A filosofia pode ser identificada com a história do pensamento humano. Desde cedo aprende-se que esta não é uma ciência de respostas propriamente ditas, mas de indagações.
A busca do conhecimento acerca da filosofia ocidental identificada na região atualmente conhecida como Grécia objetiva fundamentar os conhecimentos humanos mais profundos e que até hoje influenciam diferentes campos da vida humana.
Adentrar no pensamento humano das diferentes épocas humanas pode nos levar aos lugares inimagináveis e detectar as idéias referentes à problemática do Direito ou da Ciência do Direito haja vista que onde está a sociedade humana, aí está o direito.
A busca das raízes da filosofia ocidental, por sua vez, acontece em virtude das bases encontradas e disponíveis ao nosso conhecimento centralizado no Ocidente.
A pergunta sobre o que é filosofia não pode ser simplesmente respondida. Informa Collinson que a resposta abarca tantos quantos foram os filósofos que buscaram descobri-la. De Platão a Marx, de Aristóteles a Sartre, de Pitágoras a Hegel, et cetera, a história do pensamento humano é apresentada.
O presente trabalho é um passo inicial para descobrir o pensamento dos filósofos escolhidos e, desta forma, relacionar com a vida humana atual, no que for possível e verificar as eventuais relações com o campo do Direito.
Cada filósofo viveu em uma época da História da humanidade, a partir da Grécia Antiga.
Estudaremos um pouco a respeito de Thales de Mileto.
A época em que viveu Thales de Mileto (624-546 A.C) representou o período do nascimento da filosofia ocidental.[1]
A cidade de Mileto era localizada na Jônia, onde hoje se identifica como a Turquia, junto à foz do Rio Meandro. Por se situar geograficamente em um ponto central entre o Oriente e o Ocidente, Mileto recebia influências orientais e gregas, egípcias e babilônicas, assim como as informações trazidas pelos comerciantes que por lá passavam.
Os relatos sobre Thales que chegaram à atualidade – nada escrito pelo mesmo – dão conta que o mesmo possuía conhecimentos sobre diferentes áreas, como era comum naquele tempo.
Estudou astronomia, geometria e o manejo do solo e da água. Heródoto relata que o mesmo previu um eclipse solar no ano de 585 a.C.
Conhecedor da geometria, conduzia navios e media pirâmides utilizando-se de sua sombra em determinadas horas do dia.
Thales também resolveu problema logístico apresentado na travessia de um exército sobre um rio sem pontes. Indicou o filósofo que o curso da água do rio deveria ser desviado, deixando-o em condições de ser atravessado.
Astuto politicamente, Thales advertiu o povo de sua cidade para que construíssem uma única câmara deliberativa na cidade de Teos, no centro da Jônia e considerar as outras cidades apenas como localidades portuárias de menor expressão e subordinadas a Teos.
Destacado na história da matemática, criou a prova geométrica. Elaborou o mesmo conjunto de proposições que, apesar de não apresentarem sequência lógica correta, eram relacionadas umas com as outras pelo método dedutivo, o mesmo método requerido em uma prova geométrica.
Thales buscou descrever e analisar racionalmente o mundo. Deixava de lado, assim, a base mitológica e proverbial para a explicação do universo.[2]
Para o filósofo, a água era a origem de todas as coisas. Tudo era originário da água e até mesmo a Terra flutuava sobre ela. Contestado por Aristóteles, no entanto, por aparentemente não levar em consideração que a própria água que sustentasse o planeta Terra, deveria ela própria sustentar-se em alguma coisa.
Havia naquela época uma concepção popular pela qual o mundo era rodeado e sustentado por uma extensão de água sem limites.
A Terra repousar sobre a água era uma ideia do Egito Antigo e também da Grécia de quase mil anos antes de Cristo.
Para Thales, no entanto, a água não seria o suporte de todas as coisas, mas a sua origem.
Thales também afirmou que “todas as coisas estão cheias de deuses”. Todas as coisas seriam, então, permeadas de uma força vital, que são, de alguma forma, animadas como parte de um único conjunto ou de uma vitalidade unificante.
