RESUMO: Este artigo tem o objetivo de refletir sobre a necessidade do governante de determinado Estado ser um sábio, para somente assim poder representar e gerir seus governados. Embora contemporaneamente todos os cidadãos tem o direito de se candidatarem ao governo de seu respectivo Estado, o que nem sempre se percebe como o ideal para o Estado, que não em poucas vezes acaba representado por cidadãos que são votados e escolhido por serem famosos na sociedade, mas não são os indivíduos mais sábios e preparados intelectualmente para determinado cargo de representação. O que justifica a análise e estudo do pensamento grego antigo, para trazermos hipóteses de como deveria ser o governante ideal para os dias de hoje. Nesse sentido, problematiza-se ao longo do texto a discussão referente se (i) o governante deve expressar o ideal de sábio, (ii) como qualificar alguém como sábio ou ignorante e (iii) todos são capazes de alcançar a condição de sábio. Este trabalho utiliza a metodologia de pesquisa bibliográfica e referencial teórico com base na obra A república (ou Da justiça) e As Leis de Platão.
PALAVRAS-CHAVES: Estado; Governo; Platão; Representar; Sábio.
RÉSUMÉ: Cet article a pour but de réfléchir à la nécessité pour le dirigeant d'un État donné d'être sage, afin de pouvoir représenter et gérer ses gouvernés. Bien qu'à l'heure actuelle, tous les citoyens aient le droit de se présenter au gouvernement de leur État respectif, ce qui n'est pas toujours perçu comme l'idéal pour l'État, qui finit souvent par être représenté par des citoyens qui sont votés et choisis pour leur notoriété dans la société, mais qui ne sont pas les individus les plus sages et intellectuellement préparés pour une certaine position de représentation. Cela justifie l'analyse et l'étude de la pensée grecque antique, afin d'apporter des hypothèses sur la façon dont le dirigeant idéal devrait être pour aujourd'hui. En ce sens, la discussion sur la question de savoir si (i) le dirigeant doit exprimer l'idéal du sage, (ii) comment qualifier quelqu'un de sage ou d'ignorant et (iii) si tout le monde est capable d'atteindre la condition de sage est problématisée tout au long du texte. Ce document utilise la méthodologie de la recherche bibliographique et de la référence théorique basée sur les œuvres La République (ou De la Justice) et Les Lois de Platon.
MOTS-CLÉS: État; Gouvernement; Platon; Représentation; Sage.
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. O governante deve expressar o ideal de sábio. 3. Como qualificar alguém como sábio ou ignorante. 4. Todos são capazes de alcançar a condição de sábio. 5. Considerações finais. 6. Referências bibliográficas.
1 INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem o objetivo de refletir sobre a necessidade do governante de determinado Estado ser um sábio, para somente assim poder representar e gerir seus governados.
Embora contemporaneamente todos os cidadãos tem o direito de se candidatarem ao governo de seu respectivo Estado, o que nem sempre se percebe como o ideal para o Estado, que não em poucas vezes acaba representado por cidadãos que são votados e escolhido por serem famosos na sociedade, mas não são os indivíduos mais sábios e preparados intelectualmente para determinado cargo de representação. O que justifica a análise e estudo do pensamento grego antigo, para trazermos hipóteses de como deveria ser o governante ideal para os dias de hoje.
Nesse sentido, ao expormos o desenvolvimento da pesquisa, destacamos três angustias que trataremos ao longo do texto: (i) o governante deve expressar o ideal de sábio, (ii) como qualificar alguém como sábio ou ignorante e (iii) todos são capazes de alcançar a condição de sábio. E elaborado pela metodologia de pesquisa bibliográfica e referencial teórico com base na obra A república (ou Da justiça) e As Leis de Platão.
2 O GOVERNANTE DEVE EXPRESSAR O IDEAL DE SÁBIO
A prática da educação para os povos que atingem um certo grau de desenvolvimento é fundamental para a sua consolidação. A educação é o meio que determinada comunidade, transmite e conserva sua cultura e, peculiaridades espirituais e físicas. Possibilitando de forma consciente evoluir a natureza física dos seus cidadãos e suas qualidades, aprimorando e elevando a capacidade a um nível superior.
