Resumo: O presente artigo tem por objetivo, através da análise doutrinária e bibliográfica sobre a invasão do Iraque observar as opressões realizadas pelas corporações e pelos soldados estadunidenses ao povo iraquiano. Assim como efetuar uma análise doutrinária e bibliográfica da criminologia feminista para compreender a vulnerabilidade do gênero feminino frente uma sociedade patriarcal através de uma breve análise do histórico das opressões sofridas pela mulher. No mais, desde os primórdios da humanidade, a mulher é colocada, na sociedade, no papel de coadjuvante, e não de protagonista, como ocorre com o homem, devendo manter-se submissa e invisível em relação ao gênero masculino. Outrossim, é viável perceber o embate travado pelo neoliberalismo e os sujeitos de direitos que acabam sendo inferiorizados e diminuídos frente um sistema que se preocupa essencialmente com o poder econômico. Assim, a pesquisa buscou constatar a dominação da mulher e do povo iraquiano frente um poder exacerbado exercido tanto pelo gênero masculino frente uma sociedade patriarcal, quanto por um sistema neoliberal apenas preocupado com o bom andamento do comércio.
Palavras-chave: Mulher. Patriarcado. Iraque. Sistema neoliberal. Dominação.
Abstract:The objective of this article is to examine the oppression of US corporations and soldiers against the Iraqi people through the doctrinaire and bibliographical analysis of the invasion of Iraq. As well as carrying out a doctrinal and bibliographical analysis of feminist criminology in order to understand the vulnerability of the feminine gender to a patriarchal society through a brief analysis of the history of the oppressions suffered by women. Since the beginning of mankind, women have been placed in society in the role of coadjuvant, not as protagonists, as men do, and must remain submissive and invisible to the male gender. Moreover, it is feasible to perceive the clash between neoliberalism and the subjects of rights that end up being inferiorized and diminished before a system that is essentially concerned with economic power. Thus, the research sought to verify the domination of the women and the Iraqi people in the face of an exacerbated power exercised by both the male gender in front of a patriarchal society and by a neoliberal system only concerned with the good progress of commerce.
Keywords: Woman. Patriarchy. Iraq. Neoliberal system. Domination.
SUMÁRIO: 1. INTRODUÇÃO. 2. AS OPRESSÕES VIVIDAS POR INDIVÍDUOS SUBALTERNIZADOS PELO SISTEMA NEOLIBERAL FRENTE A INVASÃO NO IRAQUE. 3. A VULNERABILIDADE E A SUBORDINAÇÃO DA MULHER FRENTE UMA SOCIEDADE PATRIARCAL. 4. A DOMINAÇÃO DA MULHER E DO POVO IRAQUIANO: UMA ANÁLISE DO PODER EXACERBADO. 5. CONCLUSÃO. REFERÊNCIAS.
1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa visa analisar a temática envolvendo as opressões vividas por indivíduos subalternizados pelo sistema neoliberal frente a invasão ocorrida no Iraque em 2003, assim como a vulnerabilidade e a subordinação da mulher frente uma sociedade patriarcal. E, assim, entender a dominação da mulher e do povo iraquiano frente o poder exacerbado imposto tanto pelas coligações que invadiram o Iraque, quanto pela sociedade patriarcal no qual vivemos.
Outrossim, desde os primórdios da humanidade, a mulher é colocada, diante de uma sociedade patriarcal, no papel de coadjuvante, e não de protagonista, como ocorre com o homem, devendo manter-se mera acompanhante do gênero masculino. O gênero feminino, aquele que possui o estigma de mãe, responsável pelos ócios do lar e esposa devota ao marido, segue com esse estereótipo, perpetuando a submissão ao patriarcado.
Além do mais, sempre foi muito forte a invocação para que o gênero feminino reforçasse a capacidade de se sentir tímido e inseguro nas relações interpessoais. Ou seja, a mulher deveria se retrair, permanecer amedrontada diante de qualquer homem, demonstrando sua submissão e seu papel como subalterna ao gênero masculino, enaltecendo ainda mais o papel de vulnerável.
