MARCELO JOSÉ BOLDORI[1]
(orientador)
RESUMO: Este trabalho abordou o conflito normativo entre o Código Penal e a Lei de Execução Penal no Brasil, focando na soma de penas de reclusão e detenção e suas implicações na execução das penas. O objetivo da pesquisa foi analisar as lacunas e divergências presentes na legislação atual, identificar as principais tendências jurisprudenciais e propor soluções para harmonizar as normativas. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e a análise jurisprudencial, explorando as interpretações doutrinárias e decisões dos tribunais superiores. Os resultados indicaram que a falta de diretrizes claras sobre a unificação das penas gerou insegurança jurídica e dificuldades na ressocialização dos condenados, além de contribuir para a superlotação carcerária e inconsistências na concessão de benefícios. A conclusão apontou para a necessidade urgente de uma reforma legislativa que harmonize o Código Penal e a Lei de Execução Penal, promovendo uma aplicação mais justa nas penas, com foco na ressocialização dos apenados e na redução das disparidades no sistema prisional.
Palavras-Chave: Execução penal. Unificação de penas. Ressocialização. Insegurança jurídica. Reforma legislativa.
ABSTRACT: This study addressed the normative conflict between the Penal Code and the Law of Penal Execution in Brazil, focusing on the aggregation of reclusion and detention sentences and their implications for sentence execution. The objective of the research was to analyze the gaps and divergences present in current legislation, identify the main jurisprudential trends, and propose solutions to harmonize the norms. The methodology used was bibliographic research and jurisprudential analysis, exploring doctrinal interpretations and decisions of higher courts. The results indicated that the lack of clear guidelines on the unification of sentences generated legal uncertainty and difficulties in the resocialization of convicts, in addition to contributing to prison overcrowding and inconsistencies in the granting of benefits. The conclusion pointed to the urgent need for legislative reform to harmonize the Penal Code and the Law of Penal Execution, promoting a fairer and more effective application of sentences, focusing on the resocialization of inmates and reducing disparities in the prison system
Keywords: Penal execution. Sentence unification. Resocialization. Legal uncertainty. Legislative reform.
1 INTRODUÇÃO
A interseção entre o Código Penal e a Lei de Execução Penal, no que tange à soma de penas de reclusão e detenção, apresenta um desafio no sistema jurídico brasileiro. Este conflito normativo não apenas gera dúvidas quanto à correta aplicação das penas, mas também impacta a execução penal, comprometendo a uniformidade e a justiça na aplicação das leis penais. A compreensão dessa disparidade assegura que as penas sejam aplicadas em conformidade com os princípios constitucionais e legais, refletindo a necessidade de um sistema penal.
O presente estudo visa explorar as implicações desse conflito normativo, analisando como ele influencia o processo de execução das penas e afeta diretamente a ressocialização dos apenados. Conforme Andrade et al. (2024) a reintegração social do preso é um dos maiores desafios enfrentados pelo sistema penitenciário brasileiro, devido às lacunas e inconsistências presentes na legislação. É imprescindível que se investiguem as diferentes interpretações doutrinárias e jurisprudenciais que emergem desse cenário, a fim de propor soluções que possam mitigar as disparidades existentes e promover uma execução penal justa.
De acordo com Andrade et al. (2024), "a reintegração social do preso é um dos desafios enfrentados pelo sistema penitenciário brasileiro, devido às lacunas e inconsistências presentes na legislação" (ANDRADE et al., 2024, p. 34). Esse cenário reforça a importância de investigar as diferentes interpretações doutrinárias e jurisprudenciais que emergem do conflito normativo entre o Código Penal e a Lei de Execução Penal, com o objetivo de propor soluções que possam mitigar essas disparidades e promover uma execução penal mais equitativa.
O conflito entre essas duas normativas não é apenas teórico; ele possui implicações práticas que afetam a vida dos condenados e a dinâmica das instituições prisionais. Assis (2022) destaca que "a insegurança jurídica gerada pelas interpretações conflitantes dessas normativas contribui para agravar os problemas no sistema prisional, dificultando a implementação de uma execução penal que respeite os princípios da dignidade humana e da ressocialização" (ASSIS, 2022, p. 45). Essa insegurança jurídica compromete a uniformidade na aplicação das penas, resultando em tratamentos desiguais para condenados em situações semelhantes.
Baratta (2016) argumenta que a ressocialização do condenado deve ser compreendida como um processo integral, que envolve não apenas a aplicação de penas, mas também a superação de obstáculos legislativos e judiciais. Ele alega que:
"A ressocialização do condenado deve ser vista não apenas como uma questão de aplicação de penas, mas como um processo integral que envolve a superação de obstáculos legislativos e judiciais" (BARATTA, 2016, p. 58). O conflito entre as normativas, reforça a necessidade de uma legislação penal clara e coerente, que promova a ressocialização.
Mirabete (2020) aponta que a aplicação inconsistente das normativas pode comprometer a justiça no cumprimento das penas, gerando desigualdades na progressão de regime e na concessão de benefícios aos apenados. Essa desigualdade não só prejudica o processo de ressocialização, mas também contribui para a superlotação carcerária, um problema crítico no sistema prisional brasileiro. Como Greco (2021) observa, "a falta de clareza nas normativas e a aplicação desigual das penas exacerbam a crise no sistema prisional, dificultando ainda mais a implementação de políticas de ressocialização" (GRECO, 2021, p. 72).
