AMUZA AMADE[1]
(Coautor)
Resumo: A História da Ciência, ajuda na melhoria da compreensão dos fenómenos e conceitos físicos, pois em seu estudo, a aprendizagem é contextualizada, informada e amenizada pelas dimensões sociais, filosóficas, culturais, etc. A presente pesquisa teve como finalidade analisar em que medida os livros de Física do I Ciclo do ESG adotados pelo MINEDH contemplam a História da Ciência. A efectivação do estudo contou com a pesquisa qualitativa e exploratória, a coleta de dados foi feita por meio de uma pesquisa bibliográfica, a análise e interpretação de dados por meio da análise de conteúdo. Da análise conjunta dos livros três livros verifica-se presença da História da Ciência e em forma de fotografias, mostrando os principais cientistas responsáveis pelo desenvolvimento desse conceito analisado, sendo percebido também que nesses livros, as fotografias não mostram as principais realizações tecnológicas e também não mostram aspectos contextualizados e relacionados à sociedade. Em todos os livros não se faz referência sobre as cronologias dos marcos históricos importantes relacionados com descobertas científicas relevantes, não chama a atenção para a existência de Mitos Científicos. Não explora contos, pseudo-histórias, para ilustrar a origem, evolução e construção do conhecimento científico, contempla muito pouco sobre a contribuição de vários pesquisadores nas descobertas científicas e não se verifica actividades voltadas para a História da Ciência.
Palavras-chaves: Livro de Física, Ensino Secundário Geral, História da Ciência, evolução da ciência.
As características culturais, sociais, económicas, políticas e filosóficas de uma sociedade em dado momento, bem como os factores que condicionam a evolução destas características ao longo do tempo e, ainda, as interacções que se estabelecem entre a ciência, a tecnologia e a sociedade/ambiente num dado contexto são fundamentais na formação da cidadania dos alunos. (Da Silva: 2017).
Neste contexto, a História da Ciência não precisa ocupar o espaço do conteúdo, mas sim fortalecê-lo. Ao envolver a História da Ciência no ensino de Física, para além de ajudar na compreensão dos conteúdos, criar motivação para a aprendizagem dos alunos, torna os factos da ciência reais.
Segundo Acevedo (2008), a História da Ciência, traz-nos a ideia de como o conhecimento científico foi gerado. Considerando esta dimensão, os livros didácticos, devem incluir: textos, gravuras, fotografias, relatos e episódios da História da Ciência, cuja exploração confira uma perspectiva da ciência enquanto actividade dinâmica, que progride ao longo do tempo.
Em prol desta abordagem, os livros de física devem mostrar que as ideias científicas sofrem alterações a medida que o tempo passa devido as novas descobertas que muitas das vezes dependem das contribuições de vários pesquisadores e não apenas daqueles a quem são homenageados em alguns trechos dos livros.
Na visão de Da Silva (2007), O livro é o principal material de ensino e aprendizagem dos alunos, muitas vezes o único material a que alguns alunos têm acesso, e com o conteúdo a ser explorado é importante trazer a parte histórica para que os alunos possam se familiarizar-se com os conhecimentos que serão aprendidos.
Sob o ponto de vista técnico, a História da Ciência permite entender certos resultados científicos complexos bem como sua evolução. Corroborando com a importância da inserção da História da Ciência no ensino, Martins (1998: 18) adiciona que a História da Ciência deve ser utilizada como uma estratégia de ensino que motive tornando o ensino mais interessante, facilitando sua aprendizagem.
Diante do exposto surge o interesse investigativo que diz respeito à forma como é abordada a História da Ciência (HC) nos livros que, na óptica de Da Silva (2017), deve, essencialmente, evidenciar a evolução das ideias científicas ao longo do tempo, e os factores que condicionam essa evolução.
