Resumo: A ciência e a religião esforçam-se em fornecer explicações para as indagações humanas. Fazem isso, a partir de postulados diversos, respectivamente, o método científico e a fé. Essas características de cada seara têm levado a um aparente conflito epistemológico ao longo da história. Nada obstante, com a evolução do pensamento científico e religioso, houve um quebra dos velhos paradigmas e chegou-se a um ponto de encontro entre ambas, qual seja, a fundamentação em Deus, para as questões substanciais da humanidade. Nesse sentido, a ciência precisou-se render ao argumento divino para conseguir ir mais longe em suas descobertas. A partir da adoção de que Deus é o todo, será mais fácil compreender as suas partes e conferir unidade ao tratamento das informações. Logo, cada explicação sobre o universo, a vida e a consciência precisa da metafísica para ir mais longe e lá encontrará o substrato para sua elucidação. O Deus dos filósofos é a certeza de que existe uma causa primeira e portanto, animará o cientista a seguir suas intuições na eterna conquista do saber.
Palavras-chave: Ciência, crença, Deus, fundamento, epistemologia, unidade.
Abstract: Science and religion try hard to supply explanations for the human inquiries. This is done, from several assumptions, respectively, the scientific method and the faith. These characteristics from each field has leaded to an apparent epistemological conflict throughout history. Nevertheless, with the evolution of the scientific and religious thought, a rupture of the old paradigms occurred and it has arrived to a meeting point between both, the basis in God, for the substantial questions of humanity. In this way, science has needed to surrender to the divine argument to manage to go further in its discoveries. From the adoption that God is everything, it will be easier to understand its parts and give unity to the treatment of the information. Therefore, each explanation about the universe, life and conscious needs the metaphysics to go further and there it will find the issue for its elucidation. The God of the philosophers is the certainty that exists a first cause and therefore it will encourage the scientists to follow their intuition in the eternal achievement of the knowledge.
Key words: science, belief, God, basis, epistemology, unity
Índice: Resumo. Introdução. Ciência. .1 Definição. 2 Refutabilidade. 3 Abordagem crítica da ciência. 3 Religião. 4 Quebra dos paradigmas científicos e religiosos. 4.1 Evolução do pensamento científico e teológico. 4.2 Conexões entre as searas. 5. Conhecimento científico: seu aprofundamento leva a Deus. 6 Deus para os filósofos 6.1 Primeiras noções filosóficas sobre Deus. 6.2 Descartes e a clareza do conhecimento . 6.3 Santo Agostinho e os fundamentos. 6.4 Kelsen e o positivismo. 6.5 Platão e a metafísica. 6.6 Spinoza e a prova da existência de Deus. 6.7 Einstein e a unidade. 6.8 Nietzche e a crença na ciência. 7 Ciência e crença. 8 Conclusão. Índice remissivo. Índice onomástico. Bibliografia.
1 Introdução
Tentar-se-á dirimir a controvérsia sobre a existência de Deus para a ciência. Nesse ponto, procurar-se-á descobrir qual o sentido desse Deus para os filósofos e qual a utilidade da crença, para o progresso do conhecimento.
A importância do estudo reside no atual panorama do desenvolvimento social, em que se cobram cada vez mais respostas da ciência acerca das grandes questões que assolam a humanidade. Nesse pórtico, o tão-só emprego da lógica e do método científico tem se mostrado estéril para se conseguir chegar à explicação dessas indagações. Assim, tem se verificado uma nova concepção de pensamento em que se emprega a fé ao campo da ciência, no afã de conseguir maiores progressos.
O desenvolvimento do tema calcou-se eminentemente em pesquisa bibliográfica. Foi perscrutada a literatura pátria e estrangeira, acerca de temas científicos, filosóficos, epistemológicos e religiosos. Ademais, foram empregados os conhecimentos hauridos em sala de aula, durante o magistério do presente Professor.
O objetivo geral desse trabalho é conciliar alguns postulados da ciência e da crença e formar uma concepção nova acerca do conhecimento. Assim, procurar-se-á, doravante, ver a ciência com outros olhos, mais voltados para a intuição.
Para isso, enveredar-se-á na explanação acerca da ciência e da religião, em sua concepção clássica e contemporânea, com críticas a respeito. Será feita uma abordagem sobre os novos paradigmas do conhecimento religioso e científico e a possibilidade de conectar seus elementos. Em seguida haverá uma abordagem das questões mais demandadas pela humanidade e a sua explicação a partir de uma nova visão científica. Desta feita, serão trazidos os conceitos de Deus para os filósofos, o que lançará as bases para o entendimento e importância de uma crença na ciência.
2 Ciência
2.1 Definição
É ínsito ao homem a busca de resposta para os mistérios que o circunda. Há, assim, uma procura pela resolução das questões mais imanentes à sua existência, tais como: qual a origem da vida? Quem nos criou? De onde viemos?
Essas perguntas têm sido pensadas pela filosofia, ciência e religião. Cada qual sobre seu ângulo, perspectivas e valores. Nada obstante, percebemos que por um período de tempo a ciência diminuiu o espaço de credibilidade que as outras searas dispunham, devido a disseminação da idéia de que aquelas não tinham uma densidade metodológica suficiente e se lastreavam eminentemente em critérios ilusórios e falseáveis. Contudo, seus postulados não podem ser tidos de forma absoluta, haja vista serem apenas uma das formas de se buscar a verdade.
A epistemologia é a teoria acerca da ciência. Nesse pórtico, a ciência é um conjunto de idéias não-impositivas e críticas sobre o conhecimento.
A princípio, a ciência englobava todos os campos do saber. Contudo, a partir do século XVII, surge outra idéia de ciência. Essa concepção foi eminentemente traçada por Descartes, que decompôs a ciência e com Galileu que empregou o método científico. Nesse pórtico evolutivo cite-se a sistematização das ciências humanas, que inicia-se no século XIX, com Kant.
Contemporaneamente, a ciência se ocupa de campos delimitados do saber e faz isso com base em teorias e um método científico, que possibilita a experimentação de seus postulados com fins de comprovação ou refutação das teorias. Essa técnica na formulação do conhecimento, a diferencia por um lado do senso comum, na medida em que este é caracterizado pela absorção do conhecimento sem a necessária reflexão e, portanto, gera um produto sem sistematicidade e consistência teórica. Bem como o distingue dos dogmas, que eram idéias impostas como verdades absolutas, sem que se pudesse testar a sua validade.
Na formação do espírito científico, o primeiro obstáculo é a experiência primeira, a experiência colocada antes e acima da crítica – crítica esta que é, necessariamente, elemento integrante do espírito científico. (Bachelard. 2004, p. 56)
Quando as premissas bastam em si mesmas, ou seja, não admitem refutação, na verdade estamos tratando com dogmas. O cunho dogmático é característico do conhecimento religioso. São casos de dogma da religião: a virgindade de Nossa Senhora; a santíssima trindade, a ressurreição de Jesus. A área da dogmática que se ocupa de Deus e das religiões, de uma forma mística e acientífica, é a Teologia.
A concepção de ciência foi delineada por Paulo Dourado de Gusmão (1960, p. 34), como:
o conjunto de conhecimentos e investigações, organizado sistematicamente, dotado de generalidade e de unidade, que não resulta de crenças, de idéias impostas ou de convenções arbitrárias, elaborado gradualmente, através de um discurso rigoroso, em que as suas partes, idéias ou princípios são, entre si, compatíveis, tendo por ponto de partida um fato, uma premissa, uma idéia, uma constatação, uma norma, uma experiência, um princípio ou uma hipótese.
2.2 Refutabilidade
Quando a ciência diz que alguma coisa “é”, deve ser entendido como “parece ser”, haja vista nada ser definitivo. Deveras, a ciência não tem dogmas.
Desta feita, assevera-se que o conhecimento científico atual é caracterizado pela sua possibilidade de refutação, posto sua constante submissão à prova. Desta feita, a ciência não busca a elaboração de enunciados absolutos, mas de construção de propostas relativas.
A ciência é uma relação do homem com o objeto de conhecimento. Aquele cria uma imagem deste. Pode-se aperfeiçoar a imagem, mas nunca se terá a apoderação intelectiva integral do objeto, o que pode ocorrer é um constante aperfeiçoamento desta imagem.
