Sumário: Parte I - Prefácio; Introdução: O conceito da lógica - II - Principais divisões da lógica - Exposição - Utilidade desta ciência - Esboço de uma história lógica - III - Perfeições lógicas particulares do conhecimento - A) A perfeição lógica do conhecimento segundo a quantidade: A grandeza - Grandeza extensiva e grandeza intensiva - Amplidão e elaboração a fundo ou importância e fecundidade do conhecimento- Determinação do horizonte de nossos conhecimentos - IV - A perfeição lógica do conhecimento segundo a qualidade - Clareza - Conceito de uma característica em geral - Diferentes espécies de características - Determinação da essência lógica de uma coisa - Diferença entre a essência lógica e a essência real - Distinção, um grau superior da clareza - Distinção estética e distinção lógica - Diferença entre a distinção analítica e a distinção sintética - V - A perfeição lógica do conhecimento segundo a modalidade - A certeza - O conceito de assentimento em geral - Modos de assentimento: opinar, crer, saber - A convicção e a persuasão - Reserva e suspensão do juizo - Juízos provisórios - Os prejuízos, suas fontes principais e principais formas - VI - A probabilidade - Explicação do provável - Diferença entre probabilidade e a verossimilhança - Probabilidade matemática e filosófica - A dúvida - Subjetiva e Objetiva - A maneira de pensar ou método céptico, dogmático e crítico de filosofar - Hipóteses - Parte II - Doutrina geral do método - 94 Maneira e método - 95 A forma da ciência - O método - 96 Doutrina do método - Seu objeto e sua finalidade - 97 Meios de promover a perfeição lógica de um conhecimentro - 98 Condições da distinção do conhecimento - I. Promoção da perfeição lógica do conhecimento pela definição, exposição e descrição dos conceitos - 99 - A definição - 100 Definição analítica e definição sintética - 101 Conceitos dados e conceitos factícios a priori e a posteriori - 102 Definições sintéticas por exposição ou por construção - 103 Impossibilidade de definições empiricamente sintéticas - 104 Definições analíticas por desmenbramento de conceitos dados a priori ou a posteriori - 105 Exposições e descrições - 106 Definições nominais e definições reais - 107 Os principais requisitos da definição - 108 Regras para o exame das definições - 109 Regras para a elaboração das definições - Promoção da perfeição lógica do conhecimento pela divisão lógica dos conceitos - 110 Conceito da divisão lógica - 111 Regras gerais da divisão lógica - 112 Codivisão e subdivisão - 113 Dicotomia e politomia - 114 Diferentes divisões do método - 115 Método científico ou método popular - 116 Método sistemático ou método fragmentário - 117 Método analítico ou método sintético - 118 Método silogístico - Método tabelar - 119 Método acromático ou método erotemático - 120 Meditar.
Parte I - Prefácio.
Inicia o prefácio o professor Gottlob Benjamin Jäsche, Doutor e Livre-Docente em Filosofia na Universidade de Königsberg e membro da Douta Sociedade de Frankfurt sobre o Oder ao declarar que lhe fora confiado o encargo de preparar a Lógica de Kant da forma que o mesmo expusera a seus ouvintes em lições públicas na forma de um livro que não desfigurasse seus pensamentos e apresentasse os mesmos de maneira exata, clara e na ordem conveniente.
Na apresentação e ordenação dos temas da obra, o autor ateve-se a seguir a declaração de Kant segundo a qual "não se deve acolher no tratamento propriamente dito da Lógica e nomeadamente em sua Doutrina dos Elementos nada mais do que a teoria das três funções básicas essenciais do pensamento, quais sejam a teoria dos conceitos, a teoria dos juízos e a teoria das inferências. Revela o autor que Kant, em sua leitura da citada obra comenta que, até aonde o autor tratou da Doutrina dos Conceitos, tratara ele "do conhecimento em geral, como propedêutica da Lógica", seguindo-se, a partir de então, a própria lógica.
Comenta ainda que Kant elaborara a Lógica de acordo com as linhas básicas de seu projeto no qual se encontra delineada a Crítica da Razão Pura e que, ainda hoje, quem se aventura a escrever tratados de Lógica, no concernente à economia e à disposição do todo, utiliza idéias Kantianas acerca da Lógica.
Buscou-se uma lógica mais purificada de artifícios dialéticos, mais sistemática e , ainda assim, mais simples. Finalmente, almejou-se delinear os limites do propedêutico, do dogmático, do técnico, do puro e do empírico sem que os mesmos se confundam de tal maneira que sejam impossíveis de ser distinguidos.
