Resumo: No cenário dinâmico do mundo contemporâneo, destacando o desenvolvimento social como um fenômeno complexo moldado por fatores globais, regionais e locais. O texto propõe uma análise dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, utilizando a teoria do Pensamento Complexo de Edgar Morin. O objetivo é conectar os objetivos de Desenvolvimento Social aos princípios do pensamento complexo. A pesquisa destaca a relevância do tema, indicando a necessidade de debates sobre o Desenvolvimento Social. A metodologia aplicada inclui a coleta de dados por meio de pesquisa bibliográfica, utilizando uma variedade de fontes físicas e virtuais, como livros, artigos, monografias, dissertações, teses, legislações e doutrina.
Palavras-chave: Objetivos de Desenvolvimento Social. Organização das Nações Unidas. Pensamento Complexo.
Abstract: In the dynamic scenario of the contemporary world, highlighting social development as a complex phenomenon shaped by global, regional and local factors. The text proposes an analysis of the UN's Sustainable Development Goals (SDGs), using Edgar Morin's Complex Thinking theory. The objective is to connect the objectives of Social Development with the principles of complex thinking. The research highlights the relevance of the topic, indicating the need for debates on Social Development. The methodology applied includes data collection through bibliographic research, using a variety of physical and virtual sources, such as books, articles, monographs, dissertations, theses, legislation and doctrine.
Keywords: Social Development Objectives. United Nations. Complex Thinking.
1.Introdução
O cenário dinâmico do mundo contemporâneo, o desenvolvimento social emerge como um fenômeno complexo e multifacetado, moldado por uma interação intrincada de fatores globais, regionais e locais. À medida que as sociedades evoluem, enfrentam desafios e oportunidades únicas que refletem as mudanças nos padrões demográficos, avanços tecnológicos, movimentos culturais e questões ambientais.
Nesse contexto procuraremos abordar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), procurando de forma rasa explanar sua criação, desenvolvimento e aplicação e os motivos de sua relevância. Para isso tentaremos usar as ideias do renomado filósofo e sociólogo Edgar Morin, em sua teoria do Pensamento Complexo.
Nesse sentido, sem esgotar a matéria, até porque a natureza desta pesquisa não permite tal intento, buscar-se-á elementos que liguem os objetivos de Desenvolvimento Social à luz do pensamento complexo.
Para atingir o objetivo proposto apresentamos o histórico dos projetos na Organização das Nações Unidas, visando o Desenvolvimento Sustentável e, após passamos a expor as teorias do Pensamento Complexo, conforme proposto por Edgar Morin, por fim procuramos conectar as ODS aos princípios do pensamento complexo.
A relevância da pesquisa se justifica pela atualidade e especificidade do tema investigado, o qual aponta necessidade de debates sobre referida problemática a ser enfrentada, o Desenvolvimento Social.
A metodologia aplicada para o desenvolvimento do trabalho contou com a técnica de coleta de dados mediante pesquisa bibliográfica. Neste processo investigativo, foram utilizados textos em geral, na forma de livros, artigos, monografias, dissertações, teses, legislações e doutrina, tanto do meio físico, como do virtual.
2.Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), remonta à Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em 2002, em Johanesburgo, conhecida como a Cúpula Rio+10 (ONU, p. 2) . Nesse encontro, líderes globais discutiram o progresso e os desafios enfrentados desde a Cúpula da Terra no Rio de Janeiro, em 1992, que resultou na Agenda 21, um plano de ação global para o desenvolvimento sustentável.
Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), estabelecidos em 2000, foram uma resposta a essa Cúpula e delinearam metas específicas a serem alcançadas até 2015. Focando principalmente em questões de pobreza extrema, fome, saúde materna e infantil, educação básica, igualdade de gênero e acesso à água potável, os ODM foram considerados um passo significativo, mas também foram criticados por não abordarem adequadamente uma gama mais ampla de desafios globais.
