RESUMO: Um dos argumentos em favor do Consumo Colaborativo é a sua possível contribuição para um desenvolvimento mais sustentável. De fato, o Desenvolvimento Sustentável é a satisfação das necessidades humanas do presente considerando a preservação dos recursos naturais para as próximas gerações. Logo, o alcance de padrões e níveis de consumo mais sustentáveis envolve a construção de relações entre diversos setores sociais, como produtores, comerciantes e consumidores. Partindo desse pressuposto, este estudo identificou de que forma o Consumo Colaborativo se relaciona com o Desenvolvimento Sustentável. Os principais resultados destacados foram as motivações: econômicas, interação social em suas diversas formas, como formação de amizades, parcerias e cuidado ao próximo, preocupações com o meio ambiente e ativismo político. Todos os dados permitiram concluir que se deu algum grau de relação entre o Consumo Colaborativo e o Desenvolvimento Sustentável, seja na sua dimensão ecológica social ou de coletividade. Limitações e contribuições gerenciais e teóricas foram evidenciadas, conforme demonstrado neste estudo.
Palavras-chave: Economia Colaborativa; Consumo Eficaz; Desenvolvimento Sustentável; Ecologia; Sustentabilidade.
ABSTRACT: One of the arguments in favor of Collaborative Consumption is its possible contribution to more sustainable development. Indeed, Sustainable Development is the satisfaction of present human needs considering the preservation of natural resources for the next generations. Thus, achieving more sustainable consumption patterns and levels involves building relationships between various social sectors, such as producers, traders and consumers. Based on this assumption, this study identified how Collaborative Consumption relates to Sustainable Development. The main results highlighted were the motivations: economic, social interaction in its various forms, such as forming friendships, partnerships and caring for others, environmental concerns and political activism. All the data allowed us to conclude that there was some degree of relationship between Collaborative Consumption and Sustainable Development, whether in its social or collective ecological dimension. Management and theoretical limitations and contributions were evidenced, as shown in this study.
Keywords: Collaborative Economics; Effective consumption; Sustainable development; Ecology; Sustainability.
INTRODUÇÃO
A expressão desenvolvimento sustentável foi popularizada em 1987. Define-se como o desenvolvimento que encontra as necessidades do presente sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades. A sociedade civil, governos, empresas e a academia têm aceitado o desenvolvimento sustentável como um princípio guia para o desenvolvimento econômico mundial. Dada a abrangência do conceito apresentado, uma possibilidade de aplicação que é aceita converge equidade social, preservação ambiental e viabilidade econômica como pilares para o desenvolvimento de práticas e políticas.
Entretanto, a implementação desses pilares não tem se provado fácil, de forma que seu progresso também não tem se mostrado real. As mudanças climáticas, a ameaça de extinção de espécies da biodiversidade e recursos naturais continuam desafiando as lideranças globais e a preservação da espécie humana.
Sobre tais desafios, a ação humana tem o papel fundamental, principalmente quando se fala sobre os níveis de consumo. Profundas mudanças se fazem necessárias na forma como as sociedades gerenciam seus assuntos econômicos, sociais e ambientais. Tais mudanças envolvem difíceis e imprescindíveis escolhas para se mover do discurso para a ação. A revolução na forma como o mundo faz negócios terá um impacto sobre estilos de vida e sobre consumo, principalmente em países desenvolvidos, mas também para o crescimento da classe média nos países em desenvolvimento.
O consumo, em muitos lugares, perpassa a reprodução da vida cotidiana e abarca, de modo dominante, em uma profundidade ideológica que permite estruturar e subordinar outras culturas. Assim, a sociedade do consumo, a qual a população está submetida, demonstra o quão cultural a prática de consumir envolve as relações interpessoais. O consumo também demonstra o alto sentimento de identidade investido em objetos materiais.
Tanto a quantidade quanto a qualidade dos bens acumulados podem ser entendidas como medidas de sucesso. Nesse contexto, o consumo de bens materiais torna-se importante porque sinalizam certa posição na sociedade e, portanto, os indivíduos estão constantemente à procura de novas oportunidades de consumo. Como muitas sociedades contemporâneas estão divididas em classes, as classes mais baixas estão sempre em busca dos níveis de consumo dos mais ricos, induzindo uma insaciabilidade constante do consumo. Em última análise, a propriedade se torna um meio de poder e controle. Essa realidade reflete em padrões considerados contrários aos rumos do desenvolvimento sustentável.
Os produtos desempenham papeis representativos na vida dos consumidores, abrangendo além da tarefa ao qual se destinam. As marcas auxiliam o consumidor a encontrar e dar significado ao seu lugar na sociedade, visto que têm uma imagem coerente com suas necessidades, e contribuem na formação de ligações com outras pessoas que têm preferências análogas.
Além de serem consideradas medida de sucesso, poder, sentimento de pertencimento e papel na sociedade, as posses das pessoas podem ser consideradas fomentadoras da própria identidade, ou seja, as pessoas atribuem significados às suas posses e isso faz com que essas posses se tornem partes de si. Nesse sentido, a perda de uma posse é a perda de uma parte de si, o que causa sentimentos de dor, invasão, tristeza...
Entretanto, a crescente preocupação com os impactos sociais e ambientais causados pelos altos padrões de consumo, baseados em estilos de vida de uso intensivo de recursos naturais, tem levado governos, organizações não-governamentais, empresas, institutos de pesquisa e universidades, dentre outros atores interessados, a tratar do tema em suas agendas.
Por apresentar diversos impactos na sociedade, na economia e na natureza, a transformação na esfera do consumo requer mudanças na forma como os consumidores agem e pensam, ou seja, o comportamento do indivíduo é fundamental para que essas alterações nos padrões de consumo aconteçam. Nesse contexto, tanto o comportamento do indivíduo, como sua responsabilidade como agente que pode alcançar o desenvolvimento sustentável. Já o comportamento dos indivíduos é resultante das influências sociais, culturais, pessoais e psicológicas que estes sofrem ao longo da vida.
