Artigo em co-autoria com Eduardo Amadeu Dutra Moresi
Resumo: Fatores que caracterizam a complexidade do mundo moderno direcionam as organizações para o desenvolvimento de infra-estrutura tecnológica com capacidade de processamento de informações e distribuição de conhecimentos em forma de redes. As organizações contemporâneas implementam plataformas e processos visando o fluxo da informação por toda organização, de maneira a torná-la disponível e organizada. As organizações policiais se vêem diante da necessidade de se transformarem em verdadeiros cérebros, pois a velocidade dos acontecimentos, conectividade de pessoas, crescimento da intangibilidade e complexidade da criminalidade apresentam-se como fatores que exigem cada vez mais da investigação criminal. O presente trabalho analisa a investigação criminal no contexto da Inteligência Organizacional, apoiado pela aplicação da análise de vínculos e por meio de um modelo organizacional em rede de conhecimento, onde todos os componentes (setores de investigação, agentes ou grupo de investigadores) são disseminadores de informações, participam do processo de criação do conhecimento e funcionam como se fossem neurônios de um cérebro. Conclui-se que a inteligência organizacional, apoiada pela análise de vínculos, estabelece novas condicionantes doutrinárias para a investigação criminal.
Palavras-chave: Inteligência organizacional; Metáforas organizacionais; Análise de vínculos; Complexidade.
Abstract: The modern world complexity addresses the organizations for the development of technological infrastructure with capacity of information processing and knowledge distribution in networks. Then the police organizations need to transform in a fulfilled brain, because the speed of the events, the people's connectivity, the intangibility growth, and the criminality complexity come as factors that demand more and more from the criminal investigation. The present work analyzes the criminal investigation in the context of the Organizational Intelligence, by the application of the link analysis and an organizational model in knowledge network, where all of the components (investigation sections, agents or investigators group) are information sources of dissemination, they participate in the process of knowledge creation and they work as if they were neurons of a brain. That’s concluded that the organizational intelligence, supported by the link analysis, it establishes new criminal investigation doctrine conditions.
Keywords: Organizational intelligence; Organizational metaphors; Link analysis; Complexity.
Introdução
O axioma de que a facilidade de acesso à informação possibilita a interação face a face entre pessoas nos diversos cantos territoriais, permite também afirmar que não existe hoje nada mais distribuído e disseminado do que a informação. Não existe mais um mundo estável, baseado somente na troca de experiências individuais, que busca explicar os fenômenos de forma empírica e responder todas as questões.
Daí a necessidade das organizações desenvolverem estruturas tecnológicas e, pela atividade de Inteligência, aumentar a capacidade de solucionar problemas, realizar diagnósticos mais precisos em direção à realidade atual e com a visão do contexto.
Na nova era, fatores determinantes de mudança na sociedade estão associadas à velocidade, conectividade, intangibilidade (DAVIS, MEYER, 1999) e a complexidade ambiental (Mintzberg, 2003). Esses fatores influenciam no modo de interação das pessoas e na eficiência das organizações. No mesmo sentido, o crime adquire novas características de organização, planejamento, diversificação de atividades, atuação sem limites territoriais, facilidade de comunicação e acesso à informação.
Ações criminosas no Brasil têm se apresentado predominante à capacidade do Estado, este, temendo mais as conseqüências políticas do que sociais, submetendo as organizações policiais a um confronto desafiador.
A eficiência e a rapidez dos sistemas de transporte e comunicação facilitam e abrem espaço para um processo que pode ser chamado de globalização do crime. A globalização do crime está associada a vários fatores, entre eles, a evolução tecnológica que abre campo a uma nova característica delitiva, a dos crimes cibernéticos, cuja atuação transcende os limites territoriais de um Estado e de um País, sem falar dos crimes, efeitos replicadores, decorrente das ações terroristas no mundo.
As organizações criminosas exercem suas atividades sem divisas ou fronteiras, demonstrando poder de articulação, planejamento e sofisticação. O narcotráfico, contrabando, pirataria, crimes financeiros, corrupção, fraudes milionárias são as áreas preferidas, bem como a imensidade de outros delitos que assumem uma condição quase imbatível, causando prejuízo incalculável ao Estado e à sociedade em geral.
Cada vez mais a atividade policial defronta com situações complexas, exigindo mais da investigação. Diante desta situação, as organizações buscam e fazem uso da tecnologia da informação, edificam infra-estruturas com o objetivo de obter mais rapidamente informações e busca de significado e conhecimento sobre o crime.
É fundamental que setores, investigadores e dirigentes de uma organização policial compartilhem conhecimento, visando identificar as tendências, padrões de comportamento, revelando as conexões existentes entre atividades criminosas e realizar prognósticos. A investigação policial empírica está ruindo, evidenciando a necessidade de implementação de novos processos, por uma inteligência distribuída, e por meio de procedimentos específicos que possibilitem a consolidação de informações, oriundas de diversas fontes, e viabilizando o fluxo e a transmissão por toda a rede da organização, de modo que todos tenham acesso (Ferro Júnior, 2002).
Atualmente, na Polícia Civil do Distrito Federal, faz-se a integração de atividades de análise de inteligência e investigativa por meio da aplicação de Análise de Vínculos, cuja técnica possui condições de trabalhar volume de dados e informações, simultaneamente, oriunda de fontes variadas, com resultados em tempo mais curto, e conseguindo revelar casos que pareciam insolúveis, numa maneira tradicional de esclarecê-los.
Organizações policiais, especialmente aquelas voltadas à atividade investigativa começam a perceber que a administração da informação é uma condição estratégica. A necessidade de gerar informação e conhecimento de forma mais rápida, em razão da complexidade e velocidade que ocorrem os fenômenos criminais, vem impulsionando o trabalho policial para a implementação de novos processos, infra-estrutura tecnológica com a edificação de um modelo de gestão policial com suporte na Inteligência da organização.
