, mas não precisa ser inteiramente determinada por regras.” (KUHN, 2007, p. 66)
Kuhn discorre, no terceiro capítulo, o fato de que a pesquisa científica normal não visa produzir resultados inesperados, mas construir determinada pesquisa por meio de um quebra-cabeça. A construção deste valoriza o caminho no qual foram necessárias várias horas para descobrir o lugar de cada peça. E é este propósito que Kuhn apresenta na ciência normal. Os paradigmas precisam ser articulados. E essa maneira de analisa-los não busca resultados inesperados. Os resultados são formas de construir para a precisão de tal análise. (KUHN, 2007, p. 58)
A resolução dos quebra-cabeças é problemática e requer esforço do cientista se tornando, para ele, um desafio com grande potencial de motivação. Pode ser explicado pelo fato de que o local de cada peça é único e não há exceções. Esse capítulo aborda também a questão da qualidade de dado quebra-cabeça que não faz referência à importância do mesmo. Afirma ainda que problemas que possuem extrema importância não são encontrados através desse método. (KUHN, 2007, p.59)
A ciência normal pode ser impedida de contribuir com novas resoluções somente se houver a falta de engenho, porque as oportunidades que os cientistas têm em resolver concentram-se em questões delimitadas (propostas nos paradigmas) facilitando o progresso dos métodos. (KUHN, 2007, p. 60)
Existem caminhos necessários, no entanto, a seguir para alcançar soluções aceitáveis. Não poder haver espaços vazios entre as peças do quebra-cabeça é um exemplo de uma das regras. Estas facilitam estão relacionadas às informações existentes nos paradigmas. É por meio dessa busca que se alcança a resolução dos quebra-cabeças através da ciência normal. (KUHN, 2007, pp. 62, 66)
A analogia feita neste capítulo revela a consistência do estudo científico normal. Busca uma verdadeira determinação quanto aos fatos por meio de utilização de regras. Estas facilitam o direcionamento da pesquisa. Além disso, a forma para entender o lugar de cada peça revela a fuga da ambiguidade no processo de formação. Qualquer peça a qual não faça parte do conteúdo, mesmo que possua semelhanças, deve, necessariamente, ser descartada. A analogia a esse método traduz em uma pesquisa brilhante na ciência.
4. A Prioridade dos paradigmas
“A investigação histórica cuidadosa de uma determinada especialidade num determinado momento revela um conjunto de ilustrações recorrentes e quase padronizadas de diferentes teorias nas suas aplicações conceituais, instrumentais e na observação. Essas são os paradigmas da comunidade, revelados nos seus manuais, conferências e exercícios de laboratório.” (KUHN, 2007, p. 67)
“Os paradigmas poderiam determinar a ciência normal sem a intervenção de regras que podem ser descobertas.” (KUHN, 2007, p. 71)
“A ciência normal pode avançar sem regras somente enquanto a comunidade científica relevante aceitar sem questionar as soluções de problemas particularmente já obtidas. Por conseguinte, as regras deveriam assumir importância e a falta de interesse que as cerca deveria desvanecer-se sempre que os paradigmas ou modelos pareçam inseguros.” (KUHN, 2007, p. 72)
No quarto capítulo, Kuhn argumenta sobre a relação existente entre regra, paradigma e ciência normal. Apresenta o fato de que a determinação dos paradigmas compartilhados se afasta da ideia de regras comuns existentes na comunidade científica. Ele sugere analisar trabalhos dos membros dessa comunidade e identificar a influência de paradigmas globais relatando sobre a tradição científica particular. Caso as regras sejam o direcionamento da pesquisa, torna-se mais trabalhoso sendo que as regras exigem um terreno comum em dada área correspondente. Acrescenta o fato de que mesmo sem regras, o paradigma continua a pesquisa sem maiores problemas. Com relação à ciência normal, esta se refere a inspeção direta dos paradigmas. Por isso, não há necessidade da existência de regras. (KUHN, 2007, pp. 67, 69)
A grande dificuldade que se encontra em estabelecer regras à ciência normal é a especificidade da tradição desta. O outro grande obstáculo seria da educação científica. Kuhn apresenta as maneiras como o processo de aprendizado envolve não apenas a teoria, mas também a introdução juntamente com esta à prática na resolução dos problemas. Quando esses paradigmas parecerem inseguros, no entanto, e houver consentimento por parte dos membros, as regras adquirem seu papel de relevância. Pode-se, com isso, afirmar que as regras possuem características gerais sendo inerentes aos paradigmas. (KUHN, 2007, pp. 71, 74)
Kuhn traz neste capítulo a maior independência dos paradigmas afastando-os das ideias errôneas as quais os aproximam de conceitos de regras. Além desse fator, assume-se o maior domínio dos paradigmas às regras. É importante que haja certa atenção ao papel dessas regras visto que, quando há insegurança nos paradigmas, são elas que sustentam os métodos. Mas enquanto há confiança, pode-se desviar da condução por essas.
