RESUMO[1]: A intenção deste artigo é entender e investigar como o trabalho contribui para alterações na saúde mental do trabalhador e as ações preventivas para obtenção da saúde mental. Foi realizada pesquisa bibliográfica considerando as orientações e opiniões dos autores, DEJOURS (2011), ZANELLI, ANDRADE E BASTOS (2004) entre outros, em busca de informações acerca da inter-relação do adoecimento mental e trabalho e possíveis prognóstico para a redução da carga das perturbações mentais. Concluiu-se a importância de buscar uma ação integrada, articulada entre os setores assistenciais e da vigilância, sendo desejável que o atendimento seja feito por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, capacitada a lidar e a dar suporte ao sofrimento psíquico do trabalhador e aos aspectos sociais e de intervenção nos ambientes de trabalho atuando como minimizador de pertubações mentais, de modo a garantir melhor qualidade de vida no trabalho.
Palavras-chave: Saúde Mental. Ambiente organizacional. Adoecimento Mental. Trabalho. Perturbações Mentais. Qualidade de vida.
Introdução
O presente trabalho tem como tema a inter-relação entre Saúde Mental e o trabalho que é uma questão, atualmente, muito debatida devido a importância que as pessoas estão dando à saúde mental e, consequentemente, a melhora da qualidade de vida no ambiente organizacional.
Neste contexto, este estudo teve como finalidade a investigação de como o trabalho, em muitos casos, prejudica a saúde mental desenvolvendo transtornos mentais variados no trabalhador.
1. Qual a definição de saúde e saúde mental?
2. Quais as doenças específicas relacionadas ao trabalho?
3. Em quais aspectos o trabalho contribui para alterar a saúde mental do trabalhador?
4. Quais as ações preventivas para obtenção da saúde mental no trabalho?
Para as respostas a estas questões e alcançar o objetivo de investigar em quais aspectos o trabalho contribui para alterar a saúde mental do trabalhador e as prevenções para o adoecimento da mente no ambiente organizacional, utilizou-se o método de pesquisa bibliográfica, em obras publicadas sobre assuntos que regem o universo mental e organizacional.
Desenvolvimento
A Saúde Mental de uma pessoa está diretamente atrelada à forma como ela reage às cobranças da vida e ao modo como equilibra seus desejos, ambições, capacidades e emoções. Ter saúde mental é estar bem consigo mesmo e com os outros, aceitar as exigências da vida, saber lidar com as boas emoções e também com aquelas desagradáveis, mas que fazem parte da vida, reconhecer seus limites e buscar ajuda quando necessário. O termo saúde mental e saúde recebe diferentes significados:
Para Sigmund Freud (2004), a saúde mental é a “capacidade de amar e trabalhar”. O amor traduzido nos afetos, nos amigos, na família e no erotismo, e o trabalho na profissão, no dinheiro, na classe social, na produção, no consumo, entre outros fatores. A doença mental seria a incapacidade de amar e de trabalhar.
Para a organização Mundial de saúde (WHO,1946) definiu, em 1946, a saúde como o completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente como ausência de doença. Segundo a organização, diversos fatores podem colocar em risco a saúde mental dos indivíduos; entre eles, rápidas mudanças sociais, condições de trabalho estressantes, discriminação de gênero, exclusão social, estilo de vida não saudável, violência e violação dos direitos humanos.
Para Dejours (2007), o trabalho tem importância central na construção da identidade social e da saúde do sujeito, bem como na realização pessoal e no estabelecimento de relações sociais.
O trabalho é uma prática transformadora da realidade que viabiliza a sobrevivência e a realização do ser humano. Por meio do ato e do produto de seu trabalho o ser humano percebe sua vida como um projeto, reconhece sua condição ontológica, materializa e expressa sua dependência e poder sobre a natureza, produzindo os recursos materiais, culturais e institucionais que constituem seu ambiente, e desenvolve seu padrão de qualidade de vida. (ZANELLI, ANDRADE E BASTOS, 2004).
No entanto, o ambiente organizacional é considerado tanto fonte de prazer quanto de sofrimento, ao mesmo tempo que proporciona dignidade, liberdade e bem-estar, gera frustrações, aprisionamento e adoecimento no indivíduo.
As vivências de prazer ocorrem quando o trabalhador encontra espaço para imprimir suas características pessoais na atividade realizada e para se sentir reconhecido por seus colegas e chefia, enquanto as vivências de sofrimento são associadas à padronização de tarefas e rigidez hierárquica (FERREIRA, MC e MENDES, 2001).