No mais, a invasão do Iraque ocorreu no ano de 2003, indicada com o nome de "Operação Liberdade do Iraque" pelos Estados Unidos, e aconteceu no contexto da Guerra Global contra o Terrorismo. Ademais, o objetivo dessa operação foi o de derrubar o regime proposto pelo terrorista Saddam Hussein, havendo uma “americanização” no país de tradição muçulmana, principalmente no que toca o comércio e as relações de mercado.
Ademais, a invasão do Iraque foi um dos pontos centrais para análise da subordinação do povo iraquiano frente as grandes corporações que tomaram o poderio econômico do país. Isto posto, a transformação neoliberal da economia colocou o Iraque aos pés das instituições financeiras internacionais e corporações transnacionais.
Em suma, é indubitável que a mulher e a população iraquiana sejam entendidos como subalternos, invisíveis e submissos frente uma sociedade patriarcal e um sistema neoliberal. Assim, o intento principal proposto tanto pelos países responsáveis pela invasão iraquiana, quanto por uma sociedade machista é de submissão e invisibilidade do povo através de uma dominação exacerbada.
2 AS OPRESSÕES VIVIDAS POR INDIVÍDUOS SUBALTERNIZADOS PELO SISTEMA NEOLIBERAL FRENTE A INVASÃO NO IRAQUE
Analisando o decorrer da história, é possível vislumbrar o embate travado pelo neoliberalismo e os sujeitos de direitos que acabam sendo inferiorizados e diminuídos frente um sistema que se preocupa essencialmente com o poder econômico. Os grandes empresários, juntamente com o governo de países com amplo poder econômico, tendem a se preocupar com a economia do país, em detrimento das questões humanitárias tão latentes e necessárias.
A invasão do Iraque ocorreu no ano de 2003, apresentada com o nome de "Operação Liberdade do Iraque" pelos Estados Unidos, e aconteceu no contexto da Guerra Global contra o Terrorismo. No mais, o objetivo da operação foi o de derrubar o regime imposto pelo terrorista Saddam Hussein, havendo uma “americanização” no país de tradição muçulmana.
Outrossim, podemos exemplificar a invasão do Iraque como um dos pontos centrais para análise da subordinação do povo iraquiano frente as grandes corporações que tomaram o poderio econômico do país. A transformação neoliberal da economia colocou o Iraque aos pés das instituições financeiras internacionais e corporações transnacionais. A produção dos produtores locais foi terminada, e incontáveis fábricas e fazendas foram forçadas a sair do negócio, além da criação de uma economia corrupta que deixou os sistemas de saúde e educação dizimados. [1]
Assim, a exclusão de determinados sujeitos pelo neoliberalismo no decorrer da história evidencia que diante da emancipação do econômico, há por correlato o endurecimento do poder. Ademais, esse endurecimento do poder se iguala a um interesse egoísta que determina, pois, o desenvolvimento de uma sociedade calcada na economia. [2]
No mais, importante frisar as inúmeras agressões e subjugações físicas dos indivíduos frente os soldados americanos. Esses delitos incluem abuso dos direitos humanos e crimes de guerra, ou seja, morte e torturas de iraquianos, evidenciando a dominação do povo iraquiano frente os seus invasores. [3]
A vulnerabilidade, de acordo com Eugenio Raúl Zaffaroni, pode ser classificada como (1) a posição do estado de vulnerabilidade e (2) o esforço pessoal para a vulnerabilidade. A primeira ideia é predominantemente social e entendida como o grau de risco ou perigo que o sujeito corre ao pertencer a uma classe, grupo ou estrato social, enquanto que o segundo entendimento é predominantemente individual e consiste no grau de perigo ou risco em que a pessoa se coloca em razão de um comportamento particular.[4]
Destarte, é possível analisar a condição de vulnerabilidade do povo iraquiano frente as grandes corporações, assim como aos soldados, responsáveis pela sujeição dos indivíduos do país invadido. A subalternidade é vista de forma explícita uma vez que corporações de países representantes da coligação responsável pela invasão do Iraque possuem benefícios frente os produtores locais, privilegiando o bom andamento da economia em detrimento das condições humanitárias básicas.