5. A anomalia e a emergência das descobertas científicas
“A ciência normal não se propõe descobrir novidades no terreno dos fatos ou da teoria; quando é bem sucedida, não as encontra.” (KUHN, 2007, p. 77)
“A descoberta começa com a consciência da anomalia, isto é, com o reconhecimento de que, de alguma maneira, a natureza violou as expectativas paradigmáticas que governam a ciência normal.” (KUHN, 2007, p. 78)
“Um desenvolvimento posterior comumente requer a construção de um equipamento elaborado, o desenvolvimento de um vocabulário e técnicas esotéricas, além de um refinamento de conceitos que se assemelham cada vez menos com os protótipos habituais do senso comum.” (KUHN, 2007, p. 91)
A busca pela ciência normal se encontra na solução de quebra-cabeças como já explicado no terceiro capítulo. O foco é em qual método se torne mais preciso. Por esses motivos, desviam as atenções com relação às descobertas científicas. Estas, por sua vez, tem se tornado frequente entre os cientistas da época. Por isso, há uma proposta de introduzir mudanças nos mesmos paradigmas que orientaram tais descobertas. (KUHN, 2007, pp. 77, 78)
Por meio da existência de um paradigma, adquirem-se expectativas diante as teorias e as observações empíricas. Se forem sustentados pela natureza os métodos aplicados até então, não há o que contestar. Contudo, se houver quebra de expectativa, é necessário que se crie um novo paradigma capaz de suprir as novas demandas científicas. Detectar o problema, porém, não é somente a mudança do paradigma, mas também a concordância do cientista com tal fato. (KUHN, 2007, p. 78)
Kuhn ressalta o papel fundamental que a descoberta possui. É muitas vezes contestada e enfrenta negações, inicialmente, generalizadas pelos membros da comunidade científica. Ela necessita de uma assimilação conceitual ampla que irá propor o desenvolvimento da ciência. (KUHN, 2007, pp. 80, 82)
O costume de que o primeiro paradigma proposto é capaz de explicar vários fenômenos e possui o sucesso esperados entre os membros da comunidade científica. Não obstante, quando há o surgimento de um novo paradigma é preciso que haja uma reformulação dos termos e conceitos. (KUHN, 2007, p. 91)
A descoberta está vinculada a ciência normal quando se analisa o processo em que são pesquisadas. Primeiramente, tem-se um paradigma o qual fora muito discutido (fase pré-paradigmática) e, por fim, pode definir os conceitos deste. No meio da busca da ciência normal, as pesquisas se voltam na análise dos métodos, das formas como se chegam aos resultados, mas não o objetivo deste. Mas nas buscam por métodos orientados de forma pré-estabelecida (paradigmas), todavia, há falha na expectativa propondo novamente uma pesquisa que convença o cientista a apresentá-la à comunidade evidenciando, dessa maneira, a emergência de uma descoberta científica.