O equilíbrio entre as vivências de prazer e de sofrimento e a utilização de estratégias de defesa permitem que o trabalhador mantenha a "normalidade", de forma que não ocorra o adoecimento psíquico (DEJOURS e ABDOUCHELI, 2011).
Nesse sentido, é essencial que os trabalhadores, de modo geral, possam desenvolver estratégias de defesa que permitam o equilíbrio entre as vivências de prazer e de sofrimento no trabalho; noutro caso, estarão expostos ao risco de adoecimento psicológico, como apontam Dejours e Abdoucheli (2011).
Todas as pessoas podem apresentar sinais de sofrimento psíquico em alguma fase da vida, entretanto o aparecimento dos transtornos mentais relacionados ao trabalho possui determinadas características ou configuração de certas tarefas que influenciam na manifestação de processos de adoecimento nos trabalhadores.
A Portaria do Ministério da Saúde (MS) nº 1.339, de 18 de novembro de 1999, estabelece uma lista de ‘Transtornos Mentais e Comportamentais Relacionados com o Trabalho’ e representa um avanço no conhecimento sobre a relação entre aspectos psicológicos da saúde e o trabalho, contribuindo no diagnóstico de patologias associadas com a atividade laboral. Essa lista é denominada de Demência em outras doenças específicas classificadas em outros locais relacionadas com o trabalho (F02.8):
1. Delirium, não sobreposto a demência, relacionado com o trabalho (F05.0).
2. Transtorno cognitivo leve relacionado com o trabalho (F07.0).
3. Transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado relacionado com o trabalho (F09.-).
4. Alcoolismo crônico relacionado com o trabalho (F10.2).
5. Episódios depressivos relacionados com o trabalho (F32.-).
6. Transtorno de estresse pós-traumático relacionado com o trabalho (F43.1).
7. Síndrome de fadiga relacionada com o trabalho (F48.0).
8. Neurose profissional (F48).
9. Transtorno do ciclo sono-vigília relacionado com o trabalho (F51.2).
10. Neurastenia (inclui síndrome de fadiga) (F48.0)
11. Outros transtornos neuróticos especificados (inclui neurose profissional) (F48.8)
12. Síndrome do esgotamento profissional ou sensação de estar acabado - burnout (Z73.0).
Os agravos à saúde mental relacionados ao trabalho representam uma das doenças do trabalho de maior prevalência entre os trabalhadores.
Segundo estimativa da OMS, os transtornos mentais menores acometem cerca de 30% dos trabalhadores ocupados, e os transtornos mentais graves, cerca de 5 a 10%. No Brasil, dados do INSS sobre a concessão de benefícios previdenciários de auxílio-doença, por incapacidade para o trabalho superior a 15 dias e de aposentadoria por invalidez, por incapacidade definitiva para o trabalho, mostram que os transtornos mentais ocupam o terceiro lugar entre as causas dessas ocorrências (BRASIL, 2001).
Em nossa sociedade, o trabalho é mediador de integração social, seja por seu valor econômico (subsistência), seja pelo aspecto cultural (simbólico), tendo, assim, importância fundamental na constituição da subjetividade, no modo de vida e, portanto, na saúde física e mental das pessoas. A contribuição do trabalho para as alterações da saúde mental das pessoas dar-se a partir de ampla gama de aspectos: desde fatores pontuais, como a exposição a determinado agente tóxico, até a complexa articulação de fatores relativos à organização do trabalho, como a divisão e parcelamento das tarefas, as políticas de gerenciamento das pessoas e a estrutura hierárquica organizacional. Os transtornos mentais e dos comportamentos relacionados ao trabalho resultam, assim, não de fatores isolados, mas de contextos de trabalho em interação com o corpo e o aparato psíquico dos trabalhadores.
Tal situação aponta a necessidade de maior integração das áreas de Vigilância em Saúde do Trabalhador, Saúde Mental e Atenção Básica, de modo a contribuir para o reconhecimento e notificação dos Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados ao Trabalho. É preciso dar visibilidade a esses casos, na perspectiva de reordenar os serviços de atenção à saúde mental relacionada ao trabalho e assim, propulsionar ações de prevenção e promoção da saúde dos trabalhadores.