Este trabalho aborda os elementos de Inteligência Organizacional (comunicação, memória, aprendizagem, cognição e raciocínio) e sua utilidade estratégica para o funcionamento de um sistema de fluxo de conhecimento, possibilitando a consolidação e propagação de conhecimento produzido em todos os setores policiais, criando um ambiente cumulativo e acessível por toda a organização policial.
A Inteligência Organizacional integra um processo de informação humana e computacional que gera capacidade de solucionar problemas. Por meio de componentes integradores de conhecimento e a Análise de Vínculos, a gestão policial torna-se eficiente por meio da distribuição da informação, agregando valor significativo e possibilitando a criação de conhecimento para melhores decisões.
Referencial Teórico
Foi realizada uma revisão de literatura onde evidenciou-se a ausência de trabalhos e pesquisa sobre o tema. A Tabela 1 apresenta uma síntese dos resultados obtidos.
Bases pesquisadas: Scirus (http://www.scirus.com) e Webofscience (http://isiknowledge.com).
O assunto análise de vínculos e inteligência organizacional apresentou apenas duas referências. A primeira apresenta um estudo que analisa o uso da tecnologia da informação na aprendizagem organizacional (Zhu, Prietula, Hsu, 1997). Mais precisamente, estuda processos organizacionais que geram aprendizado, desenvolvendo e aplicando um novo conjunto de métricas de aprendizagem organizacional para estes processos. A outra referência trata de um modelo de Inteligência Competitiva, que define a coleta e a análise simultânea de informações por unidades de monitoração e gerenciais (Gibbons, Prescott, 1996). Entretanto, nenhuma das duas referências trata de análise de vínculos no contexto da Inteligência Organizacional.
No confronto dos termos análise de vínculos e investigação criminal apresentou doze referências no Web of Science. Xu e Chen (2005) mostram a criação de um modelo estrutural de análise de vínculos que permite a extração e formação de conhecimento de redes criminais em grandes volumes de dados. Eles apresentam a aplicação de um sistema denominado “CrimeNet”, que incorpora técnicas para uma abordagem espacial conceitual, agrupamento hierárquico, métodos de análise de rede sociais e escalamento multidimensional.
Os resultados evidenciam que o sistema pode alcançar níveis de precisão na detecção de subgrupos nas redes criminais. Além disso, identifica membros centrais e padrões de interação entre grupos de forma significativamente mais rápida com ajuda do recurso de análise estrutural que é possível somente com o recurso de visualização.
Em outro artigo, Xu e Chen (2004) afirmam que técnicas de análise de vínculos são eficientes e eficazes para as agências de inteligência e de investigação criminal para combater o crime organizado, tráfico de drogas, terrorismo, e seqüestro. Eles propõem uma técnica de análise de vínculos que usa algoritmos resumidos, para identificar as associações mais fortes entre entidades em uma rede criminal.
Smith e King (2005) corroboram que a informação coletada ao logo do tempo na investigação criminal é de grande importância utilizando uma interface para visualização dos dados como uma rede e a forma em que estão conectados pela análise de vínculos.
Por outro lado, os crimes de roubo de carro e os conhecimentos especiais gerados pelos vínculos favorecem efetivamente a tomada de decisão neste contexto (Santtila, 2004). A análise de vínculos com base em sistemas de suporte de decisão automatizados demonstra em escala multidimensional a criação de vínculos automaticamente entre vários casos.
Uma abordagem sobre um sistema de análise de vínculos da polícia canadense, além de sua utilização e adoção por vários países, é o resultado de dois anos de pesquisa e desenvolvimento (Collins, 1998). A Polícia Montada Real Canadense (RCMP) junto com a Polícia Provinciana de Ontário (OPP) introduziram o Sistema de Análise de Vínculos de crimes violentos (ViCLAS). Este sistema computadorizado permite aos especialistas treinados criar vínculos entre crimes como homicídios em série e atentados ao pudor em série. O Sistema de Análise de Vínculos de crimes violentos, ViCLAS representa a aplicação da mais recente tecnologia em análise de vínculos de crimes para ajuda da investigação criminal.
Em suma, as referências encontradas revelam a ausência de estudos que apontem a real contribuição da análise de vínculos para a efetividade da organização abordando os aspectos de Inteligência Organizacional (comunicação, memória, aprendizagem, cognição e raciocínio), sua utilidade estratégica para o funcionamento de um sistema de fluxo e propagação de conhecimento, criando um ambiente cumulativo, acessível por toda a organização policial, e que potencialize a investigação criminal.
A Metáfora do Cérebro e Organizações em Rede
De acordo com Putnam, Phillips e Chapman (2004), as metáforas facilitam a construção das teorias, pelo exame das imagens em seus múltiplos níveis de análise. Na teoria organizacional, a análise metafórica contribui para a construção da teoria de diversas formas:
1) articulando as hipóteses ontológicas de diferentes visões das organizações;
2) revelando o fundo assumido dos constructos organizacionais chaves; e
3) gerando novos constructos, tais como analogias. A metáfora do cérebro em organizações direciona a uma construção mental, criada a partir de seu funcionamento.
A metáfora do cérebro trata a organização em forma de redes, grupos e sistemas de indivíduos e setores interconectados, construindo uma atividade e fluxo relacional de informações e conhecimento pela integração global.
Morgan (2006) afirma que à medida que entramos numa economia baseada no conhecimento, em que a informação, o conhecimento e o aprendizado são recursos-chave, a inspiração de um cérebro vivo, capaz de aprender, oferece uma imagem poderosa para a criação de organizações ideais, perfeitamente adaptadas aos requisitos da era digital.