6. As crises e a emergência das teorias científicas
“Ao nos ocuparmos da emergência de novas teorias, inevitavelmente ampliaremos nossa compreensão da natureza das descobertas.” (KUHN, 2007, p. 94)
“A emergência de novas teorias é geralmente precedida por um período de insegurança profissional pronunciada, pois exige a destruição em larga escala de paradigmas e grandes alterações nos problemas e técnicas da ciência normal.” (KUHN, 2007, p. 95)
“O significado das crises consiste exatamente no fato de que indicam que é chegada a ocasião para renovar os instrumentos.” (KUHN, 2007, p. 105)
As descobertas discutidas no quinto capítulo causam mudanças nos paradigmas e proporcionam nossos métodos para análise científica. Essas mudanças são caracterizadas como construtivas, mas também destrutivas. O leque de possibilidades se abre com esses novos paradigmas para que haja maior conhecimento sobre os fenômenos da natureza. (KUHN, 2007, p. 93)
Além das descobertas, é possível identificar outras mudanças em meio à falha dos resultados esperados do antigo paradigma: a invenção de novas teorias. Estas retratam maior compreensão dos fenômenos. São necessárias mediante a destruição de paradigmas e métodos utilizados pela ciência normal até certo período. Anteriormente a elas, uma fase de insegurança se apresenta na comunidade científica causada pelos defeitos que os quebra-cabeças produziram. (KUHN, 2007, pp. 94, 95)
Kuhn discorre ao fato de que não são somente as falhas dos quebra-cabeças da ciência normal que se deve o fracasso da atividade técnica. A pressão social contribui também para aumentar o período de fracasso. No entanto, a primeiro motivo funciona como o cerne da questão. (KUHN, 2007, p. 97)
No quinto capítulo, as atribuições às descobertas científicas se dão por meio do processo da ciência normal. Quando não há falha no processo, a ciência avança de forma mais rápida. Isso se explica pelo fato de que não há a existência de pressão social nem de diversas pesquisas minuciosas que devem ser feitas até obter um novo resultado concreto e poder reformular um novo paradigma. Tem-se um caminho frequente na pesquisa científica: primeiro surge as discursões para a produção de um paradigma, depois a ciência se desenvolve de forma brilhante por meio deste. E, quando o mesmo não atende às necessidades, é preciso uma nova adaptação.
7. Resposta à crise
“Uma teoria científica, após ter atingido o status de paradigma, somente é considerada inválida quando existe uma alternativa disponível para substituí-la.” (KUHN, 2007, p. 107)
“Decidir rejeitar um paradigma é sempre decidir simultaneamente aceitar outro e o juízo que conduz a essa decisão envolve a comparação de ambos os paradigmas com a natureza, bem como sua comparação mútua.” (KUHN, 2007, p. 108)
“Embora seja improvável que a história registre seus nomes, indubitavelmente alguns homens foram levados a abandonar a ciência devido à sua inabilidade para tolerar crises.” (KUHN, 2007, p. 109)
“Rejeitar um paradigma sem simultaneamente substituí-lo por outro é rejeitar a própria ciência.” (KUHN, 2007, p. 109)
No sétimo capítulo, Kuhn aborda a substituição dos antigos paradigmas por novos capazes de suprir as necessidades das descobertas. Esse ato, no entanto, não é tão simples. Os cientistas se apegam aos paradigmas existentes até o ponto em que não podem mais ser aceitos exigindo a substituição destes. (KUHN, 2007, p. 107). Só é possível, entretanto, quando há novos paradigmas para substituí-los. Na falta destes, os cientistas não podem negar os já existentes. Caso contrário, estaria negando a própria ciência. (KUHN, 2007, p. 109)
A existência de contraexemplos perfaz o direcionamento para evidenciar a crise científica. O quebra-cabeça da ciência normal, no entanto, não é considerado um contraexemplo causado pela própria crise. A maneira como solucionar tal é que deve ser revista e reformulada para alcançar os novos resultados ou aperfeiçoá-los. Por isso que surge a necessidade de um novo paradigma visto que a crive provoca proliferação de versões do paradigma, enfraquecimento das regras de resolução dos quebra-cabeças. (KUHN, 2007, p. 110)