Essa visão centra no papel do agente, pois os comportamentos humanos devem ser traduzidos em práticas sociais que tenham força de transformar as estruturas de poder associadas à ordem econômica estabelecida. Nesse momento, além dos indivíduos, destaque-se que os Estados apresentam um papel fundamental no desenvolvimento de políticas que fomentem a redução e eliminação de padrões não sustentáveis de produção e consumo, com vistas de alcançar um desenvolvimento sustentável e uma melhor qualidade de vida para todas as pessoas.
1.DO CONSUMO SUSTENTÁVEL
Para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma qualidade de vida mais elevada para todos, os Estados devem reduzir e eliminar os padrões insustentáveis de produção e consumo, e promover políticas demográficas adequadas.
A partir dessa conjuntura, muitos cidadãos tornaram-se mais conscientes e interessados em reduzir sua contribuição pessoal para a degradação ambiental, participando de ações em favor do meio ambiente na hora das compras. Em consequência, os padrões de consumo passam por um ajustamento à nova realidade social, que pode ocorrer tanto na redução do consumo de boa parte dos materiais quanto no redirecionamento das práticas até então desenvolvidas. Assim, os termos como consumo sustentável, consumo consciente, consumo verde, consumo responsável, consumo colaborativo, consumo político, dentre outros, surgiram como alternativas que contribuem, de alguma forma, para mitigar os impactos sociais e ambientais decorrentes dos altos níveis de consumo.
Algumas práticas dos consumidores são apresentadas na literatura sob diversos conceitos e formas, como por exemplo a resistência ao hiperconsumo, consumo verde, a adoção de práticas de anticonsumo, a participação em mercados alternativos, e até mesmo como alteração dos estilos de vida, como por exemplo viver em eco vilas.
A Economia Colaborativa, do Inglês Collaborative Economy, pode ser definida como um fenômeno econômico-tecnológico emergente que é alimentado pelo desenvolvimento simultâneo de tecnologias de informação e comunicação e pela a crescente conscientização dos consumidores, comunidades colaborativas na web sobre comércio e compartilhamento social. Tratam-se de modelos que incentivam o acesso em detrimento da propriedade e permitem redes descentralizadas (ou seja, contato direto entre as pessoas, através de plataformas peer-to-peer).
Um em cada cinco brasileiros já ouviu falar ou leu alguma coisa a respeito do consumo colaborativo ou compartilhado, proporção que dobra entre as pessoas no topo da pirâmide socioeconômica e de alta escolaridade. Já a realidade Americana é de 44% dos consumidores são familiares com a economia colaborativa. Destes, 19% já se engajaram em alguma transação do tipo.
As iniciativas que ofertam produtos e serviços também têm crescido no Brasil. O Consumo Colaborativo ainda é incipiente no mundo todo, principalmente quando se fala em existência de regulamentações específicas e relatórios sobre as iniciativas. As informações encontradas geralmente são de realidades de outros países e nem sempre realizadas por institutos de pesquisa reconhecidos ou trabalhos acadêmicos revisados. No campo acadêmico, encontra-se menos informações ainda, visto que o próprio conceito ainda não se consolidou.
Algumas ações, especialmente o empréstimo e a troca, são antigos, mas “a questão é que, com a Internet e a criação de sites específicos para esse fim, tais comportamentos se ampliam e se organizam” (COSTA, 2014, p. 243). Para Botsman e Rogers (2011) as experiências de Consumo Colaborativo não se limitam à esfera virtual, pois os laços são criados por meio da rede mundial de computadores, mas suscitam ações e se fortalecem fora da rede.
Assim, dentro da Economia Colaborativa, há destaque para três pontos: a) o social, onde a demanda por produtos e serviços aumentou, juntamente com preocupações relacionadas à sustentabilidade, e necessidade de melhorar o convívio em comunidade; b) o econômico, focado dar continuidade ao ciclo de vida dos produtos ociosos estocados, preferência por acesso em detrimento da propriedade, existência de capital para investimento em novos modelos de negócios; e c) o tecnológico, viabilizado pelas redes sociais, dispositivos e plataformas móveis, e facilidade dos sistemas de pagamento.
O alcance de padrões e níveis de consumo mais sustentáveis envolve a construção de relações mais solidárias entre diversos setores sociais, como produtores, comerciantes e consumidores. As iniciativas de apoio às formas alternativas de produção (agricultura familiar e orgânica, reservas extrativistas, cooperativas de produtores, economia solidária etc.) e consumo (formas de consumo colaborativo, comércio limpo e justo, etc.) precisam ter apoio, identificação e participação dos consumidores. Desse modo, é sensível a importância de conhecer com mais profundidade o fenômeno de consumo, que prioriza o acesso em detrimento da propriedade e busca dar vazão a produtos ociosos.
Além dos impactos no meio ambiente, destaca-se o papel social, por meio da ampliação do acesso aos produtos, onde aquelas pessoas que não teriam condições financeiras de comprar um carro, uma bicicleta, se hospedar em um hotel, etc, agora têm esse acesso mediante uma taxa de aluguel ou outra forma de compensação. Essa realidade permite que se maximize o uso por compartilhá-los entre vários usuários. No caso dos carros e bicicletas, por exemplo, resulta em mais opções de mobilidade e reduz os custos de transporte para os usuários.
Contudo, a análise de diversas iniciativas existentes nos Estados Unidos, revela que, por mais que as alternativas de mobilidade compartilhada tenham um apelo às populações com menores rendas, seu uso ainda é feito pelo resto da população em geral. Ou seja, o uso dos sistemas de mobilidade compartilhada pelas populações de baixa renda permanece menor que o uso pela população em outras faixas de renda. Resultado semelhante foi encontrado pela pesquisa da Market Analysis, no Brasil, onde quem mais é familiarizado com o tema são pessoas de classes mais altas.
Associado ao consumo intensivo, percebe-se também a diminuição de atividades coletivas e participativas, resultando em disposição de individualização dos seres humanos.