No mais, quando um importador de carne australiano é questionado sobre seu comércio, ele menciona que independentemente da guerra no Iraque ser ilegal ou não, seu trabalho era melhorar o acesso ao cordeiro halal barato. [5] Nessa perspectiva, entende-se que a prioridade é o mercado, o benefício próprio, não abarcando a ideia da legalidade ou não da guerra iraquiana.
Isto posto, é possível vislumbrar um latente individualismo, principalmente visto na tradição ocidental, ou seja, nos países que invadiram o Iraque e tomaram a administração do mercado para si. Assim, o individualismo acentua o primado das relações do homem com as coisas, em detrimento de uma relação do homem com o homem, buscando cada vez mais um benefício econômico. [6]
Por conseguinte, o interesse egoísta é a base da troca, e determina, pois, o desenvolvimento de uma sociedade calcada na economia. Esse egoísmo presente em uma sociedade que preza o econômico, como, por exemplo, o sistema neoliberal, utiliza a natureza como um objeto no sentido forte do termo, com ela ficando explorável à vontade do homem. [7] Dessa maneira, realça Walter Benjamin que:
O domínio do homem sobre o mundo graças à técnica não leva necessariamente à emancipação do proletariado. O que a experiência está mostrando é que a exploração da natureza e a exploração do trabalhador andam juntas e se potenciam exponencialmente. [8]
Assim, a escassez de água é descrita por funcionários do governo iraquiano como o pior desde o início da civilização do Iraque, além da baixa produção de alimentos agrícolas. O número de mortes por água contaminada, por serviços de saúde inadequados e a falta de acesso a comida é com certeza maior que o número de morte causadas diretamente por conflitos militares na invasão/ocupação e subsequente guerra civil. [9]
No mais, parafraseando Walter Benjamin, o progresso é infernal porque frivoliza o sofrimento humano. Consequentemente, o dogmatismo progressista acaba se apresentando sob a forma de um desenvolvimento incontinente, irresistível, imbatível. Ou seja, não há maneira de deter o progresso. [10]
Evidencia-se, igualmente, que a “americanização” do povo iraquiano acaba por buscar uma invisibilidade dos indivíduos, através de uma coerção pela uniformidade. Um professor de inglês do Reino Unido diz estar ensinando inglês aos iraquianos por ser a língua oficial do óleo e do gás. Ele descreve sua função como professor puramente em ideias humanitárias quando questionado, e não passa por sua cabeça que ele estava doutrinando o intelecto de nenhum indivíduo, ou fazendo parte de uma estratégia maior imposta pelos países responsáveis pela invasão do Iraque.[11]
Nessa perspectiva, é possível perceber a utilização da língua inglesa como uma espécie de mecanismo para provocar a uniformidade do povo iraquiano, para que haja o rompimento da utilização da língua mãe do país, e o ajustamento de uma única língua pensando apenas no benefício dos invasores. Assim, fica evidente a tentativa de “americanização” dos iraquianos em prol do bom andamento das questões econômicas buscadas pelas coligações.
Em suma, o intento principal proposto pelos países responsáveis pelo sistema neoliberal é de submissão e invisibilidade do povo iraquiano, além da tentativa de uniformidade para que o país muçulmano se enquadre nos ditames dos países pertencentes as coligações. Assim, a autonomia e a particularidade dos indivíduos acabam sendo reduzidas em prol de um sistema baseado na livre economia e nas conquistas das grandes corporações que invadiram o Iraque.
3 A VULNERABILIDADE E A SUBORDINAÇÃO DA MULHER FRENTE UMA SOCIEDADE PATRIARCAL
Analisando o decorrer da história, é possível vislumbrar o embate travado pela mulher por querer se libertar de uma sociedade que a oprime e a estereotipa como mãe e dona de casa, responsável por manter a ordem e a organização da família. Em diversos momentos ímpares da história, a mulher tenta manifestar sua necessidade de ser vista como equânime ao gênero masculino, podendo ter voz e visão em uma sociedade patriarcal.
