O brutal atentado contra jornalistas em Paris, repudiado com veemência por todas as pessoas que tenham um mínimo de senso, está permitindo que se reacenda, por malícia de alguns, um sentimento de rejeição ao Islamismo.
Este sentimento preconceituoso contra o Islã, que algumas vozes pretendem semear, neste momento de pânico, é totalmente inaceitável.
Não se pode confundir fundamentalismo imbecil com a Fé Islâmica. Não se pode aceitar que criminosos, que devem ser presos, julgados e punidos, sejam apresentados como protótipos de uma religião, como não se pode aceitar que os corifeus da Inquisição sejam considerados símbolo do Cristianismo.
O Islamismo ensina que o homem é "representante de Deus", conforme se lê no Corão.
Observa Jean-François Collange, um especialista em estudos sobre religiões, que a igualdade, a dignidade e a liberdade inerentes a todos os seres não podem ser contestadas por qualquer instância humana, segundo o ensinamento islâmico.
O Islamismo prescreve a fraternidade, adota a ideia da universalidade do gênero humano e de sua origem comum; ensina a solidariedade para com os órfãos, os pobres, os viajantes, os mendigos, os homens fracos, as mulheres e as crianças; define a supremacia da Justiça acima de quaisquer considerações; prega a libertação dos escravos; proclama a liberdade religiosa e o direito à educação; condena a opressão e estatui o direito de rebelar-se contra ela; estabelece a inviolabilidade da casa.
Há uma semelhança estreita entre a visão islâmica do ser humano (homem, vigário de Deus), a ideia cristã ensinada por Paulo Apóstolo (homem, templo de Deus) e a ideia de homem como imagem de Deus (Gênesis, livro sagrado de judeus e cristãos).
Mohammed Ferjani nega que o Islamismo seja uma Religião obtusa, que impeça seus fiéis de ingressar na Modernidade, e rejeita a tese de que caiba ao Ocidente a missão civilizatória.
Não escrevo esta página baseado apenas em pesquisas realizadas na carreira universitária. Experimentei um mergulho pessoal que confirmou tudo que li. Refiro-me à participação num Colóquio Internacional Islâmico-Cristão, ocorrido em Paris, uma das mais belas experiências que vivi.
Nesse colóquio pude partilhar com crentes muçulmanos um projeto de mundo baseado na liberdade, na solidariedade e na Justiça. Não se tratou apenas de um intercâmbio intelectual mas de algo muito mais profundo, radicado no afeto, na compreensão recíproca, na comunhão.
A meu ver, esse mundo que, naqueles três dias, centenas de homens e mulheres de boa vontade supuseram possível construir, a partir do respeito mútuo e do diálogo, está bem próximo da utopia humanista redentora do mundo.
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