Portanto, o conhecimento que vige em determinado momento deve ser visto como uma etapa. Daí, a idéia de ciência é que seja um degrau utilizado para galgar passos maiores e constantes. Isto acontece porque nenhuma obra é completa, sempre será possível fazer adaptações que a otimizem.
Tantas vezes tenho descrito o que considero como o método de autocorreção por meio do qual a ciência procede que posso ser aqui muito sucinto: o método da ciência é o método de conjecturas ousadas e de tentativas engenhosas e severas para rejeitá-las” (Popper, 2005, p.84)
Ainda que o conhecimento esteja permanentemente em processo de mutação, não é necessário que esteja sendo editado algo inédito. O que se perquire é o aprofundamento da crítica. O conhecimento atual que pensamos ser o certo, amanhã poderá ser considerado prejudicial, mas e melhor do que não tê-lo, pois este conhecimento incompleto é que será o primeiro passo para um nova técnica, mais aperfeiçoada. O dever-ser está sempre em evolução para tentar coincidir com o ser. Assim, o novo deverá se referir à forma de abordagem empregada ao conhecimento.
A ciência de hoje se edifica sobre a ciência de ontem (e assim é o resultado do holofote de ontem); e a ciência de ontem, por sua vez, se baseia na ciência do dia anterior. E as mais antigas teorias científicas são edificadas sobre mitos precientíficos e estes, por sua vez, sobre expectativas ainda mais velhas. (Popper, 2005, p.318)
2.3 Abordagem crítica da ciência
A ciência é uma espécie de conhecimento que pretende ser certo e seguro. Essa idéia tradicional de ciência está sendo agregada por novos ideais. A ciência moderna visa transformar, construir o mundo e não só explicá-lo. Portanto, independente de que seja um cientista que tenha obtido a descoberta ou qual a teoria científica que foi utilizada, o que se busca hoje é consecução de resultados. Assim, a finalidade da ciência, quando visa compreender a realidade, é beneficiar os humanos.
Nesses termos,a ciência baseada na lógica pura passa a ser repensada em face da exigência de implicações práticas. Mais vale um conhecimento útil e que dê respostas às perguntas do dia-a-dia, que o purismo metodológico estéril à resolução das grandes questões. Nesse ponto, outros elementos passam a margear a produção científica, para ventilar o seu método e lhe dar operabilidade.
Destarte, não há possibilidade de existir uma ciência completamente neutra, pois cada pessoa é única, e ao elaborar o conhecimento científico não esta infensa de imiscuir os seus preconceitos éticos, morais, políticos, econômicos ou religiosos, no produto final de seu trabalho. Nada obstante, é preciso evitar e conter os excessos, para evitar as manipulações de resultado. Nesse espectro, deve-se atentar às ideologias, a fim de que as suas premissas tendenciosas não condicionem ao mau uso da ciência.
Contudo, essa ausência de neutralidade, desde que concebida de forma razoável pelo pesquisador e identificável pelo leitor, não será comprometedora aos fins da ciência. Ao reverso, haverá algo de positivo no emprego de alguns juízos prévios do pesquisador, tais como seus pensamentos religiosos, na construção científica.
Ora, para se chegar ao verdadeiro conhecimento, é necessário examinar todos os ângulos possíveis. Não se obtém o conhecimento num primeiro olhar ou com uma só perspectiva. As primeiras informações devem ser tomadas apenas como ponto para confrontação com as novas informações. Quando nos limitamos a um desses ângulos, v.g., lógico, religioso, estaríamos desvirtuando esse objeto. Contudo, é preciso aferir o que é essencial e o que é acidental no objeto de conhecimento.
Imaginemos um jovem cientista que encontre um problema que não compreende. Que pode ele fazer? Sugiro que, mesmo que não o compreenda, pode tentar resolvê-lo e criticar a própria solução que lhe der (ou conseguir que outros a critiquem). Visto como não entende o problema, sua solução será um malogro, fato que a crítica revelará. Deste modo, será dado um primeiro passo para indicar onde fica a dificuldade. E isto significa, precisamente, que será dado um primeiro passo para compreender o problema. Pois um problema é uma dificuldade e compreender um problema consiste em descobrir que há uma dificuldade e onde a dificuldade se acha. E isto só pode ser feito descobrindo onde certas soluções de prima facie não funcionam. (Popper, 2005, p.173)
Logo, há a necessidade de compatibilizar as diversas lentes de conhecimento sobre a realidade. Não se trata de eliminar a neutralidade da ciência, mas de ter a coragem de gerar uma convivência de técnicas dos diversos ramos do conhecimento. A ciência precisa da ousadia dos jovens, pois estes têm um olhar indiscreto para romper os velhos conceitos e fazer analogia aonde ainda não tinha sido feito.
Não se pode, de plano, definir a que seara de conhecimento pertence determinado objeto de estudo, porquanto todas as matérias podem vir a se constituir objeto da ciência. Tudo dependerá do emprego do método científico à pesquisa. Logo, o tema Deus, pode ser estudado sob a ótica da ciência através da Teodicéia, ou poderá ser visto sob o prisma religioso, qual seja a Teologia.
No campo científico, os problemas da epistemologia desaguam sempre em Deus, porque sempre que se busca o porquê de algo, chega-se na questão de Deus
A relação entre ciência e a religião é um desses campos, por séculos segmentados, que a impetuosidade científica terá que conciliar se quiser obter as respostas que até agora não deslindou com o emprego somente de seu método lógico.
3 Religião
Enveredando a busca pelo significado da religião Fritjof Capra (1998, p.35), define: “Etimologicamente, a raiz da religião é “ligação”. E a raiz da teologia está em theos, Deus. A teologia é o entendimento da fé e enquanto tal, busca compreender o significado total desse mistério”.
A religião é uma forma de explicar a realidade a partir da fé dos seus crentes. Seus postulados são fundados em dogmas, portanto um conhecimento fechado a contestações. A teologia é a área de conhecimento que se ocupa de Deus. Para esta seara, há um Deus supremo, criador de todas as coisas. Seu fundamento encontra-se eminentemente nos textos bíblicos.
O acompanhamento da evolução das fases histórica, mostram a evolução do pensamento religioso acerca da imagem de Deus.
A origem de Deus surgiu de uma concepção finalista de como o homem vê a natureza. Para este tudo o que há foi feito para servi-lo. Logo, se não foi ele quem criou teria que se atribuir a outrem que lhe fosse superior. A partir daí surgiram os cortejos aos deuses e o temor pelos eventos que se entendia ser manifestação de sua fúria. Essa concepção primordial era fácil, já que estes não conseguiam sair do estágio de ignorância.
Por conseguinte, a religiosidade foi criada como uma forma de atenuar o medo dos primitivos homens das doenças, das feras e da morte. Seus deuses tomavam a forma presente em suas imagens cotidianas. Nesse momento havia uma religiosidade amparada na angústia humana, porquanto conseguia a obediência a partir do sentimento do medo. Desta feita, atribuíam a seus deuses a responsabilidade pelos seus malogros e palas suas bem aventuranças.
Posteriormente, a religião-angústia dá lugar a uma religião-moral. Como fruto da adoção de uma vida gregária, há uma preconização do aspecto social a reger a conduta humana. Notadamente, com a interpretação dada pelas Sagradas escrituras passa-se à idéia de um Deus-providência que recompensa, ampara e protege após a morte.
Nesse diapasão, Constantino oficializou a Igreja com a intenção de conceber o temor divino como temor ao Estado. Com isto, os padres vão escrever sobre religião, mas não no sentido de construir uma doutrina cristã e sim para manter os dogmas da igreja e combater as heresias.
Era preciso alcançar uma nova construtura.
4 Quebra dos paradigmas científicos e religiosos
4.1 Evolução do pensamento científico e teológico
É patente a quebra de paradigmas que envolveu o processo de junção entre os métodos científicos e a crença religiosa. Tal enlace é fruto de um caminhar enfrentado pela ciência e pela teologia ao longo dos tempos e que tem se firmado a cada dia.
