Sem dúvidas vivemos na atualidade a era do consumo intenso e a cada dia ficamos mais distantes de uma forma de frear o impulso pela aquisição de bens e serviços.
Nessa realidade social e econômica, a publicidade e suas técnicas cada vez mais eficazes possuem grande responsabilidade na aceleração e aquecimento do mercado de consumo e da economia.
Um dos importantes papéis exercidos pela publicidade na sociedade moderna de produção em massa é fazer com que o sistema subsista, isto é, tudo o que é produzido deve ser consumido. Partindo-se dessa premissa, importante esclarecer que há tempos o consumo deixou de ser a compra de produtos ou serviços para a satisfação das necessidades básicas do consumidor.
Com essa perspectiva é que pretendemos mostrar no presente estudo que num mercado tão aquecido e saturado de inúmeros produtos, serviços e forte concorrência entre os fornecedores, a publicidade é vista como uma importante ferramenta de convencimento à disposição daqueles que buscam vender seus bens e serviços.
O trabalho desenvolvido pelos publicitários através das mensagens e discursos é tão criativo que muitas vezes fazem com que o consumidor sinta vontade de consumir determinado produto sem que tenha efetivamente necessidade de consumi-lo. Isso ocorre, pois a publicidade possui uma linguagem peculiar feita de palavras e argumentos que seduzem ou espera-se que seduzam os destinatários por meio de combinações visuais e simbólicas que utilizadas despertam o desejo pelo consumo.
É certo que os consumidores e destinatários das mensagens publicitárias gostam de ser seduzidos, uma vez que os bons anúncios passam uma sensação agradável de envolvimento com a mensagem transmitida. Muitas vezes os anúncios se aproximam do dia-a-dia dos consumidores, lhes são familiares. Por outro lado, muitas vezes os anúncios os fazem sonhar.
Desta forma, os consumidores procuram pelos produtos ou serviços veiculados nas mensagens publicitárias, pois sentem satisfação de suas necessidades humanas, as pessoas ficam felizes quando consomem.
É por essa razão que compramos um carro ou adquirimos um aparelho celular, um perfume, dentre outros. Gostamos das características desses produtos demonstradas no anúncio publicitário, mas de igual forma nos identificamos com todos os demais sinais e atributos sociais associados à determinados produtos que a linguagem publicitária propalou.
A linguagem sedutora utilizada pela publicidade na veiculação de suas mensagens é fundamental para que o receptor se interesse pelo produto ou serviço que muitas vezes é desconhecido. Nesse passo, a publicidade por meio de suas avançadas e eficazes técnicas de persuasão aproxima o consumidor dos bens ou serviços através de sinais, símbolos ou palavras que despertam no consciente do consumidor a vontade de adquirir ou possuir esses bens.
Desse modo, os produtos passam a valer mais pela imagem ou “status” que transmitem do que pelas características físicas ou úteis que apresentam. Nesse cenário, a publicidade consegue criar qualidades ilusórias ou essencialidades que não existem na realidade, faz isso por meio de seu alto poder persuasivo acrescentando valores à determinadas coisas que não existiam nas vidas e cotidianos da massiva maioria dos consumidores carentes de oportunidades para se aproximarem de padrões sociais que eles próprios desconhecem.
A aparente essencialidade atribuída aos bens e serviços pela influência do anúncio publicitário, nutre uma firme dependência dos consumidores aos significados que a publicidade estabelece ao redor destes bens que ganham sentido de veracidade a partir de algumas experiências.
Assim, o consumo e aquisição de certos bens materiais permitem ao consumidor estar diante de outros bens imateriais supérfluos tanto quanto os bens materiais que adquirem, tais como: a beleza, o prestígio, a felicidade, a satisfação pessoal. As técnicas publicitárias são tão eficazes que são capazes de vender valores sociais e estéticos materializados na forma de produtos ou serviços.
Podemos então afirmar que a publicidade mexe com o imaginário do consumidor e propõe uma inversão de papéis entre o sujeito do mundo real e o sujeito do discurso, fazendo com que os consumidores identifiquem suas realidades e sintam vontade de ser o que o anúncio transmite, mas que provavelmente não irá acontecer, pois a satisfação com a aquisição dos produtos ou serviços é passageira e, rapidamente o consumidor identifica-se na sua própria e originária realidade social. Esse fenômeno é o que Guy Croussy chama de “personalização” .
Como um mecanismo eficiente que é a publicidade antes de ser veiculada passa por aprofundados estudos acerca do público alvo da mensagem para fazer com que os receptores sintam a necessidade de consumir a partir de suas crenças, desejos, hábitos e valores. A publicidade neste ponto atua no consciente e subconsciente dos indivíduos consumidores.
Assim sendo, sem a pretensão de esgotar o assunto, mas apenas proporcionar a reflexão e maior atenção aos anúncios publicitários veiculados diariamente e aos quais estamos expostos, finalizo afirmando que a publicidade é um discurso que seduz, pois promete mais do que o produto ou serviço efetivamente pode cumprir, aproveitando-se das fraquezas, inseguranças e insatisfações de cada indivíduo para tornar-se cada vez mais forte e eficaz.
No âmbito jurídico, cumpre salientar que o Código de Defesa do Consumidor protege este elo mais fraco da relação jurídica de consumo por meio de normas que asseguram o direito a reparação integral de eventuais prejuízos decorrentes do mau uso da atividade publicitária, consoante normas constantes dos Artigos 36 a 38 do CDC, além dos princípios específicos da publicidade consagrados pelo mesmo sistema normativo.
REFERÊNCIAS
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