Em 10 de fevereiro deste 2010, formalmente, o PT completará 31 anos de existência. Personalidades dos mais variados segmentos da sociedade brasileira, especialmente do campo intelectual, valorizaram e glorificaram sua existência, enquanto dele partícipes. Mas antes mesmo do vergonhoso capítulo do mensalão -numa antevisão dos rumos do governo Lula- e especialmente após aquele episódio, que se constituiu no mais dantesco e repugnante escândalo político brasileiro –por sinal até hoje emperrado no poder judiciário, e como tal ainda impune- quase todos eles abandonaram a sigla.
Hoje, com os novos escândalos do Senado, a grotesca e caricata renúncia a renúncia de Mercadante, a nova (mais uma) mentira da candidata à sucessora de Lula, a ex-guerrilheira Dilma, ora recolhida a proverbial silêncio (o povão conhece a sua biografia e o patrono de sua candidatura tem algum interesse em divulgá-la?) pontifica de forma incontestável a autocracia daquele que com o tempo tornou-se o donatário não só da sigla partidária de onde é originário. É indiscutível que o PT está em frangalhos, reduzido hoje à militância da ala sindicalista, que, em verdade, sempre foi o pelotão que formou a tropa de choque de Luiz Inácio da Silva, o conhecido Lula. Que, por sua vez, nega a própria evidência. Simplesmente estarrecedor. Uma de suas últimas idiossincrasias “Petista é que nem flamenguista e corintiano: não se divide nunca”, retrata como reduz à simplicidade banalizada o seu pensamento sobre coisas que deveriam ser bem mais sérias, de serem ditas e analisadas. Está claro que no entendimento do presidente da República, o petista aceita tacitamente tudo o que Lula e o PT fazem, não importa quais... Não é de estranhar, pois, mais essa invectiva presidencial, em nada ilustre ou lisonjeira não (e até de forma merecida a alguns) de seus companheiros do seu partido, mas à sua totalidade. Enfim, antolhos e cabresto usa quem merece ou aceita-os...
Recordemos que Lula foi um dos principais fundadores do PT, tornando-se uma de suas principais bandeiras, porém, ao longo do tempo transformou-se –pelas virtudes decorrentes de sua liderança e de seu extremado e inegável carisma- na qualidade de um seus principais donatários, passando a utilizá-lo como um feudo. Contudo, desde sua eleição à presidência da República, não divide mais essa “sociedade” com ninguém. Tornou-se seu único e exclusivo dono!
É claro que isso nunca foi, é, ou será admitido por ele ou qualquer integrante do PT publicamente. Mas é o que incontestavelmente ocorre na prática. Basta recordar a histórica trajetória de Lula, que sempre foi o cacique petista, o Touro Sentado redivivo. Nada de importante nunca se fez, se faz ou se fará no Partido dos Trabalhadores que não contenha a sua aprovação. Rigorosamente nada. Pelo menos enquanto ele estiver na face da terra. E foi justamente isto que acaba de ficar plena e inequivocamente constatado. Registrado e rigorosamente provado!
Aliás, é igualmente importante ressaltar que a corrosão da ética, da moral e dos demais valores que deveriam compor o rol de obrigações e de qualificativos dos integrantes do quadro político nacional demonstra amplo declínio. A começar pela nomenclatura de seus atores. No passado, políticos de escol, de envergadura, de verdadeiros estadistas, eram conhecidos e tratados por seus prenomes e sobrenomes. Na atualidade, basta fazê-lo por codinomes ou apelidos (ou por eles mesmos introduzidos em seus registros civis) como é o caso de Lula. O apelo populista já vem diretamente inserido na casca, no rótulo. Nem é preciso o exame de conteúdo. Sinal dos tempos? Nem tanto. Afinal, moral, ética, decência, exercício da elementar e obrigatória prática de falar a verdade, não ser ambíguo, bifronte, dissimulado, e de outros desvios de conduta, nada mais são do que traços de caráter de qualquer ser humano de valor. Esses atributos não podem ser considerados como apanágio de quem os possui e exercitam, mas sim de escorreito e elementar dever! São valores que não morrem, por imortais. Os indivíduos, os mortais é que fenecem.
Os elevados índices de popularidade conquistados em seu governo pelo desempenho e estabilidade da Economia, estão contribuindo para acentuar cada vez mais o pecado mortal de Lula, que reconhecidamente recalcitra em não diferenciar Estado de Governo. Para ele desvios de conduta dos agentes públicos (senadores, deputados, governadores, como ele eleitos pelo povo e que ao povo devem satisfações de seus atos na defesa do interesse público, e não dos deles, em proveito próprio) não importam e nem devem ser investigados e punidos se contraporem os interesses do que ele autodenomina de prejuízos ao seu plano de “governabilidade” e projetos políticos, estes últimos, em verdade, de cunho eminentemente eleitoreiro.
