INTRODUÇÃO.
Acho que o uso de computadores no processo de ensino aprendizagem, em lugar de reduzir, pode expandir a capacidade crítica e criativa (...). “Depende de quem usa a favor de quê e de quem e para quê.” (FREIRE, 1995 p. 98).
Este artigo tem por objetivo apresentar indicações teóricas acerca da relação que se deve observar e estabelecer entre tecnologias e alunos; tecnologias e professores; ensino aprendizagem como meio de se realizar este processo e o papel da escola nesta interação.
Quando se fala em tecnologia é preciso entender o seu conceito, como “conjunto de conhecimentos e princípios científicos que se aplicam ao planejamento, à construção e a utilização de um equipamento em um determinado tipo de atividade.” (KENSKI, 2007, p.24).
Sobre o avanço tecnológico e sua importância dentro do contexto educacional podemos citar o comentário de Takahashi (2000 apud PRETTO; PINTO, 2006, p.25) que afirmou:
A rapidez com que a Internet se alastrou pelo mundo foi um fenômeno surpreendente para todos. Dados apresentados no Livro verde do Programa Sociedade da Informação no Brasil demonstram que o rádio levou 38 anos para atingir um público de 50 milhões de telespectadores nos Estados Unidos, enquanto o computador levou 16 anos, a televisão, 13 anos, e a Internet, em apenas quatro anos, atingiu a marca de 50 milhões de internautas.
Desta forma, podemos afirmar que vivemos em uma sociedade capitalista, globalizada e interligada. Esta nova sociedade, assim como outros modelos de sociedade, tem a capacidade de incluir e excluir socialmente aqueles que não estão adequados ao seu funcionamento.
Assim que as novas tecnologias a cada dia se revestem de uma função quase indispensável como ferramentas de acesso à informação, interação social e profissional, e nesta relação à exclusão se agrava quando falamos de pessoas que não acompanharam a evolução e sim se descobriram diante dela, entre muitas das situações existentes nesta realidade, está o caso dos jovens e adultos – EJA.
Os alunos da EJA tem uma característica própria que os configuram como sendo aqueles que não tiveram oportunidade de seguir os estudos formais na época condizente com idade/série. Ainda pode-se apontar como ponto característico desta classe de alunos como sendo aqueles provenientes de camadas mais carentes da população, e já inseridos de alguma forma no contexto laboral. Na maioria dos alunos o contato com computadores ou outras tecnologias se realiza de forma precária e informal.
A ausência deste contato dos alunos EJA com as mídias, de forma direcionada, numa relação de ensino aprendizagem, é mais um fator que se acrescenta a uma lista de dificuldades para estes alunos na busca de ampliar suas relações sociais e profissionais. Desta forma, o ensino voltado à EJA deve ter como meta um ensino onde os alunos possam apropriar-se destes conhecimentos e obter mais chance no processo de interação.
Através da educação podemos ajudar a desenvolver o potencial que cada aluno tem, dentro das suas possibilidades e limitações. Para isso, precisamos praticar a pedagogia da compreensão contra a pedagogia da intolerância, da rigidez, a do pensamento único, da desvalorização dos menos inteligentes, dos fracos, problemáticos ou “perdedores”. Praticar a pedagogia da inclusão. (MORAN, 1997).
Na opinião de Segnini (2000) a estrutura do mercado de trabalho também tem passado por mudanças: altas taxas de desemprego são acompanhadas da crescente insegurança e precariedade das novas formas de ocupação. A busca por diploma não é mais uma garantia de inserção laboral, a passagem da vida estudantil para vida profissional deixou de ser linear, e esbarra em grandes contingentes de concorrência.
Hoje já é possível indicar ao menos três níveis de interatividade que envolva pessoa e tecnologia: “nativos digitais”, “imigrantes digitais” e “analfabeto digital”. Para Monteiro (2009) os primeiros referem-se àqueles que são capazes de ver TV, ouvir música, teclar no celular e usar o notebook, tudo ao mesmo tempo. Os demais, imigrantes digitais, são aqueles não nasceram na era digital, mas que estão aprendendo a lidar com a tecnologia - ou, em alguns casos, até mesmo se recusando a aceitá-la, e por fim os analfabetos digitais são aqueles totalmente excluídos de qualquer contato com a era da informática.