Não se sabe se Thales relacionou a água e os “deuses” presentes em todas as coisas, entretanto, é possível se vislumbrar que sim dada a premissa de que para ele a água era a origem de tudo.
As ideias de Thales podem ter sido distorcidas pelo longo tempo que separava o filósofo dos demais que comentaram suas versões. Exemplo é o de Aristóteles que viveu quase trezentos anos depois. Por isto mesmo, o filósofo de Estagira pode não ter compreendido completamente o pensamento de Thales.
Friedrich Nietzsche comenta o seguinte:
A filosofia grega parece iniciar-se com um capricho absurdo, o da proposição de que a água é a origem e o útero materno de todas as coisas. É realmente necessário levar isso a sério? Sim, e por três razões. Primeiro, porque a proposição enuncia alguma coisa sobre a origem das coisas; segundo, porque faz isso sem imaginar e inventar; terceiro e último, porque nisto está contida, apesar de em gérmen, a idéia de que tudo é um. A primeira razão mencionada ainda deixa Thales em companhia dos religiosos e dos supersticiosos. A segunda, entretanto, o retira dessa companhia e apresenta-o a nós como um filósofo da natureza. Mas, com o mérito da terceira, Thales torna-se de fato o primeiro filósofo grego.[3]
Anaximandro foi sucessor e pupilo de Thales conforme noticia Teofrasto, discípulo de Aristóteles. Filósofo, astrólogo, geólogo, matemático e físico, Anaximandro, foi o provável criador do relógio solar na Grécia. Teria sido ele também quem primeiro desenhou o mundo habitado sobre uma prancha. Foi um dos autores do livro Sobre a natureza. Esta obra continha, além de uma cosmogonia[4], informações a respeito de corpos celestiais e do desenvolvimento dos organismos vivos, estudos sobre história natural, biologia, meteorologia, astronomia, geografia, mapas do mundo e dissertações a respeito da vida humana e animal. Anaximandro inspirou e serviu de exemplo para numerosos pensadores que o sucederam.
Para o filósofo, a substância primordial do mundo se chamava apeíron, o que não poderia ser definido, limitado ou cercado por fronteiras. Espacialmente infinito ou não correspondente a qualquer matéria no universo físico, o apeíron envolvia todas as coisas ilimitadamente e era a base a partir da qual todos os céus e todos os mundos nele inseridos existiam. Terra, ar, fogo e água eram gerados a partir desta substância. O movimento infinito das coisas fazia voltar as coisas ao próprio infinito após a sua morte.
Anaximandro acreditava em um estado de justiça ou balanço final entre todas as coisas provavelmente pelas interações entre quente e frio, seco e úmido. A própria formação do sol, da lua e das estrelas seria uma consequência do rompimento em círculos exatos da parte fértil do quente e frio eternos separados no vir-a-ser do mundo.
Para o filósofo, a Terra era cilíndrica e a sua profundidade era de uma terça parte de sua largura, ou seja, seria como o fuste de uma coluna, como o corpo de um tambor. A Terra seria sustentada por nada e permanecia a uma distância igual de todas as coisas.
Para Anaximandro, as primeiras criaturas vivas nasceram da umidade das cascas espinhosas e que a raça humana posteriormente surgira com o próprio desenvolvimento da vida orgânica. Julgava que a raça humana teria sido criada com base em criaturas outras na sua maioria auto-suficiente, posto que, por precisar de tantos cuidados não sobreviveriam se a sua forma atual fosse a original.
Registros históricos demonstram as supostas palavras diretas de Anaximandro: “segundo a necessidade, porquanto impõe pena e tira vingança um do outro por suas injustiças, segundo a avaliação do tempo”.[5]
Na metáfora em relação à reparação da injustiça, Anaximandro traz princípio metafísico subjacente ao explicar a aparência das coisas. As trocas e os conflitos, assim como o dado e o tomado na ação natural, seriam partes de processo de exploração e reparação para a manutenção do equilíbrio ou do estado de justiça do todo em um período considerado como uma longa jornada.