Para deixar claro. O Governo pode identificar um dano à coletividade e não querer agir. Isso já seria pecaminoso. Porém, como neste caso presente do Senado, quando Lula ordenou expressamente ao líder Mercadante que se abstivesse de votar (bem como seus liderados) contra Sarney, o Governo personifica o Estado, representativo da Lei, da Ordem, da Constituição, que, ele, Lula, como chefe do Governo e sob juramento ele se comprometeu respeitar, não podendo, pois, deixar de agir, nos estritos limites de sua responsabilidade. Todavia, preferiu passar ao largo e atribuir à “manobras da oposição para obstar a condução da governabilidade a seu cargo”. Francamente!
É ainda importantíssimo lembrar que Lula fez da Economia o carro-chefe de seu governo, sendo identicamente conveniente a lembrança de que desde o primeiro dia do seu governo, a corporação petista clamava estridentemente pelo fim do neoliberalismo. Ora, justamente o comandante dessa corporação petista, o presidente Lula, é quem copia a cartilha liberal até os dias atuais e de forma brilhante. E o fez porque desde o nascedouro do seu governo teve de agarrar-se com unhas e dentes nessa faina na tentativa de anular os tenebrosos agouros que o mundo temia cristalizar-se e que nesta altura são absolutamente desnecessários de serem relembrados.
Mantendo, pois, a mesma política instituída por seu predecessor, Fernando Henrique Cardoso, Lula, foi e continua sendo enaltecido sobretudo pela plena estabilidade econômica que o Brasil mantém. Mas tanto ele, como seus áulicos bajuladores que o rodeiam, assim como toda a parcela de brasileiros bem informados e esclarecidos politicamente –ainda que infelizmente sendo parcela ínfima- sabem muito bem que esse mérito não é somente de Lula. Valeu, sim, por sua sabedoria pessoal e os dotes de pragmatismo que ele possui, diferentemente das do séquito que já vicejaram ou ainda vegetam aos borbotões em seu governo, por ter tido a felicidade –ainda que impositiva, não importa- de ter em sua equipe e desde o primeiro dia de governo, um colaborador do porte moral, intelectual, profissional e técnico, chamado Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, que, em verdade, foi, é e continuará (até deixar voluntariamente o cargo) sendo visto e reconhecido como o fiador do Brasil junto à comunidade econômica internacional. E é perfeitamente dispensável apresentar os antecedentes e as credenciais desse neoliberal por excelência, muitas vezes considerado um indesejável estranho no ninhal das víboras petistas. Quantas vezes tentaram puxar-lhe o tapete? Conseguiram? Lula tem atributos, é claro. Inteligência é um deles.
Lula é um conhecido pragmático, produto de uma esquerda que vai da radical à moderada, com tendências fortemente rotuladas de nacionalistas, mas, lamentavelmente de conteúdo claro dos adeptos do intervencionismo e da estatização. Seu maior defeito, porém, é a sua manifesta tendência à imposição. Está mais para ditador do que democrata. Foi assim no tempo sindical, foi assim como presidente do PT e assim mantém igual postura como presidente da República.
Mas se a verdadeira face de Lula está cada vez sendo mostrada, por ele mesmo -e na sua plenitude- especialmente no decurso deste seu segundo mandato, o fato somente surpreende os incautos e desavisados, de vez que o seu perfil autocrático é sobejamente conhecido desde os velhos tempos em que foi o líder metalúrgico e sindical do ABC. Quem o conhece, ou acompanhou sua trajetória desde aqueles tempos, sabe perfeitamente disso. Por índole não admite contestações, além de ser impedioso com os inimigos, vingativo por excelência e que não tem nenhum vezo na manifesta prática de submissão de seus liderados. Portanto, a interpretação do personagem “Lulinha, paz e amor”, foi só mais um adereço por ele utilizado para ganhar simpatias gerais na última eleição presidencial e que –reconheça-se- foi protagonizado a preceito.
Como se recorda, desde os tempos do mensalão e outros escarcéis, os petistas e os parlamentares convenientemente cooptados na Câmara e no Senado blindaram Lula ele se mantém ate os dias atuais incólume e inatingível. Os da Câmara estão quietinhos, porque –pelo menos até agora- não estourou nenhum novo e grande escândalo por lá. Mas os do Senado estão alvoroçados. Defender Sarney, para que este e o PMDB ajudem eleger Dilma, em nome de Lula e por sua vez eles ficarem comprometidos com a opinião pública que certamente inviabilizará suas reeleições? Nem pensar. Em outras palavras (desculpando-se uma certa impropriedade, todavia tornando o pensamento absolutamente inteligível): “Só no nosso, companheiro Lula?” E ao que parece assim será, pois o que importa é a salvaguarda política do chefe. O resto que se vire.