Visando ao aperfeiçoamento da Lógica a ser feita pela separação das proposições denominadas puras e das meramente formais, além das empíricas e reais ou metafísicas, ao se tratar da avaliação e determinação do conteúdo intrínseco dessa ciência enquanto ciência, o que Kant definiu não deixa dúvidas, pois assim se expressou:
"...a Lógica deve ser vista como uma ciência separada, subsistindo-se por si mesma e em si mesma fundada, e que, por conseguinte, desde o seu surgimento e primeiro acabamento, desde Aristóteles até os nossos dias, a Lógica nada pôde conquistar em matéria de fundamentação científica."
Introdução - O conceito da lógica.
"Tudo na natureza, tanto no mundo animado quanto no mundo inanimado, acontece segundo regras, muito embora nem sempre conheçamos essas regras."
Assim começa o autor a sua exposição sobre a lógica. Cita diversos elementos e seres da natureza, classifica as suas atuações como "uma conexão de fenômenos segundo regras." e conclui que não existe em nenhuma parte irregularidade alguma.
De acordo com o autor, nós agimos e vivemos segundo regras e algumas delas nem nos são conhecidas pois estão fora de nossa consciência.
Da mesma forma o entendimento também está ligado a regras que podemos descobri-las por meios de investigação. É ele "a fonte e a faculdade de pensar regras em geral.". O entendimento submete a regras as representações do sentido. E conclui perguntando quais são as regras segundo as quais o próprio entendimento está submetido.
Desta forma, conclui-se, também, que para usar o nosso entendimento estaremos seguindo regras. As regras citadas podemos resumi-las como o próprio Kant as escreve:
"As regras segundo as quais o entendimento procede são todas elas necessárias ou contingentes. As primeiras são aquelas sem as quais nenhum uso do entendimento seria possível; as últimas aquelas sem as quais um certo uso determinado do entendimento não poderia ter lugar. As regras contingentes, que dependem de um objeto determinado do conhecimento são tão diversas quanto esses objetos eles próprios."
Explica o mesmo que contingentes são as normas particulares no entendimento de cada ciência. Continua explicando que existem certas normas que se referem ao uso do entendimento em geral e não a cada objeto especificamente - as normas necessárias - que usamos para todo fim e abstração feita de todos os objetos particulares do pensamento ou ao final, "as meras condições do uso do entendimento em geral, quer puro, quer empírico."
E conclui:
"Esta ciência das leis necessárias do entendimento e da razão em geral, ou - o que dá no mesmo - da mera forma do pensamento em geral, é o que chamamos agora de Lógica."
Lógica deve, assim ser considerada propedêutica de todo uso do entendimento e fundamento para todas as outras ciências sem ser uma indicação da maneira de levar a cabo certo conhecimento.
Chega o autor à conclusão de que na Lógica não se trata de leis contingentes, mas sim de leis necessárias; "não da maneira como pensamos, mas, sim, como devemos pensar. "Ela deve nos ensinar o uso correto, quer dizer, o uso concordante, do entendimento."
De sua explicação, Kant tira as seguintes propriedades essenciais da Lógica: a) é ela ciência racional segundo a matéria e tem por objeto a razão e na mesma é tratada a questão de "como é que o conhecimento há de se conhecer a si mesmo?". b) ela é uma doutrina ou uma teoria demonstrada e se baseia em princípios a partir dos quais todas as demais regras pertinentes são derivadas.
Em suma, resumindo todas as características essenciais da Lógica, chegamos à seguinte conclusão:
"A Lógica é uma ciência, não segundo a mera forma, mas segundo a matéria; uma ciência a priori das leis necessárias do pensamento, mas não relativamente a objetos particulares, porém a todos os objetos em geral; por / tanto uma ciência do uso correto do entendimento e da razão em geral, mas não subjetivamente, quer dizer, não segundo princípios empíricos (psicológicos), sobre a maneira como pensa o entendimento, mas, sim, objetivamente, isto é, segundo princípios a priori de como ele deve pensar."
II - Principais divisões da lógica - Exposição - Utilidade desta ciência - Esboço de uma história lógica.
As principais divisões da Lógica são a Analítica e a Dialética; natural ou popular e artificial ou científica; no que toca à sua apresentação, escolástica ou popular; na sua história, como Analítica de Aristóteles, a Lógica geral de Leibiniz e Wolff, a de Baumgarten e finalmente, a de Crusius.
Ressaltamos aqui que o autor citou diversas outras divisões em sua obra, mas, todavia, classificou-as como imprestáveis para o fim a que se destinavam, de modo que nós não as explicitaremos neste resumo.
A analítica perfaz um desmembramento de todos os componentes da razão no nosso pensamento geral. Elabora produção artificiosa segundo a mera forma lógica que nos faz parecer um conhecimento verdadeiro revelando concordância de seu conteúdo, enfim expõe os critérios formais da verdade.