Quando há o surgimento de uma anomalia na ciência normal, os membros da comunidade científica geralmente preferem observar de forma detalhada antes que ocorra uma crise. Esta, por sua vez, ocorre quando essa anomalia ultrapassa o conceito de ser um novo quebra-cabeça. (KUHN, 2007, pp. 113, 114)
Os cientistas, em meio à crise, buscam a emergência de novas teorias propondo maior oportunidade para as descobertas. Esse passo dado às novas teorias afeta a tradição científica a qual, para que se chegasse a tal ponto, foi amplamente equivocada. (KUHN, 2006, p. 117, 120). A transição para um novo paradigma como resposta à crise é uma revolução científica. (KUHN, 2007, p. 122)
É possível extrair do sétimo capítulo a dificuldade que muitos cientistas possuem em meio à crise. É relatado que muitos desistem de tal área e pode-se entender facilmente o desânimo causado pela quebra da tradição. O aprofundamento do estudo por meio da utilização de métodos distintos, a nova norma que deve ser seguida, a falta de precisão do antigo paradigma, a insegurança das regras evidenciam fatorem desestimulantes no âmbito científico. Mas a superação destes revela o desenvolvimento extraordinário da ciência. Não apenas por possuir métodos eficazes para vários fenômenos, mas também por meio de revoluções que movem o estudo científico.
8. A natureza e a necessidade das revoluções científicas
“Tanto no desenvolvimento político como no científico, o sentimento de funcionalidade defeituoso, que pode levar à crise, é um pré-requisito para a revolução.” (KUHN, 2007, p. 126)
“Tal como a escolha entre duas instituições em competição, a escolha entre paradigmas em competição demonstra ser uma escolha entre modos incompatíveis de vida comunitária.” (KUHN, 2007, p. 127)
“Após o período pré-paradigmático, a assimilação de todas as novas teorias e de quase todos os novos tipos de fenômenos exigiram a destruição de um paradigma anterior e um consequente conflito entre escolas rivais de pensamento científico.” (KUHN, 2007, p. 130)
“A discussão precedente indicou que consideramos revoluções científicas aqueles episódios de desenvolvimento não-cumulativo, nos quais um paradigma mais antigo é total ou parcialmente substituído por um novo, incompatível com o anterior” (KUHN, 2007, p. 125)
No oitavo capítulo, traz as ideias explícitas nos capítulos anteriores com relação ao funcionamento inadequado dos paradigmas e, por isso, a substituição destes por novos para atender à crise. A necessidade de revoluções científicas tem o propósito de mudar as antigas concepções até então aceitas. Analogicamente, Kuhn refere-se ao desenvolvimento político no qual as instituições políticas deixam de atender às demandas da sociedade e, com isso, surge a necessidade de uma reconstrução da sociedade. (KUHN, 2007, pp. 126, 127)
Adotando essa novo argumento de comparação, Kuhn explica que os processos em meio às crises se assemelham aos encontrados no meio social. A divisão da sociedade em partidos mostra o quanto alguns divergem das novas propostas e aderem às propostas pré-estabelecidas. Da mesma forma, encontram-se cientistas que se prendem aos paradigmas já existentes ao invés de investigar quais métodos serão adotados. (KUHN, 2007, p. 127)
O capítulo aborda também o fato de que uma nova teoria nem sempre entra em conflito com as anteriores. Pode-se acrescentar conhecimento estando em um nível mais alto que as anteriores ou não. Pode ser que haja também compatibilidade histórica entre as antigas e as recentes teorias. (KUHN, 2007, p. 129) Analisando a assimilação dessas novas teorias na história da ciência, no entanto, nota-se que a grande parcela, quase total, trouxe conflito com os paradigmas já existentes. Essa análise discorre sobre o conhecimento que se tem sobre a pesquisa normal. Ela é cumulativa e visa acrescentar novas teorias sem o propósito de resultados inesperados. (KUHN, 2007, p. 130)