O presente estudo busca contribuir para o debate acadêmico e jurídico sobre a necessidade de uma maior coesão entre o Código Penal e a Lei de Execução Penal, visando a promover uma execução penal mais justa e equitativa no Brasil.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica, a abordagem metodológica baseia-se na análise e interpretação de materiais acadêmicos e jurídicos já publicados. A pesquisa bibliográfica é apropriada para investigar o conflito normativo entre o Código Penal e a Lei de Execução Penal no que se refere à soma de penas de reclusão e detenção, uma vez que permite a revisão crítica de teorias, conceitos e jurisprudências já estabelecidos na literatura.
A pesquisa teve início com a seleção de fontes bibliográficas relevantes, incluindo livros, artigos científicos, teses, dissertações e documentos legais. Foram utilizados como critérios de seleção a relevância dos textos para o tema proposto e a representatividade dos autores no campo do Direito Penal e da Execução Penal. Entre os autores consultados estão Beccaria (2013), Baratta (2016), Mirabete (2020), além de legislações como o Código Penal Brasileiro e a Lei de Execução Penal.
A coleta de dados se deu por meio da leitura crítica e do fichamento das obras selecionadas, com especial atenção para as interpretações doutrinárias e jurisprudenciais relacionadas ao conflito normativo. Durante a análise, foram identificados os principais pontos de divergência e convergência entre os autores, bem como as implicações práticas dessas divergências no sistema de execução penal brasileiro.
A análise dos dados consistiu na sistematização dos argumentos e das interpretações encontradas na literatura, buscando-se identificar padrões, lacunas e contribuições para a compreensão do conflito normativo entre o Código Penal e a Lei de Execução Penal. As informações coletadas foram organizadas de forma a permitir uma discussão crítica e reflexiva sobre as consequências desse conflito para a execução das penas no Brasil.
A pesquisa também incluiu a revisão de jurisprudências relevantes, a partir de publicações acadêmicas e relatórios de decisões judiciais. Essa etapa permitiu o confronto entre a teoria e a prática judicial, enriquecendo a análise com exemplos concretos de como o conflito normativo tem sido tratado pelos tribunais brasileiros.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Análise das Disposições Legais Relacionadas à Soma de Penas de Reclusão e Detenção
O sistema penal brasileiro é regido por normas que geram conflitos interpretativos, especialmente no que tange à soma de penas de reclusão e detenção. O Código Penal Brasileiro, em seus artigos que tratam das penas privativas de liberdade, estabelece critérios para a aplicação de penas de reclusão e detenção, considerando a natureza e a gravidade do crime cometido. A Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/1984) regula a forma como essas penas devem ser executadas, buscando garantir a humanização do cumprimento das penas e a ressocialização dos condenados.
De acordo com o Código Penal, a pena de reclusão é aplicável em crimes de maior gravidade, usualmente aqueles cometidos com dolo, enquanto a detenção é prevista para crimes de menor gravidade, podendo ser aplicada em casos de crimes dolosos ou culposos (BRASIL, 1984). Contudo, o desafio surge quando se trata da soma dessas penas para indivíduos que são condenados por múltiplos crimes, e há a necessidade de unificação das penas para a definição do regime inicial de cumprimento.
A Lei de Execução Penal estabelece diretrizes para a execução das penas, mas não oferece um caminho claro para a unificação das penas de reclusão e detenção. Essa lacuna normativa tem gerado interpretações por parte dos operadores do direito, resultando em decisões judiciais diversas e, muitas vezes, contraditórias. Segundo Baratta (2016), "a falta de clareza nas normativas sobre a soma de penas de diferentes naturezas contribui para a insegurança jurídica e compromete a aplicação da justiça penal". Essa insegurança jurídica é evidente nos casos em que a aplicação das penas não segue um padrão uniforme, o que pode levar a tratamentos desiguais para condenados em situações semelhantes.
Mirabete (2020) destaca que a ausência de disposições legais claras sobre a soma de penas no Código Penal e na Lei de Execução Penal pode resultar em dificuldades na progressão de regime e na concessão de benefícios aos apenados. A prática judicial tem mostrado que a falta de harmonização entre essas normativas impacta diretamente a eficácia da execução penal, prejudicando a ressocialização dos condenados. Para o autor:
"A divergência entre o Código Penal e a Lei de Execução Penal em relação à soma de penas de reclusão e detenção cria obstáculos para a execução penal, resultando em decisões judiciais inconsistentes e, consequentemente, na aplicação desigual da justiça" (MIRABETE, 2020, p. 145).
O conflito normativo entre o Código Penal e a Lei de Execução Penal evidencia a necessidade de uma reforma legislativa que possa clarificar as disposições sobre a soma de penas, garantindo assim uma aplicação mais justa das penas privativas de liberdade. Como observa Assis (2022), "a harmonização das normativas é essencial para assegurar a uniformidade na aplicação das penas e, por extensão, a credibilidade do sistema de justiça penal". Essa harmonização, contudo, demanda um esforço conjunto dos legisladores, operadores do direito e da sociedade civil, a fim de construir um sistema penal mais coerente.
