Luciana Virgília Amorim de Souza
Isabel Maria Amorim de Souza
RESUMO: O estudo da gramática tem sido muito debatido na academia de modo a levantar questões referentes à eficácia do ensino e da maneira com que tem sido tratada pelo processo educacional no Brasil. Entretanto, o ensino de gramática vem sofrendo mudanças sensíveis em seu projeto educacional, sendo que ao elemento final desse processo, sofrem sérias divergências referentes ao saber aportado pelos alunos fora do ambiente escolar. Os impactos causados no processo de educação na gramática são por consequências as disfunções na linguagem e divergem do que lhe é ensinado.
PALAVRAS-CHAVES: Gramática; Educacional; Linguagem.
INTRODUÇÃO
O trabalho procura abordar o conceito de gramática de acordo com os estudos linguísticos e os tipos de gramáticas estudadas nas academias. No que se refere ao ensino de LP. ( Língua Portuguesa) nas escolas brasileiras se remete e se prende somente ao ensino de regras já prontas, esquecendo-se da cultura local de cada aluno e do conhecimento prévio que ele já possui. Pode-se dizer que é quase impossível somente ensinar um tipo de gramática nas escolas, no caso, a gramática normativa. A dificuldade de se estudar e compreender a norma culta torna-se evidente e complicada, pois ensinar algo que não condiz com a realidade é repetitivo, monótono e sem nexo, do qual se pretende querer a retenção do assunto visualizado em um dado estudo na gramática coloquial. Há, um certo, distanciamento entre o que se transmite eo que se absorve impactados no modo em que ambos se dão em um processo educacional .
“Alguém poderia reclamar que a concepção normativa de gramática, desenhada acima, não corresponde exatamente ao que se faz nas escolas em matéria gramatical. Para o aluno ver os desvios gramaticais encontrados na reação, o professor teria que lançar mão de uma porção de noções descritivas como nome, verbo, adjetivo, Sujeitos, predicados, adjuntos e complementos, Orações subordinados de diferentes tipos.” (FRANCHI, 2006, p.18).
O dilema encontrado no educador seja em transmitir o conteúdo como do aluno receptor desse conteúdo, mostra os desafios de ambos em buscarem maneiras de entendimento mútuo do qual o educador se encontra na escolha de melhores técnicas de ensino capazes de auxiliar tanto a ele, como o aluno de estabelecerem o entendimento e a compreensão de tal conteúdo, pois sem essas técnicas, tanto o educador quanto o aluno não passariam a se relacionarem na mesma linguagem, pois em ambos podem ocorrer um choque de linguagens: Ao aluno, com vicissitudes linguísticas ou o linguajar popular aprendido em seu meio social e ao educador, também com vicissitudes linguísticas, porém com o papel de correção dessas vicissitudes encontradas no aluno e através do processo coloquial de linguagem, direcionar o aluno a uma linguagem mais aceita e menos deselegante em um determinado loco.
1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO ESTUDO DA GRAMÁTICA
Descrever sobre a gramática torna-se um assunto um tanto quanto polêmico, pois os discursos voltados para ela são tidos como difíceis para a compreensão analíticado processo de emprego das regras rígidas de ensino da gramática na sala de aula, pois as aulas de Língua Portuguesa (LP.) deixaram de ser motivante e estimulante e significativa para o aluno porque a realidade não condiz com o que é transmitido na escola pelo professor. A gramática normativa busca estabelecer um conjunto de regras que devem ser seguidas e essas regras são as que estabelecem as dificuldades apresentadas. E a gramática descritiva que propõe descrever as normas gramaticais relativas ao uso da língua por uma determinada comunidade de fala, ou seja, grupos de falantes que seguem as mesmas regras relativas ao uso de uma determinada língua.
Dentre outros tipos de gramática, já estudadas, há também a gramática internalizada (G.I.), que busca estabelecer o conjunto de regras que o falante domina. Na GI, o sujeito incorpora, internaliza as regras com os outros sujeitos do meio o qual convive. Há também certa dificuldade para se definir uma norma-padrão devido à rápida evolução constante da sociedade e da língua que ela fala, é o que normalmente chamamos de diacronia. Portanto, varia de acordo com a classe social, faixa etária e região, e dessa maneira, pode-se conceituar de variação linguística. O percurso histórico da Língua Portuguesa dos séculos anterior e atual, fazem com que isso seja visível “(...) a variação linguística acontece-nos mais diversos níveis da língua, a saber: variação fonética-fonológica, variação morfológica, variação sintática, variação semântica, variação lexical e variação estilística”. (ANDRADE JUNIOR, 2011, p.41).