Valente (1993) afirma que a Informática, com todas as suas ramificações, trouxe a exigência da formação de um homem com capacidade de adaptação às mudanças. Concordando com essa opinião, Dimenstein (1998, p.16) afirma que o analfabeto digital não encontrará lugar no mercado de trabalho em uma sociedade informatizada.
O bom profissional nos dias atuais define-se pela capacidade de encontrar e associar informações, de trabalhar em grupo e de se comunicar com desenvoltura. Terá futuro o estudante que souber lidar com imprevistos e se adaptar rapidamente às mudanças, fazer pesquisas e interpretar os dados.
Diante desta realidade indiscutível da importância das novas tecnologias no processo de ensino aprendizagem, o domínio delas se apresenta como um dos traços importantes do novo perfil do educando e do educador. Segundo Sampaio e Leite (1999, p.75):
É importante a capacidade de lidar com as diversas tecnologias e interpretar sua linguagem, além de distinguir como, quando e por que são importantes e devem ser usadas. Esta alfabetização significa um domínio inicial das técnicas e suas linguagens, mas está relacionada também a um permanente exercício de aperfeiçoamento mediante o contato diário com as tecnologias. Relaciona-se ao conhecimento técnico e pedagógico que o professor deve ter das tecnologias e de seu potencial pedagógico.
Quanto ao processo de ensino e aprendizagem que envolve jovens e adultos, Ireland[1] (2009) afirma que a educação de Jovens e adultos (EJA) é vista por muitos como uma forma de alfabetizar quem não teve oportunidade de estudar na infância ou aqueles que por algum motivo tiveram de abandonar a escola. Felizmente, o conceito vem mudando e, entre os grandes desafios desse tipo de ensino, agora se inclui também a preparação dos alunos para o mercado de trabalho - o que ganha destaque nestes tempos de crise econômica: "Hoje sabemos do valor da aprendizagem contínua em todas as fases da vida, e não somente durante a infância e a juventude".
O contato com as novas tecnologias podem favorecer e muito a jovens e adultos no processo de sua reinserção social e laboral. Nesta etapa de contato, um agente de grande importância, que exerce um papel preponderante que vai estabelecer esta relação, é o professor.
Mas era que o professor está preparado? Em termos de capacitação docente para tecnologias, Ramos Ó[2] (2007) afirma que hoje há uma espécie de guerra a essa capacidade que os meninos e meninas têm de construir a linguagem do mundo por meio de toda a tecnologia que dominam mais e melhor do que os adultos. Há aqui um conflito que não é apenas de gerações; é primordialmente de linguagem: “Fatalmente nós professores temos que nos adaptar aos artefatos da tecnologia e utilizá-los como recurso para a transformação da nossa mundividência”.
Até que ponto alunos e professores podem viver a exclusão tecnológica? Nas palavras de Castell (2004, p.15):
A internet é o tecido das nossas vidas. Se as tecnologias da Informação são o equivalente histórico do que foi a eletricidade na era industrial, na nossa era poderíamos comparar a internet com a rede elétrica e o motor elétrico, dada a sua capacidade para distribuir o poder da informação por todos os âmbitos da atividade humana. E mais, tal como as novas tecnologias de geração e distribuição de energia permitiram que as fábricas e as grandes empresas se estabelecessem como as bases organizacionais da sociedade industrial, a Internet constitui atualmente a base tecnológica da forma organizacional que caracteriza a Era da informação: a rede.
Segundo Pereira e Caparróz, (2008, p.101).
A sociedade da informação, na qual estamos inseridos, nos confronta com diferentes termos e conceitos que passam a se tornar comuns na linguagem presente no ciberespaço. Falar em trocar email, teclar, navegar na internet pode parecer familiar para aqueles que utilizam a Rede Mundial de Computadores, como os nativos digitais, mas pode ter outro, ou até nenhum, significado, para os excluídos digitais.
