A política está ligada à ideia de liberdade, assim como a própria razão de viver está ligada à liberdade. Em um conceito de origem do pensamento grego, Hannah Arendt parte do princípio de que a política baseia-se no fato da pluralidade dos homens e esta deve tutelar o convívio dos diferentes, não dos iguais.
A política é imprescindível para a vida humana, assim como, necessária para garantir a vida no sentido mais amplo. A política, portanto, está diretamente ligada a busca da felicidade.
A política não tem ligação com domínio ou violência, nem faz distinção entre governantes e governados, está mais voltada para a condição plural do homem em ações de comum acordo, assim:
Partindo então do pressuposto, baseado no pensamento de Hannah Arendt, de que a política não é domínio, de que não se baseia na distinção entre governantes e governados e nem é mera violência, mas ação em comum acordo, ação em conjunto, sendo reflexo da condição plural do homem e fim em si mesma, já que não é um meio para objetivos mais elevados, como, por exemplo, a preservação da vida, significando liberdade, somos levados a perguntar se esses juízos naturalizados não seriam falsos e perigosos, isto é, será que ao se desconhecer a "verdadeira política", ao se confundir "aquilo que seria o fim da política com a política em si"(ARENDT, 2006, p.25) não estaria sendo disseminado o imobilismo, um sentimento de inutilidade de qualquer ação, fazendo com que o homem não se reconheça como um sujeito histórico, como um ser capaz de interromper o fluxo inexorável dos acontecimentos? (TORRES, 2007)
Em Arendt, a concepção política de liberdade determina que esta não pode ser obtida na solidão e não se resume ao querer, mas também ao poder. A liberdade, neste sentido, não significa fazer o que se deseja, não significa soberania, pois só se é livre perante a outros que igualmente são.
Entretanto, de toda essa digressão o que nos interessa é a perda da concepção política de liberdade, do entendimento de que a liberdade não pode ser obtida na solidão e que não se resume ao “quero”, mas que também necessita do “posso”, em outros termos, podemos dizer que liberdade não significa fazer o que se deseja, não significa soberania, pois só se é livre perante outros que também o sejam.(TORRES, 2007)
A partir disso, a liberdade só existe onde a condição plural do homem é respeitada. Dessa forma, a liberdade e a ação política seriam sinônimos, pois não é possível haver liberdade enclausurando-se em si mesmo e utilizar somente a capacidade de pensar e querer. (TORRES, 2007)
Ainda neste sentido, sobre a pluralidade da condição humana, Arendt afirma:
A ação seria um luxo desncessário, uma caprichosa interferência nas leis gerais do comportamento, se os homens fossem repetições interminavelmente reproduzíveis do memso modelo, cuja natureza ou essência fosse a mesma para todos e tão previsível quanto a natureza ou essência de qualquer outra coisa. A pluralidade é a condição da ação humana porque somos todos iguais, isto é, humanos, de um modo tal que ninguém jamais é igual a qualquer outro que viveu, vive ou viverá. (ARENDT, 2010)
A ação política também só poderá ser tratada como liberdade se não sofrer nenhuma forma de instrumentalização, ou seja, não estar ligada ao desempenho em si mesmo, mas sim em algum resultado, um fim a ser alcançado quando termina o processo produtivo.
Para Arendt, não existe um regime político com um governo solitário, pois mesmo quem governa com violência precisa de certa organização. Não existirá um governo com forma extrema de poder, como “todos contra um ou um contra todos”. Observa-se que, sem a mediação do direito, enquanto liberdade e igualdade, só há poder que devora a si mesmo. (TORRES, 2007)
A criação do novo, do inesperado, como ação plural resultado do amor ao mundo e não como violência, apresenta-se como uma forma de política na visão de Arendt. Seria uma necessidade inerente à condição humana, pois a liberdade é condição para a constituição do indivíduo e da comunidade político-jurídica, a qual só pode ser construída se a política for sinônimo de liberdade.
REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah, 1906-1975. A condição humana – Hannah Arendt; tradução: Roberto Raposo, revisão técnica: Adriano Correia. – 11. Ed. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
ALKMIM, Sérgio Vaz. O que é política. Disponível em ‹http://gold.br.inter.net/luisinfo/cidadania/politica.htm›. Acesso em: 01/06/2010.
TORRES, Ana Paula Repolês. O Sentido Da Política em Hannah Arendt. Trans/Form/Ação, São Paulo, v.30(2), 2007, p.235-246.
YAR, Majid. Hannah Arendt. Disponível em ‹http://www.iep.utm.edu/arendt/›. Acesso em: 01/06/2010
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