Organizações funcionando como cérebro significa dizer que a informação e o conhecimento estão distribuídos por toda a rede da organização, não existindo nenhum ponto de controle e armazenamento fixo. O armazenamento e o processamento da informação estão em muitas partes ao mesmo tempo.
Almeida (1995), fazendo uma analogia entre as organizações e o cérebro, diz que na “nova forma de organização não existe mais controle central de atividades".
Cada célula é responsável e tem consciência do que deve fazer e do produto que deve gerar. Como a informação flui facilmente no interior de cada célula, para fora ou para dentro, a rede ou a cadeia como um todo tem condições de se adequar rápida e eficazmente às necessidades: " O fluxo eficaz da informação é o elemento-chave para o sucesso da nova forma de organização".
Estudos das teorias da administração incentivam as empresas para um modelo neural, no qual não existe absolutamente coordenação central, como acontece no caso de estruturas hierárquicas. Prossegue Almeida (1995) explicando que no cérebro humano não existe conjunto de neurônios responsável pela coordenação do trabalho dos outros neurônios. Cada neurônio exerce autonomamente sua função a partir dos sinais recebidos e envia sinais para os à sua frente.
Hoje, organizações policiais têm excesso de informações em vez de carências. Existe grande quantidade de conteúdos, relatórios de investigação, laudos técnicos, depoimentos, ocorrências, inquéritos, o que obriga o setor de Inteligência a realizar uma tarefa de seleção basicamente mental. Dispõe de sistemas informatizados que permitem acessar uma ampla variedade de bancos de dados, acesso a um imensurável volume de informações, decorrentes de interceptações e movimentos bancários, sem considerar o vasto mundo da Internet. Apesar de tudo isso, muitos sentem que estão mal informados.
Os analistas e investigadores freqüentemente suspeitam que o conhecimento que desejam existe em algum lugar. O que lhes falta é uma maneira de acessar o ambiente de conhecimento e identificar os tipos específicos de conhecimento, tanto interna quanto externamente. De fato, o que é preciso é criar uma organização em forma de rede de fluxo de conhecimento, e como o resultado deste processo, contribuir para aumentar a capacidade da investigação criminal.
Inteligência Organizacional
As organizações podem ser vistas como sistemas que processam informação. Elas coletam dados de fontes internas e externas, os processam e os transformam em informações e conhecimentos úteis à organização. Os negócios não funcionam apenas com dados brutos. Dependem do conhecimento de indivíduos, que contextualizam e dão significados a esses dados, transformando-os, por sua vez, em informação e conhecimento pronto para ser colocado em ação (Moresi, 2006).
Outro aspecto que o autor ressalta é que as organizações comportam-se como sistemas adaptáveis. Uma organização é um sistema de processamento que converte diversas entradas de recursos em saídas de produtos e serviços, que ela fornece para sistemas receptores ou mercados. A organização é guiada por seus próprios critérios e feedback interno, mas é, em última análise, conduzida pelo feedback de seu ambiente externo.
Nesse sentido, a inteligência organizacional integra um processo de informação humana e computacional e a capacidade de solucionar problemas por meio de cinco componentes (Kirn, 1995): comunicação organizacional, memória organizacional, aprendizagem organizacional, cognição organizacional e raciocínio organizacional.
Cognição Organizacional
Etimologicamente, a palavra “cognição” deriva das expressões latinas “cognitio” ou “cognoscere”, que por sua vez conotam as operações da mente humana que permitem que alguém possa estar ciente da existência de objetos, pensamentos ou percepções (Dorlands, 2005). Aí estão incluídos aspectos da percepção, pensamento e memória. A cognição é, portanto, um processo pertinente às operações mentais da inteligência humana. Já a inteligência seria a faculdade de aprender, e com a cognição estaria relacionada aos métodos ou processos envolvidos nessa “aprendizagem inteligente”.
Cognição é o elemento propulsor da organização na implementação de processos sistêmicos e continuados de coleta da informação, com aplicação de tecnologia da informação, que facilitem a interpretação e a construção do conhecimento. Prosbst, Raub e Kai (2002) apontam que, ao contrário de fazer distinções nítidas entre dados, informações e conhecimento, pode ser mais útil colocá-los em uma série contínua, com os dados em uma extremidade e o conhecimento na outra.
Assim é que sinais esparsos reúnem-se para formar padrões cognitivos sobre os quais as ações podem basear-se. As habilidades e o conhecimento são adquiridos lentamente, desenvolvendo-se ao longo do tempo e por intermédio de um processo em que somas de informações são reunidas e interpretadas.
Tal processo pode ser definido como uma progressão ao longo de um contínuo de dados, passando por informações e até a elaboração do conhecimento.
Segundo Hayes e Allinson (1994), a cognição está relacionada à forma como as pessoas adquirem, armazenam e utilizam o conhecimento. Portanto, cognição é busca, processamento e utilização de informações, que gera um significado efetivo para a organização.
Cognição é um processo mental humano associado à análise e ao processamento da informação para resolução de problemas e tomada de decisão. São processos desenvolvidos pela organização no tocante à identificação de padrões, captação de dados e organização de informações em bancos de memória, realizando diagnóstico e produzindo conhecimento sobre situações complexas no ambiente social.
Memória Organizacional
A memória é uma condição a ser incorporada para capacitar a organização a preservar, recuperar e utilizar sua experiência (informação sobre sucessos e falhas passadas) e, assim, aprender por meio de sua própria história. Informações e conhecimento novo adquirido pela organização devem estar disponíveis para serem utilizados em decisões futuras. Geralmente a forma como que as pessoas trabalham juntas não é sistemática.
Algumas vezes elas trabalham sincronizadas e na maioria das vezes elas têm um foco e uma visão dos problemas bem diferentes, sem saber que a solução já pode existir e estar dentro da organização.