Por fim, tem-se a compreensão de fenômenos que podem desenvolver uma nova teoria. O primeiro consiste no tipo de fenômenos os quais estão incluídos nos paradigmas. Como há limitação destes, a segunda forma está nos detalhes que se entendem quando o cientista articula esses paradigmas. E o terceiro seria o reconhecimento das anomalias, exigindo recusarem-se os paradigmas já existentes. Apenas no terceiro fenômeno, no entanto, é que se torna possível a invenção de novas teorias. (KUHN, 2007, p. 131)
É interessante quando a análise social é comparada aos estudos científicos trazendo novidades as quais revelam a dificuldade que a maioria das pessoas tem em assimilar um processo das ciências a um das sociais. A diferença é que as formas como se pesquisa nos dois âmbitos, se for especificar, possuem padrões distintos e incompatíveis. Na ciência, nota-se o processo com que os cientistas têm para determinar certo fato utilizando os experimentos e observação destes. Nas ciências sócias, não há experimentos e os casos se estendem de forma muito mais abrangente do que nos fatos científicos. Por isso que a análise deve ser direcionada com relação às movimentações revolucionárias de forma geral, não detalhada, dos dois grupos.
9. As revoluções como mudanças de concepção de mundo
“O historiador da ciência que examinar as pesquisas do passado a partir da perspectiva da historiografia contemporânea pode sentir-se tentado a proclamar que, quando mudam os paradigmas, muda com eles o próprio mundo.” (KUHN, 2007, p. 147)
“As mudanças de paradigma realmente levam os cientistas a ver o mundo definido por seus compromissos de pesquisa de uma maneira diferente.” (KUHN, 2007, pp. 147-148)
“O que um homem vê depende tanto daquilo que ele olha como daquilo que sua experiência visual-conceitual prévia o ensinou a ver.” (KUHN, 2007, p. 150)
“O cientista não pode apelar para algo que esteja aquém ou além do que ele vê com seus olhos e instrumentos.” (KUHN, 2007, p. 151)
Kuhn aborda as percepções diferenciadas trazidas pelas revoluções. O homem passa a enxergar dado objeto de maneira diferente mesmo que este não seja mudado ou transformado. A maneira como os cientistas passam a enxergar o mundo muda nas revoluções. Estas trazem novas concepções de mundo capazes de atribuir novos conceitos ao mesmo objeto/fato analisados pelos primeiros paradigmas. Dessa maneira, cientistas devem ter seus ambientes reeducados. (KUHN, 2007, pp. 148, 150)
O paradigma filosófico explicado no texto foi introduzido por Descartes e se desenvolveu na dinâmica de Newton. Ele faz referência ao fato de que o sucesso ocorrido no passado não garante que a crise possa ser postergada indefinidamente. (KUHN, 2007, p. 158)
Kuhn explica também que os paradigmas não podem ser corrigidos pela ciência normal, uma vez que esta se tornaria apenas crises e anomalias. Acrescenta também que o método interpretativo ajuda a articular um paradigma, mas não se deve atribuir o nascimento dos paradigmas em meio a iluminações intuitivas. (KUHN, 2007, p. 160)
Ao final do capítulo, aborda-se sobre a dificuldade que existe em estabelecer um vínculo totalmente correto entre o paradigma e a natureza. Os paradigmas, no entanto, sustentam o desafio proposto pelos quebra-cabeças o qual se torne quase impossível sem que haja tais métodos. (KUHN, 2007, p. 174)
Com base nos conhecimentos adquiridos neste capítulo, pode-se perceber o quanto uma revolução muda o direcionamento de uma dada comunidade científica e, por consequência, a sociedade como um todo. Exemplos de como os homens imaginavam como seria a Terra e depois com as pesquisas evidenciando que suas ideias estavam incorretas são formas de apresentar o impacto que revoluções científicas são capazes de propor. O mundo continua da mesma forma, mas as maneiras como as pessoas enxergam mudam em meio às novas concepções.