Individualização tem profundo impacto indireto sobre a demanda de consumo de produtos. Com o declínio histórico dos laços tradicionais, a individualidade surge como um problema. A identidade de uma pessoa torna-se um projeto, então ela se sente agora mais responsável pela sua própria vida e auto identidade. No processo de construção e sustentação de auto identidade, o consumo desempenha um papel importante. As pessoas usam bens como um dos meios para se definir, bem como para transmitir mensagens aos outros. Até certo ponto, o projeto do eu é, assim, traduzido num projeto de possuir bens desejados. A manutenção de auto identidade é um processo interminável, por isso implica um persistente e forte impulso psicológico para consumir.
A diminuição das atividades coletivas e participativas têm reforçado os problemas relacionados ao consumo. Como exemplo pode-se citar a diminuição do uso do transporte público, redução da participação em atividades comunitárias e o aumento da propriedade privada. Também, a falta de estratégias participativas para o desenvolvimento de metas econômicas tem sido um obstáculo no que tange ao alinhamento com os aspectos ambientais e sociais. As debilidades resultantes dos processos da sociedade podem ser vinculadas aos importantes movimentos sociais e tecnológicos que co-evoluem em um sistema impulsionado pelo aumento do consumo, assim não se pode excluir o consumo do contexto da sociedade.
Além do já citado, outras forças podem promover esse processo de individualização, tais como a bagagem histórica do ambientalismo, os princípios fundamentais do liberalismo, a capacidade dinâmica do capitalismo instrumentalizar a dissidência e o aumento das ameaças ambientais globais para a prosperidade humana. Ou seja, essa degradação ambiental é fruto de deficiências individuais, de forma que a capacidade coletiva de agir se torna limitada. Logo, quando a responsabilidade pelos problemas ambientais é individualizada, há pouco espaço para refletir sobre as instituições, a natureza e exercício do poder político, ou formas de mudar a distribuição do poder e influência na sociedade coletivamente. Nesse ponto, exige-se a compreensão dos seres humanos como cidadãos e não como consumidores, para, em conjunto, trabalharem para mudanças políticas mais amplas e instituições sociais mais ativas.
Combinado a isso, destaca-se a formalização das estruturas sociais relacionadas com o fenômeno da individualização, que agravam os problemas de consumo. As atenções se voltaram ao trabalho e ao consumo, em vez da família ou da comunidade, devido à uma transferência gradual ocorrida das atividades do dia-a-dia para uma economia formal (ROPKE, 1999). Como resultado, uma diminuição nas redes informais da sociedade que, geralmente, organizam atividades coletivas, tais como a partilha de bens de capital, projetos de melhoria da comunidade e atividades educacionais.
Como resultado, percebe-se a individualização dos seres humanos, mas, contudo, ainda permanece a necessidade de pertencimento a grupos sociais, os quais estão cada vez mais centralizados em plataformas virtuais de comunicação. O Consumo Colaborativo é confiante nas redes e conexões sociais, e como fonte provedora de inovação social para contribuir com a construção de comunidades mais fortes e conectadas.
A cooperação requer a inserção dos indivíduos nos grupos sociais e a criação de um sentimento de comunidade, assim esses comportamentos coletivos destacam a ação coletiva como mais eficaz do que os esforços individuais, promovendo a realização dos objetivos comuns.
Ainda não existem indicações suficientes de que a sociedade está pronta para romper os apegos com as coisas e tornar-se mais definida pelos apegos às pessoas (BELK, 2007, p. 136). Ou seja, há um processo que engatinha em valorizar mais o ser ao invés do ter, de buscar experiências em contrapartida à acumulação de aquisições.
2.SENSO DE COMUNIDADE
Em conjunto com essa individualização, critica-se à perda do sentido (ou senso) de comunidade, onde a cultura de consumo foi aquela em que produtos de marca substituíram as commodities, onde a publicidade em massa substituiu a venda pessoal e onde o consumidor individual substituiu o cidadão comum. Ou seja, a perda do sentido de comunidade tem em seu cerne a centralidade crescente do consumidor individual e do crescimento dos seus desejos materialistas.
A partilha (ou sharing) torna-se, portanto, um desafio frente a estas tendências de individualismo. Mesmo que possa “promover a comunidade, economizar recursos e criar algumas sinergias, fora do contexto familiar o compartilhamento é pouco realizado, e mesmo dentro da família, percebe-se um aumento da privatização” (BELK, 2007, p. 126).
Já no ambiente dos negócios pode-se perceber a tendência a menor possessividade e materialismo, conforme Belk (2007), onde as corporações mantém o direito de suas marcas intangíveis, mas livremente terceirizam tudo o mais, desde a produção até a gestão, marketing e atendimento ao cliente. O autor complementa que essa ação permite maior economia para as empresas, em vista de se manterem competitivas.
A mesma analogia é feita para um determinado consumidor que pertença a uma cooperativa de automóvel em vez de possuir um carro individual. Os consumidores podem continuar aproveitando seus estilos de vida de uma maneira similar, sem se responsabilizar pelos encargos para a posse (BELK, 2007). Com o ritmo rápido da mudança tecnológica, o autor defende que é possível se ver uma mudança na direção da propriedade compartilhada.
Outros têm buscado aproximar a participação dos indivíduos no Consumo Colaborativo com a redução dos impactos causados pelos altos padrões de consumo nos contextos de sociedade e meio ambiente. Em alguns tipos de Consumo Colaborativo podem ser vistos um padrão diferente de consumo, em direção do desenvolvimento sustentável, visto que “as relações entre meio ambiente e desenvolvimento estão diretamente relacionadas aos padrões de produção e consumo de uma determinada sociedade”. Dada a quantidade diversa de modalidades/iniciativas de Consumo Colaborativo, cabe entender a dinâmica e objetivos das mesmas, principalmente com relação aos padrões de consumo. Com esta realidade, mais estudos são necessários para diferenciar essas modalidades e reconhecer quais as características podem ser associadas ao desenvolvimento sustentável.
Assim, com base na discussão exposta, emerge o seguinte problema de pesquisa: De que forma o Consumo Colaborativo se relaciona com o desenvolvimento sustentável a partir das organizações colaborativas existentes no Brasil ?