Euzenat (1996) explica que memória organizacional é um repositório do conhecimento e o know-how do conjunto dos indivíduos que trabalham em uma organização, tendo por finalidade preservar o conhecimento, a fim de permitir a socialização, uso, reuso, inovação e transformação do mesmo. Pode ser comparada a uma rede virtual sobre o ser humano e à experiência dos mesmos (tácita ou representada explicitamente) disponíveis em uma organização.
A memória organizacional pode ser considerada como um núcleo de um sistema de conhecimento que fornece motivação para criar, adquirir, alcançar, combinar, rejeitar e preservar o conhecimento organizacional (Carvalho, 2003).
A aquisição de conhecimentos na organização pode ser implementada através da aquisição e circulação de registros e capital humano numa rede de comunicação (Stein, 1995). O autor afirma que pela passagem de mensagens através de redes de comunicação, a informação pode ser mantida por longos períodos de tempo, mesmo com membros entrando e saindo. O conhecimento compartilhado de normas e valores emerge destes contínuos processos de comunicação organizacional, contribuindo para o desenvolvimento de mapas cognitivos compartilhados e cultura.
Não existe ainda uma definição completa de memória organizacional. O senso mais geral para definir a memória organizacional está dirigido em como poder usar de novo uma experiência da organização, também relevante àqueles esforços da organização, em considerar um repositório monolítico de informações que proporcione conhecimento como "uma mistura fluida de experiência moldada, valores, informação contextual”, e uma estrutura para incorporar experiências novas pelo fluxo de informações (Atwood, 2002).
Nas organizações está embutido freqüentemente não só em documentos ou repositórios, mas também nas rotinas, processos, práticas, e normas. É a memória presente na cultura da organização.
Aprendizagem Organizacional
A aprendizagem como elemento constitutivo da Inteligência Organizacional não se refere a ensino e a aprendizado em cursos acadêmicos. Resulta do relacionamento entre profissionais, conversas, dinâmica de diálogos e discussão de problemas por equipes multidisciplinares. É o processo pelo qual o individuo adquire informações, habilidades, atitudes, valores, entre outros aspectos, a partir de seu contato com a realidade, com o ambiente e com outras pessoas.
De acordo com Chiavenato (2004), a aprendizagem organizacional desenvolve os conhecimentos e habilidades que capacitam as pessoas a compreender e agir eficazmente nas organizações. A organização de aprendizagem constrói relações colaborativas para dar força aos conhecimentos e experiências de fazer as coisas que as pessoas devem utilizar. A aprendizagem é o resultado dinâmico de relações entre informações, eficiência potencial e relacionamentos interpessoais, eficiência real. A aprendizagem permitirá que pessoas e grupos possam conduzir as organizações para a mudança e renovação contínuas, apresentando novas idéias.
O processo de aprendizagem, na perspectiva da organização, é apresentado na figura 1. Choo (2002), a partir do modelo desenvolvido por Chris Argirys, definiu um modelo com a visão da organização, envolvendo dois circuitos de aprendizagem: simples e duplo. O circuito simples onde os resultados alcançados são utilizados para correção de rumos na ação organizacional. O circuito duplo permite que a organização analise e altere princípios que orientam a sua ação.
(CHOO, 2002)
Comunicação Organizacional
A comunicação é um componente da Inteligência Organizacional está além das transmissões em redes de computação e informativos administrativos. Refere-se, também, aos recursos disponíveis, e quase todos de caráter verbal, como a propaganda e a divulgação da imagem; habilidades para a desinformação e contra-propaganda; contatos com a imprensa, discursos formais dos diretores, chefes de polícia, os enunciados de suas políticas, a difusão e publicação de estatísticas; e até aqueles mais sutis, normalmente não entendidos ou não considerados expressivos, como os da visualidade da organização e da gestualidade dos dirigentes, a arquitetura das instalações físicas, a postura e vestimenta do policial, o atendimento e serviço acessível pelo cidadão em delegacias, e a presteza nos atendimentos externos.
Em síntese, é a forma de transmissão de informações e conhecimentos que flui em uma organização, entre atores humanos e em sistemas, além daquelas trocas que ocorrem entre uma organização e seu ambiente (imprensa, comunidade, órgãos de governo etc).
Raciocínio Organizacional
O raciocínio refere-se à condição que a organização adquire de prever e resolver situações e problemas organizacionais, realizar uma assimilação e possibilidade de antecipação na solução. É a capacidade que surge a partir da interação com os outros quatros elementos para manter a eficiência da estrutura organizacional.
Proporciona a definição de novas estratégias em direção à infra-estrutura tecnológica, produção do conhecimento, eficiência na transferência de conhecimento entre pessoas e as organizações sempre que houver alterações no ambiente. É considerado um dispositivo de prevenção, dissimulação e tratamento de problemas organizacionais, além da solução dos mesmos e como a organização usa o conhecimento organizacional para avaliar ameaças e oportunidades.
Resume-se que Inteligência Organizacional é possuir ferramentas para interpretar o ambiente complexo da organização. É um modelo mental no qual se baseiam os processos de relacionamento entre organização e ambiente; ter arquitetura e plataformas tecnológicas, melhorar o desempenho da organização de forma global em sintonia com conhecimento pertinente. É a capacidade de julgamento de um problema que surge pelo conhecimento distribuído na organização, com vistas à utilização na consecução de seus objetivos e como principal meta de apoio ao processo decisório em todos os níveis.
A maioria das organizações policiais ainda não dispõe de habilidades e ferramentas para organizar, formalizar e capitalizar informações de forma efetiva. Para otimizar a gestão informacional, além de disponibilizar toda a infra-estrutura necessária, é preciso reunir qualificação e aptidões, desenvolver novos processos para selecionar, avaliar, formalizar e validar a informação. Isto pode ser feito por meio da Inteligência Organizacional que possui elementos geradores de conhecimento global em todas as pontas da organização, facilitando um fluxo interativo de conhecimento, para tanto, imprescindível a sua implementação com apoio na tecnologia.
