Quando menino, li um livro intitulado “Os mais belos contos russos”. Num deles, sete guerreiros invencíveis reuniram-se para comemorar sua invencibilidade quando, no horizonte, surgiu um cavaleiro com elmo e espada, que cavalgou em direção ao grupo para desafiá-lo.
Bastou um golpe de um dos guerreiros invencíveis para dividi-lo ao meio. Do cavaleiro morto surgirão dois cavaleiros que, novamente, foram divididos em dois por dois golpes de dois guerreiros invencíveis.
Os dois cavaleiros mortos transformaram-se em quatro e assim foram sendo multiplicados enquanto eram derrotados. Após sete dias de combate com uma infinidade de cavaleiros, os sete guerreiros invencíveis foram vencidos pelos fracos cavaleiros que tinham o dom de se multiplicarem quando mortos.
Escrevi, tão logo Bush invadiu o Iraque, na Folha de São Paulo, o artigo “Terrorismo Oficial de Bush”, em que prenunciava que o Iraque seria uma nova Vietnã para os americanos. É que estou convencido que o terrorismo político, arma dos mais fracos, não pode ser combatido como se combate o narcotráfico ou a criminalidade em geral. Quando está disposto a sacrificar sua vida por uma causa, por mais errada que esteja – e os terroristas estão sempre errados pelos métodos adotados – acredita firmemente no ideal que abraça a ponto de sacrificar-se como “pessoa-bomba” em seus atos tresloucados.
O terrorismo político só pode ser combatido com o diálogo à exaustão, sem preconceitos, aceitando-se as diferenças culturais e nivelando-se o “status” do mais forte com o mais fraco, como Rui Barbosa prenunciou em Haia, ao defender a igualdade das nações independentemente de sua força.
O presidente Clinton obteve, em seu governo, um cessar fogo entre palestinos e israelenses mediante um diálogo permanente. É bem verdade que Arafat tinha mais sensibilidade que os radicais de Hamas, os quais, todavia, foram eleitos pelo povo.
Do ponto de vista do Direito Internacional, a resposta de Israel é justificada, pois foi o grupo Hamas que deu início às hostilidades, mas o objetivo de Israel de destruir por completo o foco dos radicais de Hamas através reação desproporcional, que matou tantos inocentes quanto terroristas, parece-me de difícil consecução, pois o número de mortos palestinos termina por aumentar o ódio islâmico contra Israel, o que poderá levar a uma luta semelhante ao dos sete guerreiros invencíveis.
Ódio gera ódio. Morte de inocentes de ambos os lados gera a vontade de vingança, com o que o drama do Oriente Próximo nunca terá fim. Creio que a pressão crescente da comunidade internacional e a necessidade de abertura de um diálogo à exaustão entre as partes em conflito, são as únicas tênues esperanças de que, um dia, teremos paz naquela conturbada região.
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