De início convém lembrar que a palavra em si mesma dispõe de força e poder. Inconteste ainda é o fato de que o operador do Direito tem os argumentos por ele utilizados como principal instrumento de trabalho, não só através da escrita, como também na forma oral, de onde se dessume a sutileza com que esse profissional pretende se expressar, daí advindo a importância do domínio da língua materna para os profissionais da área jurídica.
Recordemos igualmente que, a linguagem é concebida como interação, da qual a argumentatividade é elemento constitutivo, servindo de base para o debate da argumentação, trabalhos pertencentes à Linguística do Discurso, sendo a comunicação, estabelecida por meio da língua, a finalidade última das trocas lingüísticas.
Cabe ao profissional do Direito valer-se em seu discurso jurídico de técnicas argumentativas com vistas a atingir as técnicas discursivas pretendendo provocar a adesão das mentes às teses apresentadas ou a aumentar a adesão a elas, demonstrando assim na construção da argumentação, no que desenvolve a sua competência argumentativa, tudo para efeito de persuadir ou convencer.
Então, pode ser afirmado que os argumentos são elementos linguísticos que visam à persuasão. Argumentos, por seu turno, não são verdadeiros ou falsos, mas fortes ou fracos, consoante o seu poder de convencimento.
Assim sendo, já de acordo com o entendimento de Chaïm Perelman, no Direito não prevalece a lógica formal, mas a lógica argumentativa, aquela em que não existe propriamente uma verdade universal, vez que inexiste uma tese aceita por todos em qualquer circunstância, a exemplo do que ocorre na Física, ou mesmo em qualquer outra ciência, matéria ou assunto de comprovação científica, de sorte que, a verdade formal sobrepõe-se à verdade real, sobretudo no processo civil, tendo em vista que, “o que não está nos autos, não está no mundo”, a despeito do que substantia potius intuenda, quam opinio (“tenha-se mais em conta a realidade, do que a opinião”).
A propósito, consoante se aduz do artigo lavrado pelo douto economista Cláudio de Moura Castro, sob o título “Os meninos-lobo”, em publicação da revista VEJA, datada de 08 de julho pretérito, edição 2120, cuja “... questão em pauta era decidir se pensamos porque temos palavras ou se seria possível pensar sem elas”..., incluindo considerações à ideias do antropólogo Richard Leakey, que a exemplo preconiza, “vivemos em um mundo de palavras” (…) “nossos pensamentos, o mundo de nossa imaginação, nossas comunicações e nossa rica cultura são tecidos nos teares da linguagem (...) A linguagem é o nosso meio (...) É a linguagem que separa os humanos do resto da natureza”.
Sendo o pensamento simbólico, é impossível “pensar humanamente sem palavras”, onde ressalta que, “para o neuropaleontólogo Harry Jerison, precisamos de um cérebro grande (três vezes maior do que o de outros primatas) para lidar com as exigências da linguagem”. Adiante, também categoricamente assevera: “Portanto, se pensamos com palavras e com as conexões entre elas, a nossa capacidade de usar palavras tem muito a ver com a nossa capacidade de pensar. Dito de outra forma, pensar bem é o resultado de saber lidar com palavras e com a sintaxe que conecta uma com a outra”.
A seguir apregoa ainda de forma contundente que, “... grande parte do nosso mundo moderno requer a inteligência que se estrutura por intermédio das palavras. Quem não aprendeu bem a usar palavras não sabe pensar. No limite, quem sabe poucas palavras ou as usa mal tem um pensamento encolhido”. Enfatizando tão brilhante entendimento, o citado economista prossegue em termos não menos elucidativos, conforme ali proposto: “ “Talvez veredicto mais brutal sobre o assunto tenha sido oferecido pelo filósofo Ludwig Wittgenstein: “Os limites da minha linguagem são também os limites do meu pensamento” ”. Então, sugerindo simplificar um pouco, sentencia ainda que, “...o bem pensar quase que se confunde com a competência de bem usar as palavras. Nesse particular não temos dúvidas: a educação tem muitíssimo a ver com o desenvolvimento da nossa capacidade de usar a linguagem. Portanto, o bom ensino tem como alvo número 1 a competência linguística”.
Na apreciação ora focada face ao tema proposto, ressalta-se como relevantes outras assertivas proeminentes no texto referendado, do quanto se infere que, “...o aprendizado mais importante se dá no manejo da língua. É ler com fluência e entender o que está escrito. É expressar-se por escrito com precisão e elegância. É transitar na relação rigorosa entre palavras e significados”. Destarte, de igual modo tal discussão encontra pertinência com a argumentação jurídica e seus recursos persuasivos, que tem por fito o convencimento.
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