Conforme enuncia Fritjof Capra, em sua obra Pertencendo ao universo (1998, p. 11 a 13), o antigo pensamento científico foi cunhado eminentemente por Descartes, Newton e Bacon. Contemporaneamente, esse modelo foi substituído por uma visão ecológica da realidade.
Na esfera teológica o velho paradigma era cognominado racionalista, e tinha influência da escolástica. A atual concepção pode ser chamada de holística ou transcendental.
No pensamento científico e teológico pode-se definir o novo paradigma a partir de alguns critérios, citados a seguir.
A priori, observa-se uma mudança da parte pra o todo. Na ciência, substituiu-se a idéia de que o todo precisava das partes para ser compreendido. Hoje reina a concepção de que para o pleno entendimento das partes, precisa-se conhecer o todo. Já na teologia, houve uma mudança do pensamento de Deus como o revelador da verdade. Atualmente, se entende a realidade como auto-revelação de Deus.
O segundo critério lastreia-se na idéia de mudança de estrutura para processo. Ora, antigamente para a ciência, pensava-se que havia estruturas fundamentais e a partir de sua interação nascia o processo. Posteriormente, adotou-se a idéia de que na ciência, cada estrutura é manifestação de um processo subjacente. No campo da teologia a idéia primeira era de que a verdade não é mais uma manifestação atemporal, mas histórica. Logo, havia um conjunto estático de verdades que Deus pretendia nos revelar com o tempo, Atualmente a revelação da salvação, como manifestação de Deus, é algo dinâmico.
A mudança da nuança objetiva da teologia e da ciência é o terceiro critério do novo paradigma. Antes os postulados eram tidos como independentes do observador. Na atualidade só se aceitam as verdades científicas que tenham uma visão epistemológica e as visões teológicas que tenham passado por uma reflexão dos conhecimentos místicos, afetivos e intuitivos.
O quarto critério assenta-se na substituição da idéia de conhecimento como construção (a partir de leis fundamentais), para se entender a realidade como uma teia de relações, sem hierarquia.
Por fim, o último critério do pensamento contemporâneo, reside numa ciência que abandona a idéia de descrições absolutas e finais para a busca de definições aproximadas e limitadas. Bem como, a teologia reconhece o caráter limitado de seus enunciados teológicos e passa a aceitar os mistérios divinos.
Nesse pórtico, observamos o campo onde vicejou a possibilidade de um encontro da ciência com a crença, haja vista a relativização dos postulados de ambas as searas para conformar-se com os novos modelos propostos pela realidade .
4.2 Conexões entre as searas
Nesse contexto de transformações, a religião tradicional tem sido demandada por credibilidade na explicação de seus postulados. Essa busca de explicação racional é fruto dos anseios de uma sociedade cada vez mais informada e questionadora das verdades impostas. Logo, se requer a incidência de densidade crítica à fé, bem como a sua comunhão com os rigores do método científico.
Da mesma sorte, a ciência clássica não tem se mostrado capaz de responder, sozinha, às questões mais fundamentais ao homem. Portanto, tem recorrido à religião para preencher os vazios que a lógica e a racionalidade de seu método não conseguem preencher.
A principal questão de embate entre cientista e religiosos é a existência de Deus e sua influência na explicação dos fenômenos fáticos.
De um lado foi-se observado que a fé dos religiosos que estabelecia dogmas acerca da explicação do universo era um obstáculo epistemológico para se chegar a verdade das coisas.
Os obstáculos epistemológicos são os preconceitos do pesquisador que formam barreiras para a formação adequada do conhecimento. Eles se caracterizam em linhas gerais como uma pré-compreensão dos objetos que impede a ampliação da percepção dada à coisa. Esse juízo inicial, fruto de um hábito de pensamento não reflexivo ou de uma ausência de crítica aprofundada, não pode servir como uma verdade final acerca da realidade.
De outro quadrante, foi constatado que o universo é cada vez menos causal e lógico do que se pensava, daí não seria a partir dessa mesma lógica que seria encontrada a sua resposta. Seria necessário o amálgama desses campos do conhecimento para criar o caminho hábil para a pesquisa eficiente. Uma verdadeira crise de paradigmas para criar um conceito que atenda ao novo perfil do pesquisador.
Assim, a própria ciência se rendeu a falibilidade de um conhecimento racional, quando reconheceu através da física quântica, a ilusão da idéia de tempo e espaço. Assim, uma mesma partícula pode se mostrar a partir de ondas ou de moléculas e que ela pode ocupar, ao mesmo tempo, lugares diferentes. Portanto, não haveria uma matéria tangível e a realidade primordial não seria cognoscível.
Portanto é preciso adentrar no campo da crença para entender os seus meandros, identificar as suas partes úteis à explicação dos fenômenos e uni-los aos enunciados científicos, no afã de se aproximar da verdade. Para isso será preciso perpassar os olhos por além da visibilidade da matéria, na busca pela invisibilidade do espírito, e uni-los.
5 Conhecimento científico: seu aprofundamento leva a Deus.
Mesmo com todo o esforço dos físicos em trazer explicações para as grandes questões do universo, sempre se chega a um ponto de profundidade em que não é mais possível trazer esclarecimentos fáticos. Logo, é imperioso se render ao argumento de Deus como fonte criadora, conforme se conclui do estudo de Gean Guitton (1992, p. 10 a 120).
Quanto à origem da vida, a ciência traz a teoria de Darwin, pela qual havia surgido a partir dos primeiros átomos existentes nos oceanos que com a radiação solar teriam se transformado em moléculas de aminoácidos, formando um DNA, que possibilitou que a primeira célula se reproduzisse. Acontece que, para os cientistas, a probabilidade de milhares de enzimas se reunirem e possibilitarem que um aminoácido se transforme em célula viva é praticamente nula. Assim, a grande pergunta é a respeito de como a energia explosiva do big bang, que fez surgir elementos inanimados, pôde também gerar vida e consciência. Jean Guitton ( 1992, p. 48 e 53) então, encaminha a Deus, a origem da vida:
Há continuidade entre a matéria dita inanimada e a matéria viva .De fato, a vida retira diretamente suas propriedades dessa misteriosa tendência da matéria para se organizar a si mesma, espontaneamente, para dirigir-se a estados incessantemente mais ordenados e complexos... O próprio universo é inteligente: uma inteligência que transcende o que existe em nosso plano de realidade ordenou a matéria que deu origem à vida.
Portanto, para o aludido autor a teoria de que a origem da vida adveio do acaso, é apenas a inabilidade de entender uma inteligência maior. Observe-se que há uma grande precisão nos níveis das forças da natureza, tais como a gravidade, a força eletromagnética, dentre outras. Se estas, tivessem se modificado o mínimo possível, não haveria a condição de desenvolvimento da vida. Portanto, as probabilidades numéricas abrem espaço para a idéia de que a fonte da vida faz parte de um projeto do Criador. Assim, o Universo existe como tal, não podendo ser diferente, para fazer gerar, no instante certo, a vida consciente. Assim, como Leonardo Boff (2007, p.15), arremata:
Ciência e religião se perguntam: O que se passou antes do Big-Bang e do tempo? Muitos cientistas e religiosos convergem nesta compreensão: Havia o Mistério, a Realidade intemporal, no absoluto equilíbrio de seu movimento, a Totalidade de simetria perfeita e a Energia sem entropia.
Num ‘momento’ de sua plenitude, Deus decide criar um espelho no qual pudesse ver a si mesmo. Cria aquele pontozinho, bilionesimamente menor que um átomo. Um fluxo incomensurável de energia é transferido para dentro dele. Aí estão todas as possibilidades. Potencialmente todos nós estávamos lá juntos. De repente, tudo se inflacionou e depois explodiu. Surgiu o universo em expansão. O Big-Bang, mais que um ponto de partida, é um ponto de instabilidade que, no afã de criar estabilidade, gera unidades e ordens cada vez mais complexas como a vida e a nossa consciência.