Faz-se imprescindível que os conceitos relacionados não sejam confundidos e utilizados como sinônimos. A obtenção dos dados relacionados ao ambiente brasileiro, cujas informações são escassas, faz-se indispensável. Essa caracterização pode auxiliar tanto pesquisas futuras como gerar dados para gestores e outras pessoas e organizações envolvidas em fomentar o consumo colaborativo no país.
A análise da relação entre Economia Colaborativa e Desenvolvimento Sustentável é fundamental, dada a associação existente entre as temáticas. As relações entre Consumo Colaborativo no Desenvolvimento Sustentável ainda não foram comprovadas. Deste modo, objetiva-se contribuir no campo gerencial e teórico.
Do ponto de vista gerencial, a definição de políticas públicas e o desenvolvimento do empreendedorismo, associado esse novo tipo de práticas, podem se beneficiar a partir da obtenção de resultados como este, que observam tanto a perspectiva do consumidor individual como das implicações de práticas de consumo colaborativo.
Sobre a perspectiva individual, entender as motivações que levam os consumidores ao Consumo Colaborativo, como estes têm se beneficiado dessas práticas e quais suas atitudes sobre o ambiente natural são fundamentais para os gestores direcionarem suas atuações estratégicas, para fomentar o desenvolvimento ainda maior do Consumo Colaborativo, promovendo a sobrevivência dessas práticas. Ainda, compreender como os consumidores se sentem quanto à coletividade é fundamental para fazer a conexão com a satisfação das necessidades do presente garantindo o futuro das próximas gerações, sem a qual, não há Desenvolvimento Sustentável.
Da visão das organizações de Consumo Colaborativo, estes modelos de negócios podem ser fomentados e/ou aprimorados a partir da análise das características existentes. O que permite aos gestores alinhar seus objetivos aos objetivos dos consumidores e necessidades da sociedade.
Além das implicações gerenciais, há um destaque também para as implicações teóricas que esta pesquisa proporciona, pois mostra, cientificamente, as relações que emergiram da conexão sobre as temáticas de Desenvolvimento Sustentável e Economia Colaborativa. Isso admite destacar pontos de convergência e de divergência entre os temas, permitindo a criação de uma linha de pesquisa mais robusta e esclarecedora sobre a Economia Colaborativa.
3.MELHORAMENTO DOS PROCESSOS
Parte-se da ideia de que as inovações tecnológicas podem, em combinação com políticas sustentáveis, ser aptas a resolver os problemas enfrentados pela sociedade, como problemas econômicos, gerenciais, de comunicação, acesso, etc. Ainda, tem-se reconhecido que esta mesma inovação tecnológica pode transformar esta sociedade pelas contribuições no melhoramento de muitos processos e produtos, como por exemplo a redução da poluição, aumento do ciclo de vida dos produtos e aumento da eficiência de muitos processos de produção. Contudo, a solução definitiva está na forma as pessoas utilizam as tecnologias na forma da produção, distribuição, investimentos e consumo, calcados nos valores direcionadores, estão alinhados em um sistema sustentável.
A partir dessa conclusão, o consumo ainda aparece como um forte componente capaz de contribuir com o desenvolvimento sustentável. Os estilos de vida da população, o nível de informação dos consumidores, a educação para a sustentabilidade, da mesma forma ações tais como o boicote, são exemplos onde os esforços podem ser intensificados.
Além disso, outras formas como moedas locais ou moradias não tradicionais, que vão contra a hegemonia do mercado tradicional, apresentam potencial de mudança da conjuntura econômica, social e ambiental. Logo, percebe-se que tanto o padrão de acesso (nível de consumo) como a produção dos bens e serviços que a sociedade precisa, podem ser viabilizados pelo consumo colaborativo, que detém mecanismos mais cooperativos e comunitários.
O consumo colaborativo tem ganhado força em todo o mundo, mas no Brasil, tanto as iniciativas quanto os estudos ainda são incipientes. Sabe-se que as formas baseadas no aluguel ou empréstimo em vez de compra e venda não se tratam de uma novidade, mas a Internet multiplicou e ampliou a maneira com que isso pode ser feito, pois uniu pessoas com interesses em comum.
A internet media a oferta e a procura em tempo real e em uma escala global. Os potenciais ganhos macroeconômicos são grandes. Os modelos de acesso mediados pelo mercado estão ganhando popularidade, sendo impulsionados pela web, pois as tecnologias sociais, de mobilidade e localização, são decisivas para o consumo colaborativo, visto que tornam o compartilhamento mais fluido a partir da eficiência e da confiança. Por intermédio da web é possível criar mercados que podem, de forma eficaz, conectar bens e aptidões com as necessidades dos consumidores.
Embora os esforços no desenvolvimento de organizações que promovem o consumo colaborativo ainda ocorram em uma escala pequena em relação ao consumo tradicional baseado no mercado, o movimento dos consumidores para o compartilhamento das suas posses e habilidades através de mercados alternativos é um passo para a criação de conexão sociais e comunidades, o que poderia potencialmente elevar os consumidores, as comunidades e a economia à uma posição mais saudável no longo prazo. Bem como a mudança das práticas focadas exclusivamente na noção de propriedade individual para as atividades de consumo envolvidas na coletividade e na partilha, onde ocorra menos demanda por bens de consumo, podem dar lugar a uma nova economia que poderia ajudar a resolver problemas como a poluição e o uso excessivo de energia.
Nesse sentido, essas alternativas de consumo colaborativo podem representar um conceito para o futuro dos padrões de consumo focados no desenvolvimento sustentável, pois trabalham na construção de normas compartilhadas, atitudes e estruturas sociais, e ainda podem aumentar o capital social e integrar as estratégias mais participativas. Essas iniciativas de consumo visam prolongar a vida, uso e o valor dos bens, enquanto desestimulam a aquisição de novas compras.