É possível classificar alunos em nativos, imigrantes digitais e analfabetos digitais. Mas tal classificação pode ser aplicada também aos professores?
Acreditamos que sim, e se não houver uma adequação na formação de professores aptos a esta realidade, o ensino não conseguirá superar a dicotomia do aprender e ensinar através de diálogo de saberes, e haverá por outro lado, uma constante repetição da história de “Tistus” [3] (...).
Segundo Altoé e Teruya (2005) os avanços tecnológicos não são acompanhados pela formação de professores e tampouco os níveis de compreensão relativos às questões do uso da informática na educação para educador.
Da mesma forma que existe uma gama de pluralidade de fatores de interferência no aprendizado do aluno, o mesmo ocorre com processo de aprendizado do professor. Tardif (2002, p.104) afirma que os saberes profissionais “plurais provém de fontes sociais diversas (família, escola, universidade, etc.) e são adquiridos em tempos sociais diferentes: na infância, da escola, da formação profissional, do ingresso na profissão, da carreira”. Finalmente, são pragmáticos, pois os saberes que servem de base ao ensino estão intimamente ligados tanto ao trabalho quanto à pessoa do trabalhador.
Mas, no caso da necessidade do aprendizado do uso das tecnologias, este saber deverá ser adquirido através de estudo formal, seja durante a formação inicial, ou em forma de cursos de capacitação ou extensão.
Sobre as novas abordagens teórico-metodológicas de estudos dos saberes docentes, Nóvoa (1995, p.19) afirma que:
Esta nova abordagem veio em oposição aos estudos anteriores que acabavam por reduzir a profissão docente a um conjunto de competências e técnicas, gerando uma crise de identidade dos professores em decorrência de uma separação entre o eu profissional e o eu pessoal.
O contexto social no qual estamos inseridos não permite mais que a formação inicial de professores se esquive do desenvolvimento tecnológico e da própria educação a distância que hoje se apresenta como outro palco de trabalho de professores, pedagogos, designers, analistas, entre outros profissionais. (CAPARRÓZ E LOPES, 2008 p.61).
Importante destacar a opinião de Nóvoa[4] sobre a importância da participação dos professores na utilização das novas tecnologias de informação e comunicação na escola. Mas esta utilização deve ter como referência central o próprio conhecimento profissional do professor. Isto é, não se deve instalar como mais uma “moda” ou um “recurso mágico”, mas deve sim ser objeto de um trabalho de apropriação por parte do professor.
Para Teruya (2006, p.81):
Essa nova realidade obriga os professores a se adaptarem ao novo paradigma de conhecimento demandado pelas alterações no mundo do trabalho. Neste contexto o professor deve se apropriar das diferentes linguagens existentes no mundo da mídia, não apenas decifrar os códigos, mas também estar munido de uma interpretação crítica dos conteúdos que circulam nos diversos meios de comunicação.
É necessário ao professor educador, o domínio da linguagem utilizada pelas tecnologias que estão à sua volta e sua alfabetização tecnológica. “A alfabetização tecnológica não pode ser compreendida apenas como o uso mecânico dos recursos tecnológicos, mas deve abranger também o domínio crítico da linguagem tecnológica” (SAMPAIO; LEITE; 1999 p. 16).
Neste sentido Aranha (2007, p.228) discute que:
A tecnologia não surge como algo de fora, mas fruto das relações sociais, que depende da necessidade do uso, e os homens/mulheres utilizam as tecnologias conforme as necessidades que tiverem para mediar suas relações.
Segundo pesquisas do IBGE[5] realizadas em 2007, com dados publicados em 2009 sobre o perfil do aluno EJA, quanto aos motivos de estarem matriculados, a opção “melhores oportunidades de trabalho”, atingiu (19,4%). Das 4,9 milhões de pessoas que frequentam cursos de qualificação profissional no país em 2007, 45,5% optam pelo curso de informática, o que demonstra a necessidade do mercado e na economia.