Por si, isso explica em sua inteireza o epílogo do tão caricato quanto patético episódio Mercadante. Por duas vezes (sempre com Lula no exterior) o líder petista no Senado ameaçou votar contra Sarney. Nas duas vezes (nos retornos das sempre eternas viagens de Lula) foi-lhe dado puxão de orelhas. Ele insistiu pela terceira vez e, desta feita com o objetivo de renunciar à liderança no Senado. Resultado: Sarney, através de Renan, foi curto e grosso com Lula: “se houver CPI contra Sarney acaba o apoio do PMDB à governabilidade e à eleição de Dilma”. Em risco, a República? Claro que não. O afastamento de Sarney e a correspondente instauração de uma devida CPI deveriam ser providências já em curso, ante os graves e palpáveis indícios de irregularidades cometidas pelo chefe da clã do Maranhão. Mas a República e o interesse público que se danem, o que importa e interessa é a preservação e a perenidade de poder do governo. Contestará o defensor de Lula ao alegar que esse comportamento não é só deste, mas também de governos passados. Ora, a que veio Lula, não foi exatamente para fazer aquilo que outros não fizeram, cunhada no seu indelével jargão “Nunca antes neste país...”? Será que cada presidente que se elege, compete simplesmente transferir ao próximo providências saneadoras que ele detectou, mas que não têm coragem de verter discurso de palanque em prática governamental?
Quanto à preservação é isto que aí está: garantia da tal “governabilidade” com total apoio no Congresso, do PMDB e da base aliada. Nem bem a manobra presidencial beneficiando Sarney foi concluída, já se fala na propositura (estimulada claramente pelo Executivo, de vez que Lula não esquece e, mercê de sua índole revanchista, não admite a rotunda derrota que lhe foi imposta pelo Congresso, em nome da sociedade brasileira, é bom que fique sempre bem claro) de relançamento de uma nova CPMF (mais uma vez dita para reverter novos recursos à saúde, cada vez mais deteriorada) quando na verdade sabe-se que vai mesmo é para o ralo da gastança e lambança. de um governo, com mais de 40 ministérios, que nem se indagarem ao presidente quais são ele saberá responder, além das contas arrombadas por um déficit público contínuo, oriundo de uma crise internacional que Lula subestimou tachando-a de “simples marolinha”
No tocante à perenidade, resulta (por última e inevitável instância) na transferência de apoio do PMDB e demais beneficiários do “acordão” à candidatura de Dilma (ou quiçá, dependendo das circunstâncias, da de Ciro Gomes, ou então de Antonio Palocci, ou então de...) Não importa. Para Lula, o eterno e imortal, a estrela, o big boss do PT isso é um simples e mísero detalhe. O que vale mesmo é manter uma sucessor(a) fidelíssimo(a) e do “peito”, passando transpor com paciência o “forçado exílio” até 2014, para então voltar aos braços do povo! Remember Getúlio Vargas, a quem Lula amiúde se compara, assim como a Juscelino e Jânio...
Para encerrar: quem leu meus livros e artigos ficou conhecendo, em minúcias de detalhes, a acachapante, destoante e indecorosa conduta do governo Lula no âmbito sindical. Quem não leu, faça-o e constate com seus próprios olhos, dentre tantos retrocessos (estranhável para quem emanou do meio e fez do sindicalismo catapulta para a vida pública) o triste engodo, a empulhação desavergonhada dele, Lula, e de seu atendente de ordens, atual presidente da sigla da estrela vermelha, o obscuro deputado Ricardo Berzoíni, justamente aquele que foi seu opaco ex-ministro do Trabalho. Destarte, passamos a ser uma autêntica e legítima república sindicalista.
Outra e definitiva prova da incontestável autocracia de Lula: Além de exercê-la na plenitude no atual governo do País, ele e seus companheiros da ala sindical sempre fizeram o mesmo no PT, pois nestes quase 30 anos de vida foram sempre os sindicalistas que presidiram o partido. Presidiram, presidem e continuarão a fazê-lo, é claro! É preciso dizer alguma coisa mais, além de esperar que um ente que vá completar 30 anos de idade tenha, além de juízo, dignidade e respeito não só por seus representados, mas principalmente pelo povo brasileiro, cansado de mentiras, falsos pedidos de desculpas por mensalões, dólares na cueca, compadrios, etc. etc, afora novas e contínuas manobras, dissimulações e desrespeitos, públicos e velados.
Enfim, o julgamento disso tudo já tem data marcada e será em outubro do ano próximo, e no fórum mais democrático que existe neste Pais, ou seja, nas urnas!
Consultor Sindical Patronal e autor de livros sobre o tema, editados pela Editora LTr, além de artigos publicados na mídia eletrônica. Maiores detalhes sobre o palestrante e suas obras em: http://falvesoliveira.zip.net/ . Contato: [email protected]
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: OLIVEIRA, Fernando Alves de. A Autocracia de LULA e do PT Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 26 jan 2010, 08:49. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/19163/a-autocracia-de-lula-e-do-pt. Acesso em: 29 nov 2024.
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