Na história, o desenvolvimento do estudo da linguagem perpassa por dois grandes momentos distintos: o surgimento das gramáticas gerais no século XVII e a constituição das gramáticas comparadas no século XIX. Percebe-se que nos séculos citados, a linguagem sofre modificações e isso vem acontecendo momentaneamente. De acordo com as necessidades sócio–linguísticas, com a evolução da tecnologia e a mistura de pessoas de lugares diferentes, faz com que essas mudanças cresçam a cada dia:
“Concorda-se em geral que a mais extraordinária façanha dos estudos linguísticos do século XIX foi o desenvolvimento do método comparativo, que resultou num conjunto de princípios pelos quais as línguas poderiam ser sistematicamente comparadas no tocante a seus sistemas fonéticos, estrutura gramatical e vocabulário, de modo a demonstrar que eram “genealogicamente” aparentadas.” (WEEDWOOD, 2002, p.103).
A gramática geral deveria funcionar como uma máquina que pudesse separar automaticamente o que é válido do que não é. A meta que se queria atingir era a língua ideal, universal, lógica, sem equívocos e ambiguidades, capaz de assegurar a unidade da comunicação de gênero humano. Seria muito fácil se funcionasse desse modo, mas não de tal forma, pois temos uma variação muito ampla da linguagem e sem contar com o preconceito que sofre determinadas línguas. Para que a língua evolua por qualquer razão que seja, dependerá de vários fatores no ato discursivo. Diferentemente dos estruturalistas, que viam a língua como meio expressar pensamento, os funcionalistas conceberam-na como meio de interação social. O estruturalismo linguístico remota às ideias do suíço Ferdinand de Saussure, em particular a sua concepção da língua como um sistema onde as unidades contam principalmente pelas relações que entre elas se estabelecem.” (ILARI, 2002, p.25) Ou seja, a comunicação é realizada através da troca de informações entre locutor e interlocutor.A função primordial da língua é comunicar e transmitir informação através do diálogo efetuado entre os participantes.
2 O ESTUDO DA GRAMÁTICA HISTÓRICA
O Funcionalismo primazia a comunicação, nos seus estudos consideram o que está além das sentenças, observa-se o sentido formulado na situação do discurso em que foi propagado, considerando as particularidades do interlocutor. Com as discussões realizadas Escola de Praga pelo Círculo Linguístico, as ideias funcionalistas foram fundamentais e ganharam notoriedade. Após o surgimento da Sociolinguística, os estudos a cerca da língua evoluíram, principalmente na tentativa de acabar com o preconceito linguístico tão arraigado na sociedade. “Ferdinand de Saussure (Curso de Linguística geral, 1916) opôs nitidamente a língua (langue) e a fala (parole): a língua é um sistema inscrito na memória comum, que permite produzir e compreender a infinidade dos enunciados; a fala é o conjunto dos enunciados efetivamente produzidos.” (MARTIM, 2003, p.54).Para o estudo da língua é importante conhecermos, primeiramente, o que é gramática, o que significa a gramática em uma comunicação comum. A gramática pode ser definida como um conjunto de normas a serem seguidas de modo a transmitir uma ideia, uma razão ou uma intenção expressa nos códigos linguísticos. E assim, as noções de certo e errado estão inseridas, o que significa que há uma valorização na forma de falar e escrever da norma “culta”, de modo a valorizar uma norma padrão aceita pela sociedade que usa esses códigos linguísticos. É importante saber que existem vários tipos de gramática e cada uma, busca estabelecer suas regras. Ao descrever as normas gramaticais relativas ao uso da língua por uma determinada comunidade de fala, Também consiste, em fazer da gramática internalizada no que se refere ao conhecimento que o indivíduo já possui em mente, adquirido em sua formação sócio-cultural:
“Não há língua que seja, em todaa sua amplitude, um sistema uno, invariado, rígido. Ainda que frequentemente se defina cada língua como um sistema de comunicação e os métodos de análise e descrição linguística sejam delimitados em geral a partir do pressuposto de que se opera com uma estrutura bem determinada, sabemos que isso resulta de abstração feita conscientemente a fim de possibilitar um mais imediato domínio da estrutura linguística por parte do investigador. Na realidade, toda língua, quer sirva a uma grande nação consideravelmente extensa e muito diferenciada cultural e socialmente, quer pertença a uma pequena comunidade isolada de apenas poucas dezenas de indivíduos, é um complexo de variedades, um conglomerado de variantes.” (BAGNO, 2002, p. 11).
