ANA VITÓRIA NASCIMENTO DIAS[1]

GUILHERME SABINO NASCIMENTO SIDRÔNIO DE SANTANA[2]

(coautores)

RESUMO: O objetivo deste artigo é conectar a obra literária “A hora da estrela”, da autora Clarice Lispector com a ciência do Direito. A principal relação dessa obra literária com a ciência jurídica são os pontos da narrativa que refletem os Direitos Humanos.  Por isso, destaca-se a questão da migração como questão social. Destaca-se as dificuldades enfrentadas por aqueles que migram, principalmente as mulheres, além da pobreza e xenofobia, realidades enfrentadas pela protagonista da história, que se chama Macabéa.  Com efeito, este trabalho consiste em uma Pesquisa Descritiva e Bibliográfica, realizada precipuamente na área dos Direitos Humanos. Esse Trabalho surge a partir de estudos direcionados ao Projeto de extensão “Direito & Literatura” da FACAPE – Faculdade de Petrolina.  Ao final, conclui-se que as mulheres que são migrantes nordestinas passam por intensa desvalorização feminina. O trabalho da mulher migrante não é valorizado. Desta forma, Macabéa, no livro, como mulher, era extremamente rebaixada e menosprezada, era jovem sem experiências de vida, completamente órfã, vinda do interior para uma grande capital, vivendo uma vida que não sonhou nem desejou, o que acarretou no seu final trágico.

Palavras-Chave: Direitos Humanos. Migração. Mulher Nordestina.

ABSTRACT: The purpose of this article is to connect the literary work “A hora da Estrela”, by author Clarice Lispector with the science of Law. The main relationship of this literary work with legal science are the points of the narrative that reflect Human Rights. Therefore, the issue of migration as a social issue stands out. It highlights the difficulties faced by those who migrate, especially women, in addition to poverty and xenophobia, realities faced by the protagonist of the story, whose name is Macabéa. Indeed, this work consists of a Descriptive and Bibliographic Research, carried out primarily in the area of Human Rights. This work arises from studies directed to the Extension Project "Law & Literature" of FACAPE - Faculdade de Petrolina. In the end, it is concluded that women who are northeastern migrants undergo intense female devaluation. The work of migrant women is not valued. In this way, Macabéa, in the book, as a woman, was extremely degraded and belittled, she was young without life experiences, completely orphaned, coming from the countryside to a big capital, living a life that she neither dreamed nor desired, which led to her ending tragic.

Keywords: Human Rights. Migration. Northeastern woman.

1.INTRODUÇÃO

O Projeto de extensão Direito & Literatura (FACAPE – Faculdade de Petrolina), se destina ao estudo e difusão da interdisciplinaridade entre Direito, Literatura, Arte e Cinema. Demonstra-se que com o desenvolvimento de propostas para reflexão acerca do Direito e dos contextos sociais relevantes, expostos através da Literatura e da Arte, os juristas possuem papel de revolução social. Assim, a Interdisciplinaridade e interligação de fontes de conhecimento, possibilitam uma compreensão mais eficaz do fenômeno jurídico no seio social.

A aproximação entre Direito, Literatura, Arte e Cinema motivam a reflexão e os seus impactos se dão sobre o âmbito jurídico, de forma que há ênfase nas novas formas de pensar acerca do Direito. Tal persecução deve ter amplitude de preocupação, pois, apesar da formação do jurista se basear no conhecimento técnico-legal, não se pode ignorar o contexto cultural. Busca-se, em suma, uma análise dinâmica, holística e sensível do Direito.

2.JUSTIFICATIVA

O Direito & Literatura possibilita a abertura de um novo campo para a realização de estudos e pesquisas jurídicas e difunde, mediante o diálogo entre as comunidades acadêmicas, a reflexão acerca da capacidade da narrativa literária auxiliar os juristas na árdua tarefa de compreender/interpretar/aplicar o direito, relacionando a ficção com a realidade social e jurídica.

A importância da atividade se materializa na expansão dos horizontes culturais e na ampliação da capacidade interpretativa, bem como da habilidade da escrita (elaboração de textos) de todos os que participarem dos eventos. Também, possibilita, uma comunicação entre diferentes disciplinas, sob diferentes olhares, a partir do diálogo entre docentes e discentes da FACAPE –Faculdade de Petrolina, e de outras instituições e interessados em geral.

