Mesmo com 11 anos de mandato à cumprir o ministro Joaquim Barbosa deixará a "Corte Constitucional" por esses dias, segundo comunicado que fez a Presidente Dilma.
Deixa sem dúvida um legado de luta, de busca pela transparência, pela moralidade, de combate à impunidade que sistematicamente assolou as relações de poder que sempre se aventuraram na certeza da vitória do implantado sistema de promiscuidade na gestão da coisa pública.
Ganhou a admiração da maior parcela da sociedade mais discernida, e se não foi o mais brilhante ministro a sentar na maior instância do Judiciário pátrio, foi inelutavelmente o que mais aproximou-se da sociedade civil por sua simplicidade tomado pelo espírito público pautado na máxima integridade.
Por certo o maior defensor das minorias, talvez por pertencer a uma delas, no melhor espírito de uma igualdade e de uma democracia material, capaz de perceber as desigualdades para trata-las desigualmente na medida de suas desigualdades,ainda que possível a aferição de certo excessos que pudessem, ser vistos como discriminação reversa.
Agora resta à sociedade a preocupação com a política de loteamento que segue a ideologia governista, quando a meritocracia parece ser critério secundário para a escolha ministerial, primariamente importando o grau de comprometimento com a ideologia governista. Cada vez mais difícil será perceber um Supremo combativo na esteira da teoria dos "check in balances" como concretizador do direito casado com a moral e como fiscal das desarmonias que os demais poderes constituídos apresentam com o nteresse público que dever-se-ia priorizar nos termos da carta republicana de 1988.
Não é demais dizer que Barbosa foi um ministro revolucionário que em muitos momentos mobilizou a sociedade por objetivos comuns. Em certos momentos, precipuamente quando do julgamento do mensalão, o ministro sentiu-se fortalecido por grande parcela da sociedade que comungava de seus designios na luta contra um sistema de poder carcumido pela vergonha alheia. Quando não era o mais técnico era o que intimamente carregava consigo o maior sentido, espectro subjetivo de justiça, ainda que objetivamente, vez ou outra, haja equivocado-se na da dose ideal.
Despedimo-nos do "ministro sem papas na língua", por certo. por muitas vezes, taxado de desrespeitoso por seus pares, mas com o mesmo sangue que corre nas veias da sociedade que clama por moralidade. Sangue de barata ele deixava aos jurisconsultos mais refinados ou aos mais comprometidos bajuladores do poder constituído.
Biografia: Barbosa estudou direito na UnB (Universidade de Brasília) e possui mestrado e doutorado pela Universidade de Paris. É professor licenciado da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). É fluente em francês, alemão, inglês e italiano.
Antes do STF, integrou o Ministério Público Federal por 19 anos (1984-2003). Ocupou ainda diversos cargos no serviço público: foi chefe da Consultoria Jurídica do Ministério da Saúde (1985-88), advogado do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) (1979-84), oficial de chancelaria do Ministério das Relações Exteriores (1976-1979), tendo servido na Embaixada do Brasil em Helsinque, Finlândia.
Precisa estar logado para fazer comentários.