Werner Jaeger ao tratar da paideia grega, ensina que:
A educação não é uma propriedade individual, mas pertence por essência à comunidade. O caráter da comunidade imprime-se em cada um dos seus membros e é no homem, muito mais que nos animais, fonte de toda a ação e de todo comportamento. Em nenhuma parte o influxo da comunidade nos seus membros tem maior força que que no esforço constante de educar, em conformidade com o seu próprio sentir, cada nova geração. A estrutura de toda a sociedade assenta nas leis e normas escritas e não escritas que a unem e unem os seus membros. Toda educação é assim o resultado da consciência viva de uma norma que rege uma comunidade humana, que se trate da família, de uma classe ou de uma profissão, que se trate de um agregado mais vasto, como um grupo étnico ou um Estado.
A educação participa na vida e no crescimento da sociedade, tanto no seu destino exterior como na sua estruturação interna e desenvolvimento espiritual; e, uma vez que o desenvolvimento social depende da consciência dos valões que regem vida humana, a história de educação está essencialmente condicionada pela transformação dos valores válidos para cada sociedade. À estabilidade das normas válidas corresponde a solidez dos fundamentos da educação. Da dissolução e destruição das normas advêm a debilidade, a falta de segurança e até impossibilidade absoluta de qualquer ação educativa.[1]
Nesse sentido, para Platão (Arístocles) de Atenas (428 a.C a 347 d.C), o governante deve expressar o ideal de sábio. Dessa forma o governo deverá ser exercido pelos melhores e mais sábios cidadãos da pólis. Sendo que o governo ideal é o governado pelos filósofos, o governo dos “filósofos-reis”.
Conforme é tratado na obra A república (ou Da justiça)[2] elabora-se o idealismo do governo e governante perfeito, a idealização de uma realidade política perfeita (justa); uma sociedade ordenada que frui da justiça e da correta administração.
Destarte, requer-se que o governante expresse o ideal de sábio, capacitado para o bom exercício de sua função. Através “alegoria da caverna” de Platão, entre outras interpretações podemos apresentar como reflexão para o modelo da educação para o governante ideal e sábio.[3]
Na “alegoria da caverna” Platão compara o efeito da educação e da falta da educação na nossa natureza, podemos perceber que, enquanto o cidadão estiver dentro da caverna, no “mundo sensível”, não enxergará a verdadeira luz e não descobrirá a verdade ideal; permanecendo assim, no mundo das sombras. Entretanto, ao sair da caverna, é a ascensão ao mundo das ideias, inteligível e superior; onde se pode perceber a verdade.[4]
O “a-luno”, que significa ausência de luz, é aquele cidadão que ainda está em formação e precisa ser guiado pela luz da sabedoria, que é a luz do sol; permitindo o conhecimento da realidade e para a prática do bem. Guiado (iluminado) pela sabedoria (a luz do sol), o cidadão sai da caverna e ascende em busca do conhecimento da verdade, do saber e da virtude; trazendo-lhe sabedoria e ética na família e para a pólis.
O que acarretará no cidadão que ao exercer a política e até mesmo cargos no governo, será por ter recebido a educação da pólis, que lhe proporcionou o alcance do conhecimento, da vida boa e da eudaimonia; sendo que com essa educação e conhecimento (sabedoria), o cidadão descerá à caverna para trazer os seus semelhantes para a luz do sol, para que todos possam receber o conhecimento e realizarem suas virtudes na pólis, que será formada e constituída por cidadãos sábios que refletirá numa pólis ética, justa e ordenada.
É de conhecimento em Platão, que há grande dificuldade na administração pública, por isso apresenta pedagogicamente como se deve treinar os cidadãos para que quando se tornarem governantes não sejam tiranos; devendo assim, se expressar o ideal de sábio para tanto.
Um dos objetivos de Platão é a justiça social, compreendido como ser justo e sábio. Dessa forma o governante deve ter formação integral: corpo, mente e espírito. Com formação pedagógica em noções de educação física, música, aritmética, geometria, astronomia e matérias afins que aprimorem o cidadão, num conjunto que terá como fim o Bem em si, que conduzirá a alma a serviço da contemplação do Bem e do Ser. Onde a ciência do ensino prestará um serviço prático a todos os cidadãos na pólis.
