RESUMO: O demagogo não nasceu hoje. Mas, traduz-se num fruto das raízes colonial e republicana no Brasil que passa pela “Casa-Grande e Senzala”, alcança os “homens bons”, e os “coronéis”. No presente atua com roupagem nova traduzido no líder dito da ruptura com o passado, mas, com práticas autoritárias, abusivas e que vai de encontro aos interesses da população, especialmente dos mais endividados. Em sua vaidade apresenta-se como figura que se basta advindo de uma realidade distante do povo. Acaba por reproduzir mais desigualdade embora com o discurso de tirar dos ricos e dar aos pobres.
Palavras-chave: Demagogo; Política; Discurso; Engodo.
INTRODUÇÃO: O que é relevante para os demagogos se manterem no poder e manipular as massas? Para um “líder” demagogo precisamos de leis que visem melhor aplicar a normalização do plano de governo à custa da vaidade, ainda que com o discurso da bondade. Tirar de alguns que têm mais para dar aos mais necessitados. Embora com o discurso da mudança adotem práticas da representação da velha política calcada na repressão policial, no endurecimento das leis: “lei e ordem” são traços dessa realidade acompanhada de controle e vigilância sobre a vida dos cidadãos. Além da sanha pela onerosidade do contribuinte a qualquer custo.
1. DO DISCURSO ELEITORAL ÀS PRÁTICAS AUTORITÁRIAS
Ao mesmo tempo em que as promessas eleitorais se transformam com o passar dos anos em algo restrito a programas eleitorais fundados em pesquisas de opinião sobre o que a população deseja, passada a eleição monta-se o “programa de fato” unindo interesses público-privados na condução do governo. Ao mesmo tempo em que a prática representativa funda-se em coalizões estratégicas e rolo compressor nas votações das casas legislativas traduzidas em “realidades” distante das necessidades do povo e mais próximas do desejo do governante.
Esse conjunto de características demagógicas embora com a roupagem “nova” implica em algumas reflexões: por que não tornar obrigatório na reforma política-eleitoral que candidatos além do financiamento público de campanha, e da proibição do financiamento por pessoas jurídicas realizem seu projeto de governo sob pena de responderem por ato de improbidade administrativa? Por que não tornar obrigatória a prestação de contas à população da administração durante e ao final do mandato, como forma de apresentar o que se prometeu e o que se cumpriu? Parte-se do pressuposto de que o projeto do governo dos candidatos se dará a partir da realidade orçamentária da gestão pública a ser disponibilizada a todos os candidatos e mesmo ao cidadão mediante consulta em site institucional, tudo em nome da transparência pública durante o processo de escolha dos representantes. Portanto, não podem depois de eleitos dizer que não sabiam da realidade do caixa do executivo.
Traduzida a transparência da gestão e a supremacia do interesse público em benefício não do representante, ou do governo específico, mas do próprio povo. Porque não incluir na reforma político-eleitoral o cumprimento da prestação de contas não só relativo aos valores gastos, mas o cumprimento das promessas de campanha do período eleitoral, afinal negar depois de eleito tudo o que se apresentou a população sem uma justificativa plausível é no mínimo ato de desonestidade do gestor e falta de lealdade às próprias instituições.
Governos usam da demagogia e apostam suas fichas na representação como continuidade de práticas abusivas, autoritárias e distante o discurso do período eleitoral com a prática cotidiana da gestão pública. Seria como que imbuídos da majestade sobre os mortais “cidadãos” estando seu primeiro escalão e partidários num patamar acima dos demais tudo em nome da governabilidade e da soberania da realeza.
Essas considerações são relevantes para entendermos a lógica de gestores que em plena ebulição dos protestos de junho de 2013 e nos protestos pelo país resistem até onde podem em atender as reivindicações das massas ávidas por respeito e cidadania. Governos têm dificuldade em dialogar com estudantes, trabalhadores, pela lógica de que o dito líder é que tomará as decisões em benefício das massas e o povo deverá acatar suas decisões, do grande irmão. Em sua maioria são pouco eficientes, em geral populistas, mas com pouca eficácia em especial no que tange as políticas públicas. O relevante para esses velho-novos líderes é a consciência de que fez o melhor, mesmo que isso implique em prejuízo para a população. O que importa é fazer a sua parte e gastar com propaganda para melhorar sua imagem. Essa lógica política parece sedimentada entre os poderes instituídos em nome lei acima do direito.
Não por acaso temos a cultura política como espaço dominado por poucos que são endinheirados ou conseguem quantias vultosas para se eleger ou eleger filhos, netos, bisnetos. A escola da velha política calcada na tradição familiar de pai para filho, neto, ou de padrinho político em defesa do seu afilhado ad eternum, como cacique da política arraigada ao controle hierarquizado prevalece entre nós.
Acaba-se como resultado desse processo penoso para quem precisa agradar a gregos e troianos a perda do sentido da política como espaço popular. E recai no campo demagógico as práticas atuais de líderes ditos de centro, direita e esquerda da tradição elitista que norteia a República brasileira. Candidatos que apostam no discurso como solução para os problemas da população, em geral sem conteúdo programático apenas superficialidades com vistas a trair a simpatia do eleitorado e após assumirem passam ao tom do “fiz o que pude” e “estou de consciência tranquila”. Enquanto a vontade popular é ignorada. Afinal o “líder” é que deve decidir o que é melhor a critério dos seus assessores e grupos de interesses que ali o colocaram pelo financiamento de campanha.