3.1.1 Disposições do Código Penal
O Código Penal Brasileiro, instituído pelo Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, é a principal norma que regula a aplicação das penas privativas de liberdade no Brasil. No que se refere à reclusão e detenção, o Código Penal estabelece critérios para a imposição dessas penas, diferenciando-as de acordo com a gravidade dos crimes cometidos. De acordo com o artigo 33 do Código Penal, a pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto, enquanto a pena de detenção, em regra, é cumprida em regime semiaberto ou aberto (BRASIL, 1940).
A distinção entre reclusão e detenção no Código Penal é feita com base na gravidade dos delitos. A reclusão é aplicada para crimes mais graves, geralmente aqueles cometidos com dolo, como homicídio, latrocínio e estupro. Já a detenção é reservada para crimes de menor gravidade, que podem ser dolosos ou culposos, como a lesão corporal leve e a ameaça (BRASIL, 1940). Essa distinção é para o entendimento da execução penal, pois influencia diretamente a definição do regime inicial de cumprimento das penas.
O artigo 76 do Código Penal, dispõe que no concurso de infrações, executar-se-á primeiramente a pena mais grave.
No entanto, o Código Penal não apresenta uma regulamentação específica sobre a soma das penas de reclusão e detenção, o que gera incertezas quanto à unificação dessas penas para a definição do regime de cumprimento. A falta de clareza nessa área pode levar a interpretações divergentes e decisões judiciais inconsistentes. Como alega Bittencourt (2019), "a ausência de diretrizes claras no Código Penal sobre a soma de penas de reclusão e detenção contribui para a insegurança jurídica e a aplicação desigual das penas".
Essa falta de regulamentação sobre a unificação das penas no Código Penal tem levado a uma aplicação prática que muitas vezes depende da interpretação individual dos juízes, o que pode resultar em decisões dispares. A jurisprudência brasileira tem buscado, em alguns casos, criar critérios para a soma de penas, mas a ausência de uma norma específica no Código Penal dificulta a criação de uma jurisprudência uniforme.
3.1.2 Disposições da Lei de Execução Penal
A Lei de Execução Penal (LEP), instituída pela Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, é o principal instrumento normativo que regula a forma como as penas privativas de liberdade devem ser executadas no Brasil. A LEP estabelece diretrizes destinadas a garantir a humanização do sistema prisional, a ressocialização dos condenados e a proteção dos seus direitos fundamentais durante o cumprimento da pena (BRASIL, 1984).
Á execução das penas de reclusão e detenção, a Lei de Execução Penal busca regulamentar o cumprimento das penas de maneira que seja respeitada a dignidade dos condenados, independentemente do tipo de pena aplicada. A LEP, em seus artigos 82 e seguintes, especifica os regimes de cumprimento das penas e os critérios para a progressão entre os regimes, mas não aborda diretamente a unificação de penas de reclusão e detenção (BRASIL, 1984).
Essa omissão na LEP sobre a unificação de penas de diferentes naturezas tem gerado desafios práticos para o sistema de justiça penal. Conforme observado por Mirabete (2020), "a falta de disposições específicas na Lei de Execução Penal para a unificação das penas de reclusão e detenção resulta em interpretações variadas e, muitas vezes, contraditórias por parte dos magistrados". Essa ausência de clareza pode levar a uma aplicação desigual das normas penais, com impactos diretos na vida dos condenados.
O artigo 111 da Lei de Execução Penal aborda de forma genérica a soma de penas no concurso de infrações, havendo mais de uma condenação, o regime prisional deve ser determinado após a soma ou unificação das penas impostas. É omissa em relação se a pena é de reclusão ou detenção, qual será executa em primeiro lugar ou serão concomitantemente executadas.
A revisão da Lei de Execução Penal é defendida por especialistas, que destacam a necessidade de incluir disposições que tratem explicitamente da unificação das penas de reclusão e detenção. Como apontado por Assis (2022), "a inclusão de diretrizes claras na LEP sobre a soma de penas serve para garantir uma execução penal mais justa e eficaz, além de contribuir para a harmonização das decisões judiciais" (ASSIS, 2022, p. 68).
3.2 Interpretação Doutrinária sobre o Conflito Normativo
3.2.1 Perspectivas Clássicas e Contemporâneas
A evolução do pensamento jurídico em relação às penas de reclusão e detenção no Brasil é marcada por diferentes perspectivas que refletem as transformações sociais e jurídicas ao longo do tempo. As abordagens clássicas, influenciadas por teóricos como Cesare Beccaria, focam em penas e na ideia de que a punição deve ser um meio de prevenção ao crime. Beccaria (2013) argumenta que "a pena deve ser proporcional ao delito cometido, e sua aplicação deve servir não apenas como retribuição, mas também como um meio de prevenir futuros crimes" (BECCARIA, 2013, p. 45).