Estas pesquisas também apresentam dados que evidenciam que mais de 79% da população brasileira nunca acessou internet, de acordo com esse levantamento apenas 32,1 milhões de brasileiros tem acesso à internet, mas infelizmente alguns não podem acessá-la frequentemente, destes, 37,2% dos entrevistados pelo IBGE (idem), alegaram que não acessam a internet devido ao alto custo dos PC (Computador Pessoal) (...) e ainda outros 20,5% disseram que nunca a usaram porque não sabem operar um computador.
Desde 2002, o Governo Federal através do Ministério das Comunicações, desenvolve um Programa de Inclusão Digital, que tem por objetivo alargar o processo de universalização do acesso à internet. Este programa que tem por nome GESAC (Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão) já atinge cerca de 3.300 comunidades em todo o país pretendendo a cada ano atingir uma meta muito maior, para que se estabeleça uma grande rede pública de conexão com a Internet.
Sabemos que nosso país sofre sérias desigualdades sociais, de modo que as desigualdades determinam uma série de processos de exclusão. No presente contexto em que vivemos, chamado “Sociedade da Informação”, é possível notar que poucos brasileiros têm acesso aos conteúdos informativos, jornalísticos, educacionais, culturais e de entretenimento que integram o mundo aberto pela Internet (Manual do Usuário do Programa GESAC, 2007, p. 12).
Sobre inclusão digital, Cesare (2007, p. 24) confirma que o governo Federal está à medida do possível alargando seu processo de “Inclusão Digital”, desta forma devemos orientar nossos alunos acerca das novas tecnologias que a escola dispõe; além disso, apostar na a Inclusão Digital é proveitosa para aquisição de conhecimento, “[...] o acesso à rede mundial de Internet melhora em 5,5 pontos no desempenho dos alunos”.
Afirma Imbernón (2006 p. 19):
Há consenso que nossa profissão deve abandonar a concepção predominante no século XIX de mera transmissão do saber escolar. O professor não pode ser um mero executor do currículo oficial e a educação já não é mais propriedade da escola, mas de toda a comunidade. O professor precisa assumir uma postura mais relacional, dialógica, cultural, contextual e comunitária.
Para Canário Matos[6] (2010) ambientes de trabalho mais problemáticos e marcados por uma crescente complexidade pedem aos professores que, de modo eficaz e eficiente, transmitam conhecimentos, promovam a autonomia dos alunos, construam métodos inovadores facilitadores das aprendizagens e ponham em prática modos de ensino e de acompanhamento individualizado, no sentido de dar uma resposta positiva à crescente heterogeneidade dos públicos escolares. Também se pede aos professores que integrem nas suas práticas profissionais um aproveitamento pleno das potencialidades das novas tecnologias de informação.
Não é pertinente, nem fértil, questionar a formação e o exercício profissional dos professores sem, simetricamente, questionar quem são os actuais públicos escolares, o que mudou, como constroem os alunos a sua experiência escolar, qual a sua relação com o saber e que sentido atribuem às suas vivências escolares. (CANÁRIO MATOS, 2010).
Os computadores foram colocados nas escolas para atender uma proposta de mudança pedagógica, em que a principal ideia era que os computadores auxiliassem professores no desenvolvimento do conhecimento dos conteúdos. Esse processo de inclusão da informática nas escolas tem suas limitações quanto ao preparo dos professores para a utilização do computador na prática do ensino. (COSTA; LIMA, 2008 p. 21).
Uma das críticas por uso indevido das salas multimídias nos colégios foi elaborada por Valente (1999, p.01) que explica: “uma abordagem muito comum nas escolas, hoje, é a utilização do computador em atividades extraclasse, com o intuito de ter a informática na escola, porém, sem modificar o esquema tradicional de ensino”.
Ao citar a questão do ciberespaço, necessariamente temos que falar de Papert (1994), que desenvolveu o programa LOGO no MIT (Massachussetes Instituto Techology), com desenvolvimento de uma teoria de ensino com base em Piaget, conhecido como teoria do construcionismo, ou seja, um programa de computador que proporciona ao aluno a possibilidade de criar e aprender criando e não meramente reproduzindo um ensino formal.