Já a dialética, por sua vez, parecendo-se mais como um Kathártikon do entendimento, conteria as características e o modo pelo qual descobririamos que alguma coisa não está condizente com os critérios formais do verdadeiro, embora semelhante ao mesmo.
Apresentação escolástica é a adequada à vontade de saber dos que almejam tratar as regras lógicas cientificamente apenas para clarear sua compreensão. São as regras apresentadas em sua universalidade ou em abstrato, ao contrário da apresentação popular, onde as mesmas o são apresentadas concretamente. É a escolástica, entretanto, o fundamento da apresentação popular.
Ao se tratar do conteúdo histórico da Lógica, temos que Aristóteles pode ser considerado o pai da mesma, pois foi o mesmo que primeiro a expos organizadamente e separou-a em Analítica e Dialética. Leibniz e Wolff foram os que deram um impulso à Lógica geral, Baumgarten resumiu a Lógica destes últimos e Crusius que deficientemente deixou de refletir sobre o estatuto da Lógica.
Nos fins do século XIX, entretanto, nenhum lógico ficou famoso, no que pondera o autor ser razoável, pois, afinal, na mesma trata-se tão somente da forma do pensamento.
III - Perfeições lógicas particulares do conhecimento - A) A perfeição lógica do conhecimento segundo a quantidade: A grandeza - grandeza extensiva e grandeza intensiva - Amplidão e elaboração a fundo ou importância e fecundidade do conhecimento -Determinação do horizonte de nossos conhecimentos.
A grandeza do conhecimento é extensiva ou intensiva. Extensiva é a relacionada com a quantidade e multiplicidade do conhecimento e a intensiva com o seu conteúdo.
Ao fazer crescer o nosso saber quanto aos conhecimentos extensivos importa adequar a grandeza dos mesmos aos fins e aptidões da pessoa.
Tal pode ser feito logicamente segundo a relação com o interesse do entendimento, esteticamente segundo o gosto, relacionado com o interesse do sentimento, praticamente, segundo a sua utilidade no que diz respeito ao interesse da vontade.
Com isso tem-se que o interesse concerne à avaliação e determinação do que o homem pode saber, que lhe é lícito saber e do que ele deve saber.
Ao tratarmos da perfeição lógica do conhecimento, segundo a relação a verdade material, formal ou lógica, devemos relacionar também quais os critérios da verdade lógica, ou seja, a falsidade e o erro e a aparência como fonte do erro e como meios para evitar os mesmos.
Consistindo na concordância entre o conhecimento e o objeto, a verdade é talvez a mais importante perfeição do conhecimento, a condição primordial e indestacável da perfeição do mesmo. Pergunta-se: "O que é a verdade?"
Na resposta de tal questão separaremos o significado do que é pertencente à matéria do mesmo e se relaciona com o objeto e o concernente à mera forma. Assim, desta distinção entre o aspecto objetivo, material do aspecto subjetivo e formal, duas serão as nossas questões , a saber: 1) "Será que há um critério material e universal da verdade?" e "Será que há um critério formal e universal da verdade?
Sabe-se ,a priori, que é impossível a existência de um critério ao mesmo tempo material e um universal da verdade.
Os critérios universais e formais não são suficientes para esclarecer a verdade objetiva.
Os critérios formais da Lógica são o princípio da não-contradição e o princípio da razão suficiente. Sendo que pelo primeiro determina-se a possibilidade lógica e pelo último a realidade lógica de um conhecimento.
A verdade lógica de um conhecimento abarca duas questões, a saber, que ela seja logicamente possível, isto é, que ela não se contradiga e que ela seja logicamente fundada tendo razões em que se funde e não criando consequências falsas.
São revelados, assim, três princípios como critérios de verdade puramente formais ou lógicos, a saber:
1) o princípio da contradição e da identidade, a frente do qual se coloca a possibilidade interna de um conhecimento para juízos problemáticos;
2) o princípio da razão suficiente, no qual é baseada a realidade de um conhecimento, para juízos assertórios;
3) o princípio do terceiro excluído, no qual se funda a necessidade lógica de um conhecimento, ou o fato de que necessariamente se deva julgar assim e não de outro modo, para juízos apodíticos.
O contrário da verdade é a falsidade, a qual, sendo vista pelos olhos da verdade se chama erro. Logo, um juízo errôneo é um juízo que confunde a própria verdade com a sua aparência.
O erro, portanto, é a aparência, segundo a qual o meramente subjetivo se vê confundido no juízo com o objetivo.
O erro, contudo, deve ser sempre evitado e, assim, tem-se como regras e condições universais para tal o de a pessoa pensar por si mesma, pensar colocando-se no lugar de outra pessoa - maneira ampliada - e, finalmente, pensar coerentemente consigo mesmo - maneira consequente ou cogente.