Deus seria o todo, o qual tudo o que existe são suas partes, seus habitantes, suas elementares. Assim só consegue-se achar o fundamento das coisas em Deus, porque só se entende as partes quando se encontra o todo. Deus é tudo o que existe, então para compreender parcela da matéria, precisa-se partir dele e ir em busca dele. Em cada partícula há consciência, então cada matéria, máxime os humanos, são a prova de Deus.
O princípio de auto-organização do universo está agindo em cada parte e no todo. Neste universo tudo tem a ver com tudo, formando uma incomensurável rede de relações. Deus é a palavra que as religiões encontraram para esse Princípio, tirando-o do anonimato e inserindo-o na consciência. Para defini-lo não há palavras. Por isso, é melhor calar do que falar. Mas se tudo é relação, então não é contraditório pensar que Deus seja também uma relação infinita e uma suprema comunhão. (Boff, 2007, p. 12)
Há uma necessidade de se admitir a existência de uma Realidade substancial, que permaneceria imutável e incondicional, oculta debaixo de todas as manifestações exteriores. Vamos chamar essa realidade substancial de O Todo, a divindade, para designar aquele que excede todos os nomes e todos os termos... O espírito que no início é o nada, mas ao mesmo tempo é o todo, pois contém, nele mesmo, tudo.AZEVEDO (2002, p 69 e 70).
O menor elemento que se conhece são os quarks (que compõem os hádrons, que por sua vez, se localizam no núcleo dos átomos). Os primeiros são completamente invisíveis, pois não há sequer a possibilidade de medi-los e se situam apenas nas previsões matemáticas. Estão, pois, numa dimensão não material. Logo os quarks seriam como mediadores entre os dois mundos. Os quarks tem comportamento ordenado, mas precisa-se saber se há uma força invisível que os oriente nesse sentido.
Como até os quarks são compostos de vácuo, conclui-se que nenhum elemento do universo existe enquanto objeto, mas estão em formato de campo, pois são perceptíveis através dos efeitos que geram. A realidade, pois, é um conjunto de campos com interações de partículas. Assim, constata-se que é impossível encontrar o fundo da matéria, ou seja, a matéria inicial. Esse ponto da ciência nos conduz a Deus. Tanto nos átomos, quanto no universo, pode-se observar uma semelhança, que é comum a todas as coisas, pois o vácuo predomina sobre os elementos sólidos que compõem a natureza.
O vácuo completo não existe, pois não há região em que se encontre o nada, pois é nesse espaço de movimentação que acontece as interações. A realidade dissipa-se no vácuo, mas não se sabe o que há sob esse espaço sob cuja superfície repousa o ser. As milhões de partículas existentes no vácuo formam as coisas que existem a nossa volta, por força de um equilíbrio. A explicação para o equilíbrio que dá certa forma a um objeto e outra forma a um objeto diverso, não é explicável pelas energias do nosso universo físico. A realidade física assim seria uma ilusão que é criada e formada por uma realidade do espírito que lhe subjaz. É uma simetria que funciona como ponto de calibre onde o mundo gira ao seu redor e assim se mantém íntegro.
No big bang havia a simetria principal na primeira partícula que foi quebrada. O campo fundamental sob o qual repousa o universo é perfeito e simétrico e poderíamos chamá-lo de Deus. Devemos abandonar o material físico que funda nossa existência, para substituí-lo pela idéia de que o Universo é uma rede de informações.
Para explicar a existência do espírito na matéria utiliza-se a experiência da dupla fenda que comprova a teoria quântica e que seria a resolução do último mistério. Consiste no atirar fótons contra uma tela com dois furos, no momento que se fecha um, os fotos só passam pelo aberto, mas quando se abre o outro, os fótons parecem adivinhar a sua abertura e tem ‘vontade’ de passar pelo outro canal. Há consciência até nas partículas mais ínfimas. Há interpenetração entre o observador e o observado, p. ex., os fótons que tem condutas diferentes quando sabem que estão sendo observados. Logo, nas extremidades invisíveis da matéria, qualquer que seja ela, paira o espírito, que seria Deus agindo em cada um.
A realidade é una, e não concorrente. No entanto é possível dizer que existem realidades virtuais que funcionam como projeto dessa realidade eleita, a partir das possibilidades e escolhas que se faz. Para isso é mister os olhos de um observador externo, que seria Deus.
Cada coisa do universo obedece às mesmas leis cósmicas, como se uma inteligência unisse a todas. Logo, desde o átomo, até o universo, há uma estrutura baseada em corpos girando em torno de um núcleo. Nesse sentido arremata Jean Guitton ( 1992, p. 132): “Não creio como a Bíblia, que tenhamos sido criados à imagem de Deus: Nós somos a própria imagem de Deus... Um pouco como a chapa holográfica que contém o todo em cada parte.” Há um universo holográfico infinito, onde cada região, embora distinta, contém o todo divino, tanto no espaço quanto no tempo.
A ciência clássica fundamentava-se apenas no materialismo para explicar os fenômenos existentes, rechaçando, assim, o espírito como elemento explicativo. Logo, o que não conseguia-se decifrar, reputava-se à incapacidade humana e entregava-se ao tempo, ao revés de partirem para a mudança de concepção. Essa concepção não tem mais vigência na atualidade, haja vista não ter solucionado as questões mais essenciais da realidade.
Nesse pórtico, surge a física quântica. Esta nova leitura da ciência entende que as substâncias podem se apresentar ora como grão material sólido e ora como ondas imateriais. Essas suas faces não devem ser vistas como contraditórias, mas como uma complementariedade necessária de uma mesma realidade, haja vista a sua origem em comum. Está dado o passo fundamental para a integração e convivência dos conceitos de matéria e espírito para explicação dos fenômenos. Contudo o criador desse universo é transcendente. O universo não é um ser em si. Logo, o mundo demanda a existência de um ser distinto dele que o fundamente.
6 Deus para os filósofos
Grande parte dos pesquisadores acredita que, quando se aprofunda o conhecimento, se constata a existência de Deus para a ciência. Assim, foi observado que a explicação das grandes questões da humanidade, tais como a origem do universo, da vida e da consciência humana, encontram fundamento em Deus.
A partir de agora adentrar-se-á na investigação da imagem que esses filósofos têm acerca de Deus. Observar-se-á, de plano, que não se trata de um Deus das religiões, mas sim do Deus dos intelectuais. A ciência acredita num Deus que não se assemelha ao Deus cristão, mas que representa o foco de luz e inteligência presente no ponto de saturação do conhecimento. Nesse norte, orienta o professor Arnaldo Vasconcelos (2000, p.38):
Para evitar equívocos, esclareça-se: o Deus, a quem nos referimos neste trabalho, não é aquele da resposta de Laplace a Napoleão, considerado simplesmente “uma resposta desnecessária” ao conhecimento. É sim o “deus dos filósofos e dos sábios”, de Blaise Pascal, tido por pressuposta da investigação sobre a verdade. Ele é, inclusive o deus dos ateus de Nietzsche, Bertrand Russel e Sartre, entre outros.
Portanto, não se poderá confundir aqui, a crença no Deus da ciência, com o dogma católico de Deus. Deveras, há uma parte da crença em Deus que é composta por dogmas. Dogma é uma questão de fé e, portanto, intocável, v.g., Deus criou o mundo em sete dias. Nesse campo o conhecimento científico não entra. Já o que irá se perquirir aqui, é o Deus dos filósofos, como fonte de conhecimento. Ele não é dogma, mas é a razão fundante do conhecimento, a última instância.
6.1 Primeiras noções filosóficas sobre Deus
Para confirmar a assertiva do reconhecimento de Deus para os filósofos, entendido, como fonte de conhecimento, traremos a baila o pensamento de alguns expoentes ao longo da história da humanidade, citados por Cláudio Azevedo em sua obra Órion, filosofia, religião e ciência (2002, p. 70):
“Todas as coisas são números” – Pitágoras (580 a 500 a.C.) Segundo ele Deus era “A Unidade”, o indivisível que continha Nele todo o infinito.
“O homem é o centro e a razão da evolução: sua alma o liga a esse universo, que ele domina, a seus semelhantes e a seu fim último, que é Deus”. Pierre Teilhard de Chardin ( 1881 a 1955)
“Se chegarmos a uma teoria completa, com o tempo ela deveria ser compreensível para todos e não só para um pequeno grupo de cientistas. Então todos poderiam tomar parte na discussão sobre porque nós e o Universo existimos... Nesse momento, conheceríamos a mente de Deus”. Stephen Hawking.