Dentre das possibilidades infinitas do uso da informática e dos computadores na educação, o professor deve ter consciência do seu importante papel em não ficar preso a teorias tradicionais empiristas onde a aprendizagem ocorre com a reprodução do mundo real através da transmissão do conhecimento, e sim aplicar um ensino voltado às teorias construtivista de Vigotsky e Piaget, que subsidia o conhecimento estruturado na compreensão que o sujeito realiza entre a ação e procedimento.
Deve-se observar e (re) pensar a forma em que os computadores nas escolas estão sendo usados, se como máquinas de ensino e reprodução, baseados meramente do empirismo, ou como ferramenta de aprendizagem, fundamentado no construtivismo. Segundo entendimento de alguns autores como Papert (1994) e Valente (1993), a inserção da informática tem como principal função servir ao aluno para que este saiba utilizá-lo como instrumento para seu desenvolvimento cognitivo pessoal e profissional.
Na mesma opinião segue Peixoto (2010) que defende que os computadores na escola ainda são vistos como ferramentas cujo alcance depende da forma como são utilizados pelos professores e que se apropriados segundo um método transmissivo, serão disseminadores de uma pedagogia transmissiva, baseada na reprodução de conteúdos; Se apropriados numa dinâmica colaborativa e interativa, implantarão uma educação em rede, conectada com as demandas da sociedade tecnológica.
Com respeito a esta necessidade de ensinar que as novas tecnologias estão a serviço da informação, numa relação colaborativa e dinâmica, esta concepção deve ser aplicada na prática. Neste sentido, Rocha (2002) afirma que o jovem e o adulto querem ver a aplicação imediata do que estão aprendendo e, ao mesmo tempo, precisam ser desafiados para resgatarem a sua autoestima, pois sua "ignorância" proporciona-lhes ansiedade, angústia e "complexo de inferioridade".
Não há dúvida de que o uso de computadores, laboratórios de informática e salas multimídias colaboram no aprendizado, muitos estudos já demonstraram resultados positivos neste sentido, mas a questão é saber como estes programas estão sendo escolhidos e utilizados. Estas ferramentas devem ser usadas em prol do aluno de forma que ela possa apreender seus conceitos e os utilizem na sua vida pessoal e profissional com resultados positivos intelectualmente e socialmente. Neste sentido cabe ao professor saber escolher quais formas, programas e meios deve utilizar para cada momento do ensino.
A responsabilidade da escolha do programa de informática a ser aplicado é do professor, cabe a ele a decisão entre um programa de exercício e prática, que é o mais comum e serve para treinar habilidades e revisar conteúdo; programas tutoriais, que fornecem textos virtuais com animação gráfica, mas ensina como professor e tem respostas limitadas, serve como reforço daquilo já aprendido; e ainda programas de simulação e jogos que podem ser estimulantes e entretenimento.
Acreditamos que no processo ensino aprendizagem, as novas tecnologias devem ser aportadas aos alunos de forma que estes possam apreender sua importância com estabelecimento de aprendizagem permanente e que esta aprendizagem possa contribuir como fator diferenciador na reinserção social profissional.
Para Levy (1999 p.34), no século XXI, a interação entre a escola e cibercultura mostra-se fundamental:
Na cibercultura encontramos uma grande gama de informações, como também no ciberespaço14, em constante mudança. Já na escola, as informações seguem a rigorosidade das fontes. A interação ocorre quando a escola usufrui dos recursos tecnológicos da cibercultura e ensina os alunos a construírem seu conhecimento, partindo de suas próprias experiências pessoais, de livros e das informações oriundas do ciberespaço (internet).
Quanto ao papel da escola na relação com o aluno, precisamos pensar e produzir uma escola que forme cidadãos capazes de lidar com o avanço tecnológico, participando dele e de suas consequências. Essa capacidade se forja não só por meio do conhecimento das tecnologias existentes, mas pelo contato com elas e da análise crítica de sua utilização e de suas linguagens como ferramenta eficaz de aprendizado e trabalho.
