No dia 14 de dezembro, a Polícia Civil do Distrito Federal através da 6ª Delegacia realizou junto ao Instituto Aprender o evento Natal na Sexta. O intuito foi levar a instituição policial até o projeto, o qual abriga cerca de 320 alunos carentes que habitam as regiões do Paranoá, Itapoã e adjacências. Os alvos eram crianças e adolescentes que se dirigem no contraturno ao instituto com o intuito de ter oficinas de natação, percussão, teatro, música e capoeira. Em um país em que cerca de 33 milhões de pessoas passam fome e tem mais 09 milhões de desempregados, foi uma forma encontrada pelos policiais de trazer um natal mais digno às famílias da comunidade. Cada servidor teve como meta, além de tentar angarias os presentes e alimentos, levar sorriso e afeto aos atendidos.
O nosso primeiro desafio era entender qual o nosso papel diante do nosso público alvo. Trata-se de uma população carente, a qual por questões e ações histórico-sociais construídas rechaçam e estigmatizam o trabalho policial. Muitos dos alunos que ali estavam já presenciaram uma intervenção policial em sua casa, família ou vizinho. Então, abaixamos as armas. Cabia a nós assimilar que as pessoas que nos receberiam, independente de tropeços de seus ascendentes ou conhecidos, eram nossos clientes para os quais prestamos serviços, função que deve se se pautar dentre os princípios da eficiência, impessoalidade e moralidade. A aproximação visava não só a solidariedade, mas dar transparência das nossas ações à sociedade que nos remunera.
Foi previamente pactuado com a direção do estabelecimento que cada criança escreveria uma carta com os seus desejos. Cada policial recebeu a sua ordem de missão, ou seja, tentaria chegar o mais próximo possível do que era pretendido pelo remetente. Vieram solicitações de caixa de bater bafo, bolas, bonecas e bicicletas. Quase todos os objetos foram adquiridos, com poucas exceções, mais uma coisa era certa ninguém poderia sair sem ser agraciado. Ao final da organização, com ajuda dos policiais, da comunidade, dos amigos e dos comerciantes, foram angariadas mais de 200 cestas básicas e garantidos presentes a todos os participantes.
No dia programado o Papai Noel chegou no Carcará, o helicóptero da instituição. A Divisão de Cães fez uma bela apresentação com o Jimmy, um Golden Retriver que além de farejar drogas é carismático e diverte a todos. A Escola Superior abriu as portas do seu Museu de Drogas, além do que todos os alunos puderam dar uma volta no interior das viaturas policiais. Após a nossa programação foi a vez de presenciar o trabalho do Instituto. Os alunos dançaram rap, tocaram, recitaram e agradeceram a tarde de convivência. A Gabriele, 10 anos, disse a todos: “isso que eu quero, vou ser policial”.
Ao final, passamos a entrega das lembranças e das cestas básicas. Era visível a felicidade de todos, não só dos presenteados, mas também dos policiais que contribuíram para realização do evento. O Vinícius, 10 anos, o mais risonho e simpático das crianças, aproximou-se e eu perguntei se ele estava satisfeito. Ele disse que sim. Questionei se ele ganhou o que havia escrito na carta. De repente, o semblante do garoto esmoreceu. Das mais de 180 cartas que nos chegou, lembrei de uma que me emocionou e era justamente a dele. O Vinícius pediu um emprego para o pai. Fiquei sem palavras. O garoto se levantou, sorriu e continuou a brincar.
O nome do instituto é aprender, um ato revolucionário que requer transformação. Sem dúvida, houve uma simbiose entre a Polícia Civil e os alunos que ali estavam. Crianças, famílias, colaboradores e policiais se sentiram humanos e importantes no sentido de que unidos podem fazer algo a mais para construir uma sociedade mais igualitária. Mostramos que muitos dos policiais que ali estavam tiveram origens semelhantes aos alunos do projeto, romperam barreiras e alçaram o cargo público. Testemunhamos crianças e adolescentes como o Vinícius que desde tenra idade vivenciam as agruras e as necessidades da vida. Pessoas que assimilam as mazelas de uma sociedade hierarquizada em que milhões se encontram desempregados e em insegurança alimentar. Rogamos por um natal que não faltem alimentos aqueles alunos e demais pessoas em condições semelhantes. E também não seja subtraído dos menos abastados a esperança por dias melhores e que muitos dos responsáveis, como o genitor de Vinícius, possam garantir à sua prole o mínimo para sua sobrevivência e dignidade.
Precisa estar logado para fazer comentários.