3.OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Este relatório tem o objetivo principal de comunicar as atividades desenvolvidas pelos alunos integrantes do Projeto de Extensão à coordenadora.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1.      Realizar reuniões para a manutenção do projeto e o Aprofundamento nos temas tratados, através da discussão de textos, livros e materiais ofertados;

2.      Auxiliar na formação crítica e interpretativa dos alunos;

3.      Promover a integração dos estudantes de Direito com a Comunidade acadêmica da região.

4.      Produção de artigos, capítulos de livro, e outros trabalhos acadêmicos.

5.      Participação em Congressos e eventos diversos.

4.METOLOGIA OPERACIONAL

Leitura de material bibliográfico pertinente, identificação de instituições Públicas de ensino superior que concordem em viabilizar visitas para promover encontros com seus discentes e atividades voltadas para o incentivo à leitura. As reuniões também podem acontecer de forma remota, conforme necessidade.

A forma de avaliação será a presença nas reuniões, o estudo dos temas levantados para formação humanística relativa ao tema e a participação nos encontros nas instituições públicas (ensino superior).

5.AÇÕES REALIZADAS PELA DISCENTE ANA VITÓRIA NASCIMENTO DIAS NO PROJETO DE EXTENSÃO

No projeto direito e literatura todos os alunos participam de forma ativa, através das reuniões com os participantes do projeto de extensão, em que todos trazem sugestões e maneiras de como realizar uma pesquisa de análise bem desenvolvida, rica em opinião e intelectualidade, com rodas de conversas, discussões sobre o projeto na sua essência, seu formato, sua função, e as conexões causais do projeto.

Dessa forma, participei das rodas de conversa, para discutir, além das leituras indicadas pela coordenadora do projeto, filmes, como “Animais Noturnos”. Também tive participação na VII MEPE (Mostra de ensino, pesquisa e extensão do Vale do São Francisco) que é uma mostra de pesquisa organizada por professores e alunos universitários, que traz visibilidade às pesquisas de diversos temas.

6.RESUMO DA OBRA LITERÁRIA ESCOLHIDA

A obra literária escolhida trata-se de “A Hora da Estrela”, escrita por Clarice Lispector, publicada no ano de 1977. Foi a última obra escrita pela autora. Assim, apresentar-se-á o resumo da obra em forma de verso:

A hora da estrela

Tem como introdução, uma metalinguagem de narração.

Aqui Clarice criou um personagem chamado Rodrigo S.M.

Que vai narrar essa história que tanto aprecio.

Macabéa é uma jovem de 19 anos nordestina.

Vinda do interior de Alagoas para o sudeste com sua tia.

Criada por uma tia excêntrica moralista.

Uma tia Cristã cheia de tabus onde desses mais passou para a sobrinha.

Uma jovem que foi morar no Rio de Janeiro.

Apaixonada por goiabada com queijo.

O tempo passa e Macabéa se torna datilografa.

Com conhecimento pouco arranja um emprego.

Garota nova, de olhar velho.

Vivia a cheirar mal, pois banho rotineiro, não era o seu normal.

Vivia a tossir, tomar um café frio e para a fome passar, comia pedacinhos de papel.

Hábitos diários de ouvir um rádio relógio a colecionar anúncios de jornais e revistas.

Com manias esquisitas, porém que entretinha o vazio de sua pequena vida.

Não comia bem, era magra.

Entretanto nos seus raros dias de luxo ia ao cinema e assim desejava.

Ser a futura estrela a ser na tela apresentada.

"E assim se passava o tempo para moça está.

Assoava o nariz na barra da combinação.

Não tinha aquela coisa delicada que se chama encanto.

Só eu a vejo encantadora. Só eu, seu autor, a amo.

Sofro por ela. E só eu que posso dizer assim:

Que é que você não me pede chorando, que eu não lhe dê cantando?

Essa moça não sabia o que ela era o que era, assim como um cachorro não sabe que é cachorro.

Daí não se sentir infeliz.

A única coisa que queria era viver."[3]

Até que em um dado momento, de namorado, Macabéa estava.