Pelo exposto, a “sofocracia” (sophrosine, virtude da moderação) é o governo dos sábios; que se dá pela teoria filosófica em Platão, na obra A república, que idealiza um sistema político governado por filósofos reis, o governo dos sábios.
3 COMO QUALIFICAR ALGUÉM COMO SÁBIO OU IGNORANTE
As classes, compostas pelos cidadãos com almas de bronze e de ferro conforme Platão leciona, serão destinados às atividades econômicas e laborais na pólis. Todavia serão educadas, com a virtude da temperança, para se submeterem ou controlarem os desejos inferiores da alma, em prol do equilíbrio, ordenando-se para a sua conservação.
De forma que, desde crianças, os filhos dos cidadãos serão predestinados as suas respectivas classes (ouro, prata, bronze e ferro). As crianças com almas de bronze e ferro oriunda de seus pais, serão destinados a reprodução na subsistência coletiva. As crianças com almas de prata e de ouro, destinados por natureza, serão encaminhados às artes militares e à política, recebendo uma enriquecedora educação.
Desse modo, o projeto da educação cultivará desde criança as virtudes da coragem, liberalidade, santidade, temperança etc. Através do hábito, transformando essa educação nestas virtudes na segunda natureza do corpo humano. Esclarecemos que para o período da Grécia antiga, em que Platão era contemporâneo, a educação aos guardiões, como extensamente tratado em sua obra, tendo em vista o período de guerras, era essencial se ter sábios guerreiros para a defesa da pólis.
Os métodos aplicados para a formação de sábios cidadãos, partiam desde a utilização da música (mousiké) e da poesia, com educação infantil através de canções edificantes, para se despertar coragem, valores sóbrios e amor à pátria. E da ginástica (gymnastiké), para o desenvolvimento das virtudes da alma, flexibilizando e fortalecendo o corpo, porque um corpo fisicamente deficiente é um obstáculo ao desabrochar das virtudes da alma.
Cumpre, portanto, exercitá-los nela seriamente desde a infância e no decurso da vida. (...)No meu ver, não é o corpo, por melhor constituído que seja, que por sua virtude própria torna a alma boa, mas, ao contrário, é a alma que, quando boa, confere ao corpo, por sua virtude própria, toda a perfeição de que ele é capaz.[5]
Evitando o excesso com a ginástica ao corpo, porque poderá torna-se molesto na realização dos afazeres domésticos, expedições militares e no comércio na pólis; além de prejudicar o estudo e a reflexão da alma interior. Da mesma forma que o cultivo excessivo da música enfraquece o espírito guerreiro do guardião. Destarte que o temperamento ideal resulta no meio-termo, o equilíbrio entre os dois elementos da alma, o corajoso e o filosófico.
Para estes dois elementos da alma, o corajoso e o filosófico, um deus, aparentemente, diria eu, deu aos homens duas artes, a música e a ginástica; ele não as deu para a alma e o corpo, a não ser acidentalmente, mas para aqueles dois elementos, a fim de que se harmonizem entre si, quando tendidos ou afrouxados até o ponto conveniente.[6]
Avançando no treinamento dos guardiões, os que demonstram a alma de ouro, com a virtude da sabedoria, amadurecida pela educação e pelo tempo, serão imbuídos ao governo da pólis, são os filósofos. Progredindo, serão submetidos a estudos para elevarem a alma para a contemplação da ideia do Bem. Com etapas pedagógicas bem definidas, de acordo com a idade e quando alcançarem 50 anos obteriam o exercício de cargos públicos.
Sendo que a educação da dialética, superior a todas disciplinas (física, geometria, lógica, matemática, astronomia e música), considerada a ciência superior, é essencial aos governantes da pólis. Por ser o meio que possibilita o exercício filosófico da abstração dos conhecimentos ilusórios que vêm dos sentidos e estabelecer as conexões através da razão, que provem a verdade.