A Inteligência Organizacional é interativa, agregadora e uma complexa coordenação das inteligências humana e de máquina dentro de uma organização. A inteligência humana associada a máquinas nos leva a idéia do sistema cerebral, onde ocorre a agregação de inteligência em neurônios. Tudo ocorre sem hierarquia, nos níveis individuais, dos grupos e da organização como um todo.
Para tanto são utilizadas tecnologias como suporte e adoção de princípios de funcionamento de uma organização em rede, quando se explica os processos de fluxo, acúmulo interativo da informação, conhecimento disponível em todo o lugar, com possibilidade de visualização do conhecimento pertinente em contexto.
Princípios da Organização em Rede
O fluxo interativo de informações na organização é uma confirmação recíproca do estado de relação de comunicações entre pessoas, grupos e setores que geram significado e conhecimento global. Este sistema pode ser explicado pela figura 2, onde se demonstra um modelo de organização com os elementos de Inteligência Organizacional, interagindo no ambiente, e com característica de organização em rede, semelhante a um cérebro, onde características essenciais estão presentes.
Para explicar as características do sistema em rede, talvez a metáfora do hipertexto é válida para verificar de modo sistêmico e dotá-lo de princípios para uma interpretação lógica do funcionamento, (Levy, 2004):
- princípio da metamorfose : a rede está em constante construção e renegociação, pois o fluxo de comunicação favorece seu constante desenvolvimento e estabilidade pela composição e permanente movimento de atores envolvidos;
- princípio da heterogeneidade: os nós e conexões da rede são heterogêneos. É composto de varias fontes de informações e conhecimentos e o nível de interação entre todos os componentes e o processo de comunicação não é uniforme;
- princípio da multiplicidade: a rede se organiza de forma que qualquer conexão pode revelar-se como sendo composto por toda uma rede, e assim por diante, ao longo de uma escala maior. Em efeitos de propagação do conhecimento, gera capacidade de uma Inteligência distribuída por toda a organização;
- princípio da exterioridade: a rede não possui unidade orgânica. Seu crescimento e diminuição, sua composição e recomposição dependem de fatores indeterminados. Pode haver adição de novos órgãos, interação com outras fontes de conhecimento e conexões com outras redes;
- princípio da topologia: tudo funciona por proximidade e conexão. O curso dos acontecimentos e o fluxo de conhecimento ocorrem de forma sincrônica. Tudo trafega na rede em conjunto, de acordo com o processo evolutivo da rede como um todo;
- princípio da mobilidade dos centros: a rede não tem centro, ou melhor, possui permanentemente diversos centros, onde a informação e o conhecimento percorrem todos os nós, distribuindo ao redor de uma ramificação infinita de pequenas raízes. O centro está em todo o lugar da rede.
As organizações em rede são geradoras de capacidade cognitiva (aquelas com potencial de aprender, onde ocorrem processos cognitivos, que constituem a aquisição de conhecimentos). Ela faz uma representação distribuída da informação, proporcionando uma memória que assimila informações e conhecimento novo adquirido pela organização e disponível para ser utilizado em decisões. A aprendizagem vem por seguinte capacitando as pessoas e setores a compreender e agir eficazmente.
Na forma de conexões entre um grande número de elementos, a comunicação operacionaliza a função de executar a soma das entradas e saídas, além de executar uma transformação (linear ou não linear) no sistema. Assim a rede se apresenta como um modelo semelhante a um cérebro e a suas interconexões, que permitem a representação do processamento do conhecimento na organização, resultando capacidade de responder eficazmente sobre problemas de ordem funcional e no ambiente em que atua.
A Complexidade da Investigação Criminal
Cada vez mais fazer uso do conhecimento tem se destacado como principal fator de sucesso e eficiência nas organizações do mundo moderno. A complexidade é o elemento fundamental da instabilidade. O desenvolvimento de sistemas de informações em forma de rede tem um importante papel na gestão do conhecimento.
O conhecimento se consolida por processos que objetiva identificar, administrar, armazenar e compartilhar o conhecimento, agregando valor na produção para seu uso. Capturar efetivamente o conhecimento e disseminá-lo constitui o problema central nas organizações.
O mundo contemporâneo é caracterizado por fatores que impõe desafios e impulsiona as organizações policiais para constantes inovações na investigação criminal. São fatores ligados à velocidade (fatores do ambiente ocorrem e mudam em tempo real e, isto é muito característico do fenômeno criminal); conectividade (todas as coisas vão se conectando eletronicamente: produtos, pessoas, empresas, movimentação financeira, crimes etc); intangibilidade (o intangível cresce mais rapidamente referente ao acúmulo de conhecimento pela organização e pelo crime); criatividade (mudanças de processos impulsionam a organização para adaptações em suas estruturas) pela necessidade de inovar; e a complexidade (muitos fatores e entidades interagem entre si, sendo que uma entidade é qualquer coisa que tenha determinado significado porem pode sofrer transformações de acordo com o ambiente).
Numa determinada perspectiva a complexidade sempre acaba demonstrando uma padronização. Isto encontra semelhança na “Teoria do Caos”, que segundo Stacey (apud Paiva, 2002) em sua definição científica, o caos não significa desordem absoluta ou uma perda completa da forma. Significa que sistemas guiados por certos tipos de leis perfeitamente ordenadas são capazes de se comportar de uma maneira aleatória e, desta forma, completamente imprevisível ao longo prazo, em um nível específico.
Por outro lado, esse comportamento aleatório também apresenta um padrão ou ordem escondida em um nível mais geral. O caos é a variedade individual criativa dentro de um padrão geral de similaridade.