A exclusão do gênero feminino da construção dos registros durante a história reforça a aceitação da ideologia patriarcal, consequência dos mais de 2.500 anos em que as mulheres estiveram privadas de voz e conhecimento. Assim, o patriarcado pode ser entendido como uma maneira de organização social aderente apenas à metade masculina da espécie humana, caracterizado pela dominância dos homens e a subordinação das mulheres, que ocorre através do controle do homem sobre os interesses e perspectivas do mundo.[12]
A mulher, desde os primórdios do surgimento da humanidade, sempre foi subordinada ao homem, pois, já na época da Pré-História, no período Neolítico, quando acontece o surgimento da agricultura e, consequentemente, da sedentarização dos seres humanos, a mulher acaba exercendo os trabalhos domésticos, porque só eles eram conciliáveis com os encargos da maternidade. Na Grécia, a mulher ocupava uma posição semelhante à do escravo, tendo, novamente, como função primordial, a reprodução da espécie humana, bem como a produção daquilo que era ligado à subsistência dos sujeitos, como, por exemplo, a alimentação através da agricultura.[13]
Ademais, é importante destacar que, na Idade Média, houve um marco importante para o retrocesso da visão da mulher em sociedade, o Malleus Maleficarum, conhecido como Martelo das Feiticeiras. A obra, amplamente conhecida por ser um manual de caça às bruxas, que recorria aos textos do Antigo Testamento, da Antiguidade Clássica e de demais autores medievais para comprovar a inferioridade feminina, traz à tona formas cruéis de tortura, ensinando como martirizar mulheres que eram vistas como bruxas.[14] No mais, Soraia da Rosa Mendes destaca:
Embora o Martelo das Feiticeiras tenha tido seus antecessores, é nesse texto que se estabelece uma relação direta entre a feitiçaria e a mulher a partir de textos do Antigo Testamento, dos textos da Antiguidade Clássica e de autores medievais. Nele constam afirmações relativas à perversidade, à malícia, à fraqueza física e mental, à pouca fé das mulheres e, até mesmo, à classe de homens que seriam imunes aos seus feitiços.[15]
Assim, como já explicitado, a mulher, durante seu convívio social, foi encarregada dos trabalhos domésticos, pois só eles eram conciliáveis com os encargos da maternidade, encerrando-a na repetição e na iminência da rotina. Essas atribuições se reproduzem dia após dia, da mesma maneira, perpetuando a rotina de conciliação da maternidade com o papel de mãe através dos séculos, apesar de a gestação ser um trabalho cansativo que não traz efetivamente nenhum benefício individual à mulher, exigindo dela, no entanto, numerosos sacrifícios.[16]
A supremacia masculina se encontra em todas as classes sociais de uma sociedade e, mesmo que uma mulher assuma uma posição superior à de um homem, ela não será eximida de se sujeitar ao julgamento de outro homem – seja ele pai ou companheiro, por exemplo. A mulher, apesar de estar encontrando cada dia mais autonomia perante a questão de gênero, ainda segue sendo estereotipada até os dias atuais como mãe e responsável pelo bom andamento das atividades que ocorrem no lar, de acordo com o entendimento de uma sociedade patriarcal, não podendo se ausentar por completo dessas questões, que são essencialmente suas.[17] Assim sendo, Simone de Beauvoir realça:
O privilégio econômico detido pelos homens, seu valor social, o prestígio do casamento, a utilidade de um apoio masculino, tudo impele as mulheres a desejarem ardorosamente agradar aos homens. Em conjunto, elas ainda se encontram em situação de vassalas. Disso decorre que a mulher se conhece e se escolhe, não tal como existe para si, mas tal qual o homem a define. Cumpre-nos, portanto descrevê-la primeiramente como os homens a sonham, desde que seu ser-para-os-homens é um dos elementos essenciais de sua condição concreta.[18]
Em diversos países pouco desenvolvidos economicamente, mulheres são comercializadas e exploradas sexualmente. Essa comercialização inclui a prostituição infantil, o tráfico e venda de crianças para outros países devido a questões sexuais e a pornografia. Assim, o gênero feminino é especialmente vulnerável para esse tipo de comércio, pois em muitas sociedades as mulheres são vistas como proprietárias dos homens – sejam eles familiares ou maridos. [19]