Olímpico no Nordeste morava, de lá veio fugindo do assassinato cometido.

Um ambicioso mau-caráter, que de conversador tinha de gigolô.

Com os dias indo e vindo, Macabéa trocou, pela amiga da coitada, gloria colega de trabalho.

De uma tuberculose, Macabéa, estava acometida.

Até que em um dia, por aconselhamento da traíra, vai a cartomante.

Madame Cartola, antes cafetina, lê as cartas e afirma:

Um estrangeiro casará contigo, lhe dará não só dinheiro, mais amor e filhos.

Encantada com essa proeza, é saindo de Carlota que é atropelada.

Caída na calçada, todos se aproximam para ver, porém sem socorro ter.

Dar seu último suspiro, estava livre de si e de nós.

Qual é o peso da luz?

Então é ali que a estrela se despede, abraçada de si mesma com vontade do doce nada.

Enfim...chegou a hora da estrela[4].

7.CONHECENDO A AUTORA DA OBRA

A jornalista brasileira e escritora Clarice Lispector nasceu na Ucrânia em 10 de dezembro de 1920, descendente de judeus. Clarice e sua família fugiram da perseguição aos judeus durante a guerra civil de 1918-1920. Assim que chegaram ao Brasil, seu pai teve que mudar o seu nome por conta das perseguições, pois corriam risco de serem encontrados.

A família da autora chegou ao Brasil no ano de 192, e viveram nas cidades de Maceió e do Rio de Janeiro. Desde criança Lispector era uma boa aluna, muito estudiosa, tendo se tornado poliglota. Aprendeu a falar português, francês, inglês, hebraico, iídiche, além de ter aprendido a tocar piano. Era pessoa de distinta intelectualidade.

No ano de 1939, já com 19 anos, a autora entrou para a escola de Direito da Universidade do Brasil e se dedicou por inteiro à a sua paixão, a literatura. Teve oportunidade de fazer cursos de antropologia e psicologia. No ano de 1940 publicou seu primeiro conto, “Triunfo”.

Na década de 40, com a morte de seu pai, Clarice começou a carreira de jornalista, trabalhando como redatora e repórter na agência nacional, no correio da manhã e no diário da noite. Em 1943, casou-se com o diplomata Maury Gurgel Valente, com quem teve dois filhos.  Por conta da profissão do marido, Clarice conheceu diversos países como, Itália, Estados unidos, França, Suíça, Inglaterra. Entretanto, no ano de 1959, separou-se e voltou com os filhos para o Rio de Janeiro.

A autora é uma das maiores escritoras brasileiras. Escreveu livros, poemas, romances, contos, crônicas e até literatura infantil. Com uma personalidade autêntica, singular e sem se preocupar com as críticas ela dizia: “Eu escrevo sem esperança de que o que escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada. Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro.”  Faleceu em 1977, com 57 anos, vítima de câncer de ovário.

Por fim, algumas de suas grandes obras: Perto do coração selvagem (1942), O lustre (1946), Laços de família (1960), Felicidade Clandestina (1971), Água viva (1973), Visão do esplendor (1975), A hora da Estela (1977).

8.RELAÇÃO DA OBRA LITERÁRIA ESCOLHIDA COM O DIREITO

A principal relação da obra literária “A hora da estrela” com o direito é a migração como questão social.  É difícil sair do estado natal para um outro estado, completamente diferente em todos os quesitos, seja a forma de se comunicar, o que se come, o jeito peculiar de falar.  Além da xenofobia como uma realidade enfrentada pelo nordestino.

Clarice Lispector, em um dado momento vai afirmar que Macabéa, retratada no livro teve a sua inocência pisada, em palavras mais claras, ela teve sua história de vida desvalorizada. Nas palavras de Clarice “Macabéa era tão pobre que só comia cachorro quente”, e essa era a dura realidade de uma datilografa nordestina, que as escondidas, à noite, por falta do que ter para comer, comia papel, tomava café frio e ainda em alguns poucos momentos tirava seu dia para tentar sonhar e viver pelo menos um pouco em uma sala de cinema.