10. A invisibilidade das revoluções
“Grande parte da imagem que cientistas e leigos têm na atividade científica criadora provém de uma fonte autorizada que disfarça sistematicamente – em parte devido a razões funcionais importantes – a existência e o significado das revoluções científicas.” (KUHN, 2007, p. 175)
“A disposição do material que ainda permanece visível nos textos implica um processo que, se realmente existisse, negaria toda e qualquer função às revoluções.” (KUHN, 2007, p. 180)
“Os conceitos científicos que expressam só obtêm um significado pleno quando relacionados, dentro de um texto ou apresentação sistemática, a outros conceitos científicos, a procedimentos de manipulação e a aplicações do paradigma.” (KUHN, 2007, p. 182)
No décimo capítulo, Kuhn aborda sobre o quanto que o significado e a existência das revoluções podem ser disfarçados. (KUHN, 2007, p. 175). A busca por entender tal defeito começa pela a análise de manuais que ganharam confiança simultaneamente ao período do surgimento dos paradigmas. Os manuais limitam em grande parte a compreensão histórica científica, uma vez que estes fazem referências apenas àqueles antigos cientistas que têm suas contribuições facilmente compreendidas na resolução de problemas apresentados no paradigma. (KUHN, 2007, pp. 176-177)
A crítica que Kuhn faz a invisibilidade das revoluções está na impressão que os manuais trazem de que os conhecimentos científicos são adquiridos por meio da junção de objetivos particulares dos vários cientistas como se fossem tijolos numa construção. E na ciência, o procedimento não ocorre dessa maneira. Muitos quebra-cabeças surgem quando há a revoluções. O método utilizado é transformado por meio da revolução e, dessa forma, a análise que se passa nos manuais seria equivocada ao comparar os novos paradigmas a meras junções de leis, conceitos, fatos ou teorias. (KUHN, 2007, p. 180)
Kuhn argumenta de forma bem sucedida quanto à importância que se tem em considerar as revoluções no processo científico como um todo. O livro apresenta, na maior parte, a limitação de paradigmas e regras evidenciando, assim, a importância que as descobertas trazem a uma nova forma de pensamento, uma nova forma de se entender os fenômenos da natureza. Possuem extrema importância as análises dos quebra-cabeças também, uma vez que, além de acumular conhecimento, é o ponto de partida capaz de evidenciar uma nova revolução.
11. A resolução das revoluções
“Os manuais que estivemos discutindo são produzidos somente a partir dos resultados de uma revolução científica. Eles servem de base para uma nova tradição de ciência normal.” (KUHN, 2007, p. 185)
“É somente através da ciência normal que a comunidade profissional de cientistas obtém sucesso; primeiro, explorando o alcance potencial e a precisão do velho paradigma e então isolando a dificuldade cujo estudo permite a emergência de um novo paradigma.” (KUHN, 2007, p. 194)
Kuhn discorre sobre os indivíduos os quais irão trabalhar com as novas ideias aos novos paradigmas. Afirma que esses indivíduos se concentram nos problemas que levaram à crise. E, diferentemente aos seus contemporâneos, não são profundamente afetados pelas mudanças de concepções e tradições já existentes. (KUHN, 2007, p. 185)
A questão que procura entender o porquê dos cientistas abandonarem um paradigma tradicional e adotarem outro está relacionada ao fato de que a ciência normal envolve a resolução de quebra-cabeças, não está atrelada ao paradigma. Este é uma forma de ponto de partida e utilização de métodos, no entanto, o papel do pesquisador em solucionar os quebra-cabeças é que irá propor uma maneira de explicar os novos resultados os quais necessitarão de uma nova tradição para a pesquisa. (KUHN, 2007, p. 186)
Kuhn reforça a questão de que não é uniforme a aceitação de novos paradigmas. Cada geração de cientistas trata a resistência à novidade de maneira diferente. Os indivíduos que propõe as mudanças estão sempre em desentendimento. Com relação ainda à aquisição dos novos paradigmas, estes possuem características como vocabulários e aparatos dos antigos, porém, utilizados de maneira distinta. (KUHN, 2007, p. 189, 191)
A análise de Kuhn nesse capítulo se volta novamente atribuindo explicações de capítulos anteriores explicando o como se dá a revolução científica (quem se propõe a tais análises, por meio de quais métodos chegam a tal conclusão) e como são as reações a estas.