No mais, outra questão importante de ser mencionada acerca da vulnerabilidade feminina, é a mutilação genital. Essa mutilação genital deve ser entendida como um procedimento que envolve parte ou total remoção da genitália feminina externa, ou o prejuízo de órgãos femininos, e ocorre, normalmente em meninas entre quatro e catorze anos. [20]
A razão para a existência da mutilação genital depende do contexto cultural e religioso, mas as razões mais comuns incluem um rito de passagem entre a fase da infância para a fase adulta, com a crença de que meninas precisam ser salvas da libido, devendo preservar sua fidelidade e purificação até o casamento. Essa prática ocorre principalmente na Somália, Djibouti, Sudão, Egito, Etiópia, Quênia, Nigéria e Mali, no qual mais de oitenta por cento das mulheres sofreram da prática de mutilação genital. [21]
Por conseguinte, a condição de ser mulher pode ser vista como um resultado do conjunto articulado de uma civilização, que elabora o que se qualifica e, de forma ainda mais insultuosa, como deve se expressar o feminino frente à sociedade. As atribuições de papéis sociais diferentes para o gênero feminino e para o masculino, constituídas a partir de ocorridos históricos, permitem a perpetuação de uma assimetria entre os gêneros, cujo complexo de fenômenos opressivos articula a inferioridade, a discriminação, a dependência e a subordinação das mulheres, tornando-as reféns em decorrência da sua condição submissa.[22]
Em suma, com os ensinamentos dos episódios históricos vividos, é possível compreender o papel da mulher como vulnerável e subordinada frente uma sociedade patriarcal. A mulher, mesmo com o passar dos anos, ainda segue sendo vista e entendida como submissa ao homem, devendo se manter as sombras do gênero masculino que possui o poder de mandar e desmandar decisões em uma sociedade machista.
4 A DOMINAÇÃO DA MULHER E DO POVO IRAQUIANO: UMA ANÁLISE DO PODER EXACERBADO
À luz da dominação exacerbada em uma sociedade de direitos, podemos analisar e compreender que indivíduos vulnerabilizados sob alguma perspectiva – como, por exemplo, as mulheres e a população iraquiana –, se encontram reprimidos e submissos. Essa subjugação leva a uma quebra dos direitos humanos básicos que deveriam ser prioridade nas relações interpessoais, trazendo uma vulnerabilidade impiedosa a determinados indivíduos.
Desde os primórdios da civilização, a mulher é colocada, na sociedade, no papel de coadjuvante, e não de protagonista, como ocorre com o homem, devendo manter-se mera acompanhante do gênero masculino. O gênero feminino, apesar da incessante busca pela libertação do estigma de mãe, responsável pelos ócios do lar e esposa devota ao marido, segue com esse estereótipo, devendo manter-se invisível frente uma sociedade machista e patriarcal. Nesse toar, menciona Soraia da Rosa Mendes:
Sempre foi muito forte a invocação para que as mulheres “reforçassem” a capacidade de sentirem-se tímidas e inseguras nas relações sociais. A retraírem-se amedrontadas diante de qualquer tipo de homem, a ruborizarem-se. [23]
As mulheres são vistas como representantes de um gênero que é subordinado a outro (o masculino), na medida em que determinadas qualidades, bem como o acesso a certos papéis e cargos profissionais, são entendidos como naturalmente ligados a um indivíduo em detrimento de outro.[24] Assim, os papéis de gênero são responsáveis pela consolidação de um discurso que constrói a identidade do homem e da mulher, e acabam encarcerando ambos em seus limites – dos quais o decorrer da história deve libertá-los.[25]
Outrossim, a mulher, durante seu convívio social, foi encarregada dos trabalhos domésticos, pois só eles eram conciliáveis com os encargos da maternidade, encerrando-a na repetição e na iminência da rotina. Essas atribuições se reproduzem dia após dia, da mesma maneira, perpetuando a rotina de conciliação da maternidade com o papel de mãe através dos séculos, evidenciando a submissão da mulher frente o gênero masculino.[26]
