De acordo com pesquisa do Banco Mundial divulgada em julho de 2003 (Report 26261-BR), 70% dos processos em tramitação no País, simplesmente desaparecem, uma parte devido a acordos extrajudiciais ou ao pagamento. A maior parcela porque o credor não encontra bens e desiste; 48% dos processos não vão além do pedido inicial, porque o credor não dá continuidade (acordo extrajudicial ou desistência por falta de possibilidade de o devedor efetuar o pagamento) ou porque a justiça não encontra o devedor para a citação; 41% dos processos com continuidade não conseguem penhorar os bens, em geral por dificuldade em encontrá-los; 57% dos processos com penhora efetivada foram embargados. Em suma o problema dos processos de execução não é só a morosidade, mas também a sua não conclusão Se os números de 2003 revelavam uma enorme dificuldade de solução dos conflitos ajuizados, agora, decorridos mais de uma década, o quadro se agravou, para um total de 96 milhões de ações acumuladas na justiça
Há pouco o maior tribunal trabalhista do país (Tribunal Regional do Trabalho – TRT/SP) reflete o quadro que se instalou em todo país. Segundo dados do próprio tribunal, seus juízes receberam no ano passado 425.113 novos processos - 30% a mais em relação a 2010. E não conseguiu julgar na mesma velocidade, fazendo o estoque subir para 328.664 ações. Em quatro anos o encalhe aumentou de 326.869 (2010) para 425.112 (2014). Um dos motivos (se não o principal), de acordo com a presidente do TRT paulista, desembargadora Silvia Devonald, o principal motivo foi o aumento do volume de demissões desde 2010. "Apesar de os índices oficiais de desemprego não terem crescido, temos visto um grande número de demissões em todas as áreas", afirmou.
Mas a alta litigiosidade não significa acesso amplo à Justiça, mas do fato de poucas pessoas ou instituições utilizarem demais o Poder Judiciário. Isso ocorre porque a maior parte da população está afastada dos mecanismos formais de resolução de conflito. O novo CPC tem previsão para solução das questões de trabalho através da arbitragem (Lei 9307/96). Na verdade essa justiça especializada nunca teve seu plano “B”, ao contrário a filosofia de seus atores é o “futuro a Deus pertence”. O fato é que: “Se quisermos alcançar resultados nunca antes alcançados, devemos empregar métodos nunca antes testados”. (Francis Bacon).
O processo do trabalho é mais demorado na execução, isso independe do valor. Os ligantes que mais recorrem, são as empresas públicas. Os grandes empregadores também sabem prolongar a vida do processo, para isso contam com um corpo jurídico de ponta, o que é um fator de influência para os recursos. E necessário que seja superado este senão, dando prioridade à oxigenação do processo, até porque é perceptível diante das altas taxas de congestionamento, que o problema é de injunção, e da má aplicação do direito em sede de juízo do trabalho. Quando o juiz erra, cabe recurso e quando acerta, na fase de execução o processo fica estagnado, e na execução forçada, acaba percorrendo um longo caminho nas três instancias trabalhistas. Sem acirrar ou agravar o posicionamento da magistratura trabalhista perante a sociedade, que data venia, (tem apenas 8 por cento de conceituação positiva), ao que se percebe, o novo CPC estará decretando o ano “D” para que novos rumos possam ser tomados por essa justiça.
De extrema maestria na escrita, em seu trabalho “O Estrangeiro”, o escritor e filósofo Albert Camus, nos coloca em litígio com a própria consciência jurídica, frente à morosidade, engessamento e insolência de um judiciário trabalhista, que insiste em colocar o seu principal ator, o trabalhador em segundo plano. Em 1940, com o Estrangeiro já escrito, Camus escreveu: “Estrangeiro - confessar a mim mesmo que tudo me é estrangeiro” (HOLANDA, 1992, p. 78).