Para qualificar um cidadão como sábio e não ignorante, Platão entendia que a educação deveria durar 50 anos. Iniciando dos 3 aos 6 anos, as crianças participariam de jogos educativos, em jardins destinados especificamente a elas e com acompanhamento de um adulto.
Sendo que a educação, propriamente dita, começaria aos 7 anos. De acordo com a Paideia grega, aplicada no desenvolvimento da tradição clássica grega, evoluindo e enriquecendo com a cultura filosófica.
No período dos 10 aos 13 anos, a criança deveria inicialmente aprender a ler e a escrever, posteriormente estudar autores clássicos. Apesar de que Platão criticava os poetas como Homero, considerando que os mitos pervertiam as crianças, não ensinavam as virtudes e poderiam formar uma ideia maliciosa das divindades. Do período dos 13 aos 16 anos, a música assume lugar de destaque, para a assimilação espiritual e o desabrochar dentro de si, granjeando a satisfação pelo belo e repugnância ao feio; preparando para na fase adulta, saber desvelar e reconhecer a verdade.
Aprofundado a partir dos 16 anos em diante, o estudo das matemáticas foi sempre importante em todos os níveis, começando pelo mais elementar. Afora a geometria, que tinha grande importância para calcular os volumes dos corpos; o estudo da astronomia para adquirir os conhecimentos mínimos para o uso do calendário. Todavia, precisamente as matemáticas que provam os espíritos mais aptos a tornarem-se um dia dignos da filosofia. Selecionando os futuros filósofos, formando-os e preparando-os para os seus futuros cargos na pólis.
Entre os 17 e 18 anos os estudos intelectuais são interrompidos por cerca de dois a três ano, para os jovens exercerem o serviço militar, porque estafa física, como a fadiga e o sono, impedem os estudos intelectuais.
Após o serviço militar, com 20 anos de idade é realizado a primeira seleção, onde os menos dotados são destinados ao exército; na segunda seleção, são destinados os jovens às diversas profissões e ofícios civis na pólis e; por último, apenas os mais dotados iniciam os estudos superiores, ainda não plenamente filosóficos, por mais 10 anos serão de estudos das ciências em nível superior. Com o estudo da aritmética, astronomia, geometria e música, suprimindo as experiências práticas e tornando-se totalmente racionais. O estudo das matemáticas é para a formação instrumental dos filósofos, para os problemas de cálculo, encaminhá-los a um grau superior de abstração; formando um espírito capaz de receber a verdade inteligível. Além do papel do estudo literário, artístico e da física, para personalidade e harmonia do filósofo como todo, entretanto as matemáticas levam a estrutura cultural à busca da verdade.
Apenas aos 30 anos de idade, ao fim do ciclo de matemáticas transcendentes e de uma última seleção, se inicia os estudos filosóficos com a dialética, a discussão do problema do bem e do mal, do justo e do injusto, que caminham para a sabedoria e o conhecimento da verdade. Após cinco anos, os estudantes estarão preparados para conduzir à verdade. Alcançando este nível intelectual, serão capazes de ultrapassar a percepção dos sentidos e penetrar o próprio Ser.
Por mais quinze anos, o homem formado deverá adquirir experiência participando na vida ativa da pólis. A educação estará completa aos cinquenta anos de idade, se sobrevivido e superado todas os níveis. Possivelmente almejando-se a suprema meta que é a ideia do Bem, podendo assim exercer um cargo na direção da pólis, não por honraria, mas como um dever para com a pólis, tendo em vista toda a educação que foi permitida pela pólis, agora em débito deverá governá-la.
A educação de uma vida inteira, para formar um pequeno grupo de governantes-filósofos (sábios), devidamente preparados para governarem a pólis.
Todo o sistema de educação está baseado na procura da verdade, que definirá o verdadeiro filósofo e também o verdadeiro político, destacando-se o cidadão sábio para governar a pólis.