II - Marco Teórico
História e a Filosofia da Ciência no Ensino de Física
De acordo com Carvalho (2007) nos finais do séc. XIX já existiam muitas tentativas de aproximar ou conciliar a História e a Filosofia das Ciências (HFC) com o ensino de Física e de outras ciências. No entanto, ainda de acordo com o mesmo autor, após o lançamento do Sputnik pela União Soviética, em 1957 os EUA, focaram-se numa ciência mais prática e na formação de cientistas. Para isso, mudaram os currículos educacionais onde participaram apenas pesquisadores das áreas aplicadas. O projecto ciência para todos os americanos 2061, enfatizava que todos os estudantes de ciências devem ter senso crítico, valores históricos, sociológicos, filosóficos e aplicados.
Um aspecto que Carvalho (2007) apresenta como muito importante sobre a temática em questão, é a dos professores não se perguntarem sobre a veracidade das histórias presentes nos livros, tornando-se vítimas de textos que algumas vezes misturam histórias até mesmo de épocas diferentes, aceitando-as como factos verdadeiros e aceitando o conhecimento como pronto e acabado, como se quem o descobriu e formulou fosse predestinado a tal acontecimento.
Carvalho (2007) não é o único autor a preocupar-se com o ensino da Física e da forma como se processa, muitos outros o têm feito ao longo do tempo.
A Física proposta como mero conhecimento técnico é apenas um catálogo de teorias e leis a decorar/a aprender e de problemas para serem resolvidos. Na visão de Lewis (1976a) acredita-se que quem não estudar sobre a natureza da ciência vai considerar que a ciência é fruto de meros resultados de uma abordagem empírica, de leis rígidas e gerais, além de ser desumana. O mesmo autor ainda argumenta que, deixar de lado a HFC no âmbito do ensino de Física é esquecer uma ferramenta de ensino fantástico, extremamente útil e rica para aproximar o conhecimento do estudante.
De acordo com Cruz (1988) nos livros didácticos, a Física aparece pronta, com fórmulas que quando aplicadas conseguem fornecer resultados certos e eficazes. Neste contexto, a Física aparece como uma forma perfeita e demonstrada como algo, que geralmente, não possui erros. Não se mostra a construção e a formulação da ciência, os erros de formulação dos pesquisadores ou as crises por que passaram até chegar à construção de teorias e leis. Assim, segundo o autor, a HFC é uma importante ferramenta para atingir um melhor ensino de Física.
Igual opinião apresenta Martins (1990), quando considera que um professor que busca um ensino de Física qualificado deve sempre aliar um conhecimento aplicado com uma didáctica ampla, em que a HFC pode acrescentar uma visão social, cultural e humana ao conhecimento. Ao introduzir o comportamento da sociedade, as suas inclinações éticas e as suas concepções no ensino, mostra-se que a ciência é feita de processos demorados e de muito trabalho e esforço de muitos até atingir os resultados.
No âmbito do ensino da Física, a HFC facilita a compreensão dos resultados e a construção dos objectivos. Para Martins (1990), como para outros autores cujo pensamento tem-se vindo a ilustrar, ensinar meros resultados, é apenas doutrinar e não ensinar.
Segundo Neves (1992), um indivíduo, pode ser o professor ou o aluno, se não visualizar o conhecimento estudado, jamais conseguirá inclui-lo em sua vida, será apenas como acumular conhecimento.
Para Matthews (1994) o problema da não inclusão da HFC no ensino da Física existe pela formação ruim dos professores. Cita o projecto de Física de Harvard onde ressaltam os bons resultados, e considera que um curso de Física que tenha uma boa abordagem histórica melhora a formação dos professores e que, ao deixar a ciência mais humana, a aproxima dos estudantes, ajudando a acabar com a ideia de que a Física é para génios.
Para Martins (1998), a HFC no ensino da Física torna o ensino mais interessante e mais motivador na busca de um aprendizado científico, pois a HFC pode trazer pontos históricos e mostrar como o conhecimento foi evoluindo até chegar ao actual. Ou seja, pode mostrar aos alunos que as ideias dos cientistas dependiam também de uma aceitação de valores sociais, políticos, culturais e religiosos.