Na norma culta existem as variações linguísticas: variações diacrônicas, diastrática e diatópica. No que se refere à uma norma padrão, a escola estabelece a grande separação entre duas modalidades da língua, a fala defeituosa por natureza, e a escrita alvo a ser alcançado. Dessa forma, a falta de ligação entre fala e escrita vem sendo apontada como responsável pelos piores resultados do ensino da língua materna, no que diz respeito ao desempenho eficiente, quanto à adaptação da linguagem aos padrões socialmente valorizados “Se é verdade que majoritariamente falamos português, esse português não é (e nem poderia ser, por que nenhuma língua humana é una, uniforme. A realidade nacional do português é extremamente diversificada, seja no espaço geográfico, seja no espaço social.” (FARACO, 2007, p.48). O século XVII foi o período em que se acreditava na corrente de pensamento em que prevalecia a supremacia da razão. Os pensadores centravam seus estudos na ideia da linguagem, enquanto representação do pensamento. O objetivo dos estudos dessa época era o de uma língua ideal, universal, lógica e sem equívocos ou ambiguidades, que pudessem desestabilizar a unidade da comunicação do homem “Como dissemos antes, costuma-se localizar o nascimento da linguística histórica nos fins do século XVIII. Tem-se aí, a marca cronológica do início duma reflexão sistemática sobre as mudanças das línguas feita já sob os parâmetros da ciência moderna.” (FARACO, 2005, p.130).
A partir do século XIX, os neogramáticos estabeleceram leis para as mudanças na língua e construíram uma escrita própria para anotar as formas de sua evolução. “Os estudos dialetológicos realizados no Brasil nas primeiras décadas do século XX identificavam na ecologia linguística nacional, diversas variedades, consideradas distintas entre si, a que atribuíram as denominações de “português culto”, “português popular”, “português dialetal” (BORTONI-RICARDO, 2006, p 39).O desenvolvimento dos estudos da linguagem tem dois grandes momentos: primeiro o surgimento das gramáticas gerais, segundo a constituição das gramáticas comparadas no século XIX “O pensamento linguístico e semiótico do século XX é amplamente dominado pelos trabalhos de Ferdinand de Saussure que, pelo menos na Europa, provocou uma revisão radical da metodologia das ciências humanas.” (HÉNAULT, 2006, p.15).
Para Saussure, a língua é um sistema abstrato, um fato social, geral, virtual; já que a fala, é a realização concreta da língua pelo sujeito falante. Então a fala é individual e sendo assim, não pode ser sistematizada e é, por isso, excluída do campo linguístico. Um dos momentos importante para o estabelecimento dos estudos linguísticos e filológicos é o século XIX, o da linguística histórica, com as gramáticas comparadas. Nesse período têm-se movimentos, perspectivas e interesses bem diferentes dos séculos anteriores, o que vai chamar atenção dos que trabalham com a linguagem é o fato de que as línguas se transformam com o tempo. Sendo assim, a contribuição mais interessante das gramáticas gerais para os estudos da linguagem foi o estabelecimento de princípios que não se prendiam a descrição de uma língua particular, mas de pensar a linguagem como algo macro, maior e mais geral.
Para Franz Bopp, uma das figuras mais expressivas da época, utiliza o método comparativo que parte de comparações da língua que se utilizava antes para a linguagem efetuada nos dias de hoje. Com sua obra sobre o sistema de conjugação de língua sânscrita comparada a outras línguas na procura da protolíngua, nos seus estudos utilizou a classificação genealógica, isto é, considerar afins as línguas que surgiram através de um idioma, com isso, descobre a semelhança entre a maior parte das línguas europeias e o sânscrito, no qual explicava a origem e semelhança das línguas. Chamou esse conjunto de línguas indo-europeias “O objetivo inicial do empreendimento de Bopp era ao detectar as correspondências sistemáticas entre as línguas, estabelecer o parentesco entre elas, mas não o percurso histórico de um estágio anterior para ouro (s) posterior (es) .” (FARACO, 2005, p.134-135). Antes de se configura todos esses idiomas e formas existenciais comenta-se que a língua sofreu muitas variações em que são relatadas na bíblia como aconteceu com a história vivida pela torre de babel nos tempos antigos e que a partir daí, deu origem astodas as formas de idiomas existentes hoje. O método usado por Bopp e Jakob Grimm no estabelecimento do estudo histórico da linguagem, com as línguas germânicas, gerou um caráter genético, e fez aparecer à preocupação de reconstituir, pela comparação, o indo-europeu, considerando como a língua comum das línguas das principais culturas clássicas.