Em 2002, durante a Conferência Rio+20, a comunidade internacional reconheceu a necessidade de uma abordagem mais abrangente e integrada para o desenvolvimento sustentável. Foi acordado que seria necessário desenvolver uma nova agenda global que incluísse todos os países e abordasse questões como mudanças climáticas, desigualdades sociais, consumo responsável e outros temas cruciais (ONU, p. 3-4).
Essa nova agenda de desenvolvimento sustentável culminou na adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em setembro de 2015, durante a Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, em Nova Iorque. Os 17 ODS e suas 169 metas representam uma visão mais abrangente e interconectada do desenvolvimento sustentável, abordando não apenas os aspectos econômicos, mas também os sociais e ambientais (ONU, p. 1).
2.2 Conceito de Desenvolvimento Sustentável
Segundo a Agenda das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (2023), o desenvolvimento sustentável é o “desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazerem as suas próprias necessidades”.
O conceito apresentado não se encerra aí, apresenta como fundamentos o crescimento econômico, a inclusão social e a proteção ao meio ambiente.
O desenvolvimento sustentável exige esforços concertados para a construção de um futuro inclusivo, sustentável e resiliente para as pessoas e o planeta.
Para que o desenvolvimento sustentável seja alcançado, é fundamental harmonizar três elementos fundamentais: crescimento econômico, inclusão social e proteção do ambiente. Esses elementos estão interligados e todos são cruciais para o bem-estar dos indivíduos e das sociedades.
Erradicar a pobreza em todas as suas formas e dimensões é um requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável. Para tal, deve haver promoção de um crescimento económico sustentável, inclusivo e equitativo, criando mais oportunidades para todos, reduzindo as desigualdades, elevando os padrões básicos de vida, promovendo o desenvolvimento social equitativo e a inclusão, e promovendo a gestão integrada e sustentável dos recursos naturais e dos ecossistemas.[1] (tradução nossa)
2.3 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)
Anteriormente ao lançamento dos Objetivos de Desenvolvimento Social, a Organização das Nações Unidas aprovou, em setembro de 2000, a Declaração do Milênio, assinada pelos líderes de 189 nações.
A Declaração do Milênio estabeleceu oito metas a serem atingidas até 2015, enumeradas a seguir:
1. Erradicar a pobreza extrema e a fome
- Reduzir à metade a proporção de pessoas cuja renda seja inferior a U$1,25 por dia.
- Alcançar emprego pleno, produtivo e decente para todos, inclusive mulheres e jovens.
- Reduzir à metade a proporção de pessoas que sofrem com a fome.
2. Alcançar educação primária universal
- Garantir que todos os meninos e meninas completem o curso de educação primária.
3. Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres
- Eliminar a disparidade entre os gêneros na educação primária e secundária preferencialmente até 2005, e em todos os níveis da educação até 2015.
4. Reduzir a mortalidade infantil
- Reduzir em dois terços a mortalidade de crianças menores que 5 anos.
5. Melhorar a saúde materna
- Reduzir a mortalidade materna em três quartos.
Alcançar acesso universal à saúde reprodutiva.
6. Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças
- Deter e diminuir a propagação do HIV/AIDS.
- Alcançar, até 2010, acesso universal ao tratamento do HIV/AIDS para todos aqueles que precisam.
- Deter e diminuir a incidência da malária e outras doenças.
7. Garantir a sustentabilidade ambiental
- Integrar os princípios do desenvolvimento sustentável às políticas e programas de governo dos países; reverter a perda de recursos naturais.
- Reduzir a perda da biodiversidade, alcançando, até 2010, uma redução significativa da taxa de perda.
- Reduzir à metade a proporção de pessoas sem acesso a água potável e saneamento básico.
- Melhorar a vida de pelo menos 100 milhões de habitantes de favelas até 2020.
8. Estabelecer uma parceria global para o desenvolvimento.
- Desenvolver a fundo um sistema financeiro e comercial que seja aberto, baseado em regras, previsível e não-discriminatório.
- Atender às necessidades especiais dos países menos desenvolvidos, países sem litoral e Estados em desenvolvimento em pequenas ilhas.
- Lidar compreensivelmente com as dívidas de países em desenvolvimento.