Livro Didáctico e História da Ciência
No âmbito do ensino de Ciências, mais especificamente do ensino da Física, para além de outros aspectos, há que considerar na metodologia “as histórias” que organizam de que forma tal conhecimento foi construído, unificado e, até mesmo, equacionado. No entanto, quando se fala em construção do conhecimento, muitas vezes, vemos a ideia indutiva de que o cientista observa, faz medições e depois colhe/obtém os resultados.
Segundo Zanetic (1989), a ciência dos livros didácticos não traz a História (nem a Filosofia) da Ciência; não traz referências, não contextualiza, como foi a criação do conhecimento, passando a ideia de que a ciência é um depósito onde se guarda a vida, feitos e obras dos pesquisadores.
É convicção de Zanetic (1989), que os livros didácticos deveriam trazer, não só a História da Ciência, como também a Filosofia da Ciência, com o objectivo de auxiliar a Física na construção do conhecimento e a formar, além de um estudante, um cidadão crítico, com pontos de cidadania em várias vertentes, não importando se este estudante irá seguir a carreira da ciência ou não.
De acordo com Chalmers (1993), os livros didácticos abordam muitas vezes, o tema da construção do conhecimento numa perspectiva indutiva e ingénua, em que o cientista faz observações dos fenómenos da natureza sem preconceitos, pressões ou inclinações éticas. Este indutivo ainda está nos livros didácticos, seja respeitante ao ensino de Ciências no geral ou da Física em particular.
Segundo Carvalho (2007), os livros didácticos precisam abordar a História e a Filosofia da Ciência (HFC) para se obter uma educação científica de qualidade, ou seja, precisam discutir o funcionamento da ciência, a sua natureza, contextualizando-a, mostrando que ela é transitória e inacabada, que possui rupturas, quebras e falhas.
Por outras palavras, a HFC precisa de ser a espinha dorsal, a estrutura e a base do ensino das Ciências e, em particular do ensino de Física. Segundo o mesmo autor, a partir da década de 80 os livros de Física começaram a trazer menos aplicações tecnológicas e mais exercícios influenciados por inclinações políticas e económicas.
Contribuições da história da ciência no ensino de física
A História da Ciência já foi considerada uma disciplina adequada apenas para cientistas que se voltava para os estudos de suas especialidades, tendo entretanto se firmado como uma área independente em meados dos anos 1960 e sendo hoje considerada uma área interdisciplinar. Neste mesmo período aprofundou-se o questionamento do papel da História da Ciência no ensino de Física. Decorridos 40 anos, na maioria dos livros didácticos, ela aparece apenas em episódios anedóticos e associada à biografia de nomes importantes da Física, sem, no entanto, chamar atenção para a existência de um ramo chamado História da Ciência, demonstrando haver diversas razões para ignorar o seu uso pelos professores de Física. Bastos (1998), a esse respeito, expressa que o seu uso na actividade docente ressalta algumas questões, como por exemplo:
a) Deficiência dos cursos de formação de professores, dificultando a apresentação e discussão de tópicos que evidenciem a História da Ciência.
b) Escassez de textos de História da Ciência que contemplem as necessidades específicas do ensino de Física no ensino médio.
c) Discordância acerca de quais seriam os relatos históricos mais rigorosos e apropriados (existentes possibilidades cujo aspectos positivos e negativos podem não estar evidentes).
Roberto Martins (1990), complementa que um bom professor de uma disciplina deve combinar uma prática científica (o conteúdo propriamente dito) e uma prática didáctica e que a História da Ciência poderia contribuir para a formação do professor de modo significativo. Ainda segundo esse autor, para esse tipo de formação, do ponto de vista didáctico, a História da Ciência pode complementar os aspectos técnicos com uma visão social, cultural e humana. Ela permite ambientar a sociedade da época em questão, trazer as concepções favoráveis e controversas que surgiram na aceitação de determinada ideia; conhecer a vida dos cientistas e de outros cientistas que contribuíram para o desenvolvimento de uma ideia e que não são mencionados em livros didácticos. No entanto, esses aspectos abordados durante a prática docente devem ser bem fundamentados.