A pesquisa sobre o consumo colaborativo tem relevância científica a partir do momento que não se registram estudos suficientes que criem um corpo teórico referente ao tema. As características do consumo colaborativo ainda não são bem conhecidas, o que torna o trabalho do gestor dessas novas práticas mais difícil. No Brasil ainda não temos dados referente à quantidade de organizações existentes, localização, abrangência, motivações para ingressar nesse tipo de negócio ou para se tornar consumidor de um. Por envolver uma forma diferente de consumo e uma economia colaborativa, pode-se caracterizar o consumo colaborativo como uma possibilidade que pode galgar mais espaço na economia, e promover a oferta de novos produtos/serviços, criando oportunidades tanto para os gestores quanto para consumidores.
Como relevância social, destaca-se o impacto que práticas desse tipo podem atuar combatendo os altos padrões de consumo, ao oportunizar a mudança de comportamento e atuação mais coletiva e menos individualista, o consumidor passa de focar no ter para focar no acessar, colaborar e compartilhar.
Como essas organizações envolvem diferentes formas e contextos de atuação – transferência de propriedade, empréstimos, temporalidade, anonimato, envolvimento do consumidor, tipo de objeto acessado e nível de mediação no mercado, cabe uma análise mais aprofundada que possa permitir entender os reais impactos que cada prática pode ter com relação ao desenvolvimento sustentável. Ou seja, que impactos potenciais podem ser esperados nos aspectos sociais, ambientais e econômicos do consumo colaborativo. Pesquisas podem refutar ou comprovar que o consumo colaborativo melhora a qualidade de vida das pessoas, ou que realmente é orientado para o desenvolvimento sustentável.
Conhecendo-se como o consumo colaborativo opera no Brasil, pode-se pensar em estratégias para o seu estímulo e desenvolvimento, por parte da iniciativa pública, privada e da sociedade como um todo. De forma a favorecer os seus aspectos positivos, que contribuem com a redução dos impactos do consumo excessivo, ampliam o acesso das pessoas à determinados produtos e serviços, e permitem maior interação entre os consumidores do consumo colaborativo.
A partir de todo o exposto, do pouco que se conhece sobre a realidade do consumo colaborativo e da escassez de evidências empíricas sobre o potencial de crescimento real do consumo colaborativo, faz-se necessário investir em pesquisas que possam proporcionar mais informações acerca do contexto, motivações, elementos centrais característicos do consumo colaborativo. Além disso, entender as características do consumo colaborativo envolve entender as diferentes configurações em que ele se organiza. Pois essas características podem se apresentar de forma específica nas diversas organizações colaborativas. Através da consecução dessa tese, buscou-se fornecer mais conhecimento que possa contribuir com a construção teórica que envolve a formação de organizações que promovem o consumo colaborativo, bem como com a prática que circunda os gestores imersos em um tipo de organização emergente.
Dentre as contribuições teóricas, destacou-se a identificação das características das organizações colaborativas, caminho para o preenchimento de uma lacuna teórica com relação à falta de estudos que corroborem a relação entre Consumo Colaborativo e Desenvolvimento Sustentável, e aplicação empírica da matriz de necessidades humanas, destacando uma série de satisfatores relacionados com o Desenvolvimento Sustentável e o Consumo Colaborativo.
Sobre as implicações gerenciais, conclui-se com sugestões de práticas para organizações de Consumo Colaborativo com vistas a contribuir com o Desenvolvimento Sustentável e informações para aqueles que pretendem empreender em novos modelos de negócios mais colaborativos.
4.CONSUMO E O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
A explicação da economia como um sistema é originária dos fisiocratas. A fisiocracia significa o ‘poder sobre a natureza’, dessa forma, o resultado da exploração dos recursos naturais, mais especificamente da agricultura, é considerado riqueza (os fisiocratas se referiam ao século XVIII).
Os fisiocratas relacionaram o consumo com a economia. Quanto mais bens fossem consumidos, mais dinheiro circularia no sistema, logo o consumo se tornaria o motor da economia. Outra relação necessária deu-se entre os produtores e consumidores, de modo que os consumidores dependem dos bens e serviços dos produtores, que por sua vez, dependem das compras e trabalho dos consumidores.
Entende-se que o consumo seguiu como um ponto fundamental para o propósito da produção e pode ser compreendido como o uso ou o gasto dos serviços e dos bens perecíveis e duráveis, tanto pelo setor privado (unidades familiares) como governamental. Logo, o consumidor é entendido como o usuário final de um produto ou serviço .
A economia veio para ser o tema dominante das relações humanas com o crescimento econômico, cuja prioridade é aumentar a produção. Esta foi vista como a chave para o bem-estar da humanidade pois, por meio do crescimento, a pobreza seria superada: com a riqueza dos mais ricos os mais pobres seriam puxados para sair da pobreza.
Contudo, de uma perspectiva macroeconômica, a realidade pode ser mostrar outra. A economia trabalha com uma escala (população versus uso de recursos per capita), que deve estar dentro da capacidade da região sem que seja necessário recorrer ao excesso de consumo dos recursos. Dessa forma, implica-se em um ponto limite na escala, ou seja, uma contrapartida entre tamanho da população e as taxas de uso dos recursos per capita de uma dada região. Essa situação, nos países pobres, levaria ao ponto em que não se podendo reduzir as taxas de uso de recursos, necessariamente, haveriam que concentrar seus esforços no controle da população (DALY, 1990).
O mesmo é relatado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, onde as populações em rápido crescimento podem aumentar a pressão sobre os recursos e retardar qualquer melhora na qualidade de vida. Dessa forma, o desenvolvimento sustentável só pode ser prosseguido se o tamanho e o crescimento da população estiverem em harmonia com o potencial produtivo do ecossistema. O problema, no entanto, não é simplesmente uma dimensão global da população, visto que em países com altos níveis de consumo de energia e materiais a pressão é maior do que em países pobres, dada a maior exploração dos recursos da Terra. Nos países mais ricos, com taxas de crescimento demográfico reduzidas, o alvo se torna a redução do consumo, para que o equilíbrio seja mantido (DALY, 1990).