“Esse estudo, que por razões óbvias só podia ser histórico, ganhou um caráter comparatista no inicio o século XIX, quando Franz Bopp, com o livro Sobre o sistema de conjugação da língua sânscrita, em confronto com o das línguas grega, latina, persa e germânica, estabeleceu que as semelhanças existentes entre as línguas clássicas (em particular as semelhanças referentes ao domínio da gramática) só poderiam ser explicadas pela origem comum. O projeto de Bopp, que foi logo retomado por outro erudito da época, Jacob Grimm, deu ao estudo das línguas antigas um caráter genético e fez aparecer à preocupação de reconstituir, pela comparação, o indo-europeu, considerado como a origem comum das línguas das principais culturas clássicas.” (ILARI, 2002, p.18).
Outro estudioso desse campo, Frederich Diez, considerado o fundador da Linguística Românica, utilizou também o método histórico-comparativo para comprovar que havia relação genética entre o latim e as principais línguas românicas. Tal método confirmou que as línguas românicas se originam de uma variedade do latim conhecida como “latim vulgar” (“latim popular”) e não do latim clássico, como se pensava até então. Em síntese, o método histórico-comparativo com propósitos de reconstituição é relevante no que tange o estudo das línguas, pois essas línguas comparadas são a melhor ferramenta para o conhecimento da origem de cada uma.
“No final do século XIX e nas principais décadas do século XX, várias tendências reagem contra o método histórico-comparativo e contra a maneira como ele levava a representar “novas” resultam de uma reflexão filosófica ou teórica sobre linguagem, como é o caso do chamado “idealismo lingüístico” ou da escola lingüística de Saussure; outras surgem no próprio campo de estudo das línguas românticas, como resultado de um contato mais direito como os dialetos neolatinos.” (ILARI, 2002, p.25).
Quando não existia a divisão e a multiplicidade de diversas línguas existia a língua proto-indo-europeia, ou seja, a primeira língua surgida no mundo, e assim após alguns anos se disseminou variando sua origem facilitando o aparecimento da língua como o sânscrito, o grego, o germânico, o latim, o persa e o aramaico.
“Diez confirmou que havia entre o latim e as principais línguas românticas uma relação genética semelhante à do indo-europeu com o latim, o grego e o sânscrito; aplicando o método comparativo dos indo-europeístas chegou a algumas teses é que são hoje postulados da Linguística Romântica: uma dessas teses é que as línguas românticas não se originam do latim clássico, mas de uma outra variedade de latim, conhecida como “latim clássico”, mas de uma outra variedade de latim, conhecida como “latim vulgar”; outra é que não tem qualquer fundamento a hipótese (defendida pelo francês Raynoudard) segundo a qual todas as línguas românticas teriam como ascendente mais próximo o provençal.” ( ILARI, 2002, p.18).
Vale ressaltar que na Linguística Românica, a similaridade percebida entre expressões pertencentes á distintas línguas românicas ratifica que elas se originam de uma mesma palavra latina. Como exemplo desse fato, podemos citar a palavra “amizade” que em outras línguas latinas ela se configura da seguinte forma: “amistad, amicitia, amicizia e amitie” . Pela variação ocorrente criando várias formas de linguagem e seus dispositivos:
“As línguas mudam todos os dias, evoluem, mas a essa mudança diacrônica se acrescenta uma outra, sincrônica: pode-se perceber numa língua, continuamente, a coexistência de formas diferentes de um mesmo significado. Essas variáveis podem ser geográficas: a mesma língua pode ser pronunciada diferentemente, ou ter um léxico diferente em diferente pontos do território. Desse modo, um réptil comum em todo o Brasil é chamado de “osga” na região Norte, “briba” ou “víbora” no Nordeste, e “lagartixa” no Centro-Sul. Um atlas linguístico como o de Gilliéron e Edmont nos dá milhares de exemplos dessa variação regional”.(CALVET, 2007, p.89).