Com o avanço das discussões sobre direitos humanos e a ressocialização dos condenados, as abordagens contemporâneas começaram a enfatizar a importância de considerar o contexto social e a dignidade da pessoa humana no processo de aplicação das penas. Baratta (2016) propõe uma visão crítica do sistema penal, argumentando que "a pena não deve ser vista apenas como um instrumento de retribuição, mas como uma oportunidade para a reintegração social do condenado" (BARATTA, 2016, p. 75).
3.2.2 Impacto das Interpretações Doutrinárias na Execução Penal
A doutrina jurídica tem tentado suprir lacunas normativas através da elaboração de teorias e propostas interpretativas que visam orientar a prática judicial. Autores como Mirabete (2020) e Assis (2022) têm destacado que a falta de regulamentação específica sobre a unificação das penas de reclusão e detenção gera insegurança jurídica e pode comprometer a execução penal. Mirabete argumenta que, em muitos casos, a aplicação das penas depende da interpretação individual dos magistrados, o que pode resultar em decisões discrepantes e, por vezes, injustas.
Segundo Mirabete, a ausência de uma regulamentação clara sobre a unificação das penas de reclusão e detenção força os magistrados a recorrerem às suas próprias interpretações das normas existentes, muitas vezes baseadas em precedentes ou em doutrinas. Isso gera uma falta de uniformidade nas decisões judiciais, o que pode levar a uma aplicação desigual da justiça. Ele sugere que a criação de normas no Código Penal ou na Lei de Execução Penal poderia ajudar a resolver essas disparidades, proporcionando uma base mais sólida para a aplicação das penas e garantindo uma maior segurança jurídica (MIRABETE, 2020, p. 145).
O autor exemplifica como as interpretações doutrinárias têm impactado a execução penal no Brasil. A falta de clareza na legislação exige que os juristas e magistrados se apoiem fortemente na doutrina para tomar decisões, o que pode gerar uma variedade de interpretações e aplicações práticas das normas penais.
A doutrina contemporânea tem defendido a necessidade de harmonizar essas interpretações para garantir a equidade e a justiça no cumprimento das penas. Assis (2022) ressalta que a interpretação doutrinária, embora necessária, não deve substituir a clareza legislativa, mas sim complementar e guiar a aplicação das normas de maneira justa e coerente. A doutrina, portanto, atua como um guia interpretativo, mas a ausência de uma legislação específica sobre a soma de penas de reclusão e detenção continua a ser um problema que demanda soluções legislativas claras.
3.3 Análise Jurisprudencial
3.3.1 Principais Decisões dos Tribunais Superiores
Os tribunais superiores, notadamente o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ), têm enfrentado desafios ao julgar casos envolvendo a soma de penas de reclusão e detenção. Essas decisões são fundamentais para estabelecer precedentes que guiam a interpretação e aplicação das normas penais em todo o país.
Uma das decisões mais relevantes do STF sobre o tema ocorreu no julgamento do Habeas Corpus nº 123.533, onde se discutiu a compatibilidade da soma de penas de reclusão e detenção com o regime inicial de cumprimento. O tribunal entendeu que, em casos de condenações múltiplas envolvendo penas de reclusão e detenção, deve prevalecer o regime mais severo, a fim de garantir a coerência e a efetividade da pena. Essa decisão é um marco na jurisprudência, pois esclareceu a forma de unificação das penas para definir o regime inicial de cumprimento (STF, HC nº 123.533).
No STJ, a decisão proferida no Recurso Especial nº 1.765.155 também teve grande impacto. O tribunal determinou que a soma de penas de reclusão e detenção deve considerar a gravidade dos crimes e o histórico criminal do condenado, mas ressaltou a necessidade de harmonizar a aplicação das penas para evitar a desproporcionalidade. Essa decisão reforça a importância de uma análise contextual e individualizada ao definir o regime de cumprimento das penas (STJ, REsp nº 1.765.155).
3.3.2 Tendências Jurisprudenciais e suas Implicações
A análise das decisões dos tribunais superiores revela uma tendência jurisprudencial consistente em buscar a harmonização e coerência na aplicação das penas de reclusão e detenção. Uma das principais implicações dessa tendência é a aplicação do princípio da proporcionalidade, que visa garantir que a pena aplicada seja adequada à gravidade do delito e à culpabilidade do condenado. Segundo Baratta (2016), "a proporcionalidade das penas é um princípio fundamental que orienta a justiça penal, assegurando que as sanções impostas sejam justas e proporcionais aos crimes cometidos" (BARATTA, 2016, p. 58).
O princípio da individualização da pena tem sido utilizado como um guia para os tribunais na unificação das penas de reclusão e detenção. Mirabete (2020) aponta que "a individualização da pena permite que o magistrado considere as circunstâncias de cada caso, evitando que a unificação das penas resulte em sanções desproporcionais ou excessivas" (MIRABETE, 2020, p. 145). Esse princípio tem sido aplicado em casos onde a soma das penas pode levar a um regime de cumprimento mais severo do que o necessário, garantindo que a decisão seja ajustada à realidade do condenado.