Outrossim, importante citar aqui o pensamento de Hegel, segundo o qual Deus é transcendente ao universo e não se confunde com ele. Anote-se que Hegel é ‘realista’, que se caracteriza por considerar a realidade a partir da perspectiva daqueles que a observam e não como um dado objetivo. (Guitton.1992, p. 140 a 141)
6.2 Descartes e a clareza do conhecimento
Descartes diz que a idéia é clara e evidente, porque Deus não traria questões obscuras. Assim, para este filósofo, aquilo cujo conhecimento é claro e evidente não pode ser o contrário de Deus. Isso porque Deus não iria criar um homem que fosse ruim ou enganador. O que garante o conhecimento ser claro é a presença de Deus, já que foi Ele quem criou o homem, cultor da ciência.
“ Penso, logo existo... Deus existe; e, dado que a idéia de Deus é a de um ser perfeito, ele é incapaz de enganar-se ou de enganar-me. Portanto, posso ter plena certeza da validade de meu conhecimento”. René Descartes ( 1.596 a 1650). (Azevedo. 2002, p. 71)
6.3 Santo Agostinho e os fundamentos
“...se o homem mutável, destrutível, é capaz de atingir verdades eternas, sua razão deve ter algo que vai além dela mesma, não se origina no homem nem no mundo externo, mas em Deus”. Santo Agostinho (Azevedo. 2002, p. 71)
Em seu livro “A Cidade de Deus”, ao explicar a existência de Deus, Santo Agostinho responde que o homem foi criado para que houvesse um começo, isto é, para que Deus fosse percebido. Só o homem dá testemunho de Deus. Portanto, não havia tempo antes de Deus, o que havia era o nada.
É indubitável, ademais, não poder crescer nem chegar ao têrmo de sua quantidade, sem ter princípio. E tal princípio, como êle, antes jamais existiu. Para que existisse, foi criado o homem, antes de quem não existiu nenhum. (Santo Agostinho , 1961, p. 186)
Os filósofos recorrem a Deus para explicar aquilo que não conhecem porque Deus nasceu antes dos homens, por isso tudo conhece e os homens não. O homem não viu as origens e o que se procura é justamente pelo princípio gerador, o fundamento.
Não se fundamenta no mesmo nível daquilo que se pretende explicar. Tem que ir além do objeto de conhecimento. A origem domina todo o fundamento dos institutos. É mister se aprofundar.
Só as pessoas que não tem conhecimento da ciência é que vêem incompatibilidade desta com Deus, isso porque o conhecimento é ilimitado e no fim sempre há o lugar de Deus. Deve-se entender Deus como a última instância.
A ciência não elimina o problema de Deus, isso porque o conhecimento ainda não encontrou seu limite, sempre se busca mais e isso vai até a questão de Deus. Portanto, no conhecimento há um nível de profundidade que só se justifica em Deus.
6.4 Kelsen e o positivismo
Continuando essa narrativa acerca da impressão de Deus para a ciência, importante citar o reconhecimento de Deus por Kelsen, quando busca definir o que é norma hipotética fundamental.
Como que pressentindo a resistência que seria oposta à sua audaz inovação, Kelsen, à semelhança do que fizera relativamente à doutrina da norma hipotética fundamental, apela para o argumento teológico, com o qual pretende fortificar sua posição. Para ele, o ilícito está para o Direito, assim como o mal está para Deus. No contexto de uma teologia monoteísta conseqüente, o mal é interpretado como pressuposto (condição) da realização do bem. Conseqüentemente, “a suposição de que o mal não é obra de Deus, mas é dirigido contra Deus, de que é obra do Diabo, não é conciliável com a hipótese monoteísta, pois implica a idéia de um anti-Deus, de um não-Deus” (Hans Kelsen, obra e página citadas). O mesmo raciocínio se aplica ao Direito, pelo que o ilícito não pode significar senão a condição principal de acesso ao Direito, e nunca sua negação ou mesmo a concorrência entre o anti-Direito ou não-Direito e o Direito. (Vasconcelos, 2006, p. 102)
A ciência tem na metafísica o seu nível superior. O positivismo quis fazer uma ciência pura, dogmática, mas isso não é mais possível.
Kelsen queria criar uma teoria do Direito com natureza unicamente científica, afastando de sua teoria, os valores e a justiça. Criou uma pirâmide em que escalonou os atos jurídicos. Na sua base, colocou os atos mais elementares, como a sentença e foi evoluindo em densidade jurídica, fazendo com que os atos da base se fundamentassem nos superiores na escala, v.g. a sentença se fundamenta nas leis, as leis na Constituição e a Constituição respalda-se na Norma Hipotética Fundamental, que situa-se no ápice da pirâmide. Mas, o problema surge quando se indaga quem fundamenta a Norma Hipotética Fundamental. Isso porque não se pode fundamentar algo no mesmo nível em que se explica. O Ordenamento Jurídico está no plano da física e para fundamentar devem-se buscar elementos num outro plano, a metafísica, locus onde encontra-se Deus. Cite-se, ainda, o exemplo do filho que deve obedecer aos pais, porque, dentre outros motivos, Deus quer que o faça.
6.5 Platão e a metafísica
Um dos problemas da ciência é querer afastar o seu conhecimento da metafísica. A razão dessa impossibilidade é que a metafísica é o fundamento para tudo. Para Platão, a metafísica fundante encontra-se no mundo divino das idéias, o qual fornece racionalidade para o mundo material, conforme se dessume a seguir:
O divino platônico é representado pelo mundo das idéias e especialmente pela idéia do Bem, que está no vértice. A existência desse mundo ideal seria provada pela necessidade de estabelecer uma base ontológica, um objeto adequado ao conhecimento conceptual. Esse conhecimento, aliás, se impõe ao lado e acima do conhecimento sensível, para poder explicar verdadeiramente o conhecimento humano na sua efetiva realidade. E, em geral, o mundo ideal é provado pela necessidade de justificar os valores, o dever ser, de que este nosso mundo imperfeito participa e a que aspira. (Madjarof. 2007, p. 01)
Destarte, o conhecimento muitas vezes se dá a partir da dialética, só se conhece uma categoria por outra. Categorias são os conceitos primários e universais sem os quais o homem não consegue pensar. Se conhecerá o claro, através da idéias de escuro etc.
Há dois mundos para o conhecimento: o mundo físico e o mundo metafísico. Este é considerado o mundo das idéias, localiza-se acima do mundo sensível e, portanto deve ser considerado o mundo real. Já o mundo visível é o mundo das aparências e situa-se aquém do mundo supra-sensível, portanto é construído a partir daquele.
Entender que Deus não tem relação com a Ciência, é o mesmo que afirmar que a física não tem nada com a metafísica. Ora, embora sejam campos contrapostos, eles não se negam, porquanto se trata de elementos da mesma categoria. Desta forma, haverá uma concatenação de idéias entre ambos, ainda que o procedimento para se achar o conteúdo de um, se faça através da eliminação do conteúdo do outro.
Desse modo, o anúncio da ‘morte de Deus’ está necessariamente associado á pretensão suprema de ter superado a metafísica, pois, como afirma Heidegger, antes de se referir a Deus em sentido religioso e cristão, ‘Deus é o nome para o âmbito das idéias e dos ideais. Esse âmbito do supra-sensível vale como mundo verdadeiro e autenticamente real desde Platão ou, dito mais exatamente, desde a interpretação grega tardia e cristã da filosofia platônica. Diferenciando-se dele, o mundo do sensível é apenas o mundo do aquém, o mundo mutável e, por isso, o mundo meramente aparente, não real. O mundo do aquém é o vale de lágrimas, diferenciando-se do monte de felicidade eterna no além. Se, tal como acontece ainda em kant, chamarmos mundo sensível ao mundo físico em sentido lato, o mundo supra-sensível é o mundo metafísico. (Giacoia Júnior, 2003, p. 13)
O homem só conhece aquilo que vê. O ver inclui o antever. O homem só vê o sensível (físico), Deus está na metafísica, portanto tudo nele se vê.
