Creio que a principal finalidade das datas comemorativas seja provocar a reflexão.
Oito de setembro é o Dia Mundial da Alfabetização.
As datas podem ser lembradas nas escolas, instituições da comunidade e igrejas. Podem suscitar o interesse da imprensa para que abra à discussão pública os temas relacionados com os dias festivos que se sucedem no calendário.
Celebrar datas não é apenas um costume brasileiro. Esse tipo de comemoração é universal e bastante antigo.
Num programa nacional, ou em programas locais de educação, bom uso pode ser feito das datas comemorativas.
De diversas formas esses dias podem ser lembrados. A forma de comemorar ou lembrar cada data é um desafio à criatividade de líderes políticos, professores e educadores, bem como dos participantes do respectivo programa.
Estamos nos debruçando neste artigo à face da alfabetização universal, em razão do transcurso recente do Dia Mundial da Alfabetização (oito de setembro).
Quero neste texto reverenciar a memória de dois educadores: a primeira homenagem é para um brasileiro, de projeção internacional. A segunda homenagem eu a presto a uma educadora capixaba.
Acredito que Paulo Freire, a que rendo tributo, nos dá o norte do que deve ser um programa nacional de alfabetização.
Disse esse educador que a alfabetização, a ser garantida a todo o povo, deve possibilitar o acesso ao mundo e o poder de construí-lo com liberdade. Essa é a linha de sua pedagogia libertadora. Alfabetizar não é apenas ensinar a juntar letras. Muitos no Brasil fizeram eleitores juntar letras para garantir a permanência no poder daqueles que não pretendiam libertar o povo, mas sim mantê-lo escravo.
A primeira experiência de educação libertadora levada a efeito por Paulo Freire realizou-se em Pernambuco, seu Estado natal.
Em razão de suas ideias e de sua ação, Paulo Freire foi perseguido, preso e forçado ao exílio. Durante a permanência fora da Pátria, foi consultor do Conselho Mundial das Igrejas, em Genebra, e deu assessoria a governos de países pobres da África.
Zilma Coelho Pinto, educadora cachoeirense, foi a primeira, no Brasil, a compreender que a alfabetização em massa era uma exigência de cidadania. Não foi uma doutrinadora, não escreveu nenhum livro. Foi alguém que “colocou a mão na massa” e convocou governos, entidades, sociedade civil a eleger, como meta prioritária e de realização possível, a alfabetização universal do povo.
Ao lado da Voz do Brasil, alfabeto sonoro que as forças conservadoras querem calar, o alfabeto escrito também incomoda os que não querem perder privilégios.
Não foi sem razão que se fez ouvidos moucos aos apelos de Paulo Freire e de Zilma Coelho Pinto.
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