- Em parceria com a indústria farmacêutica, prover acesso a medicamentos essenciais nos países em desenvolvimento.
- Em parceria com o setor privado, tornar disponível os benefícios das novas tecnologias, em especial tecnologias de informação e comunicação.
No relatório divulgado pela própria ONU (2015), mostra os resultados das ODM, como podemos ver:
a) extrema pobreza: o percentual da população das regiões em desenvolvimento que vive com menos de US$ 1,25 por dia caiu aproximadamente 50% em 1990 para 14% em 2015;
b) fome: a proporção de pessoas subnutridas nas regiões em desenvolvimento caiu à metade, de 23,3% em 1990 para 12,9% em 2015;
c) crianças fora da escola: o número global de crianças fora da escola primária caiu de 100 milhões em 2000 para 57 milhões em 2015.
d) taxa de mortalidade infantil: entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade de crianças até 5 anos caiu de 90 para 43 mortes por 1.000 nascimentos;
Cabe ressaltar que esses resultados podem decorrer por diversos fatores além das ODM, o número absoluto de pessoas na condição de extrema pobreza caiu de 1,9 bilhão de pessoas em 1990 para 836 milhões em 2015, de acordo com o PNUD (2018).
Em junho de 2012, foi realizada no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio+20, que além de reconhecer os avanços trazidos pelos ODM, propôs dar início à elaboração de um conjunto de objetivos de desenvolvimento sustentável (SDKP, 2017), conforme podemos extrair do documento final:
Destacamos também que as metas de desenvolvimento sustentável (SGDs) devem ser orientadas para ação, concisas e fáceis de entender, em número limitado, ambiciosas, de natureza global, e universalmente aplicáveis a todos os países, tendo em conta as diferentes realidades, capacidades e níveis de desenvolvimento e respeitando as políticas e prioridades nacionais. Reconhecemos também que as metas devem abordar as áreas prioritárias para realização do desenvolvimento sustentável, sendo orientadas por este documento final. Os governos devem conduzir a execução com a participação ativa de todas as partes interessadas, conforme apropriado. (BRASIL, 2012, p. 49)
O grupo de trabalho formado após a Rio+20, apresentou suas recomendações com 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável incluídos na Agenda Pós-2015. Após o consenso entre 193 Estados-Membros da ONU, a Agenda Pós-2015 passou a ser chamada de Agenda 2030.
Durante a Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável foi adotada oficialmente a nova agenda composta de 17 objetivos e 169 metas associadas, vigorando entre 1º de janeiro de 2016 a 310 de dezembro de 2030 (PNUD).
2.5 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
Apresento a lista dos 17 ODS extraído da agenda 2030, publicado pela Coordenadoria-Geral de Desenvolvimento Sustentável (CGDES):
Objetivo 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares
Objetivo 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável
Objetivo 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
Objetivo 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos
Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas
Objetivo 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos
Objetivo 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos
Objetivo 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos
Objetivo 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação
Objetivo 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles
Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis
Objetivo 12. Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis
Objetivo 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos
Objetivo 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável
Objetivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade
Objetivo 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis
Objetivo 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável
Para cada ODS foi definido um conjunto de metas e indicadores, 169 metas e 254 indicadores.
3.Pensamento Complexo
Para falarmos do pensamento complexo primeiramente devemos falar de seu grande expoente, Edgar Morin. Nascido Edgar Nahoum, em 8 de julho de 1921 na França conhecido principalmente por seu trabalho no desenvolvimento do conceito de "pensamento complexo" e por suas contribuições para a compreensão de sistemas complexos, dinâmicas sociais e questões interdisciplinares.
Filho único de família judia perdeu, ainda criança, a sua mãe, fato que o levou a ter como refúgio a literatura. Além desta, Nahoum tem o cinema como paixão e inspiração em sua vida. Apresentado ao marxismo no clima tenso da Segunda Guerra Mundial, esse intelectual foi cada vez mais envolvido em atividades subversivas, o que fez com que vivesse um período na cladestinidade duplamente (como judeu e comunista). Foi durante seus anos junto à resistência francesa que adotou o pseudônimo de Morin que carrega desde então.