IV - A perfeição lógica do conhecimento segundo a qualidade - clareza - Conceito de uma característica em geral - Diferentes espécies de características - Determinação da essência lógica de uma coisa - Diferença entre a essência lógica e a essência real - Distinção, um grau superior da clareza - Distinção e estética e distinção lógica - Diferença entre a distinção analítica e a distinção sintética.
O conhecimento humano é, da parte do entendimento, discursivo;
Assim inicia o autor a explicar que o conhecimento humano se faz mediante representações, através de notas características do mesmo. Somos capazes de reconhecer algo pelas suas características. Reconhecemos, exatamente, devido ao fato de já conhecermos previamente as suas devidas características,
E continua:
"Nós só reconhecemos, pois, as coisas mediante características; e isso é precisamente o que se chama reconhecer (Erkennen), que deriva de conhecer (Kennen)."
Define-se nota característica como aquilo que, numa coisa, constitui parte do conhecimento da mesma; ou uma representação parcial na medida em que é considerada como uma razão de conhecimento da representação inteira. Pensar é assim, representar mediante notas características.
É certa a existência de tipos diferentes de características. Dentre elas, destacamos:
1) As caraterísticas analíticas ou sintéticas. As analíticas são conceitos parciais do meu conceito real, sendo este previamente pensado. São conceitos da razão. As sintéticas, ao contrário, são conceitos parciais do conceito inteiro meramente possível. São conceitos da experiência.
2) Características coordenadas ou subordinadas. Coordenadas são representadas cada uma com uma característica imediata da coisa. Nas subordinadas uma coisa só é representada mediante a outra.
3) Características afirmativas ou negativas. Na afirmativa conhecemos a coisa pelo que ela é, sendo que na negativa pelo que ela não é. Pelas afirmativas queremos entender algo, sendo que pelas negativas apenas não errar acerca de alguma coisa, mesmo que não possamos vir a conhecer nada dela.
4) Características importantes e fecundas ou vazias ou sem importância. Importantes são as que constituem "razão de conhecimento de grandes e numerosas consequências."
5) Características suficientes e necessárias ou insuficientes e contingentes. Suficiente é a característica que pode distinguir em todos os casos uma coisa das demais, em caso oposto, será insuficiente. Já as necessárias são as que têm que ser achadas sempre na coisa representada.
Fala o texto, então, da essência das coisas. Define a essência como sendo o conjunto de todos os elementos essenciais de uma coisa ou a suficiência das características dela, segundo a coordenação ou a subordinação.
Conclui que a "essência lógica nada mais é, ela própria, do que o primeiro conceito fundamental de todas as características necessárias de uma coisa (esse conceptus)."
A partir do momento que a tarefa da lógica é tornar distintos os conceitos claros, pergunta-se como ela os faz assim distintos.
A resposta à indagação "supra" vem expressa no fato de que à síntese incumbe esta tarefa de tornar claros os conceitos. Nela, o todo precede as partes. O papel do filósofo é distinguir conceitos dados. Termina enaltecendo a importância de tomarmos consciência dos nossos conhecimentos e conclui:
"Se tivéssemos consciência de tudo aquilo que sabemos, ficaríamos espantados com a enorme quantidade de nossos conhecimentos."
V - A perfeição lógica do conhecimento segundo a modalidade - A certeza - O conceito de assentimento em geral - Modos de assentimento: opinar, crer, saber - A convicção e a persuasão - Reserva e suspensão do juizo - Juízos provisórios - Os prejuízos, suas fontes principais e principais formas.
Começa definindo o autor a verdade como sendo a propriedade objetiva do conhecimento, "o juízo através do qual algo é representado como verdadeiro", enfim, "subjetivamente o assentimento."
Esclarece que o assentimento é de duas espécies, certeza ou incerteza. No primeiro encontra-se a consciência da necessidade, sendo que o incerto é o contrário. Neste último, entretanto, encontram-se duas partes, a opinião e a crença.
Assim, temos três modos de assentimento: opinar, saber e crer. "Opinar é um julgar problemático, crer é um assertórico e o saber um apodítico."
De tudo o que foi dito até o presente momento extraímos o resultado final de que toda a nossa convicção é ou bem lógica ou bem prática, pois quando sabemos isentos de toda subjetividade e suficiente o assentimento, restamo-nos objetivamente convencidos.
VI - A probabilidade - Explicação do provável - Diferença entre probabilidade e a verossimilhança - Probabilidade matemática e filosófica - A dúvida - subjetiva e objetiva - A maneira de pensar ou método céptico dogmático e crítico de filosofar - hipóteses.
"À Doutrina da certeza de nosso conhecimento pertence também a doutrina do conhecimento do provável, que se deve considerar como uma aproximação da certeza."