Outra tendência observada na jurisprudência é a adoção do critério da gravidade do delito como fator decisivo na determinação do regime inicial de cumprimento das penas unificadas. Assis (2022) destaca que "os tribunais superiores têm reiteradamente afirmado que, na soma de penas de reclusão e detenção, deve prevalecer o regime mais severo, especialmente em casos de reincidência ou de crimes de maior gravidade" (ASSIS, 2022, p. 74). Essa prática visa assegurar que a aplicação das penas cumpra com os objetivos de prevenção geral e especial da pena, protegendo a sociedade ao mesmo tempo em que se busca a ressocialização do condenado.
Há uma tendência em considerar os antecedentes criminais e o comportamento do réu durante o cumprimento da pena como elementos importantes para a unificação das penas e a progressão de regime. Segundo Greco (2021), "o comportamento do condenado e seus antecedentes criminais devem ser levados em conta na aplicação das penas, pois refletem a capacidade do indivíduo de se reintegrar à sociedade e de respeitar as normas legais" (GRECO, 2021, p. 112).
3.3.3 Casos Representativos e a Aplicação Prática das Normativas
Os casos mostram como a falta de regulamentação sobre a unificação de penas de reclusão e detenção pode resultar em interpretações variadas. Um exemplo disso é o caso julgado no HC nº 137.657, em que o STF decidiu pela manutenção do regime fechado para um condenado que acumulava penas de reclusão e detenção. A decisão foi fundamentada na gravidade dos crimes cometidos e na necessidade de evitar a progressão de regime precoce (STF, HC nº 137.657).
Outro caso é o julgamento do REsp nº 1.904.333 pelo STJ, onde o tribunal discutiu a possibilidade de progressão de regime para um condenado que cumpria penas unificadas de reclusão e detenção. O STJ decidiu que a progressão deveria ser baseada na pena mais severa, mas considerou as circunstâncias atenuantes presentes no caso, como o comportamento do réu durante o cumprimento da pena. Essa decisão reflete a tentativa de equilibrar a aplicação da justiça com a observância dos direitos do condenado (STJ, REsp nº 1.904.333).
3.4 Consequências Práticas do Conflito Normativo na Execução das Penas
O conflito normativo entre o Código Penal e a Lei de Execução Penal, no que se refere à soma de penas de reclusão e detenção, gera consequências práticas para o sistema de justiça criminal no Brasil. A ausência de diretrizes claras para a unificação dessas penas impacta diretamente a execução das sentenças, resultando em insegurança jurídica, disparidades na aplicação das penas e dificuldades na ressocialização dos condenados.
Uma das principais consequências práticas desse conflito é a insegurança jurídica gerada pela falta de uniformidade nas decisões judiciais. Como as normas não estabelecem claramente como proceder na unificação das penas, os magistrados frequentemente dependem de suas próprias interpretações, o que pode resultar em decisões discrepantes para casos semelhantes. Segundo Assis (2022), "a falta de uma regulamentação precisa sobre a unificação das penas de reclusão e detenção cria um cenário de insegurança jurídica, onde condenados em situações similares podem receber tratamentos diferentes, comprometendo a equidade da justiça penal" (ASSIS, 2022, p. 86).
A divergência entre o Código Penal e a Lei de Execução Penal contribui para a aplicação desigual das penas, o que pode agravar as disparidades no sistema prisional. Essa situação é particularmente problemática no contexto de progressão de regime e concessão de benefícios. A falta de normas claras sobre como calcular o tempo necessário para a progressão de regime quando há penas unificadas resulta em incertezas tanto para os apenados quanto para os operadores do direito. Conforme aponta Baratta (2016), "a ausência de diretrizes específicas para a unificação das penas impede que o sistema de progressão de regime funcione de maneira justa, dificultando a ressocialização dos apenados" (BARATTA, 2016, p. 91).
Mirabete (2020), analisa a problemática da soma de penas e suas implicações:
"A lacuna legislativa que envolve a unificação das penas de reclusão e detenção resulta em uma série de dificuldades práticas para o sistema prisional brasileiro. Sem uma regulamentação clara, os tribunais enfrentam desafios ao tentar aplicar as penas de forma justa, o que muitas vezes leva a uma aplicação incoerente da justiça. Essa falta de uniformidade não só afeta as penas, mas também compromete a ressocialização dos condenados, que enfrentam obstáculos adicionais em sua reintegração à sociedade devido às incertezas na execução de suas sentenças" (MIRABETE, 2020, p. 152).
Outra consequência prática é a dificuldade de implementar políticas de ressocialização dentro do sistema prisional. A incerteza sobre o cumprimento das penas afeta a organização e o planejamento das instituições prisionais, que devem lidar com uma população carcerária cuja progressão de regime e concessão de benefícios são imprevisíveis. Como ressalta Greco (2021), "a insegurança jurídica gerada pelo conflito normativo entre o Código Penal e a Lei de Execução Penal dificulta a gestão eficiente do sistema prisional, comprometendo os esforços de ressocialização e aumentando a taxa de reincidência criminal" (GRECO, 2021, p. 117).