A intervenção sobre as condições de trabalho se baseia na análise ergonômica do trabalho real ou da atividade, buscando conhecer, entre outros aspectos: (COUTO, 2002)
1. conteúdo das tarefas, dos modos operatórios e dos postos de trabalho;
2. ritmo e intensidade do trabalho;
3. fatores mecânicos e condições físicas dos postos de trabalho e das normas de produção;
4. sistemas de turnos;
5. sistemas de premiação e incentivos;
6. fatores psicossociais e individuais;
7. relações de trabalho entre colegas e chefias;
8. medidas de proteção coletiva e individual implementadas pelas empresas;
9. as estratégias individuais e coletivas adotadas pelos trabalhadores.
A participação dos trabalhadores e dos níveis gerenciais é essencial para a implementação das medidas corretivas e de promoção da saúde que envolvam modificações na organização do trabalho. Práticas de promoção da saúde e de ambientes de trabalho saudáveis devem incluir ações de educação e prevenção do abuso de drogas, especialmente álcool.
A prevenção dos transtornos mentais e dos comportamentos relacionados ao trabalho baseia-se nos procedimentos de vigilância dos agravos à saúde e dos ambientes e condições de trabalho. Requer uma ação integrada, articulada entre os setores assistenciais e da vigilância, sendo desejável que o atendimento seja feito por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, capacitada a lidar e a dar suporte ao sofrimento psíquico do trabalhador e aos aspectos sociais e de intervenção nos ambientes de trabalho.
CONCLUSÃO
Diante do exposto, percebe-se que há uma inter-relação entre Saúde Mental e o trabalho e, em muitos casos, este prejudica a saúde mental podendo desenvolver transtornos mentais diversos ao trabalhador.
Nota-se que o trabalho contribui para as alterações da saúde mental dos trabalhadores e que os transtornos mentais relacionados ao trabalho resultam não apenas de fatores isolados, mas da interação do contexto do trabalho e do mecanismo psíquico dos trabalhadores.
A participação dos trabalhadores e dos gestores é indispensável para a implementação de medidas de correção e de promoção da saúde que abrangem alterações na organização do trabalho.
Nesse ínterim, conclui-se a importância de buscar uma ação integrada, articulada entre os setores assistenciais e da vigilância, sendo desejável que o atendimento seja feito por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, capacitada a lidar e a dar suporte ao sofrimento psíquico do trabalhador e aos aspectos sociais e de intervenção nos ambientes de trabalho atuando como minimizador de pertubações mentais, de modo a garantir melhor qualidade de vida no trabalho.
REFERÊNCIAS
COUTO, Hudson de Araújo. Ergonomia Aplicada ao Trabalho em 18 Lições. 1ª edição. Belo Horizonte. Editora Ergo. 2002. 202p.
DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2015.
DEJOURS, C; ABDOUCHELI, E. Itinerário teórico em psicopatologia do trabalho. In BETIOL, M. I. S. (coord). Psicodinâmica do trabalho: contribuição da escola dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo; Atlas, 2011.
FERREIRA, M. C. & MENDES. “Só de pensar em vir trabalhar, já fico de mau humor”: atividade de atendimento ao público e prazer-sofrimento no trabalho, 2001.
Portaria GM /MS N. 1339 / 1999: editada em 18 de novembro de 1999, pelo Ministério da Saúde, institui a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho, publicação adotada como referência dos agravos originados no processo de trabalho no SUS, para uso clínico e epidemiológico (Diário oficial da União nº 221, p. 21-29, de 19 de novembro de 1999, seção I).
Ministério da Saúde do Brasil. Organização Pan-Americana da Saúde / OMS Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde /Ministério da Saúde do Brasil, Representação no Brasil da OPAS/OMS; organizado por Elizabeth Costa Dias ; colaboradores Idelberto Muniz Almeida et al. – Brasília:
Ministério da Saúde do Brasil, 2001.
ZANELLI, ANDRADE E BASTOS. Psicologia, Organização e Trabalho no Brasil, 2004.
[1] Artigo Científico Apresentado ao Instituto Superior de Educação Ibituruna – ISEIB, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Gestão de Saúde Mental
Graduada em Psicologia - FUMEC.
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: ROCHA, Clarissa Azevedo. Inter-relação entre saúde mental e trabalho: perturbações mentais no trabalho Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 16 ago 2019, 04:28. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/53298/inter-relao-entre-sade-mental-e-trabalho-perturbaes-mentais-no-trabalho. Acesso em: 23 dez 2024.
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