III – Metodologia
Tratando-se de uma pesquisa exploratória, a partir das dimensões de análise previamente selecionada apresentada na tabela abaixo, foi feito um levantamento da história da Ciência em todos os manuais da Texto Editores do I Ciclo, que foram os aprovados pelo MINEDH, e analisados se cada um dos livros responde a cada indicador definido.
Tabela 1: Instrumento de análise de livros didácticos, na vertente da HC
Categoria |
Dimensões |
Indicadores de análise |
História da Ciência
|
1. Informação sobre História da Ciência |
A. Contém textos, relatos, episódios, gravuras ou fotografias ilustrativas da História da Ciência. |
B. Apresenta cronologia e marcos históricos importantes relacionados com descobertas científicas relevantes. |
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C. Mostra que as ideias científicas mudam/evoluem ao longo do tempo e ilustra-as com aplicações científicas. |
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D. Dá exemplos dos factores (económicos, políticos, sociais/ambientais, etc.) que condicionaram a mudança/ evolução das ideias científicas ao longo do tempo. |
||
E. Mostra que as descobertas científicas, muitas vezes, dependem da contribuição de vários pesquisadores e não, apenas, daqueles a quem são atribuídas. |
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F. Chama a atenção para a existência de Mitos Científicos, como por exemplo… Newton e a Maçã, Arquimedes e a Coroa do Rei, mas distinguindo-os da História da Ciência. |
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G. Explora contos, pseudo-histórias, para ilustrar a origem, evolução e construção do conhecimento científico. |
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2. Proposta de actividades sobre História da Ciência |
A. Propõe a exploração de textos, relatos, episódios, gravuras ou fotografias sobre a História da Ciência, numa perspectiva que mostre a ciência como uma actividade dinâmica, que progride ao longo do tempo, e está dependente de vários factores (económicos, políticos, sociais/ambientais, etc.), bem como da contribuição de diferentes pesquisadores. |
|
|
B. Propõe a realização de actividades que realcem a cronologia e marcos históricos importantes relacionados com descobertas científicas relevantes. |
Fonte: Da Silva (2017)
Para a análise da HC nos livros de física do I Ciclo do ESG, a classificação qualitativa será: n.c. – não contempla, quando comtempla (* contempla pouco, ** contempla moderadamente e *** contempla muito).
Para apresentação dos livros de física do I Ciclo do Ensino Secundário Geral adoptados pelo Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano, adoptou-se a nomenclatura de Manual, como a seguir se verifica:
Manual – 1: CUPANE, Alberto Felisberto. F8-Física 8ª Classe, Maputo, 2ª edição, Texto Editores, 2017.
Manual – 2: CUPANE, Alberto Felisberto. F9-Física 9ª Classe, Maputo, 2ª edição, Texto Editores, 2017.
Manual – 3: MENEZES, João Paulo de. F10-Física 10ª Classe, Maputo, 2ª edição, Texto Editores, 2017.
IV – Resultados e Discussão
a) Apresentação dos Resultados da análise da História da Ciência nos Livros de Física do I Ciclo adoptados pelo MINEDH
Da análise feita nos manuais foi possível aferir a informação abaixo resumida:
Tabela 2: Análise da História da Ciência nos Livros de Física do I Ciclo adoptados pelo MINEDH
História da Ciência |
Manuais |
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Dimensões |
Indicadores |
Manual -1 |
Manual - 2 |
Manual - 3 |
Informação sobre História da Ciência
|
A |
* |
* |
* |
B |
* |
* |
* |
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C |
* |
* |
* |
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D |
* |
n.c |
* |
|
E |
* |
n.c |
* |
|
F |
n.c |
n.c |
n.c |
|
G |
n.c |
n.c |
n.c |
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Proposta de actividades sobre História da Ciência |
A |
n.c |
n.c |
n.c |
B |
n.c |
n.c |
n.c |
Fonte: Da Silva (2017)
Adaptado pelo autor
Legenda: n.c – não contempla, * contempla pouco, ** contempla moderadamente e *** contempla muito.
b) Discussão dos Resultados
Pautando na tabela 1 apresentada no capítulo III, passou-se a analisar de maneira pormenorizada os manuais segundo os indicadores de análise (aspectos de adequação).