Detentor de dois bacharelados, Geografia e História e Direito é filósofo, sociólogo e antropólogo, poŕém é possuidor 21 Doutorados Honorários, pesquisador emérito do CNRS (Centre National de La Recherche Scientifique).
Autor de quase 100 livros dentre eles os mais citados são: “O Método”, “Introdução ao Pensamento Complexo”, “Ciência com Consciência” e “Os Sete Saberes Necessários para a Educação do Futuro”. Este último foi escrito a convite da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco), que o consagrou como uma referência nas áreas de educação, psicologia, filosofia e sociologia.
3.2. Pensamento Complexo ou Pensée Complexe
O Pensamento Complexo tem como principal aspiração gerir as interconexões entre os distintos domínios disciplinares que são fragmentados pelo pensamento separativo.
Pedimos legitimamente ao pensamento que dissipe as brumas e as trevas que ponha ordem e clareza no real, que revele as leis que o governam. A palavra complexidade só pode exprimir nosso incômodo, nossa confusão, nossa incapacidade para definir de modo simples, para nomear de modo claro, para ordenar nossas ideias. (MORIN, 2005, p.5)
Desde a revolução científica, impera sobre nós os princípios de disjunção, redução e abstração, conforme estabelecido por Descartes (MORIN, 2005, p.11), sobre o que Morin atribui o nome de paradigma simplificador.
Assim, o paradigma simplificador é um paradigma que põe ordem no universo, expulsa dele a desordem. A ordem se reduz a uma lei, a um princípio. A simplicidade vê o uno, ou o múltiplo, mas não consegue ver que o uno pode ser ao mesmo tempo múltiplo. Ou o princípio da simplicidade separa o que está ligado (disjunção), ou unifica o que é diverso (redução). (MORIN, 2005, p.11)
Morin opõe-se ao pensamento simplificador (MORIN, 2005, p.6), ressaltando a presença de dois potenciais elementos que podem desviar as mentes do verdadeiro entendimento do pensamento complexo. O primeiro elemento diz respeito ao equívoco de acreditar que a complexidade leva à eliminação da simplicidade. Morin argumenta que a complexidade realmente surge da falha da simplicidade, mas incorpora tudo o que traz ordem, clareza, distinção e precisão ao conhecimento. O entendimento, portanto, é que o pensamento complexo abrange todas as formas possíveis de simplificação; no entanto, não permite espaço para implicações redutoras, unidimensionais e mutiladoras, ao contrário do pensamento simplificador, que desfaz a complexidade da realidade.
O segundo elemento refere-se à confusão entre complexidade e completude, destacada por Morin. Ele enfatiza que o maior desejo da complexidade está em lidar com as interconexões entre os diferentes campos disciplinares que são desmembrados pelo pensamento disjuntivo. Morin aponta isso como um dos aspectos do pensamento simplificador, onde, ao fragmentar um determinado conhecimento, isola o que foi separado e oculta possíveis ligações.
Esta simplificação leva a patologia do saber que Morin denomina de “inteligência cega”: A inteligência cega destrói os conjuntos e as totalidades, isola todos os seus objetos do seu meio ambiente. Ela não pode conceber o elo inseparável entre o observador e a coisa observada. (MORIN, 2005, p.12)
Surge, então, a necessidade do pensamento complexo, de se desenvolver um paradigma que substitua as idéias de disjunção/redução/unidimensionalização por idéias de distinção/conjunção de forma a “distinguir sem disjungir, de associar sem identificar ou reduzir” (MORIN, 2005, p.15).