Os cidadãos adultos, privilegiadamente compostos por alma de ouro, são os sábios, prevalecendo a hegemonia do elemento racional, sendo conhecedores da virtude, em especial ao conhecimento da Justiça e adquirem as condições através da educação exposta acima, para governarem a pólis. Dessa forma, devendo-se tornarem reis-filósofos, soberanos deste mundo pela sua sabedoria em governar o mundo, denominado também por “sofocracia”, o poder dos sábios. Os reis-filósofos são a classe que delibera o bem aos interesses gerais, prerrogativa nobre e reservada à inteligência política:
Enquanto os filósofos não forem reis nas cidades, ou aqueles que hoje denominamos reis e soberanos não forem verdadeira e seriamente filósofos, enquanto o poder político e a filosofia não convergirem num mesmo indivíduo, enquanto os muitos caracteres que atualmente perseguem um ou outro destes objetivos de modo exclusivo não forem impedidos de agir assim, não terão fim, meu caro Glauco, os males das cidades, nem, conforme julgo, os do gênero humano, e jamais a cidade que nós descrevemos será edificada.
Decerto que os cidadãos sábios assumem a aceitação da dúvida, refletem e admitem a necessidade de se indagar, estudar e então, filosofar para se alcançar a verdade. Os cidadãos ignorantes estão de acordo com os fatos postos como se fossem a verdade absoluta e não criticam o estabelecido por antes deles.
4 TODOS SÃO CAPAZES DE ALCANÇAR A CONDIÇÃO DE SÁBIO
Para Platão, nem todos são capazes de alcançar a condição de sábio. Diferentemente do pensamento em Kant, em que a vontade, a intensão e o trabalho proferido pelo ser humano, disposto a alcançar a sabedoria por meio do esforço, poderá obter o conhecimento de um sábio. Entretanto para o pensamento em Platão, o ser humano nasce com o ouro na alma, esta virtude está a priori e será educada para florescer de dentro do ser e não produzida no mundo sensível para dentro da alma inteligível; desse modo, o ser humano nasce com a alma de sábio e deverá ser treinado e educado para utilizá-la na pólis.
Conforme Platão leciona, assim como a sociedade, o corpo e a alma humana são compostos por três naturezas cada indivíduo. Sendo que os indivíduos são todos irmãos no mundo sensível em que se encontram, na terra. Todavia, ao nascerem, alguns receberam um tipo de alma: ouro, prata, bronze ou, ferro. De forma que, cada tipo de alma corresponde a uma virtude e função do homem na terra. A alma de ouro corresponde a razão, pertence à cabeça; a alma de prata corresponde a vontade, pertence ao peito; as almas de bronze e ferro correspondem ao desejo ou ao prazer, ao baixo ventre. Além de que cada parte de determinada alma representa um ideal ou virtude. A razão deverá aspirar à sabedoria, a vontade deverá mostrar coragem e os desejos deverão ser controlados a fim de que se possa exercitar a temperança.
Dessa forma, quando as três partes agirem de forma ordenada como um todo, teremos a sociedade e o cidadãos harmônicos, íntegros e justos.
Aos cidadãos com alma de ouro convêm as funções de governo, aos de alma de prata convém as funções de guarda da pólis, e aos de alma de bronze e ferro as demais profissões manuais da pólis. Entretanto, os cidadãos de alma de ouro e de prata poderão trocar os filhos dos artesãos e lavradores, par ocorrer rotatividade no governo da pólis e evitar a formação de classes sociais.
Enquanto os filósofos não forem reis nas cidades, ou aqueles que hoje denominamos reis e soberanos não forem verdadeira e seriamente filósofos, enquanto o poder político e a filosofia não convergirem num mesmo indivíduo, enquanto os muitos caracteres que atualmente perseguem um ou outro destes objetivos de modo exclusivo não forem impedidos de agir assim, não terão fim, meu caro Glauco, os males das cidades, nem, conforme julgo, os do gênero humano, e jamais a cidade que nós descrevemos será edificada.[7]
Como nem todas almas são de ouro e assim não têm as condições intrínsecas de vislumbrar e almejar a condição de sábios, a sociedade idealizada em Platão contem três classes sociais distintas. A classe dos artífices e comerciantes, composta por cidadãos com a virtude da temperança; a classe dos guerreiros, composta por cidadãos com a virtude da coragem, e a classe dos filósofos composta por cidadãos com a virtude da sabedoria.