Para manter a mesma qualidade de vida, os modelos de crescimento passados falharam em erradicar a pobreza no mundo ou no interior dos países. Este padrão de crescimento também prejudicou o meio ambiente do qual a humanidade depende, aumentando a amplitude entre ricos e pobres e degradando os sistemas naturais. Sobre essa realidade o desenvolvimento sustentável questiona os modelos econômicos regentes (DALY, 1990).
Esse fracasso foi reconhecido mundialmente através do Relatório O Nosso Futuro Comum ou Relatório de Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, sob a coordenação de Gro Harlem Brundtland. O documento passou a exigir uma forma diferente de crescimento, onde o foco se desse na satisfação das necessidades essenciais do presente, mesclando ambiente e economia na tomada de decisão, com ênfase no desenvolvimento humano, na participação nas decisões e equidade nos benefícios. O desenvolvimento proposto é um meio para erradicar a pobreza, atender às necessidades humanas e garantir que todos recebam uma parcela justa dos recursos. Ressalta-se o papel da justiça social, como um componente crucial do conceito de Desenvolvimento Sustentável (WCDE, 1987). É sobre o tema do Desenvolvimento Sustentável que trata a próxima seção.
5.O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Embora a expressão desenvolvimento sustentável seja amplamente utilizada, pode-se encontrar diferentes significados associados, o que provoca muitos conceitos diferentes. Contudo, em termos gerais, sua ideia central trata de um esforço em combinar as preocupações sobre as questões ambientais, sociais e econômicas. Isso significa concentrar-se em modos de vida sustentáveis e bem-estar, em vez de bem-ter, e sustentabilidade ambiental a longo prazo, o que requer uma forte base em princípios que ligam o social e ambiental ao patrimônio humano.
Um dos pontos de discussão é a expressão desenvolvimento sustentável que pode ser “entendida como uma contradição em termos, visto os imperativos antagônicos de crescimento e desenvolvimento, por um lado, e sustentabilidade ambiental (e talvez econômico e social), por outro”. Neste mesmo sentido, Daly (1990) apresentou uma interessante relação entre termos crescimento e desenvolvimento, recorrendo inicialmente ao dicionário e então expandido para a questão dos recursos naturais.
Crescer significa aumentar naturalmente em tamanho pela adição de material através da assimilação ou aposição. Desenvolver significa expandir ou realizar as potencialidades de alguma coisa, gradualmente trazer para um estado melhor, completo ou maior. Em resumo, crescer é um aumento quantitativo em escala física e desenvolver é um melhoramento qualitativo em desdobramentos das potencialidades.
Complementando, o fato de que esta envolve tanto os objetivos do processo, como os meios de alcançar esses objetivos. Dessa forma, as discussões sobre o desenvolvimento sustentável implicam que o objetivo principal é alcançar o desenvolvimento, onde sustentabilidade se torna apenas um qualificador.
Logo, compreende-se que uma economia pode crescer sem se desenvolver, desenvolver-se sem crescer, nem crescer nem se desenvolver ou crescer e se desenvolver, ao mesmo tempo. A partir do momento em que a economia humana é uma parte componente de um ecossistema global finito, entende-se que o crescimento de uma economia não pode ser sustentável por longos períodos de tempo. Dessa forma, crescimento sustentável pode ser entendido como uma contradição em termos, mas a terminologia desenvolvimento sustentável é uma realidade (DALY, 1990).
Dessa forma, percebe-se que a abordagem inicial do desenvolvimento se focou no crescimento econômico de forma quantitativa, entretanto sua evolução levou-a a englobar não apenas as necessidades humanas fisiológicas e tangíveis (necessidades quantitativas), mas também necessidades humanas intangíveis relacionadas ao bem-estar (necessidades qualitativas), como a família, segurança, afeto, educação, liberdade, entre outros. O que caracteriza os mais recentes modelos de desenvolvimento é a intenção de associar aspectos puramente econômicos com objetivos sociais de bem-estar para a maioria da sociedade.
Dada a magnitude de preocupações que o conceito de desenvolvimento sustentável tem expressado, não é de se surpreender que seja necessário desenvolver uma nomenclatura adequada para expressar as preocupações sobre a ligação entre as questões ambientais e sociais. Em particular, enquanto organizações governamentais e do setor privado tendem adotar o termo desenvolvimento sustentável, fontes acadêmicas e organizações não-governamentais foram mais propensas a usar o termo sustentabilidade em contextos semelhantes.
O referido autor ainda justifica as diferentes terminologias, inferindo que, por definição, desenvolvimento sustentável é mais atraente para o governo e negócios, pois, para ONGs e ambientalistas acadêmicos, o desenvolvimento é visto como sinônimo de crescimento e, portanto, o desenvolvimento sustentável significa melhorar, mas não desafiar, a continuação do crescimento econômico. Deste ponto de vista, o termo sustentabilidade foca a atenção na capacidade dos seres humanos para continuar vivendo dentro das restrições ambientais. Logo, trata-se apenas de uma questão de semântica e não conceitual.
Um lado se atém às questões relacionadas aos valores e mudanças fundamentais nas ações individuais para a natureza (o argumento da sustentabilidade), o outro se foca em uma abordagem mais pragmática e coletiva, voltada para ganhos de eficiência e melhorias na tecnologia (ou seja, o desenvolvimento sustentável). Os objetivos finais são diferentes.
A imprecisão conceitual não é recente, em um estudo realizado anos antes, Mebratu (1998) desprendeu um esforço na síntese de diversas versões que envolvem os conceitos de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade. O autor atribui que tal indefinição travou uma batalha política pela influência sobre o futuro da humanidade, juntamente com a sua importância crescente nas políticas nacionais, internacionais e das corporações. Como resultado, tem-se a variedade de definições e interpretações que pendem para as prerrogativas institucionais e de grupo, em vez de compor a essência do conceito, que tem sido inerente às crenças e práticas tradicionais.