Morin busca definir o pensamento complexo:
O que é a complexidade? À primeira vista é um fenômeno quantitativo, a extrema quantidade de interações e de interferências entre um número muito grande de unidades. De fato todo sistema auto-organizador (vivo), mesmo o mais simples, combina um número muito grande de unidades da ordem de bilhões, seja de moléculas numa célula, seja de células no organismo [...] Mas a complexidade não compreende apenas quantidades de unidade e interações que desafiam nossas possibilidades de cálculo: ela compreende também incertezas, indeterminações, fenômenos aleatórios. A complexidade num certo sentido sempre tem relação com o acaso. (MORIN, 2005, p.35)
Dessa forma, o pensamento complexo busca a compreensão multidimensional do conhecimento, reconhecendo, no entanto, a impossibilidade de alcançar uma compreensão completa. Para Morin, a inatingibilidade de uma onisciência é, de fato, um dos axiomas da complexidade, configurando-se como uma teoria. Em outras palavras, isso implica o reconhecimento de um princípio de incompletude e incerteza, juntamente com a percepção da interconexão entre os diversos aspectos que a mente deve distinguir sem isolá-los, formando assim a noção de completude.
No limiar do século XXI, vemos a ciência expandir a simplicidade não é suficiente para abarcar o conhecimento, temos questões da física em que a teoria da cordas procura descrever a natureza fundamental das partículas elementares e as forças fundamentais que governam o universo. Ela representa uma tentativa de unificar as teorias da relatividade geral, que descreve a gravidade, e a teoria quântica de campos, que aborda as forças subatômicas. Em resumo, unificar a física clássica com a física quântica.
Nisso Morin chega à ideia de uma contradição fundamental.
A complexidade da relação ordem/desordem/organização surge, pois, quando se constata empiricamente que fenômenos desordenados são necessários em certas condições, em certos casos, para a produção de fenômenos organizados, os quais contribuem para o crescimento da ordem. (MORIN, 2005, p.63)
3.3. Princípios Básicos da Complexidade
Morin (2005, p. 73), apresenta à três princípios que nos ajudarão a pensar a complexidade, sendo o primeiro denominado de diálogico, que propõe a utilização de duas lógicas contraditórias, a lógica da ordem e a lógica da desordem, para explicar fenômenos complexos. Esse princípio destaca a importância do diálogo entre diferentes perspectivas, reconhecendo que a compreensão completa de um fenômeno muitas vezes requer a consideração de aspectos aparentemente opostos.
O segundo princípio é o da recursão organizacional ou recursividade, este princípio destaca a natureza interativa e recíproca entre os indivíduos e a sociedade, descreve, assim um processo recursivo no qual os produtos e efeitos das interações sociais são, ao mesmo tempo, causas e produtores daquilo que os originou.
Por fim, o terceiro princípio é o princípio hologramático, que de maneira análoga aos hologramas físicos, onde cada ponto mínimo da imagem contém quase toda a informação do objeto representado, a relação entre partes e todo é caracterizada por uma interconexão fundamental. Em outras palavras, no contexto do pensamento complexo, este princípio destaca que não apenas a parte está no todo, mas o todo está na parte, enfatizando a natureza holográfica e interdependente dos elementos em um sistema.
4.A conexão entre as ODS e o Pensamento Complexo
Dada a complexidade inerente aos objetos de estudo das ODS, é desejável adotar um método mais apropriado para compreender sua interconexão ao Pensamento Complexo. Ao considerar o método como um trajeto de pesquisa intrinsecamente ligado à teoria de Morin, quando escolhida como base teórica, torna-se um guia para encontrar o caminho preferido na investigação desses objetos.
O método de investigação do estudo, na Complexidade, surge dos pressupostos teóricos, pois, como lembra Morin, “a teoria não é nada sem o método” (MORIN, 1996, p.337), ou seja, ambos são componentes indispensáveis da complexidade; a Complexidade não tem metodologia, mas pode ter o seu método, o que ele chama de lembrete.
Na perspectiva de Morin (MORIN, 2000, p.334), a palavra "método" não é sinônima de "metodologia", já que esta última representa um guia prévio que orienta a pesquisa. Em contraste, o método, ao libertar-se durante a trajetória do pesquisador, age como um auxiliar da estratégia, incorporando inevitavelmente descobertas e inovações.