De forma que, se a classe dos filósofos governarem, a classe dos guerreiros se encarregarem da defesa e a classe dos artífices e comerciantes se mantiverem as duas outras classes, realizar-se-á a harmonia e equilíbrio e a virtude da justiça poderá ser alcançada.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme a sabedoria do pensamento em Platão exposto, de certa forma, podemos dizer que os seres humanos nascem com a alma predisposta para determinadas virtudes. Sendo que a pólis deverá treinar e educar seus jovens, para que quando atingirem a fase adulta, possam deliberar as suas virtudes ao máximo e atingirem a vida boa, a eudaimonía.
Com a finalidade de estar ordenado consigo mesmo: corpo e alma e, com a pólis, para realizar o governo através da virtude da razão (sabedoria) e sendo justo para que todos na pólis tenham liberdade. Dessa forma, todos serão livres e poderão exercer as suas respectivas virtudes de acordo com as suas almas de nascença e enriquecer a pólis de acordo com o treinamento educação dos seus respectivos ofícios, correspondente a cada tipo de alma.
O governo ideal em Platão é do filósofo rei, o cidadão que nasceu com a alma composta de ouro, que corresponde a virtude da razão, a sabedoria; que será treinado e educado desde a sua infância até os 50 anos de idade e será constrangido a governar a pólis como dever de acordo e pela sabedoria recebida, educado e treinado pela sua pólis, compreendendo a humanidade, a paidéia grega.
Dessa forma, a pólis que proporciona os meios necessários para a excelência das virtudes dos cidadãos, os cidadãos que expressarem o ideal (virtude) de sábio, serão eleitos e devidamente encaminhados pela pólis aos cargos públicos de governo no Estado.
De modo que, isto refletirá em toda a sociedade, desde a realização pessoal do cidadão que poderá exercer a sua virtude em excelência e até ao Estado, que será devidamente governado, de forma ordenada, o que também garantirá que os demais cidadãos possam ter os meios para treinarem, desenvolverem e exercerem as suas virtudes para atingirem a sua excelência e consequentemente vislumbrarem a eudaimonía. Contudo, a pólis será justa e harmônica a todos, com um governante sábio.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JAEGER, Werner. Paideia: a formação do homem grego; tradução Artur M. Pereira., 6ª ed., - São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013.
MAIRE, Gaston. Platão. – Lisboa: Edições 70, 2002.
PLATÃO; A república. Vol. 1. - São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1965 a.
PLATÃO; A república. Vol. 2. - São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1965 b.
PLATÃO, A república (ou Da justiça); tradução Edson Bini., 3ª ed. – São Paulo: Edipro, 2019.
PLATÃO, As leis; tradução Edson Bini. 2ª ed. – São Paulo: Edipro, 2010.
[1] JAEGER, Werner. Paideia: a formação do homem grego; tradução Artur M. Pereira. 6ª ed. - São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013, p. 2.
[2] PLATÃO, A república (ou Da justiça); tradução Edson Bini. 3ª ed. – São Paulo: Edipro, 2019.
[3] PLATÃO, A república (ou Da justiça); tradução Edson Bini. 3ª ed. – São Paulo: Edipro, 2019, 514a, p. 323.
[4] MAIRE, Gaston. Platão. – Lisboa: Edições 70, 2002, p. 82-91.
[5] PLATÃO; A república. Vol. 1. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1965a, p. 177.
[6] PLATÃO; A república. Vol. 1. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1965a, p. 187.
[7] PLATÃO; A república. Vol. 1. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1965a, p. 237.
Mestrando em Filosofia do Direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Pós-graduado (lato sensu) em Direito Processual Civil, Direito Civil e Empresarial e, Direito e Negócios Imobiliários na Faculdade Damásio/IBMEC-SP, e Filosofia e Teoria Geral do Direito na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Bacharel em Direito na Universidade Paulista. Advogado.
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: NETO, Gilberto Davanço. O governante ideal para o Estado em Platão Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 01 set 2021, 04:38. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/57157/o-governante-ideal-para-o-estado-em-plato. Acesso em: 23 dez 2024.
Por: WALKER GONÇALVES
Por: Benigno Núñez Novo
Por: Mirela Reis Caldas
Por: Juliana Melissa Lucas Vilela e Melo
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