Entende o autor que probabilidade é um assentimento fundado em razões insuficientes, porém com ligações às suficientes mais fortes do que com as primeiras. Oposto assim à verossimilhança que é justamente um assentimento baseado em razões insuficientes mais fortemente do que o contrário.
Ao escrever sobre a dúvida, termina o texto ao defini-la como razão contrária ou mero obstáculo do assentimento. É ela subjetivamente considerada quando se encontra uma mente em estado de indecisão, e objetivamente, também conhecida como objeção, quando há o conhecimento da insuficiência das razões para o assentimento, pois ela é "uma razão objetiva para se ter por falso um conhecimento tido por verdadeiro."
Parte II - Doutrina Geral do Método.
Face à importância do tema e à busca de uma maior precisão final do texto, elaboraremos, a partir de agora, transcrição do texto original da obra e esperamos termina-la com a suficiente noção do tema exposto.
94 - Maneira e método.
Todo conhecimento bem como um todo do mesmo têm que ser conformes a uma regra. (A falta de regra é ao mesmo tempo a irrazão.) Mas esta regra é quer a regra de maneira (livre), quer a do método (coerção).
95 - A forma da ciência - o método.
Enquanto ciência, o conhecimento tem que ser organizado segundo um método. Pois a ciência é um todo do conhecimento como sistema e não como simples agregado. Ela requer, por isso, um conhecimento sistemático; portanto, formulado segundo regras refletidas.
96 - Doutrina do método - seu objeto e sua finalidade.
Assim como a Doutrina Elementar na Lógica tem por conteúdo os elementos e as condições da perfeição de um conhecimento, assim também de sua parte a Doutrina Geral do Método, que é a outra parte da Lógica, tem que tratar da forma de uma ciência em geral, ou da maneira de proceder para conectar o múltiplo do conhecimento em uma ciência.
97 - Meios de promover a perfeição lógica de um conhecimento.
A Doutrina do Método deve expor a maneira pela qual chegamos à perfeição do conhecimento. Ora, uma das mais essenciais / perfeições lógicas do conhecimento consiste na distinção, no tratamento a fundo e na ordenação sistemática do conhecimento de modo a constituir o todo de uma ciência. Consequentemente, a Doutrina do Método terá sobretudo de indicar os meios pelos quais se podem promover essas perfeições do conhecimento.
98 - Condições da distinção do conhecimento.
A distinção dos conhecimentos e sua ligação num todo sistemático depende da distinção dos conceitos, tanto no que concerne ao que está contido dentro deles, quanto no que respeita ao que está contido sob eles.
A consciência distinta do conteúdo dos conceitos é promovida pela exposição e definição dos mesmos; a consciência distinta da sua extensão, ao contrário, pela divisão lógica dos mesmos. Tratemos, pois, aqui em primeiro lugar dos meios de promover a distinção dois conceitos no que concerne ao seu conteúdo.
I. Promoção da perfeição lógica do conhecimento pela definição, exposição e discrição dos conceitos.
99 - A definição.
Uma definição é um conceito suficientemente distinto e adequado ( conceptus rei adquatus in minimis teerminis, complete determinatus).
Observação. Só a definição deve ser considerada como um conceito logicamente perfeito; pois nela se reúnem as duas perfeições mais essenciais de um conceito: a distinção e a perfeição e precisão na distinção.
100 - Definição analítica e definição sintética.
Todas as definições são analíticas ou sintéticas. As primeiras são definições de um conceito dado; as últimas, definições de um conceito factício.
101 - Concdeitos dados e conceitos factícios a priori e a posteriori.
Os conceitos dados de uma definição são ou bem dados a priori, ou bem dados a posteriori; assim como os conceitos factícios de uma definição sintética são feitos ou bem a priori ou bem a posteriori.
102 - Definições sintéticas por exposição ou por construção.
A síntese dos conceitos factícios, da qual resultam as definições sintéticas, é ou bem a síntese da exposição (dos fenômenos) , ou bem a síntese da construção. A última é a síntese de conceitos arbitrariamente feitos, a primeira a síntese de conceitos feitos empiricamente - que dizer, a parti de fenômenos dados como a matéria deles ( conceptus factitii vel a priori vel per synthesin empiricam). Os conceitos arbitrariamente feitos são os conceitos matemáticos.
Observações. - Todas as definições dos conceitos matemáticos e - na medida em que de todo sejam possíveis, as definições no caso dos conceitos empíricos - também dos conceitos de experiência têm, pois, que serem feitas sinteticamente. Pois também no caso dos conceitos da última espécie, por exemplo, nos conceitos empíricos de água, fogo, ar e coisas semelhantes não devo analisar o que está neles, mas aprender pela experiência o que pertence a eles. Todos os conceitos empíricos têm, pois, que ser considerados como conceitos factícios cuja síntese, porém, não é arbitrária mas empírica.