3 COMO SE DÁ O ESTUDO DAS GRAMÁTICAS
A teoria linguística estruturalista concebe a linguagem como forma de expressão do pensamento, ou seja, a língua é vista como um organismo puro, fechado em si mesmo. Com o avanço nos estudo linguístico, a língua passou a serem analisadas a partir do seu contexto de produção, intrinsecamente ligada às enunciações discursivas. Uma gramática ou muitas gramáticas traz precisamente estas reflexões sobre os estudos em torno da linguagem. A concepção de linguagem como ato discursivo, é tema dos estudos funcionalistas, para os quais a linguagem é tida como meio de interação social, uma troca contínua entre locutor e interlocutor. A primazia dada à comunicação pela teoria funcionalista proporciona a análise linguística para além da formulação de sentenças, inserindo-a em seu contexto discursivo, assim podem-se observar as variações tão comuns e presentes em todo ato enunciativo “Chegamos assim a uma noção absolutamente central, operacional em todas as línguas do mundo e decisiva em sua descrição: a noção de pertinência. Historicamente, ela nasceu nos anos 1920, entre os fonologistas do Círculo de Praga.” (MARTIN, 2003, p.33). Quando nos referimos aos termos “Uma Gramática ou muitas gramáticas” encontra-se presente uma reflexão sobre as diferentes designações de gramática, entre elas a normativa, a Descritiva e a internalizada. Por último tem-se a definição do que seja gramática internalizada, que se refere aos conhecimentos linguísticos internalizados na mente do falante.
“Uma abordagem ingênua das coisas levaria a pensar que a realidade se impõe a priori a quem procura descrevê-la; os objetos se apresentariam por si mesmos, com toda clareza. Assim, o linguista se proporia, por exemplo, a descrever as palavras de uma língua, a gramática de outra, a pronúncia de tal ou qual grupo.” (MARTIN, 2003, p.18).
A palavra “norma” citando que um dos sentidos da palavra denota a questão do uso controlado, enquanto que o outro sentido se refere à importância do uso, considerando todas as suas variações. No que diz respeito às variações o texto cita três formas: Variação diastrática (patamar social); Variação diacrônica (variações ocorrida no tempo) e Variação diatópica (variação relativa às regiões) e no atender do normativo linguístico:
“O caráter sistemático da língua, segundo Saussure, aparece principalmente quando se considera uma língua ou dialeto não ao longo do tempo (“diacronia”), mas numa perspectiva que procura abranger todas as unidades e suas respectivas relações num mesmo momento (“sincronia”). Assim, Saussure lançou o programa da linguística dita“sincronia”, que rompia com mais de um século de tradição historicista e que orientou desde então as invenções linguísticas de vanguarda.” ( ILARI, 2002, p.25).
Podemos verificar que ao mesmo tempo em que a língua mantém a identidade de uma sociedade, devido às variações ela acaba por representar uma língua não homogênea. Nesse sentido, de acordo com a visão, a escola tende a separar as duas modalidades de língua (falada e escrita) supervalorizando a escrita em detrimento da fala, assim acaba por desconsiderar as variações e supervalorizar a norma padrão.
“Nos livros, os fenômenos de variação são ainda marginais e maltratados (são abordados a “cultura do erro” como pano de fundo). Quando se fala em variedades da língua, predominam referências geográficas (sem dúvida, a mais fácil de ser abordada por envolver menos preconceitos do que a variação social). No entanto, os fenômenos são aqui apresentados muito mais de uma maneira anedótica do que como expressões linguísticas da história das comunidades de cada região.” (FARACO 2007, p.42-43).
Assim, podem-se mostrar dois grandes momentos, importantes para o desenvolvimento da língua. O surgimento das gramáticas gerais no século XVII que buscava mostrar que as línguas obedeciam a princípios racionais e lógicos; e a constituição das Gramáticas comparadas no século XIX que tinha como objetivo verificar as transformações que as línguas sofrem com o tempo, nesse caso o que passa a valer não é mais a precisão e sim a mudança “A primeira forma de construir uma gramática normativa (que certamente têm origens mais antigas) aparece nos gramáticos de Port-Royal, no século XVII, que vinculavam, por exemplo, o nosso Soares Barbosa.” (FRANCHI 2006, p18). Saussure criou o que mais tarde seria chamado de Estruturalismo e definiu a língua como um fator social e a fala como algo individual, consolidando os estudos da linguagem.
