No breve espaço de sete dias, o calendário exalta a mulher, a juventude e o trabalho e, de maneira especial, a mulher trabalhadora.
24 de abril é o Dia Internacional do Jovem Trabalhador. A comemoração tem a finalidade de chamar a atenção para esse grande contingente de pessoas que, jovens ainda, ingressam no mundo do trabalho, nem sempre em condições adequadas.
27 de abril é o Dia da Empregada Doméstica. Essa data foi escolhida por ser o Dia de Santa Zita, que é a padroeira desse importante segmento do mundo do trabalho. As empregadas domésticas vêm conquistando direitos, o que representa um avanço na sociedade, pois que o serviço que realizam é essencial em numerosas famílias, por razões as mais diversas.
30 de abril é o Dia Nacional da Mulher. Ao lado do Dia Internacional da Mulher (8 de março), que celebra as lutas feministas em nível mundial, o 30 de abril foi criado para trazer à reflexão as lutas da mulher no Brasil.
8 de março lembra um episódio trágico: as 129 mulheres que morreram queimadas dentro de uma fábrica de New York porque reivindicavam condições dignas de trabalho. 30 de abril, ao contrario, é um dia de alegria. Foi escolhido porque é a data de nascimento, em 30 de abril de 1880, de Jerônima Mesquita. Num tempo em que as mulheres eram relegadas a uma situação de completa inferioridade, Jerônima Mesquita lutou pelo reconhecimento do valor da condição feminina. Conclamou mulheres à luta, desenvolvendo a primeira ação coletiva e organizada, em favor dos direitos da mulher no Brasil. Essa admirável mineira, que nasceu em Leopoldina mas estudou na Europa, faleceu no Rio de Janeiro com 92 anos.
Primeiro de Maio é o Dia Internacional do Trabalho. A opção pelo primeiro de maio teve como causa o desejo de eternizar o Primeiro de Maio de 1886, quando em Chicago milhares de trabalhadores foram às ruas para protestar contra as condições desumanas de trabalho, a que eram obrigados. O movimento reivindicatório foi brutalmente reprimido pela Polícia, daí resultando prisões, lesões corporais e mortes.
O martírio dos operários de Chicago levou à feliz inspiração de transformar um dia de luto em um dia de luta, com a criação do Dia Internacional do Trabalho.
Muitas mulheres trabalhadoras poderiam ser reverenciadas nestes dias comemorativos. Mas, neste artigo, em vez de estender meus olhos para o mundo ou para a vastidão do Brasil, eu prefiro fixar minha homenagem ao território do meu Estado, da minha cidade, de minha proximidade, exaltando duas jovens trabalhadoras.
Elas representam milhares, em condições sociais e econômicas semelhantes.
Nayara Campos, 20 anos, nasceu em Vila Velha, mora em Viana. É ajudante de pedreiro, um trabalho duro. Fez até o 3o ano do ensino médio. É casada, tem um filho de 3 anos que ainda está sob os cuidados da Mãe. Trabalha no meio de homens, dá um toque de delicadeza no ambiente que a cerca, é respeitada e estimada pelos companheiros de ofício.
Laucicléia Pereira dos Santos, 26 anos, nasceu em Ataléia, pequeno município de Minas Gerais. Ela se lembra de sua infância em Ataléia, do rio que corta a cidade, da cachoeira desse mesmo rio e das trilhas percorridas pelas motocas. Devido às restritas possibilidades de trabalho, muitos ateleenses deixaram a cidade, como a própria Laucicléia, deslocando-se para outras localidades do Brasil e do Exterior, principalmente Portugal. Laucicléia dedica-se a trabalho doméstico, numa casa onde merece irrestrita confiança. Seus patrões fizeram, por mais de uma vez, viagens para paragens longínquas, inclusive viagens ao Exterior e deixaram a casa por conta dela. Cuidadosa em tudo que faz, é um exemplo de trabalhadora.
Por que será que as pessoas que procedem mal são notícia nos meios de comunicação, enquanto as pessoas dignas permenecem esquecidas no seu canto?
Não poderíamos reagir a essa inversão de foco? Nayara e Laucicléia não merecem um espaço no jornal? Merecem sim, certamente merecem. Eu coloco na fronte de ambas a palma do reconhecimento.
Este mundo não está perdido não. Há muita gente cumprindo seus deveres. Há muitas pessoas que, na modéstia de suas funções, constituem exemplo de vida. Silenciam a tentação que tivéssemos de descrer dos seres humanos.
Parabéns Nayara e Laucicléia, vocês são trabalhadoras e cidadãs exemplares.
João Baptista Herkenhoff é Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo, professor pesquisador da Faculdade Estácio de Sá de Vila Velha e escritor.
E-mail: [email protected]
Homepage: www.jbherkenhoff.com.br
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