103 - Impossibilidade de definições empiricamente sintéticas.
Visto que a síntese doas conceitos empíricos não é arbitrária, mas empírica e, enquanto tal, jamais pode ser completa (porque se/ podem sempre descobrir nas experiência outras características mais do conceito), os conceitos empíricos também não podem ser definidos.
Observação. - Sinteticamente só se deixam definir, por conseguinte, os conceitos arbitrários. Semelhantes definições de conceitos arbitrários, que não apenas são sempre possíveis, mas também necessárias e que devem proceder o que foi dito através de um conceito arbitrário, poder-se-iam também denominar declarações, na medida em que através delas declaramos os nossos pensamentos ou prestamos contas do que entendemos por uma palavra. Tal é o caso com os matemáticos.
104 - Definições analíticas por desmembramento de conceitos dados a priori ou a posteriori.
Todos os conceitos dados, não importa se são dados a priori ou a posteriori, só podem ser definidos por análise. Pois os conceitos dados só podem ser tornados distintos na medida em que aclaramos sucessivamente características deles. Se todas as características de um / concedido dado se vêm aclaradas, então o conceito se torna completamente distinto; se ele tampouco contém características demais, então é ao mesmo tempo preciso e daí resulta uma definição de conceito.
Observação. - Como nenhum teste pode dar a certeza de se terem exaurido por uma análise completa todas as características de um conceito dado, toadas as definições analíticas devem ser tidas por inseguras.
105 - Exposições e descrições.
Portanto, nem todos os conceitos podem, mas tampouco precisam ser definidos.
Há aproximações da definição de certos conceitos; estas são em parte exposições (expositiones), em parte descrições (descriptiones).
/A exposição de um conceito consiste na representação uma a uma (sucessiva) de suas notas características, na medida em que estas foram encontradas por análise.
A descrição é a exposição de um conceito na medida em que não é uma definição precisa.
Observações. - 1) Podemos expor que um conceito, quer a experiência. A primeira ocorre por análise, a segunda por síntese.
2) A exposição só tem lugar, pois, no caso de conceitos dados, que são assim tornados claros; ela distingue-se assim declaração, que é uma representação distinta de conceitos factícios.
Como nem sempre é possível tornar a análise completa; e como além disso um desmembramento, antes de se tornar completo, é necessariamente incompleto, uma exposição mesmo incompleta é também , enquanto parte de uma definição, uma exibição verdadeira e útil de um conceito. Neste caso, a definição permanece sempre apenas a idéia de uma perfeição lógica, que temos de procurar atingir.
3) A descrição só pode ter um lugar no caso dos conceitos empiricamente dados. Ela não tem regras determinadas e contém apenas os materiais para a definição.
106 - Definições nominais e definições reais.
Por meras explicações de nomes, ou definições nominais, devem-se entender aquelas que contém o significado que se quis dar arbitrariamente a um certo nome e que, por isso, designam apenas a essência lógica de seu objeto, ou que servem simplesmente para distingui-lo de outros objetos. Ao contrário, as explicações de coisas, ou definições reais, são aquelas que são suficientes para o conhecimento do objeto, segundo suas determinações internas, na medida em que exibem a possibilidade do objeto a partir de suas características internas.
1) Se um conceito é internamente suficiente para distinguir a coisa, então certamente também o é externamente; mas, se ele não é internamente suficiente, ele pode no entanto ser externamente suficiente sob certo aspecto apenas, a saber, na comparação do definitum com outros. Só que a insuficiência externa irrestrita não é possível sem a primeira.
2) Os objetos da experiência só admitem explicações nominais. As definições nominais lógicas de conceitos do entendimento dados são tiradas de um atributo; as definições reais, ao contrário, da essência da coisa, da primeira razão da possibilidade. As últimas contêm, pois, aquilo que convém sempre à coisa - a essência real dela. As definições meramente negativas também não podem se chamar definições reais, porque as características negativas podem, é verdade, servir para distinguir uma coisa de outras tanto quanto as afirmativas, mas não para o conhecimento da coisa segundo a possibilidade interna.
Em matéria de Moral, é preciso buscar sempre as definições reais; é para isso que todos os nossos esforços devem estar dirigidos. Definições reais encontram-se na Matemática; pois a definição de um conceito arbitrário é sempre uma definição real.
3) Uma definição é genética se ela dá um conceito mediante o qual o objeto pode ser exibido a priori in concreto; tais são todas as definições matemáticas.
107 - Os principais requisitos da definição.