“O estruturalismo de Saussure pode ser resumido em duas dicotomias (que, juntas, cobrem aquilo a que Humboldt se referia em termos de sua própria descrição da forma interna e externa): (1) langue em oposição a parole e (2) forma em oposição à substância. Embora langue signifique “língua” em geral, como termo técnico saussuriano fica mais bem traduzido por “sistema lingüístico”, e designa a totalidade de regularidades e padrões de formação que subjazem aos enunciados de uma língua.” (WEEDWOOD 2002, p.127).
4 O ESTUDO DA GRAMÁTICA NAS ESCOLAS BRASILEIRAS: OPRESSÃO OU LIBERDADE?
Para Labov, as variações linguísticas estão nos aspectos estruturais do ensino de gramática. A pragmática estuda a linguagem em suas relações de uso e desuso da língua e se preocupa em verificar a função comunicativa entre as pessoas que realizam essa ação sendo assim, o ensino da gramática é feito de forma rígida e a norma padrão é largamente exigida “Saber gramática, significa não somente conhecer essas normas de bem falar e escrever, mas ainda usá-las ativamente na produção dos textos. O respeito à gramática também é condição de beleza do texto. E essa é a relação fundamental entre gramática e texto.” (FRANCHI 2006, p18). A linguagem é uma atividade exclusiva dos homens sendo ela universal e acessível a todos. A linguagem esta embasada em três esferas ou pilares, a saber: a comunicação, a interação social e a transmissão de pensamento.
“Ao trazer o foco da discussão para o ensino e aprendizagem de língua, o foco da reflexão deste trabalho, as ideias apresentadas trarão duas visões: a de pesquisadores e a de professores, uma vez que na área de que falo, todos somos professores, antes de serem pesquisadores. O que buscamos são procedimentos que, na prática, auxiliem, contribuam, acrescentem subsídios ao ensino e aprendizagem de língua, como modo de promover a integração do conhecimento.” (FARACO 2007, p.13)
Para Chomsky, a língua é dinâmica e é um conjunto de regras. A linguística tem um caráter homogêneo. Está hoje, o aluno apto para escolher a língua que quer usar? Tem ele a liberdade ou se sente oprimido e preso aos ditames do sistema de regras impostas a ele?“Há uma relação de opressão, na medida em que não se dá ao falante a liberdade de escolher, para cada ocasião do intercambio social, amodalidade que melhor sirva à mensagem, ao seu discurso.” (BECHARA 2008, p.14). O aluno se sente hoje como usuário de uma língua alternativa, ou seja, para cada ambiente usa uma língua apropriada como comenta em sua obra Bechara (2008, p.14) “No fundo, a grande missão do professor de língua materna - o ensino da língua estrangeira o problema é outro é transmitir seu aluno no poliglota dentro de sua própria língua”. A língua nunca foi homogênea e unitária ela é sempre foi mutável, heterogênea e variável, é fixa e se adequa a qualquer evolução da espécie humana, ou seja, ela é livre e se modifica a cada época é diacrônica e sincrônica.
“(...) uma língua histórica não é um sistema homogêneo e unitário, mas um diassistema, que abarca diversas realidades diatópicas (isto é, a diversidade de dialetos regionais), diastráticas (isto é, a diversidade de nível social) e diafásicas (isto é, a diversidade de estilos de língua), e que cada porção da linguística realmente possui de direito sua língua funcional.” (BECHARA 2008, p. 15).
Toda língua tem sua função e sofre variação segundo Jakobson, como função ela pode se destacar como referencial, emotiva, conativa, poética e metalinguística. Muitas vezes, o que se percebe na educação brasileira não se limita ao estudo da L. P. com tal em que o professor segue fielmente ao nível de conhecimento dos alunos no sentido de se ater ao teor de aprendizado local deles e sim está preso às regras impostas pelos paramentos curriculares nacionais, ou seja, ao conceito único de ensino de normas rígidas.