A ciência não responde sozinha o fundamento das coisas. Assim, não se pode fundamentar algo no mesmo nível do que se pretende explicar. Há necessidade do recurso à metafísica, pois entre o finito e o infinito está o conhecimento. A ciência não chega ao fim porque é limitada. Assim, Deus é o princípio e o fim.
O espírito é a palavra-chave que liga a pesquisa científica a Deus. Esse elemento é a ponte pela qual as idéias transitam. A ciência, a cultura, a religião, bem com todas as atividades de pensar são manifestações do espírito e não do corpo. O espírito liga-se com Deus (metafísica), através da busca pelo fundamento. Logo, o pesquisador sai da imanência e vai para a transcendência.
6.6 Spinoza e a prova da existência de Deus
Destaquem-se as idéias de Benedictus Spinoza, em seu saltério Ética:
Por Deus entendo o ente absolutamente infinito, isto é, uma substância que consta de infinitos atributos, cada um dos quais exprime uma essência eterna e infinita...
Deus é causa eficiente de todas as coisas que podem cair sob um intelecto infinito. Deus é absolutamente causa primeira... O entendimento, seja em ato finito ou infinito, deve compreender os atributos de Deus e as afecções, e nada mais...
Confesso com franqueza que pode haver alguma coisa na qual haja um poder tão grande e tão inesgotável que jamais tenha tido necessidade de nenhum auxílio para existir, e nem tenha ainda necessidade dele agora para ser conservado, e assim seja, de alguma maneira, a causa de si mesmo;e concebo que Deus é tal... (SPINOZA, 1979, p. 78, 95, 108, 124
Por conseguinte, para Spinoza, nenhuma substância pode advir de outra coisa qualquer . Nada existe sem ser fundado em Deus. Conclui-se que Deus é anterior a qualquer outra coisa, é substância superior e tudo que existe é fundado Nele, porque não poderia ser fundado em coisas de igual categoria. Deus seria a causa da existência e da essência de todas as coisas. A ciência quando busca conhecer algo teria que necessariamente recorrer a essa origem, para se chegar ao fundamento e ter maior domínio sobre a integridade do objeto pesquisado.
Para Spinoza Deus existe. Afirma isso através de 4 provas (1979, p. 87):
A primeira prova consiste na teoria de que a essência pressupõe, necessariamente, a existência. Daí seria absurdo pensar que a essência infinita não venha a existir. Logo, a causa para que Deus não viesse a existir, teria que estar dentro da própria natureza de Deus ou fora dela. Se estivesse dentro, então confirmaria a existência de Deus. Se se dissesse que estava fora, essa causa nada teria em comum com Deus. Se fora da essência maior nada existe, essa pseudo-causa não poderia dar a existência de Deus, nem tirá-la.
A segunda prova consiste em que para a existência ou inexistência de alguma coisa tem que haver uma razão. Se não há um motivo para a inexistência de Deus, então Ele existe.
A terceira prova da existência de Deus é advinda da premissa que se os seres finitos têm como certa a sua existência, seria ilógico que o ser infinito e, portanto, superior, não tivesse existência.
A quarta prova é que Deus tem, em si mesmo, o poder de existir, porque Ele é um ente absolutamente infinito e tanto mais infinitude tenha um ser, mais potência ele terá para existir.
As coisas estão em potência e se transformam em ato. As coisas estão em potência (vir a ser), como por exemplo, uma madeira, que o filósofo diz que dentro dela há São Francisco potencialmente. Posteriormente as coisas se transformam em ato. Assim há a passagem da essência para a existência. Só há um ser que é ato e potência ao mesmo tempo, qual seja, Deus. Ele é o único ser puro, porque não tem causa. Ele criou a si próprio. Ele é um ponto que o estudioso tem que partir para raciocinar.
6.7 Einstein e a unidade
Consoante o pensamento de Einstein: “Deus não joga dados com o mundo – Deus é sutil, não é maldoso” (Rohden. 2005, 129).
Deus não se revela ao homem por provas, é preciso que este homem o pressinta do espírito do universo. Mas, uma vez entrando em sintonia, Deus não procederá de forma maldosa, pois nele o homem pode prever a razão dos acontecimentos.
O mundo concreto é marcado pela materialidade das coisas. Nele o raciocínio apreende os seus elementos e tenta explicá-los. Esse é o campo da ciência tradicional que estuda as faticidades.
Já Deus é a suprema racionalidade do Universo. Ele é uma realidade abstrata, mas verdadeira, localizada onde a inteligência humana não pode chegar. Seu contato não se faz pelos sentidos, antes deve ser feito através do espírito e pela intuição. As suas revelações não se prendem aos elementos tempo e espaço, porque são eternas e infinitas.
Em assim sendo não se pode querer provar a existência de Deus, pois só podem ser objeto de prova os fatos materiais e Deus é, por excelência, a porção abstrata do mundo. Nele as provas não conseguem se materializar.
A verdade pura não tem provas, sua certeza advém da percepção intuitiva da realidade. Por isso, o homem não pode conhecer a Deus, mas Deus pode permitir que este o conheça. Daí a sutileza de Deus.
Deus é a suprema racionalidade do Universo, posto que é a causa de tudo o que há. Sendo assim, o homem pode ter a certeza dos acontecimentos, porque Deus não é arbitrário, nem joga dados.
Assim é que a ciência não existe sem o recurso à crença. No sentido de se buscar a causalidade em qualquer acontecimento. Uma vez que se acredita que Deus é a harmonia de todas as coisas. Essa sincronia revela uma lei que está superior a inteligência humana e, portanto se localiza em outra esfera, a divina.
A noção científica de Deus surge a partir da idéia de que nós pertencemos a um todo maior, portanto Deus seria a unidade que dá causa e efeito a todas as coisas. Tudo está em relação e o equilíbrio está em Deus.
Questionou-se: no âmbito da existência, há o tudo, ou apenas frações, as partes? O “todo” significa aquilo que confere unidade às partes. A ciência, hoje, pretende estudar o todo. Isso nos permite dizer que a ciência caminha no sentido de Deus.
Dessa forma, a atual fase do conhecimento busca o todo e para isso não se pode abandonar as partes. Se há uma interação congênita em tudo o que existe, é preciso agregar a ciência com a religião para se chegar a resposta do que ainda é mistério.
6.8 Nietzsche e a crença na ciência
Nietzsche, em sua obra “Assim falou Zaratustra” (1978, p. 244 a 260), mostra os discursos de seu personagem Zaratustra. Este seria uma personificação da ciência,que se diz um sem Deus e que está cansado dos velhos valores da sociedade. Mas, na verdade Zaratustraé um grande crente, pois devota-se ao Deus dos filósofos. Assim, conclama as pessoas à mudança, ao querer e ao agir.
Nesse espectro, Nietzsche (1978, p. 249) traz discurso entre vigias noturno que duvidam sobre a criação e explicação das coisas por Deus :
Para um pai ele não cuida o bastante de seus filhos: pais humanos o fazem melhor! Ele está velho demais já não cuida mais de seus filhos. Mas ele tem filhos? Ninguém pode prová-lo, se ele próprio não o provar. Há muito tempo eu quero que alguma vez ele o prove com fundamento. Provar? Como se aquele jamais tivesse provado algo! Provar lhe custa; ele faz muita questão que acreditem nele. A crença o torna venturoso, a crença nele.
Os cientistas duvidam da existência de Deus, nada obstante não conseguem explicar o fundamento das coisas calcados apenas na experiência humana, daí se rendem a ausência de fundamento e podem se frustrar pela sua impotência em explicar as coisas.
Outras vezes, adotam uma outra perspectiva , qual seja, abandonam a explicação das coisas ao mistério divino. Mas finalmente, hoje há um amálgama desses caminhos, qual seja, a adoção de uma fé de se vai encontrar as respostas.