Nesse sentido, a análise realizada pelo autor abarca três vertentes que englobam as mais variadas versões: (a) versão institucional; (b) versão ideológica e; (c) a versão acadêmica. Todas essas definições são embasadas na aceitação de que o mundo se encontra em uma crise ambiental, em que se torna necessário uma mudança para superar a crise. Em vez de focar a semântica utilizada nos diferentes grupos de definições, a revisão conceitual de Mebratu (1998) concentra-se em responder: O que é identificado como fonte da crise? Qual é a abordagem central para a solução? Qual é a plataforma de solução proposta? Qual é o instrumento chave para a solução? Cada grupo criado pelo autor é destacado a seguir. Essas concepções são analisadas nas seções seguintes.
5.CONCEPÇÃO DE SUSTENTABILIDADE
Sobre as bases para o entendimento da versão institucional relacionada à crise ambiental, Mebratu comparou diferentes abordagens de três institutos diferentes: Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (WCED - World Commission on Environment and Development), Instituto Internacional para Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED - International Institute of Environment and Development) e Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD - World Business Council for Sustainable Development).
Na versão institucional o entendimento base desses órgãos é a satisfação das necessidades, e as diferenças concentram-se no foco da solução, a plataforma de solução e o centro de liderança. O conceito de desenvolvimento sustentável mais amplamente aceito é o originado na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1987, que o definiu como “um processo de mudança no qual a exploração dos recursos, direção dos investimentos, orientação do desenvolvimento tecnológico e mudança institucional estão todos em harmonia para alcançar e satisfazer as necessidades e aspirações atuais e futuras” (WCED, 1987, p. 46).
Esse conceito traduz a maneira pelas quais as necessidades dos seres humanos são supridas, bem como suas consequentes práticas, como centrais para a manutenção da sua própria existência.
Nesse sentido, compreende-se que o desenvolvimento sustentável se baseia em questões ambientais, onde as limitações dos recursos naturais têm um impacto direto sobre a economia e, em última instância, sobre a sociedade. Sendo o meio ambiente um aspecto importante a ser considerado na realização do desenvolvimento sustentável, onde as limitações de recursos naturais representam, portanto, uma restrição sobre o desenvolvimento humano.
O desenvolvimento sustentável é um conceito antropocêntrico e sua preocupação principal está em encontrar soluções para a sobrevivência e bem-estar da humanidade no curto e longo prazo. Assim, estudos sobre capacidade de suporte do planeta, biocapacidade, pegada ecológica, capitalismo natural, entram no debate sobre o desenvolvimento sustentável, visto que consideram recursos naturais são contributos fundamentais para a produção de bens. Logo, os recursos naturais são importantes para satisfazer as necessidades humanas, de forma que não se deve consentir com seu esgotamento.
O principal desafio que se apresenta para o desenvolvimento sustentável está em atender as necessidades e aspirações de desenvolvimento de uma população mundial em expansão. De acordo com WCDE, a necessidade mais básica é o emprego (WCDE, 1987).
Essa visão assemelha-se à do IIED, onde a solução se baseia na crescente capacitação das pessoas para cuidar de seu próprio desenvolvimento, combinada com um conhecimento claro de restrições ambientais e de requisitos para atender às necessidades básicas. Essa posição reflete o foco principal do desenvolvimento rural nos países em desenvolvimento. Já para o WBCSD entende que o desenvolvimento sustentável deve ser alcançado através do crescimento econômico entrelaçado com a proteção do meio ambiente. No entendimento do WCED o envolvimento político é a chave, onde órgãos governamentais são os principais direcionadores.
Percebe-se que todos os institutos mencionados tratam da visão de que o meio ambiente é fator-chave para a melhoria da qualidade de vida da população. Trata-se de uma visão antropocêntrica, onde o ambiente físico é um meio para atingir objetivos humanos e não como tendo importância por seu próprio valor.
A versão ideológica destaca três correntes: o eco feminismo, eco socialismo e a eco teologia. O eco feminismo apresenta a visão de que o sistema masculino é a fonte de ameaças ambientais, de forma que o movimento feminino seria a alternativa para combater a supremacia masculina na sociedade.
O eco feminismo pretende expor, desafiar e mudar as estruturas dominantes de poder, tanto nas relações de gênero quanto nos sistemas econômicos. O eco socialismo associa a crise ambiental ao sistema capitalista de produção, baseado na competitividade e valorização da propriedade. A solução é o desenvolvimento de um socialismo ecologicamente orientado, a partir da igualdade social. Este só pode ser alcançado pelo movimento das classes trabalhadoras, a partir da reapropriação do controle coletivo sobre as relações com a natureza, ou seja, por meio da propriedade comum dos meios de produção, visto que a produção está no centro da relação humana com a natureza.
A eco teologia abarca a importância de ampliar as crenças religiosas mais conhecidas, que valorizam o amor e respeito pelas outras pessoas, para a natureza não-humana, partindo do princípio de que o ser humano deve-se tratar a todos como gostaria de ser tratado. Assim, a base da eco teologia está na crença de que a humanidade tem ignorado a riqueza do conteúdo ecológico nas tradições religiosas. De acordo com este pensamento, na crise ambiental há ganância humana, que por sua vez, só poderá ser revertida com o compromisso com a humildade, desapego e gratidão pelo mundo natural (reavivamento espiritual) como dom divino, devendo tratar esse mundo adequadamente em busca do equilíbrio. Os principais responsáveis por esse movimento seriam as igrejas e congregações.
A terceira versão da sustentabilidade trata das respostas economistas, ecológicas e sociológicas representando a comunidade científica sobre crise ambiental. Envolve a economia ambiental, a ecologia profunda e a ecologia social.
A economia ambiental apresenta a visão dos elementos da natureza como commodities que geralmente são subvalorizadas (devido ao acesso gratuito), sendo assim, explorados em demasia. A solução para esse problema seria uma determinação dos valores das commodities por meio avaliações econômicas (oferta e demanda) para encontrar um nível ótimo de exploração e taxação os danos a partir da exploração além desses níveis. Essas taxas subsidiariam a melhoria no ambiente. Outra solução seria a criação de mercados de bens ambientais (mediante licenças) que permitiriam a comercialização desses bens.