Os requisitos essenciais e universais que se exigem para a perfeição de uma definição em geral podem ser considerados sob os quatro aspectos principais da quantidade, qualidade, relação e modalidade.
1) Segundo a quantidade - no que concerne à esfera da definição - é preciso que a definição e o definitum sejam conceitos recíprocos (conceptus reciproci) , e, por conseguinte, a definição não pode ser nem mais lata, nem mais estrita do que o seu definitum.
2) Segundo a qualidade, é preciso que a definição seja um conceito detalhado e, ao mesmo tempo, preciso.
3) Segundo a relação, ela não pode ser tautológica, isto é, é preciso que as características do definitum sejam, enquanto razões do conhecimento do mesmo, diferentes dele próprio. E finalmente:
4) segundo a modalidade, é preciso que as características sejam necessárias e, por conseguinte, que não sejam daquelas que advém pela experiência.
Observação. - A condição de que o conceito do gênero e o conceito da diferença específica (genus e differentia specifica) constituam a definição, / vale apenas com respeito às definições nominais na comparação, mas não para as definições reais na derivação.
108 - Regras para o exame das definições.
No exame das definições, cumpre realizar quatro operações , a saber, é preciso investigar aí:
1) se a definição, considerada como uma proposição é verdadeira;
2) se a definição, considerada como um conceito, é distinta;
3) se a definição, considerada como um conceito distinto, também é detalhada, e finalmente:
4) se a definição, enquanto um conceito detalhado, é ao mesmo tempo determinada, isto é, adequada à coisa mesma.
109 - Regras para a elaboração das definições.
Exatamente as mesmas operações que são necessárias para o exame das definições devem agora também ser efetuadas em sua elaboração. Para este fim, procure, pois: 1) proposições verdadeiras; 2) aquelas cujo predicado não pressuponha já o conceito da coisa; 3) reúna várias delas e compare-as como conceito da coisa mesma para ver se ela é adequada, e finalmente: 4) veja se uma característica não se encontra em outra ou a ela está subordinada.
Observações. - 1) Estas regras valem - como está claro sem que seja preciso lembrá-lo - apenas para as definições analíticas. Ora, como não se pode ter aqui jamais a certeza de que a análise foi completa, só é licito estabelecer a definição tentativamente e dela só se servir como se nenhuma definição fosse. Com esta / restrição, é possível utilizar-se dela como um conceito distinto e verdadeiro, e extrair corolários das características de um conceito. Assim poderei dizer: aquilo a que convém o conceito do definitum também convém a definição, mas não, de certo, inversamente, já que a definição não esgota todo o definitum.
2) Servir-se do conceito do definitum na explicação ou, na definição, tomar o definitum por fundamento, significa explicar mediante um círculo (circulus in definiendo).
II. Promoção da perfeição lógica do conhecimento pela divisão lógica dos conceitos.
110 - Conceito da divisão lógica.
Todo conceito contém um múltiplo sob si na medida em que este é concordante; mas também na medida em que este múltiplo é diverso. A determinação de um conceito com respeito a todos os objetos possíveis contidos sob ele, na medida em que se opõem um ao outro, isto é, diferem um do outro, chama-se divisão lógica do conceito. O conceito superior chama-se conceito dividido (divisum) e os conceitos inferiores membros da divisão (membra dividentia).
Observações:
1) Dissecar um conceito e dividi-lo são, pois, coisas mui diversas. Ao dissecar um conceito, fico olhando para o que está contido dentro dele (por análise); ao dividi-lo, estou considerando o que está contido sob ele. Aqui, estou dividindo a esfera do conceito, os membros da divisão, muito pelo contrário, encerram em si mais do que o conceito dividido.
2) Remontamos dos conceitos inferiores aos superiores e em seguida podemos de novo descer destes para os inferiores - por divisão.
111 - Regras Gerais da divisão lógica.
Em toda divisão de um conceito deve-se atentar para o seguinte:
1) que os membros da divisão se excluam ou estejam opostos uns aos outros;
2) que, além disso, se situem sob um conceito superior (conceituam com munem); e finalmente:
3) que, tomados em conjunto, constituam a esfera do conceito dividido ou sejam iguais a ela.
Observações: Os membros da divisão devem estar separados uns dos outros por oposição contraditória, não por uma mera oposição (contrarium).
112 - Codivisão e subdivisão.
As diferentes divisões de um conceito feitas com intenções diferentes chamam-se codivisões, e a divisão dos membros da divisão denomina-se subdivisão (subdivisio).
Observações. - 1) A subdivisão pode ser prolongada ao infinito; mas, comparativamente, pode ser finita. A codivisão também vai ao infinito, em particular no caso dos conceitos da experiência; pois quem pode esgotar todas as relações dos conceitos?