A função da crença no conhecimento é dar o impulso propulsor para que o homem, sabendo da existência de Deus, vá em busca de seu encontro. Um vez que ele acredita em Deus e que, portanto, as coisas tem uma explicação, ele vai cada vez mais profundo nas suas descobertas em busca desse Deus. Assim, quando chegar a uma dada resposta, mas observar que não é a final, concluirá que ali Deus ainda não se encontra, porque se conseguiu encontrar respostas é porque ainda pisa em solo humano. Nesse diapasão, o pesquisador saberá que ainda precisará dar continuidade à sua busca.
A ciência é um eterno por-vir, e os homens, contínuas pontes para se chegar ao infinito. Não se pode pretender desvendar a ciência por completo, pois isto seria como descobrir a Deus. Quando pensamos que já chegamos até o fim, lá apenas enxergamos um novo caminho que nos aguarda. Mas haverá a certeza da existência de um Deus da felicidade que cada vez se avizinha, o Deus da busca do saber que nos estimula à caminhada.
O homem enquanto mais aperfeiçoa seu conhecimento, menos tranqüilidade terá, porque pressente maiores perspectivas de melhorias. Então o primeiro passo num caminho desconhecido, mostrará que há um percurso que ainda mais longo a seguir. Contudo, a cada passo, o homem também é iluminado por fachos de luz e embriaga-se com a expectativa de chegar ao clarão da verdade e lucidez. É o Deus da ciência que impulsiona o homem à caminhada.
Nietzsche (1978, p. 250) fala:
O homem é algo que tem de ser superado. É uma ponte e não um fim. Ensinei-lhes todo o meu engenho e arte: adensar e juntar em um o que é fragmento no homem, e enigma e horrível acaso. Ensinei-os a criar o futuro e tudo o que foi, a redimir criando. Pois ainda uma vez quero ir aos homens: entre eles quero sucumbir, morrendo quero dar-lhes meu mais rico dom!
A idéia de Deus para a ciência ao contrário de acomodação ou conformismo em dizer que as coisas são assim porque Deus quis, traz uma vontade de mudança , uma procura por Deus nas coisas, estimula o homem a ir cada vez mais longe em seu encontro.
O tremor de terra, sim – esse soterra muitos mananciais, provoca muita sede: mas também traz forças íntimas e segredos à luz. A sociedade humana: eis um ensaio, assim o ensino eu – um longo procurar: mas ela procura aquele que manda! Um ensaio, ó meus irmãos! E não um contrato! Quebrai! Quebrai-me essa palavra dos corações brandos e meio-a-meio.
Quando ele era jovem, esse deus da terra do sol nascente , ele era duro e vingativo, edificou um inferno para a delícia de seus prediletos. Mas por fim ele ficou velho e mole e frágil e compassivo. O quanto ele não se zangou conosco, esse colérico, porque o entendíamos mal! Mas porque não falou mais limpidamente?E se sentou murcho em seu canto perto da estufa, queixou-se de suas pernas fracas, cansado do mundo, cansado da vontade, e um dia se engasgou em sua compaixão grande demais. Fora com um tal Deus! Antes nenhum Deus, antes fazer destino de próprio punho, antes ser seu próprio Deus!
A religião fala: Ó tu Zaratustra, tu és mais devoto do que acreditas, com uma tal descrença. Foi algum Deus em ti que te converteu ao ateísmo. Deixa-me ser tal hóspede ó Zaratustra! Amém, assim seja! , falou Zaratustra, com grande admiração, ali está o caminho que leva para cima. Nietzsche (1978, p. 257)
Há que se quebrar os velhos conceitos. A existência de Deus precisou se enfraquecer em seu campo dogmático-religioso, para restar fortalecida na ciência. Destarte, a evolução da ciência trouxe algumas explicações que se desconcatenam com os dogmas religiosos. Inobstante, ao invés de abandonar a crença em Deus, devemos passar a enxergam a existência de Deus a partir de novos paradigmas, qual seja o Deus dos filósofos. Este Deus é provado cientificamente e auxilia o desenvolvimento do conhecimento liberto.
7 Ciência, crença e o Direito
Há em todo homem um espaço reservado ao mistério. Trata-se das suas dúvidas sobre si mesmo; da sua ausência de conhecimento sobre as questões do mundo; de perguntas que ainda não encontraram respostas na ciência existente. Esse espaço é fonte de inquietação e leva ao homem a busca incessante pela compreensão.
Por muito tempo a ciência e a religião caminharam juntas na explicação dos fenômenos da natureza. A partir do século XVII, época da Renascença houve a cisma entre essas duas esferas do saber. Contudo, com a emergência do pensamento iluminista do século XVIII, a convivência entre ambas torna-se inconciliável e a ciência passa a querer subjugar os ensinamentos da religião. A partir de Hegel, no século XIX, passa-se a uma neo-dialética a partir da convivência dos postulados de ambas as searas, gerando uma tese conciliatória, que não é simplesmente uma soma, antes se situa numa nova dimensão.
Os religiosos tradicionais usavam a idéia de Deus, por vezes, para combater as novas descobertas científicas. Essa resistência era motivada, possivelmente, para a manutenção da antiga doutrina da religião. Esses dogmas eram contemporâneos a uma época de atraso ou inexistência da ciência. Ou quiçá, o que hoje se considera mito, pode ter sido a ciência mais avançada de uma época passada. Assim, a religião negava as descobertas da ciência com o fito de manter os seus fiéis e conservar-se como orientadora de pensamentos e condutas, embora obsoletos.
A ciência, por sua vez, considerava a crença em Deus como um obstáculo à lógica necessária para se produzir um conhecimento racional. Seria como um refúgio para aqueles que não pesquisam com base em premissas fáticas e objetivas e preferem se entregar ao subjetivismo e ao mítico, para se furtar a responder as questões vitais.
Malgrado, o conhecimento científico, por mais evoluído que se ache hoje, ainda não foi suficiente para solucionar todas as questões. É mister a evolução do conhecimento científico para que se caminhe no rumo dessas respostas. Esse palmilhar demanda instrumentos outros que não só a lógica. Esta é importante e gera certa credibilidade. Mas, para equacionar as questões que fogem à ordinariedade, não podem ser empregados os recursos tradicionais da lógica.
Ciência e religião, ambas, procuram explicar a realidade, mas percorrem caminhos diversos, porque fundadas em postulados diferentes (dogmas x empirismo). A religião busca explicar o mundo a partir da fé e a ciência, a partir do método científico. Essas searas por vezes se mostram aparentemente díspares, malgrado há uma complementariedade entre ambas.
Contudo, está surgindo uma nova idéia de Deus que serve com mais efetividade para a explicação da realidade. Esta nova concepção advinda da união da ciência e religião, pode levar a um resultado que não corresponde a simples soma dos preceitos de ambas as searas.
Nesse espectro emerge a fé, como dínamo propulsor a superar as questões mais profundas. Deus seria o espaço no homem que este ainda não conseguiu desvendar. Para o cientista é salutar a conservação desse ambiente reservado a Deus. O pesquisador precisa abandonar o espaço do visível e ter fé no desconhecido que existe em si para conseguir chegar a solução das questões que fogem dos remédios existente. É salutar o encorajamento do cientista de conservar essa fé em Deus.
É preciso adotar a perspectiva de união dos preceitos da ciência e religião para explicar as grandes questões. A realidade é um campo complexo que precisa ser entendida a partir da conjugação dos vários instrumentos existentes. Então, é mister que não se aprisione à uma só lente e assim, se consiga ver todas as matizes do fenômeno. Entretanto, todos os campos de conhecimento devem ver a realidade como uma unidade, que precisa ter uma resposta única e coerente por parte de todos eles.
Nesse sentido, importante parafrasear as impressões de Albert Einstein (1981, p. 19 – 21) nesse sentido:
O progresso social dá condições de vicejar comunidades mais desenvolvidas que as suas congêneres, dotadas de indivíduos mais bem aquinhoados cultural e economicamente. Nesses ninchos, formou-se uma nova concepção de religião que tem sido denominada de religiosidade cósmica. Para essa concepção, foram abandonados os dogmas e a idéia antropomórfica de Deus. Os homens experimentam na totalidade, uma experiência que a sua individualidade não lhes proporciona e passam a sublimar a procura desse ideal.
