(...) “Na pratica a JT absorveu milhares de ações, que somadas às já existentes,acabou travando o andamento processual, aumentando os procedimentos e autuações”...
O judiciário trabalhista está mergulhado num iceberg de ações (números oficiosos seriam 16 milhões), existe ainda outro grupo de 1,2 milhões de ações, de acordo com a previsão legal, tramitando nas varas cíveis, que por dispositivo legal, podem julgar questões trabalhistas onde não existir VT. Para administrar e julgar esses processos a especializada conta com 27 ministros (TST), 462 desembargadores (TRTs), 2.430 juízes (1ª Instância) e um total de 76 mil serventuários. O fato é que não inexiste solução milagrosa capaz de solucionar esta situação caótica, responsável por enorme prejuízo a milhões de trabalhadores, que depositaram a confiança nesta justiça estatal, por ser exclusiva no trato da questão laboral. Diante deste quadro, “incredibili dictu”, que para destravar a JT, seria necessário triplicar seus serviços, para isso o governo teria que contratar 148 mil novos serventuários, 4,8 mil juízes, e providenciar a ampliação do TST, 24 tribunais regionais e 3,2 mil varas trabalhistas, o que importaria num custo astronômico inestimável só para a parte material, e de R$ 27 bi a mais por ano para mantê-la funcionando.
Estudo recente encomendado pela Corregedoria do TST sobre as taxas de congestionamento da execução trabalhista no país apontou uma média nacional de 67,9%, que sobe para 72,7% quando são levados em conta os processos que foram enviados provisoriamente para o arquivo. O país gastou R$ 8,4 bilhões para que a Justiça do Trabalho atendesse 2,4 milhões de trabalhadores e empresas em 2007. Isso significa que cada um que recorreu à Justiça gerou um gasto público de R$ 3,5 mil. O montante dispensado na Justiça Trabalhista representa 0,31% do PIB do Brasil. Números do CNJ, pesquisados em 2007 indicam que em comparação com 2006, a Justiça do Trabalho, naquele ano gastou R$ 1 bilhão a mais para atender mais de 65 mil pessoas. Isso significa dizer que cada brasileiro (considerando toda a população do país, e não só a economicamente ativa) pagou R$ 43,55 no ano para manter a Justiça do Trabalho, um aumento de R$ 4 em comparação ao anterior. Os dados fazem parte do programa “Justiça em Números”, levantamento produzido pelo Conselho Nacional de Justiça desde 2003. A pesquisa foi divulgada no dia 19 de fevereiro de 2011, e refere-se ao ano de 2007.
Já em 2008 a Justiça Trabalhista gastou R$ 48,80/ano por habitante, contra R$ 43,55/ano em 2007, e seu custo anual aumentou consideravelmente para R$ 9,2 bilhões/ano, (os Estados de São Paulo e Rio juntos gastaram 2,1 bilhão), dos quais R$ 8,5 bilhões referem-se à folha de pagamento. Um documento apresentado no dia 12 de maio de 2010, durante o seminário "A Justiça em Números _ Indicadores Estatísticos do Poder Judiciário Brasileiro" mostrou que em 2003, a cada grupo de 100 processos, 60 levaram mais de um ano para serem julgados. Em 2003 (primeiro ano da base de dados do CNJ), a estatística aponta que a Justiça do Trabalho, naquele ano representou um custo aproximado de R$ 29,46/ano por habitante, hoje este número praticamente dobrou. O fato é que os principais atores deste panorama disforme do judiciário brasileiro são em primo plano seus juízes, e por isso mesmo, ecoam vozes com as mais variadas indicações, sugestões e propostas para por fim a sua maior vileza, a morosidade. Enquanto os números divulgados pelo CNJ espelham a realidade, os caminhos indicados pelo integrantes da JUT como forma de solução da morosidade, são autênticos embustes, falaciosos, porque não vem incorporados pela mea culpa.