A necessidade de busca de informações e do uso do conhecimento com mais intensidade têm obrigado as organizações policiais a perceber que é preciso ter um sistema organizacional capaz de gerar respostas mais instantâneas, com visão de contexto dos fenômenos que afligem a população e exigem a atuação rápida e eficaz.
Este cenário revela uma característica com grau de incerteza e complexidade cada vez mais elevado, de crescente hostilidade na vida das pessoas, provocando profundas transformações na conduta das pessoas que estão sob o medo. Em razão desta situação, cada vez é maior a condição de um gerenciamento efetivo das informações sobre o crime, com acompanhamento sistemático de situações que influenciam na mudança do ambiente social para a implementação de novas estratégias de segurança pública.
Construir conhecimento na segurança pública, em que o avanço da tecnologia e o necessário aumento do nível de monitoração ambiental submetem os órgãos policiais a um fluxo cada vez maior de informações, deixou de ser o único objetivo. Atualmente não basta só garantir o acesso à informação. É preciso também interpretar e criar significados, visando a uma clareza dos problemas percebidos.
O desafio passa a ser gerenciar e otimizar a carga de informações para que o seu uso seja potencializado. Este processo será possível a partir da firmação de um novo modelo de investigação que terá melhores condições de estabelecer objetivos e capacidade de resposta.
Análise de Vínculos
Xu e Chen (2003) explicam que para estabelecer vínculos em uma análise de relacionamento (ou “de vínculos”), a tarefa indispensável é a extração de informações sobre entidades e suas associações em grande escala de dados brutos, convertendo-as em uma representação de rede. Normalmente, na forma gráfica, as entidades são representadas por pontos centrais ou “nós”, e as associações entre elas são representadas por uma teia ou rede. Métodos de construção de diferentes redes são utilizados dependendo da categorização dos dados, ou seja, se os dados brutos são registros estruturados de bases de dados ou documentos textuais não-estruturados.
Prosseguem os autores referindo que a consolidação e as operações de formação de relacionamentos são executadas em registros de dados transacionais durante investigações de crimes. Assim, a consolidação consiste no processo de “fazer com que os dados deixem de ser ambíguos, combinando informações de identificação em uma única chave referente a indivíduos específicos”. Relacionamentos ou vínculos entre indivíduos consolidados são formados com base em um conjunto de fórmulas heurísticas, tal como se os indivíduos dividissem endereços, contas bancárias ou transações relacionadas.
Para Harrison (apud Gonçalves, 1999), a Análise de Vínculos pode ser considerada uma técnica de mineração de dados, na qual é possível estabelecer conexões entre registros, com o propósito de desenvolver modelos baseados em padrões de relações. É mais aplicada nas investigações de comportamento humano, especialmente na área policial, quando determinadas “pistas” são ligadas entre si para solucionar crimes. Esta técnica define indicadores que facilitam o trabalho de análise na observação de freqüência dos fatos, observação de convergências e a análise de conjunções que apresentam um padrão da atividade criminosa e o perfil do comportamento criminoso.
Em uma pesquisa de comportamento humano em crimes violentos, Strano, (2003) propõe modelos gráficos que extraiam conhecimento de um determinado sistema de dados empíricos, mapeando relações de nexo causal (causa e efeito) entre variáveis relevantes de um local de crime. As variáveis podem ser: (i) o objeto do crime, (ii) o local, (iii) o sexo do criminoso e (iv) o modus operandi.
Usando probabilidades condicionantes, pode-se perceber a extensão com que determinadas variáveis são passíveis de afetar umas às outras, ainda que as circunstâncias em que o crime ocorreu sejam desconhecidas. Os relacionamentos causais entre variáveis independentes (causas) e variáveis dependentes (efeitos) são assimilados de um conjunto de casos conhecidos, dos quais todas as variáveis da mesma espécie são avaliadas.
As tecnologias da informação, hoje disponíveis para a Análise de Vínculos, proporcionam uma visão gráfica do “grande conteúdo”, oferecendo apoio procedimental automático com três diferentes técnicas de determinação de relacionamentos: (i) análise de freqüência de dados, (ii) análise de redes de contatos e (iii) análise de convergência de ações no caso investigado.
A visualização destas formas de relacionamento se faz pormenorizadamente, pela análise de cada parte de um todo de grupos de informações conexas. Da visão geral, de maneira prática e funcional, o analista pode focar em componentes separados, e que serão analisados detalhadamente, produzindo-se então uma seqüência de novos gráficos.
Organizações policiais têm imenso repositório de informações, entretanto, ainda não se consegue desenvolver um ciclo de gestão, captura e disseminação de conhecimento criado por todos. Na verdade, apesar dos esforços, a mentalidade destas organizações ainda está em direção à fragmentação e à estruturação de silos de informação.
Temos a informação e o poder da informação nas mãos para solucionar os mais complexos problemas, porém, sem um mecanismo perfeito de transmissão do conhecimento que resultaria em resultados significativos para a antecipação de ações (pró-ativo) e no assessoramento às decisões.
O Conhecimento Pertinente
O conhecimento dos problemas e das informações-chave relativas ao mundo, por mais difícil que seja, deve ser buscado, ainda mais quando o contexto atual nos leva a situar tudo no contexto da complexidade, Morin (2000). O autor nos reporta a uma profunda reflexão da inadequação que existe, cada vez mais ampla, profunda e grave entre, de um lado, os saberes desunidos, divididos, compartimentados e, de outro, as realidades ou problemas cada vez mais multidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais e planetários.