Collinson não considera Anaximandro um metafísico. A sua compreensão da filosofia da natureza o tornou reconhecido como um grande pensador e realizado intelectualmente.
Seguindo a coleta de dados acerca dos filósofos na história ocidental. Último dos três filósofos conhecidos como “milesianos”, Anaxímenes teria trabalhado seus pensamentos por volta de 540 a.C. é apontado como provável discípulo de Anaximandro.
Do mesmo modo que para Anaximandro, Anaximenes considerava o infinito como o princípio primordial de todas as coisas. Entretanto, a natureza deste princípio primordial seria o ar. O filósofo cria que a matéria derivava do ar por meio de rarefação e de condensação.
Collinson explica que para os pré-socráticos como é o caso de Anaximenes, os elementos que eram considerados “naturais” como o ar, a água, a terra e o fogo, não podiam ser compreendidos na mesma época em uma acepção física e sim na qualidade de nomes de conceitos que se referiam a elaborações filosóficas não redutíveis à dimensão física.[6]
O único registro escrito do filósofo seria o seguinte: “Como nossa alma, sendo ar, nos mantém unidos e nos controla, assim faz o vento (ou o hálito) e (o) ar guarda o mundo inteiro”.[7]
Considerado pensador menos destacado no âmbito dos filósofos milesianos do que Anaximandro, Anaximenes pode ser considerado um pensador mais avançado. Isto porque sua filosofia superaria a de Thales no sentido de que especificaria de que modo a terra, o fogo e a água podem ser originários de uma substância primordial como o ar. É mais avançado o seu raciocínio no sentido de que Anaximandro buscava explicar uma substância indefinida como primordial. Além de que baseava-se menos na mitologia do que no senso-comum e fundamentava-se na observância dos processos naturais.[8]
Filósofos milesianos eram os oriundos da cidade de Mileto.
A título de conclusão, observamos que os três filósofos milesianos não tinham efetivamente preocupações relativas ao Direito. Sua busca era mais concentrada na natureza e na explicação dos fundamentos da própria terra e do Universo.
[1] Collinson (2009:9).
[2] Collinson (2009:9-10).
[3] Collinson (2009:11). Apud Nietzsche, Friedrich, Early greek philosophy, Ney York: Russel and Russel, 1964, p.86.
[4] Dicionário Michaellis. Cosmogonia é: 1 Criação ou origem do universo, especialmente como objeto de estudo ou de especulação; cosmogênese, cosmogenia. 2 Cada uma das diferentes teorias filosófico-religiosas, criadas pelo homem, através dos tempos, que pretendem explicar a origem do universo. 3 Astr Estudo da origem e desenvolvimento do universo e dos seus componentes.
[5] Collinson (2009:14) Apud Hipólito, Refutação, 1.6,3 in Enciclopédia Simpozio, Como pensavam os primeiros filósofos.
[6] COLLINSON (2009:17), nota 1.
[7] COLLINSON (2009:16) apud G.S. Kirk, J.E.Raven & M.Scholfield, The presocratic philosofers, 2 ed. Cambridge University Press, 1983, p.145.
[8] COLLINSON (2009:16).
Prof. Dr. Francisco de Salles Almeida Mafra Filho. Professor Adjunto da Faculdade de Direito da UFMT. Avaliador de Cursos de Direito (INEP). Supervisor de Cursos de Direito (SESu/MEC). Avaliador de Curso de Direito "ad hoc" da ANEAES - Paraguai.<br>Contato: [email protected]. <br>http://lattes.cnpq.br/5944516655243629.<br><br>
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: FILHO, Francisco de Salles Almeida Mafra. A busca do Direito nos filósofos milesianos e o nascimento da Filosofia ocidental Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 25 mar 2014, 05:30. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/38804/a-busca-do-direito-nos-filosofos-milesianos-e-o-nascimento-da-filosofia-ocidental. Acesso em: 23 nov 2024.
Por: EDUARDO MEDEIROS DO PACO
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Por: Marcos Antonio Duarte Silva
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Por: LETICIA REGINA ANÉZIO
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