Saindo em defesa dos magistrados o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nélson Jobim, quando ainda presidia (biênio 2004/2006), declarou que a grande quantidade de recursos judiciais, a falta de organização e de comunicação entre os tribunais são as principais causas da morosidade da justiça brasileira. Enquanto outro dirigente de tribunal, o ex-presidente do TST Vantuil Abdala, (biênio 2004/2006), reconheceu que apesar de o estudo ter apontado para uma morosidade menor da Justiça do Trabalho, em comparação com os demais ramos do Judiciário, a prestação dos serviços judiciais nesse âmbito ainda não detém a eficiência necessária. “Estamos muito aquém do que seria desejável, principalmente se levarmos em conta que a maioria das ações da Justiça do Trabalho diz respeito à própria subsistência do trabalhador”, - salientou. Onde se conclui que por mais que se discuta esta questão, as vozes vindas do judiciário, não conseguem o efeito pratico das propostas lançadas. Muito falamos sobre a deformação da JT, seus princípios usurpados a favor do próprio governo, que utiliza a máquina laboral para buscar as contribuições previdências, que seus agentes não tiveram a capacidade de faze-lo, mas pela desestruturada forma de trabalho de seus agentes, que propriamente pela ausência de instrumentos legais, data venia os mesmos utilizados na execução, subtraída das decisões nas ações em tramite na especializada.
Uma assepsia poderia melhorar seus serviços
O governo é o maior contemplado com a aprovação EC n° 45/2004, que ampliou a competência da especializada do trabalho. Examinando seu texto é inconteste que este trouxe um alento ao administrador público, desafogou a justiça federal, arrecada a custo “zero”, (porque pega carona na sentença da ação trabalhista levada ao judiciário estatal através do patrono do trabalhador), tributos previdenciários. Este alienígena fiscal, a exemplo do parasita (fungos que se alimentam dos outros), acabou inchando a JT com as novas execuções. Isso conforme determina: “VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir”, tem seu fundamento. Na pratica a JT absorveu milhares de ações, que somadas às já existentes, acabou travando o andamento processual, aumentando os procedimentos e autuações. Existem vários ângulos que podem aferir esta situação, um deles, arquitetado pela cúpula judiciária como meio político para sufocar um movimento pela extinção da justiça do trabalho, o outro, mais provável, a de que o governo lucraria com a execução previdenciária, que é exatamente o que o número de arrecadação indica.
Somados a este “incomodo administrativo”, defrontamos com outras questões que vem sendo objeto de exaustivas discussões. O procedimento sumaríssimo (RPS) hoje responsável por quase 40% (números de 2008 indicavam 34,1%), foi incluído na CLT (art. 852 de “A” a “I”) pela Lei 9957/00, para agilizar a tramitação de ações menos complexas na Justiça do Trabalho, com submissão obrigatória. Esse rito só pode ser aplicado as ações (ou dissídios) individuais, cujo valor cobrado alcance até 40 mínimos e que contenham informações completas sobre a parte cobrada (réu), mesmo assim, acaba ser arquivado na Câmara o PL 534/07 uma tentativa que ampliava para 60 salários o teto da ação. A audiência é una e deverá ser feita em até 15 dias, podendo ser prorrogada por mais 30 dias, podendo ser arroladas apenas duas testemunhas por parte. Terá duração de, no máximo, cinco horas, com o objetivo de ouvir as partes, assim como receber a defesa (art. 849, CLT). No caso de necessidade de perícia, o prazo é de cinco dias para apresentar o laudo perícia, (este rito não poderá ser usado contra administração pública direta, autarquias e fundações). Neste caso, preconizado a questão da celeridade estaria resolvida, mas não é exatamente isso que vem ocorrendo, nenhum dos quesitos apontados são obedecidos, assim mais uma vez, pergunta-se, de quem é a culpa, da sociedade ou dos integrantes da JT?
Percebia-se que o Congresso teria dificuldade para aprovar a criação de Juizados Especiais do Trabalho, assim o legislador, convergia, limitando-se a editar para o processo do trabalho uma cópia mal elaborada (e parcial) da lei que rege os Juizados Especiais Cíveis (Lei nº 9.099/95). Seriam os meios alternativos de solução de conflitos a saída para desafogar a JT? Vejamos que enquanto o rito sumaríssimo dava seus primeiros passos, trazida pela Lei n.º 9.958, de 12 de janeiro de 2000, à Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT, arts. 625-A a H), estava desde o seu nascedouro exposto em virtude da linha ideológica legis, do Princípio Constitucional da Inafastabilidade do Acesso à Justiça, insculpido no art. 5º, inciso XXXV, da CF. Mas ao que tudo indicou “uma nuvem negra surgiria no jurisdicionado trabalhista”, de um lado os juízes desdenhavam pela ótica a ideológica e flagrante postura de reserva de mercado, quanto a este dispositivo, por outro os advogados de empregados, afastados da possibilidade de obter honorários com a propositura da ação na via estatal, fez-se voz corrente neste jurisdicionado, até que o volume dos questionamentos orquestrados pelos magistrados inviabilizasse este instituto.