“Só há uma saída para a escola se ela quiser ser mais bem-sucedida: aceitar a mudança da língua como um fato. Isso deve significar que a escola deve aceitar qualquer forma da língua em suas atividades escritas? Não deve mais corrigir? Não! Isso não deve significar que a escola deve aceitar “de tudo”, “qualquer jeito” de escrever, que não deve mais corrigir. Um dos papéis da escola é permitir que todos tenham acesso a um conjunto básico de bens culturais. Assim, deve fazer o possível para que todos os alunos aprendam a escrever no chamado português correto (o que não está fazendo!)”. (POSENTI 2011, p.17).
O papel do professor é transmitir e modificar, construir ideias, saber ecultura por ele adquirido no sentido de estimular a competência da pesquisa na sala de aula para se alcançar o nível de informação necessário ao conhecimento adequado ao que se solicita, e o instrumento em que ele aplicará até mesmo em sua retórica é sua linguagem falada e transcrita quando necessário “Falar e escrever bem, sobretudo escrever bem, uma habilidade a ser desenvolvida na escola, depende, pelo menos em grande parte, da obediência às normas assim estabelecidas: do uso dessa língua culta tomada como padrão de adequação.” (FRANCHI, 2006, p. 18). O ensino de gramática proporciona ao aprendiz aperfeiçoamento de uma construção linguística que se vincula a estética da criação verbal constituindo o uso de uma língua como caráter funcional de empregabilidade de conceito e estruturas variáveis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ensinar a gramática requer, no Brasil, direcionar o ensino de acordo com a região ou conhecimento do aluno. A gramática normativa nunca se preocupa em alcançar a população, pois há uma ponte enorme entre a norma culta e língua padrão. As variações da região são contrapostas, pois distanciam e aumentam a disparidade entre o aprendizado da língua ensinadas na escola e da falada nas ruas, no cotidiano. A atuação do professor em não saber como adequar a linguagem do livro estudado e do coloquialismo dos alunos, configura um impasse na conceituação e ajuda a criar situações não usuais na linguagem do dia a dia. A gramática internalizada a pessoa já nasce com ela, isto é, ela é intrínseca a cada um, pois não se aprende na escola e sim, com a convivência já que a linguagem é universal e coexiste no meio social. Porque o ensino de muitas gramáticas? Para que haja a atuação de diversas formas de falar e para cada ambiente usa-se uma linguagem peculiar sem que haja nenhuma dificuldade de ser compreendido pelos interlocutores. Dessa maneira, pode-se aferir que o aluno se sente desmotivado a entender uma língua, ou seja, uma língua como um conjunto de regras que distancia e há uma disparidade entre o que se fala e o que se aprende na sala de aula.
REFERÊNCIAS
ANDRADE JUNIOR, João Faustino. Revista Conhecimento Prático em Língua Portuguesa. Vamos estar Analisando. São Paulo. Edição nº30, maio 2011, p. 38-43.
BAGNO, MARCOS (ORG). Língua Materna Letramento, Variação e Ensino. São Paulo: Parábola. 2002.
BECHARA, Evanildo. Ensino de Gramática. Opressão? Liberdade? – São Paulo: Ática, 2008.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Nós Cheguemu na Escola,E agora? Sociolinguística e Educação. São Paulo: Parábola, 2005.
CALVET, Louis-jean. Sociolinguística um Introdução Crítica. São Paulo: Parábola, 2002.
FARACO, Carlos Alberto. Linguística Histórica : Uma Introdução ao Estudo da História da Línguas. São Paulo: Parábola, 2005.
FARACO, Carlos Alberto. (ORG). A Relevância Social da Linguística: Linguagem, Teoria e Ensino. São Paulo: Parábola, 2007.
FRANCHI. Carlos. ORG. Mas o que é mesmo “Gramatica”? – São Paulo: Parábola, 2006.
ILARI, Rodolfo. Linguística Românica. 3ªed. São Paulo: Ática, 2002.
MARTIM, Robert. Para Entender a Linguística. São Paulo: Parábola, 2003.
POSENTI, Sírio. Revista Língua Portuguesa. Gramática na Cabeça. São Paulo. Ano 5, nº 67, maio de 2011,p. 16-17.
SANTAELLA, Lucia. Coleção Primeiros Passos: O que é Semiótica? São Paulo: Brasiliense, 2007.
WEEDWOOD, Barbara. História Concisa da Linguística. São Paulo: Parábola, 2002.
Por: Frederico Haupt Bessil
Por: Alex Moretto
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