Em relação a invasão iraquiana, o efeito chave das ordens estabelecidas pelas coligações foi de estabelecer as empresas estrangeiras como as principais no Iraque, erradicando a produção dos produtores locais, e assim, facilitando a privatização de ativos estatais e sua venda a multinacionais estrangeiras. Os efeitos combinados dessas medidas culminaram em um enfraquecimento fatal da capacidade industrial nativa, além de enfraquecer as perspectivas de refinanciamento da indústria iraquiana pelo capital iraquiano. [27]
Além disso, a invasão do Iraque estabeleceu uma invisibilidade da população iraquiana, uma vez que a transformação neoliberal pelas empresas chefiadas pelas coligações colocou o Iraque submisso as instituições financeiras internacionais e corporações transnacionais. No mais, as produções dos produtores locais foram abolidas, e incontáveis fábricas e fazendas foram forçadas acabar com o seu negócio. [28]
Do mesmo modo, importante frisar que com a invasão no país muçulmano, milhares de indivíduos tiveram sua integridade física e psicológica lesada. As torturas e agressões físicas dos oponentes ao sistema de “americanização” do Iraque foram recorrentes, demonstrando ainda mais a vulnerabilidade desses indivíduos frente um sistema neoliberal apenas preocupado no lucro e nas aquisições econômicas possíveis com a usurpação do país. [29]
Desta maneira, é esse mecanismo do individualismo – tanto pelos países responsáveis pela invasão iraquiana quanto pela sociedade patriarcal -, que nos parece interessante compreender porque exemplifica o poder contemporâneo. Ou seja, uma sociedade egoísta e individual irá gerar ainda mais violência e indiferença em relação aos indivíduos mais vulneráveis. [30]
No mais, na obra de Pierre Bourdieu, a violência simbólica é aquela exercida sobre um agente social com a sua cumplicidade, ou seja, no exercício da violência simbólica incluem relações de gênero nas quais homens e mulheres concordam que as mulheres são mais fracas, por exemplo, ou relações de classe em que tanto a classe operária quanto a classe média concordam que as classes médias são mais inteligentes e mais capazes de administrar o país. [31]
Nessa perspectiva da análise da violência simbólica de Pierre Bourdieu resta claro o quanto essa violência é impregnada na nossa sociedade atual, e nas relações interpessoais. A submissão e invisibilidade de determinados indivíduos frente outros acaba tornando a violência e o egoísmo muito latente, gerando uma dominação exacerbada – como ocorre, por exemplo, com as mulheres e a população iraquiana.
Isto posto, não há universalidade que valha algo se tiver como custo social a infelicidade de um só sujeito. A verdadeira universalidade consiste, portanto, em reconhecer a atualidade dessa injustiça passada e cometida contra qualquer ser humano. [32]
Tinha razão Angela Davis ao afirmar que “Quando falamos em paz, devemos falar também em liberdade”[33], pois é preciso entender o quanto essa dominação exacerbada acaba prejudicando o bem comum em sociedade. Os indivíduos vulneráveis e submissos a uma violência simbólica, como bem explicita Bourdieu, ficam a mercê de uma hegemonia agressiva e cruel.
Em suma, a vulnerabilidade da mulher e da população iraquiana é pungente. É necessário explicitar e trazer à tona uma dominação que ainda é latente e esquecida frente uma sociedade patriarcal e um sistema neoliberal, em prol do bem comum.
5 CONCLUSÃO
O presente artigo tem como escopo demonstrar ao leitor uma análise sobre a dominação exacerbada de uma sociedade patriarcal e de um sistema neoliberal. Ainda, a pesquisa trouxe uma breve análise do histórico de opressões sofridas pelo gênero feminino, e um breve estudo sobre a invasão do Iraque, e como as corporações influenciaram na economia local, assim como nos direitos humanos básicos dos indivíduos.
Diante disso, buscou-se analisar o sistema neoliberal aplicado no Iraque após a invasão de 2003, e como essa “americanização” acabou alterando o modo de vida dos iraquianos. As corporações responsáveis pela economia iraquiana colocaram o Iraque aos pés das instituições financeiras internacionais e corporações transnacionais. Assim, a produção dos produtores locais foi terminada, e incontáveis fábricas e fazendas foram forçadas a sair do negócio, além da criação de uma economia corrupta que deixou os sistemas de saúde e educação dizimados.
