O Futuro do Trabalho: fadiga e ócio na sociedade pós-industrial – José Olympio, 2000, 354 páginas –, do sociólogo italiano Domenico de Masi, suscita um complexo de teses com o desígnio de subverter a ideologia em que a sociedade contemporânea deita raízes, conferindo ânimo a uma antagônica concepção de trabalho: o labor, hodiernamente, galgou seu caráter de imprescindibilidade para assumir um papel de mero coadjuvante em uma sociedade amplamente dominada pela tecnologia que fomenta a maciça parcela das riquezas.
Calcado na absoluta adesão à assertiva exteriorizada, o autor firma passo sobre a libertação do trabalho humano na sociedade pós-industrial, a qual germinou em curso posterior à segunda Guerra Mundial, com a veementeimplementação tecnológica, culminando na mutação das acepções de tempo e espaço, no que concerne ao trabalho e à vida. Sob essa vertente, a organização laboral estribada no paradigma taylorista vem cedendo terreno à tecnologia capaz de conceder ao homem sua carta de alforria frente ao trabalho – o que redundaria na dedicação ao ócio criativo, como pondera Domenico.
Partidária da doutrina marxista, a obra segrega-se em cinco partes, desaguando no derradeiro capítulo em que o sociólogo reestrutura a apreciação do tempo livre oriundo da mitigação do trabalho manufaturado, em virtude das vertiginosas edificações tecnológicas da sociedade pós-industrial. Justapõe-se à posição de que o tempo ocioso deve manter tênue liame com a criatividade, resultando na confusão entre labor e ócio criativo.
A fulgente argumentação exposta no defluir da obra goza de alicerces sólidos erguidos a partir de um exame histórico, transcendendo as diversas compreensões de trabalho na sociedade pré-industrial, industrial e pós-industrial, sempre com o norte de intentar uma vanguardista posição– o trabalho está sendo maculado por uma crônica patologia que o levará à morte em um futuro breve.
Tracejando o labor na sociedade pré-industrial, o sociólogo italiano repousa o olhar, basilarmente,sobre as mutações suportadas pelo homem no transcorrer do mundo antigo, percorrendo com minudência o limiar tecnológico – que, ulteriormente, contribuiu para o naufrágio do regime laboral escravocrata. Com meridiana obviedade, o autor censura a defasada concepçãoaristotélica de aviltação ao trabalho manufaturado que perdurava na intelecção da sociedade elitista vigente àquela época.
Na sociedade industrial, informada pela ideologia iluminista, a agricultura renuncia sua funcionalidade de mola propulsora de desenvolvimento, sendo debelada pelas grandes indústrias, sobretudo no setor algodoeiro que deflagrou o industrialismo como precípua nascente de riquezas. Em sede de predicados inerentes à sociedade industrial, com propriedade o autor vislumbra a segregação entre a vida e o lugar de exercício do labor, sem olvidar da população agrícola em ascensão migratória em busca do trabalho manufaturado ofertado nas metrópoles.
Enveredando para os preceitos da sociedade pós-industrial, o autor assevera que a transição do industrialismo para o pós-industrialismo deu-se de modo recíproco, vez que o progresso tecnológico otimizava a indústria e esta, por seu turno, incitava os inventos tecnológicos. A edificação da tecnologia – que tornou tangível a sociedade pós-industrial –desvia o homem dos martírios da fadiga física, possibilitando dedicar-se ao ócio criativo, sem embargo à desestruturação de tempo e espaço.
No desfecho do ensaio, o sociólogo preconiza a iminente necessidade de uma revolução mental no que toca, precipuamente, à distribuição de riquezas. A obra de Domenico de Masi lança luz no obscuro abismo em que reside o futuro do trabalho na sociedade pós-industrial, onde a problemática do desemprego vem ganhando fôlego, ofertando ao leitor uma tese aparentemente utópica, ultrapassando as fronteiras de uma cultura já sedimentada há séculos – mas que, possivelmente, terá o condão deangariar a única solução aplicável ao aludido problema: a libertação do trabalho.
Referências
DE MASI, Domenico. O Futuro do Trabalho: fadiga e ócio na sociedade pós-industrial. Tradução de Yadyr. A Figueiredo. 5ª Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2000.
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