Destaca-se nesse sentido, princípios para que o conhecimento seja pertinente:
- o contexto: o conhecimento das informações ou dos dados isolados é insuficiente. É preciso situar as informações e dados em seu contexto para que adquiram sentido. Para ter sentido, a palavra necessita do texto, que é o próprio contexto, e o texto necessita do contexto no qual se enuncia;
- o global: o global é mais que o contexto. É o conjunto das diversas partes ligadas a ele de modo inter-retroativo ou organizacional. Dessa maneira, uma sociedade é mais que um contexto: é o todo organizador de que fazemos parte. O planeta terra é mais do que um contexto: é o todo ao mesmo tempo organizador e desorganizador de que fazemos parte. O todo tem qualidades ou propriedades que não são encontradas nas partes, se estas estiverem isoladas uma das outras e certas qualidades ou propriedades das partes podem ser inibidas pelas restrições provenientes do todo;
- o multidimensional: unidades complexas, como o ser humano, ou a sociedade são multidimensionais: dessa forma, o ser humano é ao mesmo tempo biológico, psíquico, social, afetivo e racional. A sociedade comporta dimensões histórica, econômica, sociológica e religiosa. O conhecimento pertinente deve reconhecer esse caráter multidimensional e nele inserir estes dados: não apenas não se poderia isolar uma parte do todo, mas as partes umas das outras;
- o complexo: o conhecimento pertinente deve enfrentar a complexidade. Complexus significa o que foi tecido junto; de fato, há complexidade quando elementos diferentes são inseparáveis constitutivos do todo (como o econômico, o político, o sociológico, o psicológico, o afetivo, o mitológico), e há um tecido interdependente, interativo e inter-retroativo entre o objeto de conhecimento e o seu contexto, as partes e o todo, o todo e as partes, as partes entre si. Por isso, a complexidade é a união entre a unidade e a multiplicidade.
Pode-se dizer que no mundo moderno, a Tecnologia da Informação permite uma visibilidade da complexidade. O Quadro 1 apresenta como a Análise de Vínculos facilita a produção do conhecimento pertinente. As organizações policiais investem na aquisição de computadores, implementando redes corporativas e internet, facilitando o compartilhamento de documentos e dados que estão sendo armazenados em grande volume, colocados à disposição das unidades de investigação, entretanto, sistemas dispersos e não integrados estrategicamente não traz eficácia na produção de conhecimento.
Existem dois tipos de conhecimento. O conhecimento formal (explícito) é aquele que está em inquéritos, nos livros, manuais, documentos, periódicos, base de dados, artigos, processos etc. Por ser um produto concreto, ele normalmente é captado pelas organizações. O outro tipo é o conhecimento informal (tácito), aquele gerado e utilizado no processo intelectual para a produção do conhecimento formal, constituindo-se de idéias, fatos, suposições, decisões, questões, conjecturas, experiências individuais e pontos de vista. Por conter a inteligência, ele é um ativo patrimonial de imenso valor, apesar de se perder nas organizações policiais ao longo do tempo por falta de mecanismos para que seja coletado, estruturado, compartilhado, transmitido e reutilizado.
Segundo Nonaka e Takeuchi (1997), as duas formas de interação, entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito, e entre o indivíduo e a organização, realizarão quatro processos principais da conversão do conhecimento que, juntos, constituem a criação do conhecimento: externalização, combinação, internalização e socialização.
Embora a criação do conhecimento organizacional seja o fundamental, prosseguem os autores dizendo que “uma organização não pode criar conhecimento por si mesma, sem a iniciativa do indivíduo e a interação que ocorre dentro do grupo”. O conhecimento só pode ser amplificado e cristalizado em nível de grupo, através de discussões, compartilhamento de experiências e observações em atividade.
De maneira geral, a criação do conhecimento novo sintetiza-se pela conversão do conhecimento tácito em conhecimento explícito. Ter uma idéia ou palpite altamente pessoal tem pouco valor, a não ser que o indivíduo tenha como repassá-lo na organização e possa convertê-lo em conhecimento explícito, permitindo assim que seja compartilhado com outros profissionais.
Ainda na ótica da gestão do conhecimento de Nonaka e Takeuchi (1997), a informação como produto capaz de gerar conhecimento pode ser vista de duas perspectivas: a informação sintática (ou volume de informações) e a informação semântica (ou o significado). A análise sintática é a realizada no fluxo de informações sem levar em consideração o significado. Já o aspecto semântico da informação é mais importante para a criação do conhecimento, pois se concentra no significado transmitido. O conhecimento, como a informação, diz respeito ao significado e é específico ao contexto relacional.
O Significado da Informação na Organização
Segundo Choo (2003), a informação organizacional percorre três arenas de uso da informação: criar significado, construir conhecimento e tomar decisões. São de fato processos interligados, de modo que, analisando como essas três atividades se alimentam mutuamente, tem-se uma visão holística do uso da informação.
Num nível geral são três camadas concêntricas, em que cada camada, internamente, produz fluxos de informação para a cada externa adjacente (figura 3). A informação flui do ambiente exterior (fora dos círculos) e é progressivamente assimilada para permitir a ação da empresa.
Primeiro, é percebida a informação sobre o ambiente da organização; então, seu significado é construído socialmente. Isso fornece contexto para toda a atividade da empresa e, em particular, orienta os processos de construção de conhecimento. O conhecimento reside na mente dos indivíduos, e esse conhecimento pessoal precisa ser convertido em conhecimento que possa ser partilhado e transformado em inovação.
Quando existe conhecimento suficiente, a organização está preparada para a ação e escolhe seu curso racionalmente, de acordo com os objetivos. A ação organizacional muda o ambiente e produz novas correntes de experiência, às quais a organização terá de se adaptar, gerando assim um novo ciclo.
Segundo a Escola Superior de Guerra, ESG (1997) a informação é designada para aplicação em três diferentes formas:
- as Informações como Organização: para designar a informação como Estrutura, incluindo os repositórios informatizados, a rede de comunicação, pessoal e seu funcionamento;
- as Informações como Atividade: refere-se à atividade das informações que abrange o conjunto de ações no sistema organizacional, compreendendo o processo desenvolvido para a produção de conhecimento e apoio a inúmeras atividades na organização;
- as Informações como Conhecimento: a informação vista como produto, voltado para o conhecimento que deve contribuir para a tomada de decisões na organização. A qualidade das informações reflete decisivamente no sucesso da decisão resultante e sua importância estratégica.