2) Também se pode denominar a codivisão uma divisão segundo a diferença dos conceitos do mesmo objeto (pontos de vista); bem como a subdivisão, uma divisão dos pontos de vista eles próprios.
113 - Dicotomia e politomia.
Uma divisão em dois membros chama-se dicotomia; mas, se ela tem mais do que dois membros, ela é denominada politomia.
Observações:
1) Toda politomia é empírica; a dicotomia é a única divisão a partir de princípios a priori - logo, a única divisão primitiva. Pois os membros da divisão devem estar opostos uns aos outros, e de todo A o contrário nada mais é do que não-A.
2) A politomia não pode ser ensinada na Lógica; pois para isto é necessário o conhecimento do objeto. A dicotomia, porém, precisa apenas do princípio da contradição, sem que se conheça o conceito que se quer dividir quanto ao conteúdo. A politomia carece da intuição, seja a priori, como na Matemática (por exemplo, a divisão de secções cônicas), seja a intuição empírica, como na Descrição da Natureza. No entanto, a divisão a partir do princípio da síntese a priori envolve tricotomia; a saber: (1) o/ conceito, como a condição, (2) o condicionado e (3) a derivação do último a partir do primeiro.
114 - Diferentes divisões do método.
No que concerne agora em particular ao próprio método na elaboração e tratamento dos conhecimentos científicos, há diferentes espécies principais que podemos indicar aqui segundo a divisão que se segue.
115 - Método científico ou método popular.
O método científico ou escolástico distingue-se do popular pelo fato de que aquele parte de proposições básicas e elementares, este ao contrário do que é costumeiro e interessante. Aquele visa a elaboração a fundo e, por isso, afasta tudo o que é heterogêneo; este tem em vista o entretenimento.
Observação:
Estes dois métodos distinguem-se, pois, quanto `a espécie e não quanto à mera maneira de apresentar; e a popularidade na maneira de apresentar.
116 - Método sistemático ou método fragmentário.
O método sistemático opõe-se ao método fragmentário ou rapsódico. Se houvermos pensado segundo um método e se em seguida houvermos expresso este método também na apresentação, tendo indicado distintamente a passagem de uma proposição à outra, teremos tratado um conhecimento de maneia sistemática. Se, ao contrário, houvermos, é verdade, pensado segundo um método, mas sem ter organizado metodicamente a apresentação, então convém chamar semelhante método de rapsódico.
Observação:
A apresentação sistemática opõe-se à apresentação fragmentária, assim como a apresentação metódica à tumultuária. Quem pensa / metodicamente pode, com efeito, fazer uma apresentação de maneira sistemática ou frag / mentária. A apresentação exteriormente fragmentária, mas em si mesma metódica é aforística.
117 - 3. Método analítico ou método sintético.
O método analítico opõe-se ao método sintético. Aquele começa do condicionado e fundamentado e prossegue em direção aos princípios ( a principiatis ad principia), este ao contrário vai dos princípios às consequências ou do simples ao composto. Ao primeiro poder-se-ia também chamar regressivo, assim como ao segundo progressivo.
Observação. - O método analítico também é chamado de método de invenção. Para fins da elaboração científica e sistemática do conhecimento, mais apropriado é o método sintético.
118 - 4. Método silogístico ou método tabelar.
O método silogístico é aquele no qual uma ciência é apresentada numa cadeia de inferências.
Tabelar chama-se o método segundo o qual um edifício doutrinário já pronto é apresentado em sua conexão inteira.
119 - 5. Método acromático ou método erotemático.
Acromático, o método o é na medida em que alguém ensina apenas; erotemático, na medida em que também questiona. O segundo método pode, por sua vez, dividir-se no método dialógico ou socrático e no método catequético, conforme as questões se dirijam ao entendimento, seja meramente à memória.
Observação. - Não se pode ensinar segundo o método erotemático a não ser por meio do diálogo socrático, no qual ambos os interlocutores têm que interrogar e também responder alternadamente, / de tal sorte que parece que o discípulo também é, ele próprio, um mestre. Com efeito, o diálogo socrático, ensina por meio de questões, ensinando ao aprendiz como conhecer os princípios da sua própria razão e aguçando-lhe a atenção para isso. Pela catequese comum, porém, não é possível ensinar, mas apenas indagar o que se ensinou acroamaticamente. Por isso, o método catequético vale apenas para conhecimentos empíricos e históricos; o dialógico, ao contrário, para conhecimentos racionais.
120 - Meditar.
Por meditar deve-se entender refletir ou pensar metodicamente. A meditação tem que acompanhar toda leitura e aprendizado; e, para isso, exige-se antes de mais nada proceder a investigações preliminares e em seguida pôr em ordem os seus pensamentos ou liga-los segundo um método."
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