CONCLUSÃO
A ecologia profunda compreende que, no longo prazo, as reformas ambientais dos sistemas sociais e econômicos não são uma solução viável para compensar a destruição acelerada do meio ambiente. As causas da crise ecológica estão na cultura ocidental do domínio humano sobre a natureza. Dessa forma, se poderia enfrentar a crise ambiental através do entendimento do quanto a natureza é importante para a sobrevivência dos humanos, ou seja, uma visão centrada nos seres vivos como um todo e não apenas no homem.
O bem-estar e o florescimento da vida humana e não-humana na Terra têm valor em si mesmos (ou seja, valor intrínseco ou inerente). Estes valores são independentes da utilidade do mundo não-humano para fins humanos. Riqueza e diversidade de formas de vida contribuem para a realização desses valores e também são valores em si mesmos.
Humanos não têm o direito de reduzir esta riqueza e diversidade exceto para satisfazer as necessidades vitais, pois o florescimento da vida humana e das culturas é compatível com uma população humana substancialmente menor. O florescimento da vida não-humana exige uma população humana menor.
A interferência humana presente no mundo não-humano é excessiva e a situação está piorando rapidamente e as políticas devem ser alteradas, dessa forma. Estes estados resultantes dos assuntos serão profundamente diferentes dos atuais.
A mudança ideológica será principalmente a de valorizar a qualidade de vida (habitação em situações de valor inerente) em vez de aderir a um nível cada vez mais elevado de vida. Haverá uma profunda consciência da diferença entre a grandeza e a grandiosidade. Esses itens anteriores têm a obrigação direta ou indiretamente ao tentar implementar as mudanças necessárias.
Isto posto, a ecologia social se baseia na convicção de que quase todos os problemas ecológicos da humanidade são originários de profundos problemas sociais. Segue-se, a partir deste ponto de vista, que estes problemas ecológicos não podem ser compreendidos, e muito menos resolvidos, sem uma compreensão cuidadosa da sociedade existente e das estruturas que a dominam. Nesse sentido, os sistemas sociais, políticos e econômicos, bem como culturais, de gênero, étnicos, dentre outros, se encontram no cerne dos mais sérios prejuízos ecológicos. Tais sistemas são os responsáveis pelo domínio tanto da humanidade quanto da natureza.
Dentro desse entendimento, ressalta-se que a “ecologia social estuda os sistemas histórico-sociais humanos em interação com os sistemas ambientais”, visto que os primeiros não podem ser analisados em separado dos segundos. Essa relação abrange os laços entre a injustiça social e injustiça ecológica, pois o ser humano mais agredido com a injustiça ecológica é o mais pobre, fruto da injustiça social. Essa pobreza se revela em virtude da falta de infraestrutura necessária à vida digna, como falta de água potável, moradia salubre, relações sociais de violência.
Para este autor, para tratar a injustiça ecológica é preciso estabelecer um mínimo de justiça social, para que a verdadeira solidariedade entre as gerações possa acontecer, ou seja, que as futuras gerações realmente possam ter o futuro que têm direito. Assim, o poder do Estado é fundamental para intervir nessa relação e a ecologia social destaca o papel central do governo através das autarquias locais baseadas na democracia direta.
Vejo a mesma inseparabilidade entre as dimensões da sociedade e da natureza, mas entendem que os recursos naturais representam a base fundamental para satisfazer as necessidades humanas, sendo, neste caso, primordiais para que os direitos da sociedade sejam atendidos. Independente de uma ordem. Os diferentes ensinamentos religiosos, filosofias e crenças tradicionais, grandes repositórios de conhecimento humano, juntamente com a ciência moderna, são orientados para a vida em harmonia com a natureza e uns com os outros. A partir dessa ideia central se assenta a essência lógica do que se chama de sustentabilidade.
Em essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de mudança no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão todos em harmonia, melhorando o potencial atual e futuro de atender às necessidades e aspirações humanas.
REFERÊNCIAS
BELK, R.W. Possessions and the Extended Self. Journal of Consumer Research, v. 15, n. 2, p. 139–168, 1988.
BOTSMAN, R.; ROGERS, R. O que é meu é seu: como o consumo colaborativo vai mudar o nosso mundo. Porto Alegre: Bookman, 2011.
COSTA, R.B. Entre resistências e dádivas: reflexões sobre o consumo colaborativo. Cambiassu, v. 19, n. 14, p. 237-252, 2014.
DALY, H. Toward some operational principles of sustainable development. Ecological Economics, v. 2, p. 1-6, 1990.
MEBRATU, D. Sustainability and sustainable development: historical and conceptual review. Environ Impact Asses Review, n. 18, p. 493–520, 1998.
STOKES, K.; CLARENCE, E., ANDERSON, L., RINNE, A. Making sense of the UK Collaborative Economy. 2014. Nesta Collaborative Lab, p. 48. Disponível em: <https://www.nesta.org.uk/sites/default/files/making_sense_of_the_uk_collaborative_econom y_14.pdf >. Acesso em 8 Apr. 2015.
Professor de Direitos Humanos e Delegado de Polícia Judiciária Civil. Atualmente Delegado Controlador Geral de Administração e Finanças da PC-AM. Foi titular da DECON, 17º DP e 25º DP e Conselheiro do Fundo Estadual de Defesa do Consumidor (CONDECON).. Doutorando em Ciências Jurídicas. Formação como Mestre em Direito Ambiental. Autor dos livros: "Direitos Humanos, vocação do Delegado de Polícia" (ISBN 978-85-400-1964-5), "Consciência ambiental para efetivação da dignidade humana no sistema prisional" (ISBN 978-85-400-2178-5) e "Poder do Óbvio para Blindagem do Consumidor Consciente e Outras Justiças" (ISBN 978-65-89973-08-9).
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: CAETANO, Eduardo Paixão. Compartilhamento de tudo com a economia colaborativa para elevação do consumidor brasileiro Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 24 ago 2020, 04:58. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/55121/compartilhamento-de-tudo-com-a-economia-colaborativa-para-elevao-do-consumidor-brasileiro. Acesso em: 22 nov 2024.
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