É, portanto, vital para a sociedade brasileira que a maioria dos indivíduos saiba operar com as novas tecnologias da informação e valer-se destas para resolver problemas, tomar iniciativas e se comunicar. [...] E o lócus ideal para deflagrar um processo dessa natureza é o sistema educacional (BRASIL/PROINFO, 1997, p. 02).
Campos[7] (2009, p. 30) em sua participação no encontro estadual preparatório para o XI ENEJA, destacou a importância de se realizar uma reflexão sobre a busca pela implementação de uma política pública para a EJA no Brasil e que se efetive o direito à educação para todos, bem como destacou a importância das novas tecnologias no mundo de hoje a qual exige um novo perfil de trabalhador.
Pesquisas[8] revelam uma grande concentração de jovens desempregados particularmente na faixa etária de 16 a 24 anos. Aspectos diversos como trabalho, capital e tempo vêm sendo (re) significados e têm exercido influência mútua com a presença das chamadas tecnologias da informação e da comunicação, o que permite afirmar que a sociedade está em rede (CASTELLS, 1999), e aqueles que não se apropriam de seus conhecimentos, ficam apartados desta nova sociedade.
Nelson Pretto (2008, p. 81) chama atenção para a necessidade de qualificação no uso das tecnologias:
A presença de tecnologias mais simples, como os livros impressos, ou de outras mais avançadas, como os computadores em rede, produzindo novas realidades, exige o estabelecimento de novas conexões que as situem diante dos complexos problemas enfrentados pela educação, sob o risco de que os investimentos não se traduzam em alterações significativas das questões estruturais da educação.
Segundo Oliveira; Costa e Moreira (2001, p. 62) o uso da informática na educação exige em especial um esforço constante do educador para transformar a simples utilização do computador numa abordagem educacional que favoreça efetivamente o processo de conhecimento do aluno.
É comum ouvir nas escolas que o professor deve utilizar o computador em suas aulas, mas estas aulas, não podem ser simplesmente um repasso da matéria ou leitura do que já foi falado em aula, mas sim uma oportunidade de buscar novas informações sobre o tema correlato. Uma forma que o aluno possa perceber que pode contribuir com sua própria aprendizagem.
Guerra (2000) destaca que as tecnologias digitais não são panacéia para a educação. Dependendo da maneira que forem escolhidas ou utilizadas, tanto podem libertar como domesticar, ampliando os problemas existentes ou criando outros. Neste sentido Martín-Barbero (2009, p. 10) destaca que, atualmente:
[...] há tanta informação que é muito difícil saber o que é importante. Mas o problema para mim não é o que vão fazer os meios, mas o que fará o sistema educacional para formar pessoas com capacidade de serem interlocutoras desse entorna; não de um jornal, uma rádio, uma TV, mas desse entorno de informação em que tudo está mesclado. Há muitas coisas a repensar radicalmente.
Para pesquisadora Teruya, (2006, p.47) a mídia tem poder, tanto para educar como para deseducar, devido a sua extensão simbólica que atinge o sujeito, ela afirma: “A mídia, na medida em que exerce influência sobre o universo das pessoas, é um instrumento com o poder de ensinar e educar o povo, mas também de deseducá-lo”.
Sobre o poder de influência da informática no aluno, Camargo e Bellini (1995, p.11) apontam que há situações em que o estudante é iniciante na tecnologia informatizada, ou seja, envolveu-se pouco com a máquina: “esse primeiro contato é essencial para quebrar resistências, e por isso, deve ser feito com cuidado. Ele pode marcar o início de um bom relacionamento ou de uma antipatia incurável”.
De todo o exposto, queremos demonstrar a necessidade de uma discussão contínua sobre como as novas tecnologias e seu uso está integrado ao cotidiano do aluno e do professor, e podem e devem estar unidas para a construção de uma consciência crítica, emancipatória e fixadora de habilidades permanentes de jovens e adultos em sua preparação para se inserir no mercado de trabalho segundo previsão legal da LDB/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), que determina:
Art. 1º. (...)