Manual 1
Dentre os indicadores definidos, percebe-se que neste manual ao se introduzir a unidade I: Introdução ao estudo da física, descreve-se sobre os primeiros físicos que tentaram dar uma explicação real dos fenómenos que ocorriam na natureza, mas não se verificam textos, relatos, episódio da História da Ciência, quando muito pouco apresentam figuras ilustrativas de alguns cientistas que se destacaram no ramo da física: Ptolomeu, Copérnico, Galileu Galilei, Isaac Newton e Albert Einstein isto na página 9.
Na página 45 ao se abordar sobre as grandezas físicas fundamentais, como por exemplo o comprimento fala-se da evolução da Ciência no que se refere a unidade de medida do comprimento. “Na antiguidade, existiam diferentes sistemas de medidas de comprimento: o côvado ou cúbito (a mais antiga unidade de medida), a jarda, a braça (hoje chada de envergadura), a mão-travessa, o passo, o pé, o palmo, a polegada, etc.” e demonstra-se alguns factores que condicionaram as mudanças dessas ideias.
Ao se fazer a abordagem da unidade III, referente a Dinâmica, verifica-se um episódio sobre a História da Ciência e a contribuição dos cientistas na página 96, a descrição de que “foi Galileu o primeiro cientista a estudar em pormenor os movimentos e suas causas, para além de ter observado movimentos no céu. Mas foi Newton (1643 – 1727), que viveu logo a seguir a Galileu, quem chegou a conclusão de que a causa dos movimentos dos corpos celestes, ou melhor, das alterações desses movimentos, são forças exercidas sobre eles.”
Na página 114, verifica-se um episódio da história da ciência, cronologia e figuras ilustrativas dos cientistas e evidencia-se a evolução da ciência, ora bem vejamos “Galileu Galilei (séc. XVI) e Isaac Newton (séc. XVII) foram dois cientistas que se dedicaram a estudar os movimentos e a procurar encontrar explicações sobre o tipo de movimento dos corpos e suas causas. Galileu foi o primeiro a compreender que para alterar a velocidade de um corpo era necessário aplicar sobre ele uma força. Newton traduziu essa conclusão em primeira lei com o mesmo nome.
Não se apresentam cronologias dos marcos históricos importantes relacionados com descobertas científicas relevantes como o método científico por exemplo, não chama a atenção para a existência de Mitos Científicos, como por exemplo “Newton e a Maçã, Arquimedes e a Coroa do Rei”, mas distinguindo-os da História da Ciência. Não explora contos, pseudo-histórias, para ilustrar a origem, evolução e construção do conhecimento científico.
Referente a proposta de actividade voltada para a História da Ciência, o manual não propõe a exploração de textos, relatos, episódios, gravuras ou fotografias sobre a História da Ciência, numa perspectiva que mostre a ciência como uma actividade dinâmica, que progride ao longo do tempo, e está dependente de vários factores (económicos, políticos, sociais/ambientais, etc.), bem como da contribuição de diferentes pesquisadores, bem como a realização de actividades que realcem a cronologia e marcos históricos importantes relacionados com descobertas científicas relevantes.
Manual 2.
Fazendo uma análise sob o ponto de vista dos indicadores, verifica-se que este manual contempla muito pouco textos, relatos, gravuras ou fotografias ilustrativas da História da Ciência. Apenas apresenta figuras ilustrativas dos cientistas, a idade cronológica, a sua origem e o marco histórico importante relacionado com a sua contribuição na área da física. Estes aspectos podem ser verificados durante a abordagem das Escalas termométricas nas páginas 10 e 11, onde aparecem as figuras de Anders Celsius, Gabriel Daniel Fahrenheit e William Thomson Lord Kelvin.