Análise de vínculos e investigação policial
A técnica da análise de vínculos possibilita ao investigador a visualização de diferentes elementos funcionais e estruturais da investigação correspondente. De maneira sintética, a técnica engloba a captura, armazenamento e diagramação de informações pertinentes aos chamados “alvos monitorados”, emprestando um valor agregado ao trabalho investigativo que está fora do alcance prático da cognição humana normal.
Ela permite a visualização gráfica de relações entre pessoas, objetos, empresas, dados bancários e registros/dados de qualquer ação que revele padrões de ação e de comportamento (Figura 4), o que de outra forma permaneceria oculto em meio a um grande volume de dados e/ou informações desconectadas (Ferro Júnior, Dantas, 2007).
Estabelecer vínculos pressupõe associar dados, condutas, eventos, entidades ou quaisquer outros elementos de um empreendimento criminal complexo, subsidiando a ação policial no sentido de permitir uma visão esclarecedora de um determinado comportamento ou ação delitiva, possibilitando o alcance de resultados efetivos na consecução de operações de Inteligência/investigação policial.
A figura 4 e o Quadro 2 apresentam uma síntese da aplicação da análise de vínculos no contexto da Inteligência Organizacional.
Em 2005, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) desencadeou a Operação Galileu que teve por objetivo investigar fraudes em concursos públicos. A investigação começou no final do ano de 2004 e revelou um esquema onde os candidatos pagariam, em troca de aprovação, até 20 vezes o valor do que receberiam mensalmente no cargo. Em troca do pagamento, os inscritos receberiam os resultados da prova antecipadamente ou por meio de equipamentos eletrônicos ou ainda podiam ter os nomes incluídos na lista de aprovados.
A investigação realizada pela Polícia Civil do Distrito Federal consistiu em interceptar negociações mantidas entre os integrantes da quadrilha brasiliense acusada de burlar as provas de diversos concursos públicos. A Figura 5 apresenta um diagrama da obtido através do cruzamento de informações provenientes de diversas fontes. A investigação evidenciou a fraude em mais de dez concursos. O resultado foi a prisão dos integrantes do esquema.
Conclusão
Este trabalho apresentou uma análise dos elementos de Inteligência Organizacional (comunicação, memória, aprendizagem, cognição e raciocínio) no contexto da investigação criminal. Por meio de componentes integradores de conhecimento e o emprego da técnica de análise de vínculos, a capacidade da investigação policial amplia-se por meio da distribuição da informação, agregando valor significativo e possibilitando a criação de conhecimento para melhores decisões.
Nesse sentido, constata-se que a inteligência organizacional, apoiada pela análise de vínculos, estabelece novas condicionantes para a investigação criminal:
- a cognição organizacional possibilita à unidade policial, com o uso da Análise de Vínculos, desenvolver capacidade de análise de volume de informações, de fontes variadas, descoberta de ligações ocultas no crime complexo, por meio de processos sistêmicos e continuados de coleta da informação, com aplicação de tecnologia da informação;
- a memória Organizacional proporciona um repositório da totalidade da informação, compartilhamento de experiências, criação de significados e construção de conhecimento para tomada de decisões e a fim de permitir a socialização, uso, reuso e transformação do mesmo;
- a comunicação organizacional permite a articulação em rede das unidades policiais o que possibilita adquirir capacidade sistêmica de transmissão e de distribuição da informação, integrando inteligências humanas e de máquina;
- o raciocínio organizacional, orientado pela análise de vínculos, amplia a capacidade de investigação criminal pela visão de contexto de diversos grupos criminosos, que atuam conexos, e pela visão sistêmica da rede de organizações policiais, que proporciona recursos para a solução de situações e de problemas com antecipação;
- o aprendizado organizacional permite a evolução da doutrina de investigação criminal pois as unidades policiais, articuladas em rede, adquirem compreensão e ação eficaz devido ao resultado dinâmico de relações entre informações (eficiência potencial) e relacionamentos interpessoais (eficiência real)
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Advogado. Pesquisador, Consultor em Direito Digital, Segurança, Inteligência Empresarial, Lei Geral de Proteção de Dados e Operações de Informação. Doutorando em Direito Constitucional pelo IDP, Mestre em Gestão do Conhecimento e Tecnologia da Informação pela Universidade Católica de Brasília - UCB. Delegado de Polícia Civil do Distrito Federal no período de 1981/2009. Graduado em Direito pela AEUDF (atual UDF) em 1987. Especialista em Inteligência Estratégica - UNIEURO, Especialista em Gestão de Tecnologia da Informação - UNB, Especialista em Polícia Judiciária - UCB e em Gestão da Informação Policial - PCDF. Especialista no Ciclo de Estudos de Política e Estratégia - ADESG/DF, Coordenador e professor em Cursos de Graduação e Pós Graduação Lato Sensu. Concentração de estudos em Direito Digital, Inteligência Artificial, Gestão do Conhecimento, Inteligência Policial, Inteligência Tecnológica, Cognição Investigativa, Fusão da Informação e Inteligência Organizacional. Escritor e Conferencista em vários Seminários e Eventos Nacionais e Internacionais sobre Segurança Pública e Inteligência.
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: CELSO MOREIRA FERRO JúNIOR, . Inteligência Organizacional: Identificação das bases doutrinárias para a investigação criminal Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 16 set 2008, 13:42. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/14932/inteligencia-organizacional-identificacao-das-bases-doutrinarias-para-a-investigacao-criminal. Acesso em: 23 nov 2024.
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