§ 2º. A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.
A necessidade de adaptação às mudanças é justificada pela dinâmica que o avanço tecnológico impõe à sociedade. Papert (1994) considera que a capacidade mais importante imposta pela informatização é a capacidade de aprendizagem, tanto que ele chama esse período de Era da Aprendizagem.
“Segundo esta modalidade o computador não é mais o instrumento que ensina o aprendiz, mas a ferramenta com a qual o aluno desenvolve algo, portanto, o aprendizado ocorre pelo fato de estar executando uma tarefa por intermédio do computador”. (VALENTE, 1993, p.10).
As inquietações que decorrem de uma revolução tecnológica, como a possibilitada pelo computador, são estimulantes para o aprofundamento de reflexões sobre construção de um clima intelectual inquieto e mais arrojado na busca de comportamentos autônomos, em que as pessoas assumam parcelas crescentes da responsabilidade pelo “educar-se” (RUIZ, 2004).
Aguaded-Gomez (1999) assegura que educar para os meios é por a educação a serviço da democracia, na medida em que a democracia encontra-se em perpétua construção e seu fortalecimento depende de modo crucial da capacidade da escola de contrastar os diversos modos de aquisição de conhecimentos para aumentar o senso-crítico do cidadão.
Indicamos aqui a importância de incentivar novas investigações como os sujeitos aluno e professores interagem nas práticas diárias do ensinar mediados pelo diálogo com TIC’s, e se esta relação se realiza num processo colaborativo e autônomo entre os participantes e destes com outros componentes do grupo, apontando pistas para a necessidade de capacitação dos professores e/ ou aprimoramento do uso de tais ferramentas para o ensino.
Novas pesquisas precisam ser realizadas com intuito de:
Analisar como se dá o processo de ensino e aprendizagem num ambiente permeado de sujeitos (professor e aluno) nativos, imigrantes e analfabetos digitais;
Identificar quais concepções de educação estão sendo adotadas na práxis docentes na EJA com relação à utilização das tecnologias disponíveis, com finalidade de refletir sobre possíveis e necessários (re) direcionamento da atuação didática docente; Quais ambientes e ferramentas a escola subsidia e proporciona aos professores e alunos na área de multimídias? É um espaço aberto ou controlado?
Compreender se os professores apresentam resistência no uso das tecnologias disponíveis na escola, e qual seria a forma de superação de tais dificuldades apontadas por eles?
Portanto, verifica-se a existência de muitas questões e que ainda esperam por respostas que possa subsidiar reflexão acerca dos resultados. Um dos principais objetivos deste artigo é contribuir para o desvelo do processo das concepções de ensino que envolva o uso da tecnologia, a formação e desenvolvimento dos saberes docentes com relação ao uso e à disseminação do conhecimento das mídias e a forma de realização do diálogo dos saberes entre professores e alunos mediados pelas TIC’s no ensino EJA.
Segundo revisão bibliográfica, devemos ter um olhar diferenciado para aplicabilidade da informática, que dever ser vista como instrumento de aprendizagem e acessibilidade à informação e aprendizado permanente.
Acreditamos que ao apresentar teorias e ideias, propor discussões dentro do tema das novas tecnologias na educação de jovens e adultos, é no mínimo uma forma de iniciar mudança da ação de educar, de formar, e (re) construir as bases para uma vida profissional.
Reconhece Guareschi (2005, p. 09) que.
É necessário esse olhar crítico sobre a mídia e seu desempenho na sociedade, e que a formação do cidadão deve ser para autonomia e criticidade. O autor coloca a mídia como o “quarto poder” e que o quinto poder, capaz de superar essa mídia, seria os cidadãos capacitados de conhecimento.
Os resultados de pesquisas neste campo tendem a contribuir para elaboração, a partir dos professores, de uma proposta metodológica de ensino eficiente de informática aplicada a EJA, de forma que possa evitar exclusão social e estimule a inserção em rede social destes jovens no mundo globalizado e informatizado bem como, despertar a consciência dos professores para o fato da necessidade de proporcionar um ensino de atitudes e competências éticas e profissionais no uso destas ferramentas tecnológicas.