Não muito obstante, o manual contempla muito pouco sobre episódios da história da ciência, podendo se verificar na página 10, quando a autor diz que “a escala de temperatura Celsius foi criada por um físico astrónomo sueco chamado Anders Celsius, que 1742 propôs pela primeira vez, num documento endereçado à Academia Real de Ciências da Suécia, a escala de temperatura celsius”.
Ainda nesse contexto, durante a abordagem das condições de equilíbrio de um corpo apoiado num plano, verifica-se na página 56 um texto sobre a Linha de prumo da Torre de Pisa, evidenciando a altura, o peso da torre e a sua localização na Praça dos Milagres. Apresenta-se um texto corrido o seu processo de construção, quando a obra ia no terceiro andar, começou a surgir uma inclinação que viria tornar a torre mundialmente famosa.
Na página 94, pode verificar-se episódios sobre a Informação da História da Ciência, no que respeita sobre a Pressão Atmosférica, a cronologia do cientista Torricelli e a sua contribuição para a área da física, este parâmetro observa-se no seguinte trecho:
“O físico italiano Evangelista Torricelli (1608 – 1647) realizou uma experiencia para determinar a pressão atmosférica ao nível do mar. Torricelli encheu com mercúrio um tubo de vidro, de cerca de um metro de altura. Tapou a abertura, inverteu-o numa tina com mercúrio e destapou a abertura: o mercúrio desceu no tubo, mas não escorreu todo para a tina.”
Na página 104, fala sobre o Principio de Pascal, trazendo mais uma vez, a cronologia do cientista, a figura ilustrativa e a sua contribuição, podendo se observar no seguinte trecho: “No século XVII, o matemático, físico e filósofo francês Blaise Pascal, com base nas suas experiências e observações e antes de se conhecer a Lei Fundamental da Hidrostática, formulou o que se conhece hoje por Principio de Pascal.”
Na página 110, apresenta um relato sobre Arquimedes, a sua figura ilustrativa e o seu contributo para a física sobre a força de impulsão e o princípio com o mesmo nome, diz o trecho: “Conta a lenda que certo dia, por volta do século III a.C., o físico-matemático Arquimedes, enquanto tomava banho, observou que o seu corpo, mergulhado na água, deslocava uma certa quantidade de água e que parecia não pesar tanto.” E o texto sobre a história de Arquimedes e a sua descoberta da Força de Impulsão aparece na página 116.
No que se refere a evolução das ideias científicas se elas mudam/evoluem com o tempo, pode se verificar na página 11, demonstra-se que ouve mudanças das ideias científicas, mas não se ilustra com aplicações tecnológicas. Este parâmetro verificasse a quando se fala da escala Celsius:
“O nome original para a escala foi centígrado (100 partes) ou centésimos. Em 1948, o nome da escala foi oficialmente modificada para Celsius, durante a 9ª Conferencia Geral de Pesos e Medidas, tanto em reconhecimento a Celsius como para eliminar a confusão causada pelo conflito de uso do prefixo centi do Sistema Internacional de Unidades”
O manual não contempla exemplos de factores (económicos, políticos, sociais/ambientais, etc.) que condicionam a mudança/evolução das ideias científicas ao longo do tempo, não mostra que as descobertas científicas, muitas das vezes, dependem da contribuição de vários pesquisadores e não, apenas daqueles a quem são atribuídos, não explora contos, pseudo-histórias, para ilustrar a origem, evolução e construção do conhecimento científico relacionados a informação sobre História da Ciência.
Relativamente a proposta de actividades sobre a História da Ciência o manual não contempla a proposta sobre a exploração de textos, relatos, episódios, gravuras ou fotografias sobre a História da Ciência, numa perspectiva que mostre a ciência como uma actividade dinâmica, que progride ao longo do tempo, e está dependente de vários factores (económicos, políticos, sociais/ambientais, etc.), bem como da contribuição de diferentes pesquisadores, bem como a proposta sobre a realização de actividades que realcem a cronologia e marcos históricos importantes relacionados com descobertas científicas relevantes.