Como vimos, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são uma série de metas globais estabelecidas pelas Nações Unidas para abordar desafios globais e melhorar as condições de vida em todo o mundo.
Ao longo da história da humanidade, diversas abordagens filosóficas acompanharam as tentativas humanas de desenvolver a sociedade como um todo. No âmbito do desenvolvimento social, por muito tempo, procurou-se evoluir sob a perspectiva cartesiana, frequentemente negligenciando a complexidade multicausal que permeia essa área.
O desenvolvimento social como vimos, refere-se ao progresso e ao avanço da humanidade em aspectos relacionados ao bem-estar, equidade, qualidade de vida e interações sociais. Envolve melhorias nas condições sociais, econômicas, educacionais e culturais de uma comunidade ou país. O desenvolvimento social busca promover igualdade, inclusão, justiça e oportunidades para todos os membros da sociedade, visando criar um ambiente sustentável e harmonioso.
Após este breve estudo entendemos que a complexidade conduz a uma série de problemas fundamentais que são relacionados às próprias questões humanas. Verificamos que as questões que envolvem nossa espécie como um todo, não podem ser simplificadas. Ao analisarmos as propostas implementadas pela ONU, para um desenvolvimento igualitário de todos os hominídeos, estas se coadunam com os pressupostos do pensamento complexo proposto por Edgar Morin.
O Pensamento Complexo de Edgar Morin é uma abordagem que propõe uma compreensão mais completa e integrada da realidade, superando as limitações da fragmentação e da simplificação excessiva. Esse pensamento é baseado em princípios que reconhecem a complexidade inerente aos fenômenos e destaca a necessidade de uma visão holística e interdisciplinar. Provavelmente, nestes aspectos de ordem global a aplicação dos princípios do pensamento complexo fazem mais sentido, para sua aplicação principalmente por se tratarem de assuntos complexos, dos quais não cabem uma simplificação.
Os ODS podem ser entendidos como uma como uma força unificadora e progressista, promovida pela ONU, representando a busca por conhecimento e cooperação pacífica dos povos. Podemos entender a ONU como uma plataforma crucial para a colaboração entre as nações, buscando construir um mundo mais justo, pacífico e sustentável, cujas atividades abrangem uma ampla gama de áreas, refletindo a diversidade de desafios enfrentados pela comunidade internacional.
Este estudo destaca que a complexidade dos problemas fundamentais está intrinsecamente ligada às questões humanas, ressaltando que abordar questões que envolvem toda a espécie humana não pode ser simplificado. As propostas da ONU para um desenvolvimento igualitário alinham-se com os princípios do Pensamento Complexo de Edgar Morin, que busca uma compreensão abrangente e integrada da realidade, superando a fragmentação.
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WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus Logico-Philosophicos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002.
[1] Sustainable development has been defined as development that meets the needs of the present without compromising the ability of future generations to meet their own needs.
Sustainable development calls for concerted efforts towards building an inclusive, sustainable and resilient future for people and planet.
For sustainable development to be achieved, it is crucial to harmonize three core elements: economic growth, social inclusion and environmental protection. These elements are interconnected and all are crucial for the well-being of individuals and societies.
Eradicating poverty in all its forms and dimensions is an indispensable requirement for sustainable development. To this end, there must be promotion of sustainable, inclusive and equitable economic growth, creating greater opportunities for all, reducing inequalities, raising basic standards of living, fostering equitable social development and inclusion, and promoting integrated and sustainable management of natural resources and ecosystems.
Mestrando em Direitos Difusos e Coletivos pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, especialista em Direito Civil pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, bacharel em Direito pelo Centro Universitário UniRadial São Paulo.
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: OLIVEIRA, Fábio Dias de. Os Objetivos de Desenvolvimento Social sobre a visão do Pensamento Complexo Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 04 mar 2024, 04:31. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/64799/os-objetivos-de-desenvolvimento-social-sobre-a-viso-do-pensamento-complexo. Acesso em: 23 dez 2024.
Por: EDUARDO MEDEIROS DO PACO
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Por: Marcos Antonio Duarte Silva
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