“A função da tecnologia coincide com a promoção da liberdade pelas perspectivas que abre ao homem para refletir sobre si, seus problemas e exigências” (PINTO, 2005, p. 792).
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[1] Diretor do Departamento de EJA do Ministério da Educação (MEC) de 2004 a 2007, Ireland foi o responsável pela coordenação da sexta edição da Conferência Internacional de Educação de Adultos (Confintea), o mais importante encontro do mundo na área, que ocorre apenas a cada 12 anos. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/modalidades/eja-tem-agora-objetivos-maiores-alfabetizacao-476424.shtml>acesso em 14 de agosto de 2010.
[2] Entrevista realizada por ocasião da participação de Jorge Ramos do Ó, em 2007 das Jornadas de Pesquisa em Educação e Cultura, promovidas pelo Grupo de Pesquisa sobre Cultura e Educação (GPCE) e pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da ULBRA. Desafios à Escola Contemporânea: um diálogo disponível http://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/viewFile/6653/3970
[3] DRUON, Maruricie. Tistu, O Menino Do Dedo Verde. Tistou Les Pouces Verts Foi escrito em 1957 pelo escritor francês Maurice Druon, relançado por Jose Olimpio em 2008. A estória do menino que dormia nas aulas convencionais por falta de motivação, e cujasopotencialidades se desenvolveram a cargo do pai que resolve que ele aprenderia melhor vivenciando a aprendizagem. Disponível em http://www.gazetainsonia.com/visualizar.php?idt=1426582 acesso em 28 de agosto 2010.
[4] NOVOA, Antonio. Em entrevista por ocasião da São Paulo para o 25º ISCHE (International Standing Conference for the History of Education). 2004.>disponível em http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ent/antonio_novoa.pdf>acesso em 15 de agosto de 2010.
[5] IBGE - INSTITUT O BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa nacional por amostra de domicílio (PNAD) 2007. Brasília: IBGE, 2007. Disponível http://www.ibge.com.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1375&id_pagina=1.
[6] CANARIO MATOS, Rui. Formação e desenvolvimento profissional dos professores.2010 Disponível em <http://mam.net.educom.pt/file.php/1/SIAP/2010/10Jun26/FormDesenvolProfisProfes.pdf> .acesso em 21 de agosto de 2010
[7] CAMPOS, Aidê, é atual Superintendente da Educação Básica da Secretaria do Estado de Mato Grosso.
[8] Pesquisa divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que 45,5% do total de desempregados brasileiros têm entre 16 e 24 anos. Fontes: Folha de S.Paulo – João Sandrini, Valor Econômico–SP. (14/09) Disponível em http://www.seduc.mt.gov.br/download_file.php?id=3879> acesso em 12 agosto de 2010.
Graduada em Pedagogia pela Universidade de Cuiabá (2002); graduada em Direito pela Universidade de Cuiabá (1994);Especialista em Direito Empresarial (1996);Especialista em Direito Processual Civil (1997); Especialista em Docência do Ensino Superior (2005). Mestre em Educação pela Universidad Marta Abreu de Las Villas - Cuba (2005). Mestre em Educação Universidade Oeste Paulista- Unoeste ( 2010), doutoranda em Direito Universidade de Burgos Espanha (suspenso) e Doutoranda Educação Instituto de Educação Universidade de Lisboa. Professora no Estado de Mato Grosso desde1989 ensino básico e EJA, Docente do Ensino Superior desde 2000 com disciplinas de Direito Consumidor, direitos autorais e Falência. Atua como advogada em Direito Empresarial .
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: BARROS, Jessika Matos Paes de. As novas tecnologias e a educação de jovens e adultos Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 28 nov 2011, 08:07. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/26737/as-novas-tecnologias-e-a-educacao-de-jovens-e-adultos. Acesso em: 22 nov 2024.
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