3.4.1 Efeitos sobre a Ressocialização dos Condenados
A ausência de diretrizes claras sobre a unificação das penas pode levar a uma aplicação desproporcional das sanções, o que compromete a eficácia dos programas de ressocialização. Segundo Baratta (2016), "a aplicação incoerente das penas, sem consideração adequada das circunstâncias individuais e das necessidades de ressocialização, pode reforçar o estigma e dificultar a reintegração dos condenados na sociedade" (BARATTA, 2016, p. 78). Isso ocorre porque a imposição de penas excessivamente severas ou desproporcionais pode minar os esforços de ressocialização, criando um ambiente prisional que favorece a marginalização em vez da reabilitação.
A incerteza gerada pelo conflito normativo afeta diretamente o planejamento e a execução de programas de ressocialização dentro das instituições prisionais. Greco (2021) destaca que "as políticas de ressocialização dependem de uma gestão prisional que seja capaz de planejar e implementar programas a longo prazo. No entanto, a incerteza sobre o regime de cumprimento das penas dificulta esse planejamento, comprometendo a eficácia dos programas de reabilitação" (GRECO, 2021, p. 119). Quando as instituições prisionais não conseguem prever com precisão o tempo de permanência dos condenados ou o regime de cumprimento das penas, torna-se mais difícil organizar e oferecer programas de educação, trabalho e terapia que são essenciais para a ressocialização.
Outro efeito do conflito normativo sobre a ressocialização dos condenados é a inconsistência na concessão de benefícios, como a progressão de regime e o livramento condicional. A falta de uniformidade nas decisões judiciais, resultante da divergência entre o Código Penal e a Lei de Execução Penal, cria uma situação onde condenados em circunstâncias semelhantes podem ser tratados de maneira diferente, gerando um sentimento de injustiça e desmotivação entre os apenados. Como observa Assis (2022), "a inconsistência na aplicação das penas e na concessão de benefícios enfraquece o sistema de incentivos à boa conduta dentro das prisões, prejudicando a ressocialização dos condenados" (ASSIS, 2022, p. 89).
3.4.2 Desafios para o Sistema Prisional Brasileiro
O conflito normativo entre o Código Penal e a Lei de Execução Penal gera desafios para o sistema prisional brasileiro. Um dos principais desafios é a sobrecarga do sistema prisional, pela falta de clareza na unificação das penas de reclusão e detenção. A insegurança jurídica resultante desse conflito normativo contribui para o aumento da população carcerária, uma vez que decisões inconsistentes sobre a soma de penas podem levar à imposição de penas mais longas ou a regimes de cumprimento mais severos do que o necessário. Conforme aponta Greco (2021), "a superlotação nas prisões brasileiras é um reflexo da falta de uma política penal clara e coerente, que poderia ser mitigada se houvesse uma maior uniformidade nas decisões judiciais sobre a unificação das penas" (GRECO, 2021, p. 123).
Outro desafio é a dificuldade em implementar políticas de ressocialização em um sistema prisional que já enfrenta problemas estruturais graves. A falta de regulamentação sobre a unificação das penas torna o planejamento e a execução de programas de reabilitação ainda mais complicados, agravando a crise existente. Mirabete (2020) observa que "a incerteza sobre o tempo de cumprimento das penas dificulta o desenvolvimento de programas de ressocialização contínuos, já que as instituições prisionais não conseguem prever com precisão a duração das sentenças e o momento de liberação dos apenados" (MIRABETE, 2020, p. 156).
A falta de uniformidade nas decisões judiciais decorrente do conflito normativo contribui para uma percepção de injustiça e arbitrariedade no sistema prisional. Isso não apenas prejudica a moral dos condenados, que podem sentir que estão sendo tratados de maneira desigual, mas também impacta negativamente os agentes penitenciários, que têm de lidar com um ambiente de trabalho imprevisível e frequentemente hostil. Baratta (2016) destaca que "a percepção de arbitrariedade no tratamento dos condenados, causada pela inconsistência nas decisões judiciais, mina a legitimidade do sistema penal e torna o ambiente prisional ainda mais difícil de gerenciar" (BARATTA, 2016, p. 82).
O conflito normativo dificulta a implementação de políticas públicas que poderiam aliviar a crise no sistema prisional. A incerteza jurídica impede que governos e gestores prisionais desenvolvam estratégias de longo prazo para lidar com a superlotação, a falta de recursos e as necessidades de ressocialização. Assis (2022) argumenta que "a falta de clareza normativa é um dos maiores obstáculos para a reforma do sistema prisional brasileiro, já que impede a criação de políticas públicas eficazes que possam atender às complexas demandas do sistema" (ASSIS, 2022, p. 95).
3.4.3 Propostas para Harmonização das Normativas
A harmonização das normativas entre o Código Penal e a Lei de Execução Penal é essencial para superar os desafios gerados pelo conflito normativo, particularmente no que diz respeito à unificação das penas de reclusão e detenção. Uma das principais propostas para alcançar essa harmonização é a revisão e atualização do Código Penal, de modo a incluir disposições claras e específicas sobre a unificação das penas. Essa reforma legislativa permitiria uma maior uniformidade nas decisões judiciais e contribuiria para a redução da insegurança jurídica que atualmente permeia o sistema de justiça penal.
