Alan Turing, matemático britânico, é considerado o pai das ciências da computação e, mais especificamente, da Inteligência Artificial. Em 1950, quatro anos antes de seu suicídio, Turing fez publicar um ensaio cujo objetivo era analisar se as máquinas poderiam pensar.
Não pretendo, neste artigo, ingressar neste debate.
Meu objetivo é outro. Trata-se de um depoimento pessoal.
Detesto falar com máquinas. Se para fazer uma compra eu tiver de optar entre uma empresa, onde uma gravação me atenda, e outra empresa, onde uma voz humana me fale, não titubeio em escolher a empresa que me possibilite falar com pessoas.
O abuso de colocar máquinas no meu caminho chegou às raias do insuportável.
Discado o número correto, a máquina relaciona os ramais disponíveis para as diversas espécies de atendimento. Teclo o número do ramal que me competia.
A máquina continua falando, dando-me sucessivas ordens e orientações, naquele tom monocórdio das máquinas. Depois de vários minutos de desagradável ausência de uma verdadeira comunicação, uma voz feminina coloca-se do outro lado da linha e com toda gentileza pergunta em que eu poderia ser servido.
As primeiras palavras que trocamos deixou absolutamente claro que eu falava com uma funcionária. Por mais que se aperfeiçoe a tecnologia, a máquina não tem capacidade de responder a perguntas ou colocações imprevistas. O inusitado da situação colocou nos meus lábios frases inesperadas e o diálogo principiou.
Fui logo perguntando à moça o seu nome. Ela estranhou a indagação mas com delicadeza atendeu meu pedido. E eu então prossegui:
“Ora, ora, Isabel, que alegria estar conversando com você. Até agora eu estava sendo atendido por máquinas. Finalmente, uma pessoa conversa comigo.
Eu precisava de uma informação. Mas estou tão feliz de estar conversando com você que não gostaria de perder este precioso tempo fazendo perguntas banais. A informação fica para outro dia, ou eu vou à empresa solucionar o problema que me aflige.”
Ela achou graça do que falei testemunhando sua surpresa numa interjeição espontânea. Percebi que ela se alegrara naquele instante. O interlocutor quebrara a monotonia dos atendimentos automáticos a que os seres humanos são submetidos na desumana economia capitalista.
Ciosa, entretanto, das rigorosas regras vigentes, pretendeu finalizar a conversa dizendo que a empresa tinha tido muita satisfação em me atender.
Polidamente discordei:
“Não aceito, Isabel, o agradecimento da empresa porque a empresa não é ninguém. Aceito seu agradecimento e vou escrever uma crônica para expressar quanto eu detesto falar com máquinas e quanto eu amo conversar com gente.”
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