Na obra, em vários momentos, o narrador fictício da história se pronuncia a Macabéa, com ar de desdém, mostrando para o leitor o quão a personagem era desarrumada, sem jeito para andar nas ruas do Rio de janeiro. Entretanto, em outros pontos do livro, ele a coloca em lugar de afeição (LISPECTOR, 2013, p. 23):

Se o leitor possui alguma riqueza e vida bem acomodada, sairá de si para ver como é às vezes o outro. Se é pobre, não estará me lendo porque ler-me é supérfluo para quem tem uma leve fome permanente. Faço aqui o papel de vossa válvula de escape e da vida massacrante da média burguesia. Bem sei que é assustador sair de si mesmo, mas tudo o que é novo assusta. Embora a moça anônima da história seja tão antiga que podia ser uma figura bíblica. Ela era subterrânea e nunca tinha tido floração. Minto: ela era capim.

A vida de um nordestino que migra do seu estado para uma outra região no Brasil não é fácil. A discriminação e xenofobia ainda acontecem, fazendo com grande parte dessa população de pessoas sofram em questões como busca por emprego, fazendo com que a massa nordestina em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, seja marginalizada.

No livro, além de abordar a pauta migratória, aborda também o fato das mulheres no Brasil serem vistas de forma “substituível “como nesse trecho mencionado no livro escolhido (LISPECTOR, 2013, p. 4):

Como a nordestina, há milhares de moças espalhadas por cortiços, vagas de cama num quarto, atrás de balcões trabalhando até a estafa. Não notam sequer que são facilmente substituíveis e que tanto existiram como não existiriam. Poucas se queixam e ao que eu saiba nenhuma reclama por não saber a quem. Esse quem será que existe?

O machismo, como realidade social, torna as mulheres “substituíveis”, ocorrendo a desvalorização feminina. O trabalho da mulher não é bem visto e valorizado. Desta forma, Macabéa no livro, como mulher, era extremamente rebaixada e menosprezada, uma jovem sem experiências de vida e infelizmente sem pais, completamente órfã, vinda do interior para uma grande capital, vivendo uma vida que não era a que sonhou nem desejou.

Assim, há a busca pelo bem-estar e qualidade de vida por Macabéa, que no decorrer da história, são frustrados.  O livro é a representação da realidade do nordestino, e traz também a desvalorização do trabalho feminino no país.

8.CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do projeto Direito e Literatura, é disseminar informação, conhecimento, e cultura da Literatura brasileira. Com a obra apresentada “A Hora da Estrela” de Clarice Lispector, mostrou-se a realidade de uma retirante nordestina, que se desloca do interior para uma grade capital, vivendo uma realidade que infelizmente, a silenciou, menosprezou, dentre esses fatores pelo fato de ser uma mulher.

Portanto, ressalta-se a importância do projeto, a importância da leitura, da busca por conhecimento, das trocas de conversa, para alcançar discussões sobre realidades sociais atreladas ao direito.

9.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DIANA, Daniela. Vida e Obra de Clarice Lispector. Toda matéria.  Disponível em:

https://www.todamateria.com.br/vida-e-obra-de-clarice-lispector/

FRAZÃO, Fernando. A hora da estrela – Resumo da obra de Clarice Lispector. Guia do estudante. 18 de setembro de 2019. Disponível em:

https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/a-hora-da-estrela-resumo-da-obra-de-clarice-lispector/amp/ 

LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela.  Rio de Janeiro. ROCCODIGITAL. Março 2013.

SALVÁ, Camila. DIEDRICH, Andressa. A MIGRAÇÃO COMO TEMÁTICA SOCIAL EM A HORA DA ESTRELA. Instituto LING. 13 de novembro de 2020. Disponível em: https://institutoling.org.br/explore/a-migracao-como-tematica-social-em-a-hora-da-estrela#:~:text=A%20migra%C3%A7%C3%A3o%20como%20tem%C3%A1tica%20social%20em%20A%20Hora%20da%20Estrela&text=(Se%20o%20leitor%20possui%20alguma,tem%20uma%20leve%20fome%20permanente.

SILVEIRA, Juliana da Silva. OLIVEIRA, Viviane Cristiana. A QUESTÃO SOCIAL NA OBRA “A Hora DA ESTRELA”, DE CLARICE LISPECTOR. Revista Humanidades e Inovação. P:254 a 260. 13 de julho de 2020.