Manual 3
Percebe-se nesse manual, a quando a introdução da noção de carga eléctrica na unidade I, um texto que retrata da História de Demócrito sobre a sua contribuição sobre a constituição da matéria, bem como ilustra que as ideias científicas mudam/evoluem ao longo do tempo e ainda verifica-se que as descobertas científicas, muitas vezes, dependem da contribuição de outros pesquisadores e não apenas daqueles a quem são atribuídas.
Na sua página 6, pode se verificar este facto, bem como ilustrações dos cientistas como Demócrito e John Dalton, a sua cronologia e as suas contribuições, ainda verificam-se alguns episódios sobre a descoberta do químico Joseph John Thomson sobre o electrão e a atribuição da carga negativa, verifica-se também a descoberta do protão em 1900 pelo químico Goldstein, bem como a descoberta de Ernest Rutherford, em 1911, que o núcleo do átomo é carregado positivamente e a proposta do novo modelo atómico.
Na página seguinte, observa-se a figura ilustrativa de Niels Bohr, a sua idade cronológica e a sua contribuição sobre o modelo atómico, relata-se um episódio sobre a descoberta de James Chadwick sobre o neutrão em 1932.
Não muito obstante, na página 24 debruça-se sobre a invenção da primeira pilha pelo físico italiano Alessandro Volta, bem como a sua figura ilustrativa e a sua idade cronológica, na página 25 conta um episódio que a unidade ohm foi atribuída como unidade padrão da resistência eléctrica em homenagem ao físico alemão George Simon Ohm, não se mostra aqui como o cientista descobriu a oposição que as restantes partículas ofereciam a passagem das cargas eléctricas.
Indo mais além, na página 36, observa-se um episódio, figuras ilustrativas sobre o efeito Joule, conta-se que esse nome é em homenagem ao físico britânico James Prescot Joule, bem como a idade cronológica do cientista. Na página 82 ao se abordar sobre o electromagnetismo, verifica-se um relato sobre o físico dinamarquês Hans Cristian Oersted, a sua contribuição sobre a unificação dos fenómenos eléctricos e fenómenos magnéticos, nascendo assim o electromagnetismo, bem como a figura ilustrativa do cientista e a sua idade cronológica.
Este manual não faz referência sobre as cronologias dos marcos históricos importantes relacionados com descobertas científicas relevantes, não chama a atenção para a existência de Mitos Científicos. Não explora contos, pseudo-histórias, para ilustrar a origem, evolução e construção do conhecimento científico, contempla muito pouco sobre a contribuição de vários pesquisadores nas descobertas científicas.
No que toca a proposta de actividade voltada para a História da Ciência, o livro não propõe a exploração de textos, relatos, episódios, gravuras ou fotografias sobre a História da Ciência, numa perspectiva que mostre a ciência como uma actividade dinâmica, que progride ao longo do tempo, e está dependente de vários factores (económicos, políticos, sociais/ambientais, etc.), bem como da contribuição de diferentes pesquisadores, bem como a realização de actividades que realcem a cronologia e marcos históricos importantes relacionados com descobertas científicas relevantes.
V - Considerações Finais
Os livros de física do I Ciclo adoptados pelo MINEDH contemplam muito pouco textos relativo às informações sobre a História da Ciência e apresentam-se de forma semelhante, figuras ilustrativas dos cientistas ao longo de algumas unidades temáticas, sendo que na maior parte deles, elas têm a finalidade principal de apenas serem relacionadas com a descrição e com aspectos mais detalhados dos conhecimentos.
Eles têm a tendência de evidenciar a presença da História da Ciência em forma de fotografias, mostrando os principais cientistas responsáveis pelo desenvolvimento desse conceito analisado, sendo percebido também que nesses livros, as fotografias não mostram as principais realizações tecnológicas e também não mostram alguns aspectos contextualizados e relacionados à sociedade.
O que se pode perceber é que as fotografias que mostram os principais cientistas e as suas contribuições, têm por objectivo principal aquele já mencionado e apontado por Zanetic, (1989): apenas atender fins ilustrativos e estéticos.