De acordo com Assis (2022), uma das propostas defendidas pela doutrina é a criação de um critério normativo que estabeleça de forma precisa como as penas de reclusão e detenção devem ser unificadas para a definição do regime inicial de cumprimento. Isso incluiria diretrizes claras para os magistrados, reduzindo a margem de interpretação subjetiva e promovendo a aplicação mais equitativa da justiça. Assis argumenta que "a inclusão de critérios normativos claros sobre a unificação das penas no Código Penal reduziria significativamente as divergências judiciais e promoveria uma aplicação mais justa das penas" (ASSIS, 2022, p. 102).
A harmonização das normativas poderia ser alcançada através da integração dos princípios de proporcionalidade e individualização da pena nas disposições legais. Isso garantiria que a unificação das penas leve em consideração as circunstâncias específicas de cada caso, evitando a imposição de sanções desproporcionais. Baratta (2016) sugere que "a inclusão desses princípios nas normas penais não apenas promoveria uma maior justiça, mas também fortaleceria o papel ressocializador do sistema penal" (BARATTA, 2016, p. 87).
3.5 Discussão Crítica
3.5.1 Comparação com Outros Sistemas Jurídicos
A comparação do sistema penal brasileiro com outros sistemas jurídicos revela diferenças na abordagem da unificação de penas de reclusão e detenção. Em países como Alemanha e Estados Unidos, as normativas penais são mais detalhadas quanto à aplicação das penas, oferecendo diretrizes claras para a unificação das penas em casos de múltiplas condenações. Por exemplo, na Alemanha, o Código Penal Alemão (Strafgesetzbuch) especifica que, em casos de múltiplas condenações, as penas são somadas de forma cumulativa, mas há um teto máximo que não pode ser excedido, o que assegura uma proporcionalidade na aplicação das penas (BECKER, 2017).
No sistema jurídico dos Estados Unidos, a prática da unificação de penas é regida por diretrizes federais que estabelecem critérios rigorosos para a determinação do regime de cumprimento das penas. Essas diretrizes são frequentemente revisadas e atualizadas para garantir que as penas reflitam as circunstâncias do crime e as necessidades de ressocialização do condenado (DOUGLAS, 2019). Essa abordagem contrastante com o Brasil evidencia a necessidade de uma regulamentação mais clara e precisa em relação à unificação das penas, que possa orientar os magistrados de maneira uniforme e previsível.
De acordo com Baratta (2016), "os sistemas jurídicos que oferecem diretrizes claras para a unificação de penas tendem a ter uma aplicação mais uniforme e justa das penas, o que contribui para a confiança pública no sistema de justiça" (BARATTA, 2016, p. 91). A comparação internacional sugere que a adoção de práticas semelhantes no Brasil poderia melhorar a eficácia da execução penal e reduzir as disparidades na aplicação das penas.
3.5.2 Implicações para a Reforma da Legislação Penal e de Execução Penal
As análises das práticas comparadas e das tendências jurisprudenciais indicam que há uma necessidade de reformar a legislação penal e de execução penal no Brasil. A ausência de normas claras e específicas sobre a unificação de penas gera uma série de problemas que impactam negativamente do sistema de justiça penal. Uma reforma legislativa que estabeleça diretrizes claras para a unificação das penas poderia ajudar a reduzir a insegurança jurídica e garantir uma aplicação mais equitativa das penas.
Assis (2022) argumenta que "a reforma da legislação penal deve incluir disposições sobre a unificação de penas, de modo a evitar interpretações divergentes e promover a uniformidade nas decisões judiciais" (ASSIS, 2022, p. 104). Essa reforma poderia incluir a codificação de critérios para a unificação das penas, como a gravidade dos crimes, o histórico criminal do condenado, e o comportamento durante o cumprimento da pena, garantindo assim que as penas sejam aplicadas de forma justa e proporcional.
A reforma da Lei de Execução Penal poderia incorporar princípios que assegurem a função ressocializadora da pena, como a inclusão de diretrizes para a concessão de benefícios e progressão de regime que considerem a individualidade de cada caso. Baratta (2016) destaca que "a integração de princípios ressocializadores na legislação de execução penal para a promoção de uma justiça penal que não apenas puna, mas também reintegre o condenado à sociedade" (BARATTA, 2016, p. 95).
3.5.3 Possíveis Caminhos para Soluções Futuras
Diante dos desafios enfrentados pelo sistema penal brasileiro, no que diz respeito ao conflito normativo entre o Código Penal e a Lei de Execução Penal, é crucial explorar possíveis caminhos para soluções futuras. Uma das propostas promissoras é a realização de uma reforma legislativa que inclua a revisão do Código Penal e da Lei de Execução Penal, com o objetivo de harmonizar as disposições sobre a unificação das penas de reclusão e detenção. Essa reforma deve ser guiada pelos princípios de proporcionalidade, individualização da pena e ressocialização, garantindo que a legislação reflita tanto as necessidades de justiça quanto as de reabilitação.