A pesquisa científica clássica vê de forma rápida e superficial a mentalidade dos homens que criaram novos caminhos para seus contemporâneos. Já a religiosidade clássica possui uma imaginação compreensiva desses sábios espiritualizados.
Nesse espectro, rompe-se com a concepção tradicional de divergência entre religião e ciência, ou seja, a explicação do universo lastreada na teoria da causalidade é ventilada pela idéia de um Ser a interferir no processo cósmico. Ao contrário, percebe-se que será impossível se fazer ciência sem a pressuposição de uma religiosidade cósmica, que não deve ser equiparada com a religião tradicional. Sintetiza Einstein (1981, p. 19 – 21):
Essa religiosidade consiste em espantar-se e extasiar-se diante da harmonia das leis da natureza, revelando uma inteligência tão superior que todos os pensamentos humanos e todo o seu engenho não podem desvendar, diante dela, a não ser seu nada irrisório.
Devemos entender a religião cósmica como um instrumento para a pesquisa científica. Trata-se de uma paixão, sem a qual, as criações intelectuais mais inovadoras não existiriam. É esse o sentimento que inspira o pensador a criar algo totalmente diverso do que já existia. É preciso assim que exista uma confiança e a compreensão na inteligibilidade da arquitetura do universo.
A fé em Deus, não deve ser um obstáculo à evolução da ciência, tal como pretendem os religiosos tradicionais. Mas, deve ser encarada como um encorajamento a superar a lógica existente, a partir da ultrapassagem do desconhecido, com o uso da fé em si mesmo.
A ciência também se funda na ‘crença’. Ainda que seja a crença de que a pesquisa vai dar certo. Mas também pode ser uma crença religiosa ou a crença na própria ciência.
Digo “fé em Deus” para chamar a atenção para um fato relativamente comum: muitos, sem viverem essa fé, vivem cotidianamente essa fé em si mesmos, nos outros, no trabalho, na ciência, na política... ( Maia, 1986, p.85)
A ciência quando busca explicar as coisas ao seu redor se vê contida pela limitação da inteligência humana. Da mesma sorte, se sente intimidada pela gama de possibilidades e mistérios da vida. Nesse sentido o cientista será acometido por um arroubo de reliogiosidade que lhe trará fé na resolução dos seus problemas e crença na possibilidade de se chegar a Deus através da ciência.
Nesse ponto, destaque-se a crença no Direito como a ciência capaz de conduzir historicamente á utopia da pacificação social. Buscar-se a Deus, no afã de alcançar a Justiça pode ser o melhor caminho.
8 Conclusão
Há questões na seara do Direito, que perpassam a história da humanidade sem soluções pacíficas e unânimes. Aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e a própria busca pela verdade dos fatos e soluções justas às decisões, por vezes ultrapassam a força e a racionalidade humanas.
Assim, os postulados que não são explicados no âmbito tradicional da ciência não precisam ser,necessariamente. Portanto, se o que se pretende é a fundamentação das questões fundamentais da humanidade, poderá haver a sua ventilação dos preceitos metafíscios nos domínios da racionalidade.
A partir desse novo paradigma, se chegará através da pesquisa científica, ao fim e ao cabo, ao mesmo resultado que a religião, qual seja, o encontro com Deus. Enquanto a religião percorre o caminho da fé, a ciência utiliza o método científico, mas ambas encontrarão em Deus, o fundamento das coisas. Logo, fé e lógica se unem para firmar a crença na ciência.
Daí observa-se que as partes não serão mais auto-suficientes para explicar a realidade, deverá haver o recurso ao ‘Todo’. Sempre que se aprofunda o estudo se chega em Deus, porque há um ponto em que a ciência não consegue avançar sozinha nas explicações.
É preciso o recurso a Deus para aprofundar o conhecimento das coisas. A partir do desenlace da matéria e com um apelo à intuição se entra em contato com elementos mais profundos da realidade. Contudo, se ficarmos aprisionados somente na esfera física teremos apenas uma impressão superficial da vida. Portanto, não é possível avançar no conhecimento, caminhando somente no plano do racional.
Destarte, quando se admite a existência de Deus, se acredita que há uma unidade no mundo que lhe confere a causalidade de todas as coisas. Assim sendo, há o estímulo do pesquisador a continuar na sua busca de respostas, só que dessa vez acrescerá o recurso à intuição, no desiderato de reconhecer as expressões da metafísica.
A crença na ciência será o elemento fundamental que incentivará o pesquisador a ir cada vez mais longe em suas descobertas. Há uma razão universal que tudo cria, tudo sabe e tudo explica. O novo Deus, qual seja o pensado pelos filósofos, insiste no avanço ao encontro da verdade. Ele não castiga, mas abençoa a busca do conhecimento. Ele não opera milagres, mas salva o homem da ignorância, da acomodação. Haverá que se encontrar esse Deus em si mesmo, ou na ciência, e Dele fazer sua lei e ter fé.
Índice remissivo
Índice remissivo
B
Big bang...14,16
C
Campos...15
Categorias...21
Ciência...05, 06,11,12
Ciência –críticas...08
Ciência-juventude...09
Ciência-moderna...08
Ciência-neutralidade...08
Ciência-tendências...12
Ciência-aprofundamento..13
Crença na ciência...25, 27
D
Deus- existência...23
Deus-filósofos...18, 19
Deus-Descartes...19
Deus-Einstein...24
Deus-Hegel...19
Deus-Kelsen...20
Deus-Nietzsche...25
Deus – Pitágoras...18
Deus-Platão...21
Deus- Santo Agostinho 19
Deus-Spinoza...22, 23
Deus – Stephen Hawking...18
Deus – Teilhar de Chardin...18
Deus - teologia...10, 13,14,15,19
Dogma...05
E
Epistemologia...05
Equilíbrio...16
Espírito...16, 22, 24
Evolução...11
F
Física quântica...13, 17
Fundamentos...19
I
IDEOLOGIAS...08
M
Metafísica...21
Método científico...06
O
Obstáculos epistemológicos...13
P
Paradigmas – quebra...11
Positivismo...20
Potência...23
Prova...23
Provisoriedade...06
Q
Questionamentos da humanidade...13
R
Refutabilidade...06
Religião...09,10,12
S
Senso comum...05
T
Teologia...06,10,11
Teoria e prática...07
Todo e partes...11, 14,17, 25
U
Universo...14
Unidade...24, 25
V
Vácuo...15
Verdade...11
Vida...14
Índice onomástico
A
AZEVEDO, Cláudio...18, 19
B
BACHELARD, Gaston...05
BOFF, Leonardo…14
C
CAPRA, Fritjof…10, 11,28,29
EINSTEIN, Albert…29
G
GIACOIA JÚNIOR, Osvaldo...21, 22
GUITTON, Jean...13, 14,15,17,19
GUSMÃO, Paulo...06
M
MAIA, Newton...30
MADJAROF, Rosana...21
N
NIETZSCHE, Friedrich...25, 26, 27
P
POPPER, Karl...07,08,09
R
ROHDEN, Huberto...24
S
SANTO, Agostinho...19
SPINOZA, Benedictus...22, 23
V
VASCONCELOS, Arnaldo...06, 07,18, 20
Bibliografia
AZEVEDO, Cláudio. Órion: Filosofia, religião e ciência. Vol. 1. Ciência e religião, história ou lenda? Rio – São Paulo – Fortaleza: ABC editora, 2002.
BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Tradução: Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004.
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CAPRA, Fritjof. Pertencendo ao universo. Tradução de Maria de Lourdes Einchenberger. 10 ed. São Paulo: Editora Cultrix. 1998.
EINSTEIN, Albert. Como vejo o mundo. Tradução de H. P. de Andrade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
GIACOIA JÚNIOR, Osvaldo. Nietzche: fim da metafísica e os pós-modernos. In: Metafísica contemporânea, ob. coletiva, Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 2000.
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Procurador Federal (atualmente Coordenador do Contencioso, Cobrança e Recuperação de Crédito do Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM).
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: LUíS DE FREITAS JúNIOR, . A função da crença na ciência do Direito Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 15 ago 2013, 07:30. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/36251/a-funcao-da-crenca-na-ciencia-do-direito. Acesso em: 23 dez 2024.
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