Essa forma de apresentar a História da Ciência, ainda presente em muitos livros de física e que pode ser vista em boa parte dos livros investigados nessa pesquisa, conforme destacado por (Zanetic, 1989) são “arremedos de História da Ciência”, mostrando apenas breves notas históricas sobre acontecimentos pontuais, acompanhadas de sequências cronológicas de teorias, de grandes realizações.
Dessa forma, a História da Ciência apresentada nos livros de física adoptados pelo MINEDH é uma simplificação da história produzida pelos historiadores da ciência, que acontece para atender o nível cognitivo dos estudantes a que se destina. Ao ocorrer essa simplificação, corre-se o risco muitas vezes de se ter uma história de má qualidade, levando muitas vezes a se ter histórias distorcidas e incompletas, que servem mais como um depósito de informações, descontextualizadas e inadequadas, que acabam por vulgarizar significativas realizações científicas.
Em síntese, estudar sobre e com a HFC, pode ajudar a melhorar a compreensão dos próprios conceitos de Física, pois o seu estudo/a sua aprendizagem é contextualiza e é informada, e amenizada, pelas dimensões sociais, filosóficas, culturais, etc.
Sob o ponto de vista técnico, a História da Ciência permite entender certos resultados científicos complexos bem como sua evolução. No entanto, esses aspectos abordados durante a prática docente devem ser bem fundamentados, pois para Martins (1990), “ensinar um resultado sem sua fundamentação é simplesmente doutrinar e não ensinar”.
VI – Referencias Bibliográficas
BASSALO, José Maria Filardo. A importância do estudo da História da Ciência. In: Revista da SBHC. n.8, 1992.
CARVALHO, A. & Fadigas, N. Os manuais escolares na relação escola-família. In: Observatório dos Recursos Educativos do Porto, 1992.
CARVALHO, Cristiano. A História da Indução Electromagnética contada em livros Didácticos de Física. Dissertação de Mestrado para obtenção do grau académico de Mestre em Educação. Paraná, Universidade Federal, 2007.
CHALMERS, A. F. O que é ciência afinal? São Paulo: Editora Brasiliense, 1993.
CRUZ, F.F.S.; KAWAMURA, M.R.D.; ABRANTES, P.C.C.; MARTINS, R. Mesa Redonda: Influência da História da Ciência no ensino de Física. In: Revista: Caderno Catarinense de Ensino de Física, Santa Catarina, v.5, n. Especial, 1988.
DA SILVA, Bruno Gomes. História da Ciência nos Livros Didácticos de Física do 1º ano do ensino médio do Brasil. Dissertação de Mestrado para obtenção do grau académico de Mestre em ensino de Ciências. Bragança, Escola Superior de Educação, 2017.
MARTINS, L.A.P. A História da Ciência e o ensino de Biologia. Jornal Semestral do Grupo de Estudo e Pesquisa em Ensino e Ciência da Faculdade de Educação da Unicamp, 1976.
MARTINS, Roberto de Andrade. Sobre o papel da história da ciência no ensino. Boletim da Sociedade Brasileira de História da Ciência, v. 9, 1990.
MATTHEWS, M. R. História, Filosofia e Ensino de Ciências: A Tendência Actual de Reaproximação. Caderno Catarinense de Ensino de Física, v. 12, 1995, p. 164-214.
MORTIMER, E.F., O Ensino de teoria atómica e de ligação química no segundo grau; drama, tragédia ou comédia? Dissertação de Mestrado para obtenção do grau de Mestre em ensino de Física, Universidade Federal de Minas Gerais, 1988.
NEVES, M. (1992). O Resgate de uma História para o Ensino de Física. Caderno Catarinense de Ensino de Física, Florianópolis, v.9, n.3, p.215-224.
ZANETIC, J., Física também é cultura. Tese de doutoramento para obtenção do grau de doutor na Área do conhecimento – Educação. Departamento de Física, Universidade de São Paulo, 1989.
[1] Licenciado em ensino de Física
Assistente Universitário na Universidade Pedagógica de Quelimane, Curso de Ensino de Física.
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