Um dos caminhos propostos é a criação de um marco legal que regule a unificação das penas. Esse marco poderia incluir diretrizes claras sobre como as penas de reclusão e detenção devem ser somadas, quais critérios devem ser considerados pelos magistrados, e como a progressão de regime e a concessão de benefícios devem ser aplicadas em casos de múltiplas condenações. Como sugere Assis (2022), "a criação de um marco legal para a unificação das penas poderia reduzir a incerteza jurídica e promover uma maior uniformidade nas decisões judiciais, o que é essencial para a confiança pública no sistema de justiça" (ASSIS, 2022, p. 110).
A implementação de programas de capacitação contínua para magistrados e operadores do direito é fundamental. Esses programas devem focar na interpretação das novas normativas e na aplicação das diretrizes de unificação das penas de forma justa e equitativa. Greco (2021) enfatiza que "a capacitação contínua dos operadores do direito é crucial para assegurar que as reformas legislativas sejam implementadas de maneira que os magistrados estejam preparados para aplicar as novas diretrizes de forma coerente e justa" (GRECO, 2021, p. 132).
Baratta (2016), que afirma:
"A harmonização das normativas penais não pode ser vista como um processo isolado, mas sim como parte de uma reforma mais ampla que inclua a capacitação dos operadores do direito, o monitoramento contínuo das práticas judiciais e a adaptação das políticas prisionais às novas diretrizes. Somente através de uma abordagem integrada e coordenada será possível garantir que o sistema penal brasileiro seja capaz de cumprir seus objetivos de justiça e ressocialização" (BARATTA, 2016, p. 97).
É necessário implementar mecanismos de monitoramento e avaliação contínua das reformas legislativas e suas consequências no sistema penal. Esses mecanismos devem ser capazes de identificar rapidamente quaisquer problemas ou lacunas na legislação, permitindo ajustes e melhorias conforme necessário. Como observa Assis (2022), "o monitoramento contínuo das reformas é essencial para garantir que as novas normativas alcancem seus objetivos e que o sistema penal permaneça adaptável e responsivo às mudanças nas condições sociais e jurídicas" (ASSIS, 2022, p. 112).
4 CONCLUSÃO
A pesquisa realizada permitiu uma análise sobre o conflito normativo entre o Código Penal e a Lei de Execução Penal no que se refere à soma de penas de reclusão e detenção. A ausência de diretrizes claras e específicas na legislação brasileira gera uma desafios para o sistema de justiça penal, incluindo a insegurança jurídica, a aplicação desigual das penas e as dificuldades na ressocialização dos condenados. Essas questões tornam evidente a necessidade urgente de reformas legislativas que harmonizem as normativas.
Os resultados obtidos mostram que, sem uma regulamentação clara, os magistrados enfrentam dificuldades em unificar as penas de reclusão e detenção de maneira que seja justa e proporcional. Isso leva a uma disparidade nas decisões judiciais, que por sua vez afeta negativamente tanto o sistema prisional quanto os próprios condenados. A superlotação carcerária, as dificuldades na implementação de políticas de ressocialização e a percepção de injustiça entre os apenados são algumas das consequências mais graves desse conflito normativo.
A pesquisa também destaca a importância de uma abordagem integrada para resolver esses problemas, que inclua não apenas a reforma legislativa, mas também a capacitação contínua dos operadores do direito e a participação ativa da sociedade no processo de reforma. Somente através de um esforço conjunto será possível criar um sistema penal mais coerente, capaz de garantir a justiça e promover a ressocialização dos condenados.
Como sugestão para futuras pesquisas, seria relevante investigar o impacto das reformas legislativas propostas em outros países, com o objetivo de adaptar e implementar práticas bem-sucedidas no contexto brasileiro. Além disso, estudos empíricos que avaliem a eficácia das políticas de ressocialização em diferentes contextos carcerários poderiam fornecer dados valiosos para a elaboração de estratégias no Brasil.
Em conclusão, a harmonização das normativas penais é não apenas uma necessidade urgente, mas também um passo fundamental para a construção de um sistema de justiça penal que seja verdadeiramente justo, equitativo e orientado para a reabilitação e reintegração social dos condenados
REFERÊNCIAS
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ASSIS, Rafael Damasceno de. As prisões e o direito penitenciário no Brasil, 2022.Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/3482/Asprisoes-e-odireito-penitenciário-no-Brasil. Acesso em: 14 mai 2024.
BARATTA, Alessandro. Ressocialização ou controle social: uma abordagem crítica da reintegração social do sentenciado. Rio de Janeiro, Elsevier, 2016
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das Penas. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2013
BITENCOURT. Cezar Roberto. Código Penal Comentado. 7ª ed. Saraiva. 2019.
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[1]Professor Orientador. Mestrado, Universidade do Contestado. Porto União. Santa Catarina. Brasil
Graduação em Direito, Universidade do Contestado. Porto União. Santa Catarina. Brasil.
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: SILVEIRA, Rodrigo Sulemar. Aparente conflito de normas entre Código Penal e a Lei de Execução Penal em relação a soma de penas de reclusão e detenção e as consequências na execução da pena Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 04 set 2024, 04:31. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/66340/aparente-conflito-de-normas-entre-cdigo-penal-e-a-lei-de-execuo-penal-em-relao-a-soma-de-penas-de-recluso-e-deteno-e-as-consequncias-na-execuo-da-pena. Acesso em: 21 nov 2024.
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