A confluência entre o que se prometeu e o que não se fez é pura demagogia política. Após a eleição se forma uma base truculenta de suporte ao projeto demagógico e passa-se o rolo compressor. Aquelas lideranças que representam alguma influência logo são oferecidas moedas de troca para a formação da maioria da base aliada ao governo não aos anseios da população. Enquanto o povo impaciente vê que mais uma vez foi enganado gerando mais descrédito com a classe política. Essa questão se verifica tanto que passados seis meses dos protestos governos ainda buscam formas de justificar a ineficiência na gestão com cortes dos gastos justamente nas áreas mais carentes de políticas públicas em nome da falta de recursos e acabam por deixar as reivindicações populares em segundo plano. A questão central é como arrecadar mais, fazer mais obras e inaugurações sair na foto e sair com a marca registrada “eu fiz, e farei a meu gosto ainda que contra a vontade popular”. Como consequência temos cidades mal planejadas, trânsito por todos os lados, e mais arrecadação, mais fiscais, mais multas, mais impostos. Para os descontentes a polícia usa de força bruta com balas de borrachas, bombas de gás, mas quando se vê que algo fugiu ao controle logo se apressam em dizer estamos tomando medidas populares a contragosto mais a conta alguém vai pagar. Não tardou e a conta começa a ser paga com mais impostos.
2. A DEMAGOGIA COMO REPRESENTAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL
A demagogia vem da arte de conduzir o povo pelo medo, vaidade, represálias, preconceitos, e extensa propaganda com vistas a convencer por discursos vazios as mentiras transformadas em “verdades” de representantes ilegítimos em que seus projetos são vendidos como a vontade ao povo. Os demagogos são especialistas em manipular as massas e culpar alguém em geral um “inimigo fictício” para criar clima favorável as suas ações e realizar seu desejo de continuar centralizando o poder e decidindo sobre as vidas das pessoas. É uma espécie rara que parece de difícil extinção. Vivemos cercados por esse mal como uma doença que não tem cura. Quando menos se espera surgem novos “lobos” vestidos de “cordeiros” com prática demagógica, porém com discurso de mudança e de perseguição ao seu governo.
O demagogo no Brasil foi sendo construído ao longo da nossa história tem sua origem no mandonismo local ao longo do Brasil colonial do senhor de engenho e dos “homens bons” e passa à tradição coronelista ao longo do Brasil republicano. Nas grandes cidades ele se reveste das bênçãos do padrinho ou chefe político local de envergadura nacional que pode ser de herança familiar, como adquirido pelo prestígio social e cultural acumulado na política. Em geral o demagogo se forma da ruptura ideológica programática partidária pela necessidade de composição de correlação de forças no governo para que possa melhor administrar e acaba se desviando ideologicamente das promessas de campanha. Uma figura que transita entre o Brasil arcaico e a utopia de modernidade como necessidade de formação de determinado grupo político no poder e na manutenção de privilégios que resulta em reprodução de desigualdades. Do ponto de discursiva a prática demagógica é muito presente na condução da administração local pelo levantamento de “desvios” de gestões anteriores como forma de se criar um ambiente propício ao “novo” intitulado de ruptura com as mazelas do passado, de mudança e desenvolvimentismo, na prática se procura responsabilizar pela acusação infundada os adversários, seja pela calúnia, difamação, ou formação de dados a partir da herança autoritária.
.CONCLUSÃO
O demagogo acaba por se apropriar do espaço público- privado e formar uma identidade forjada no status de chefe político, passando a adotar práticas contrárias aos interesses do povo, em especial pela necessidade de autoafirmação no poder como figura a ser respeitada e temida pelos aliados e adversários, resulta em manutenção de políticas assistencialistas e precárias, se contrapondo a proposta de mudança efetiva na condução da política pública, ao mesmo tempo em que ganha espaço de aceitação pelas elites tradicionais que passam a respeitá-lo como agregados e aliados aos interesses locais globais na condução dos rumos da cidade, estado e país que têm suas origens nos laços de frouxidão entre a “Casa-grande” e a “Senzala”. Reproduz, portanto os mesmo estereótipos e preconceitos tradicionais da família, tradição e propriedade passando a valorizar o status alcançado com vistas a manutenção no poder à custa de manutenção de desigualdades sociais, econômicas e políticas e esmagamento da questão ética. È seduzido pelo desejo de poder sendo um dos tentáculos da clientela, patrimonialismo e pessoalidade tão evidenciada em “Raízes do Brasil” de Sérgio Buarque de Holanda. As desigualdades pelo país afora são fruto também de uma ideologia elitista de pensar o País de cima para baixo a partir de valores que não faz parte do cotidiano do povo pobre das periferias tendo como cacique um demagogo como representante político.
REFERÊNCIA
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 3. ed. São Paulo: Companhia da Letras, 1997.
Advogado, Membro da ABRAFI, membro do IBDH. Doutor em Direito - FADISP.<br>
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: SOBRINHO, Afonso Soares de Oliveira. Demagogia e representação política Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 02 jan 2014, 06:45. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/coluna/1695/demagogia-e-representacao-politica. Acesso em: 22 nov 2024.
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