Somos quase sempre compelidos a criticar o Brasil, em razão das suas mazelas, contradições e desmandos autoritários. Gostaria aqui de apresentar um outro ponto de vista: nosso país também tem muitas coisas boas para mostrar para o mundo todo. Igual ao nosso sistema eletrônico de votação, apuração e divulgação dos resultados eleitorais nada existe de comparável no planeta.
Nesse item contamos com uma “eficiência operacional escandinava” (diz o Estadão). Nossas urnas eletrônicas não têm nada de terceiro mundo. Se nossa administração pública e nossa educação funcionassem assim em todos os setores, com certeza o Brasil iria se candidatar à maior potência global.
Mais de 115 milhões de brasileiros votaram no último dia 07 de outubro. Em menos de seis horas já sabíamos os resultados de todo país. Cada urna foi teclada mais ou menos 3.600 vezes (9 teclas vezes 400 eleitores por urna). Das 23.778 urnas usadas somente no Estado de São Paulo, apenas 37 apresentaram problemas. Eficiência de um relógio suíço ou de uma invejável Ferrari.
Levamos 30 segundos para votar. Como se vê, o voto é rápido, mas isso não significa necessariamente que votamos bem. Somos exemplos no processo de votação, mas ainda falta muita exemplaridade, tanto no votante (eleitor) como no votado (no político).
Mais de 2 mil candidatos eleitos se acham impugnados em razão da lei de ficha-limpa. Nesse caso não se pode dizer que o errado é apenas o político. O que nos falta? Exemplaridade, isto é, dar o exemplo.
Não devemos ser idiotas no sentido grego. Idiótes (em grego) é aquele que só vive a vida privada, que não aceita qualquer tipo de participação na política (no governo da cidade) (cf. Cortella e Janine Ribeiro, Política para não ser idiota).
O senso comum hoje, entre nós, é, em geral, oposto. Diz que ser idiota é querer participar da vida política do seu município ou estado ou país. São tantos os escândalos gerados pelos nossos atuais políticos (o mensalão que o diga) que vale a pena não ser idiota no sentido grego. Ou seja: vale a pena opinar e participar da vida política (cada qual dentro de suas possibilidades: escrevendo, falando, debatendo, votando etc.).
O que não podemos é calar diante de todas as imoralidades protagonizadas pelos agentes públicos, destacando-se dentre eles os agentes políticos. O exemplo inigualável das urnas eletrônicas brasileiras tem muito que ensinar ao mundo; em matéria de exemplaridade, no entanto, ainda temos muito que aprender (com todo mundo).
*LFG – Jurista e professor. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil e coeditor do atualidadesdodireito.com.br. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). Siga-me: www.professorlfg.com.br
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