Pode-se notar que através da ciência normal é possível obter sucesso. Kuhn deixa claro esse argumento no texto. A importância da sua análise sobre os meios favorece o entendimento mais aprofundamento dos quebra-cabeças. Outro ponto interessante na sua análise é retratar o estranhamento dos cientistas que convivem com as regras tradicionais há mais tempo que os mais jovens. Estes são responsáveis pelo maior esforço em procurar, observar, criticar padrões já existentes. Isso ocorre em vários âmbitos de uma sociedade. As pessoas mais experientes geralmente não possuem mais tantas motivações para observar e aceitar novos modelos de sociedade.
12. O progresso através de revoluções
“O progresso científico não difere daquele obtido em outras áreas, mas a ausência, na maior parte dos casos, de escolas competidoras que questionem mutualmente seus objetivos e critérios, torna bem mais fácil perceber o progresso de uma comunidade científica normal.” (KUHN, 2007, p. 207)
“O mais esotérico dos poetas e o mais abstrato dos teólogos estão muito mais preocupados do que o cientista com a aprovação de seus trabalhos criadores por parte dos leigos, embora possam estar menos preocupados com a aprovação como tal.” (KUHN, 2007, p. 208)
No décimo segundo capítulo, Kuhn discorre sobre a afirmação de que se obtém progresso na ciência de forma mais rápida do que por outras áreas de conhecimento como a arte, filosofia, política. (KUHN, 2007, p. 203)
A afirmação sobre o progresso na ciência está relacionada ao fato de que o próprio progresso é alcançado somente por meio da ciência. A adesão a um único paradigma contribui para que a comunidade científica se baseie em métodos compartilhados. Dessa maneira, é possível alcançar o desenvolvimento científico. A crítica feita por Kuhn evidencia na maneira com que as outras áreas de estudo se divergem entre si, possuindo, muitas vezes, paradigmas distintos. (KUHN, 2007, p. 206)
CONCLUSÃO
No último capítulo, Kuhn aborda um fato importantíssimo no entre as diferenças das ciências às outras áreas. Não aponta a questão do conteúdo das revoluções trazidas nas diferentes áreas. Ele critica o tempo que se alcança essas revoluções. Enquanto nas áreas humanas há vários indivíduos discutindo e discordando dos modelos adotados em suas áreas, a ciência adota o paradigma e se concentra na resolução dos quebra-cabeças.
O grande problema que se encontra nessa análise é a natureza de cada área. Nas humanas, não é tão simples admitir um novo método de estudo sem contestá-lo, discuti-lo e ser aceito pela maioria. Na ciência, nota-se a dificuldade de tal aceitação, porém, possui maior facilidade do que nas humanas. É mais prático observar e experimentar os fatos científicos do que analisar o que se passa em cada pensamento das pessoas. Esta é uma tarefa árdua por admitir várias ideias, concepções e modos distintos de enxergar o mundo. Por esses motivos, a ciência torna com maior facilidade a progredir. E é por meio da ciência normal, representada pelos seus paradigmas e quebra-cabeças que possibilitam esse avanço incomparável.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 2007.
Estudante de Direito na Universidade de Brasília .
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: DANIELLA ALKMIM DE ARAúJO, . A contribuição da análise da mudança de paradigma de Thomas Kuhn para a pesquisa jurídica Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 10 abr 2017, 04:15. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/49878/a-contribuicao-da-analise-da-mudanca-de-paradigma-de-thomas-kuhn-para-a-pesquisa-juridica. Acesso em: 23 dez 2024.
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