Noticias nos dão conta que no Brasil, a experiência com a heterocomposição no Direito do Trabalho, na sua forma de conciliação, remonta à Lei n. 1.637, de 5.11.1907, que previu a criação dos Conselhos Permanentes de Conciliação e Arbitragem. Mas o instituto da conciliação no Direito do Trabalho não é peça divorciada do mundo global, ela encontra assento no âmbito internacional, por meio da Recomendação n°. 92 da Organização Internacional do Trabalho, (OIT), de 1951, a qual prevê dois tipos: a judicial e a extrajudicial. Em 2008, o jurista Amador Paes de Almeida ensinava que foi, “com grande expectativa que os juslaboristas e os órgãos sindicais viram a criação das Comissões no Direito do Trabalho. Acreditavam ser um esforço no sentido de modernização dessa Justiça Especializada, tendo como característica principal, talvez, a possibilidade de descongestionar os vários órgãos da Justiça do Trabalho”. E seguiu afirmando que "as comissões de conciliação prévia devem ser vistas como inegável esforço no sentido de desafogar a Justiça do Trabalho e acelerar as soluções dos conflitos trabalhistas individuais”. (ALMEIDA, 2008, p. 522). Ledo engano, doutrina ao vento, mais tarde sob acusação de enriquecimento por cobrança de taxas para conciliadores, esta seria fulminada como pressuposto para admissibilidade de ação trabalhista.
Houve a época ações de inconstitucionalidade no STF e de embargos junto ao TST, uma delas julgada em 13.08.2009, transcrevemos, Ementa: “ previsão constante no art. 652-D da CLT tem por escopo facilitar a conciliação extrajudicial dos conflitos, tendo em vista aliviar a sobrecarga do Judiciário Trabalhista. Todavia, em razão da recusa das partes às propostas conciliatórias formuladas no curso do processo, a decretação de extinção do processo já em sede extraordinária milita contra os princípios informadores do processo do trabalho, notadamente os da economia e da celeridade processuais. Precedentes do ADI 2139">STF: ADI 2139 MC/DF e ADI 2160 MC/DF). R.Embargos conhecido e desprovido. (TST, Rel. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho - E-RR 1426408320065010027 ,142640-83.2006.5.01.0027). Outra porem veemente, (...) Não há carência de ação pelo fato de não ter o autor se utilizado da Comissão de Conciliação Prévia. Não se trata de mais uma condição da ação, nem de mais um pressuposto processual criado pela lei adjetiva trabalhista... Correto viria; (...) O credor não é obrigado a se conciliar com o devedor, nem é obrigado a se dispor à negociação ( CF, art. 5°, II). O não comparecimento à sessão de conciliação não é cominado; se o comparecimento é uma faculdade (a ausência não está cominada), o endereçamento da demanda à Comissão não pode corresponder a uma obrigatoriedade. TRT 2a Reg., 6 a T., RO em Rito Sumaríssimo, 2001001975-SP, in Bol. AASSP n. 2206, p. 1783, de 9 a 15.4.2001." (TRT/SP - 01815200608302006 - RO - Ac. 4aT 20090335192 - Rel. Carlos Roberto Husek - DOE 15/05/2009). O que pensar diante disso, senão de que existe de fato uma blindagem na JT.
Foi diretor de Relações Internacionais da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), editor do Jornal da Cidade, subeditor do Jornal Tribuna da Imprensa, correspondente internacional, juiz do trabalho no regime paritário, tendo composto a Sétima e Nona Turmas e a Seção de Dissídios Coletivos - SEDIC, é membro da Associação Brasileira de Imprensa - ABI, escritor, jornalista, radialista, palestrante na área de RH, cursou sociologia, direito, é consultor sindical, no setor privado é diretor de RH, especialista em Arbitragem (Lei 9.307/96). Membro da Associação Sulamericana de Arbitragem - ASASUL, titular da Coluna Justiça do Trabalho do jornal "Tribuna da Imprensa" do RJ, (Tribuna online), colunista da Tribuna da Imprensa online), no judiciário brasileiro.
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: PINHO, Roberto Monteiro. Iceberg de milhões de ações banaliza a JT Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 20 abr 2011, 05:15. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/24097/iceberg-de-milhoes-de-acoes-banaliza-a-jt. Acesso em: 28 set 2024.
Por: Isnar Amaral
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