Após, explanou-se a respeito das opressões sofridas pela mulher no decorrer da história, percebendo a vulnerabilidade da mulher que possui um papel de mãe e dona de casa, responsável por manter a ordem e a organização da família. A mulher mesmo com o passar dos anos, ainda segue sendo vista e entendida como submissa ao homem, devendo se manter as sombras do gênero masculino que possui o poder de decisão frente uma sociedade machista.
Destacou-se, ainda, a dominação exacerbada em uma sociedade de direitos, principalmente em relação as mulheres e a população iraquiana. No mais, essa subjugação que ocorre através da dominação exacerbada leva a uma quebra dos direitos humanos básicos que deveriam ser prioridade nas relações interpessoais, trazendo uma vulnerabilidade impiedosa a determinados indivíduos que são submissos e frágeis.
Em suma, confirmou-se a importância no estudo da dominação exacerbada de uma sociedade patriarcal e de um sistema neoliberal, pois é indubitável a necessidade de uma atenção maior aos indivíduos que sofrem de uma submissão perante determinados sistemas ou sujeitos. Por conseguinte, é imprescindível trazer à tona essa dominação exacerbada que ainda é latente e esquecida frente uma sociedade patriarcal e um sistema neoliberal, em prol do bem comum.
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[2] MAFFESOLI, Michel. A violência totalitária. 1. Ed. Porto Alegre: Sulina, 2001.
[3] DAVID, Whyte. 2012.
[4] ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas. 5. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2001.
[5] DAVID, Whyte. 2012.
[6] MAFFESOLI, Michel. 2001.
[7] MAFFESOLI, Michel. 2001.
[8] MATE, Reyes. Meia noite na história: comentários às teses de Walter Benjamin “Sobre o conceito de história”. 1. Ed. São Leopoldo: Unisinos, 2011, p. 250-251.
[9] DAVID, Whyte. 2003.
[10] MATE, Reyes. 2011.
[11] DAVID, Whyte. 2003.
[12] OLIVEIRA, Camila Belinaso de. A mulher em situação de cárcere: uma análise à luz da criminologia feminista ao papel social da mulher condicionada pelo patriarcado. 1. ed. Porto Alegre: Fi, 2017.
[13] ALVES, Branca Moreira; PITANGUY, Jacqueline. O que é feminismo. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.
[14] MENDES, Soraia da Rosa. Criminologia Feminista: novos paradigmas. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
[15] MENDES, 2017, p. 21.
[16] BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo – Fatos e Mitos. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.
[18] BEAUVOIR, 2016, p. 196.
[19] PANTAZIS, Cristina. Gendering Harm Through a Life Course Perspective. In. P. Hillyard, C. Pantazis, S. Tombs e D. Gordon (Org.) Beyond Criminology – Taking Harm Seriously. Londres: Pluto Press, 2004.
[20] PANTAZIS, 2004.
[21] PANTAZIS, 2004.
[22] OLIVEIRA, 2017.
[23] MENDES, 2017, p. 125.
[24] ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Sexo e gênero: a mulher e o feminino na criminologia e no sistema de justiça criminal. Boletim do IBCCrim. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 12, n. 138, mai. 2004.
[25] TORRÃO FILHO, Amílcar. Uma questão de gênero: onde o masculino e o feminino se cruzam. Caderno Pagu, n. 24, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cpa/n24/n24a07.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2018.
[26] BEAUVOIR, 2016.
[27] DAVID, Whyte. 2003.
[28] DAVID, Whyte. 2003.
[29] DAVID, Whyte. 2003.
[30] MAFFESOLI, Michel. 2001.
[31] BOURDIEU, Pierre. A violência simbólica: o controle social na forma da lei. 1. Ed. Brasil: Edipucrs (livros digitais), 2015.
[32] MATE, Reyes. 2011.
Doutoranda em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), mestra em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul(PUCRS) e bacharela em Direito pela Fundação Escola Superior do Ministério Público (FMP).
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: LINCK, Lívia do Amaral e Silva. A dominação da mulher e do povo iraquiano: uma análise do poder exacerbado Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 09 jul 2019, 05:00. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/53146/a-dominacao-da-mulher-e-do-povo-iraquiano-uma-analise-do-poder-exacerbado. Acesso em: 23 dez 2024.
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