Outra face do problema “onde a sociedade quer mais saúde” deve ser também considerada...
Necessário que os brasileiros atentem para a falta de assistência médica para os milhares, talvez milhões de dependentes químicos (especificamente de "drogas ilícitas", caso do "crack", forma de apresentação do cloridrato de cocaína) existentes hoje no país. Uma "epidemia de crack" está em curso...
De alguma forma, os "dependentes químicos do crack" são doentes crônicos (tanto no sentido fisiológico quanto comportamental/psicossocial) cuja patologia é contraída pelo "contágio" por um "agente etiológico" que cabe ao estado controlar/impedir a entrada e comercialização no território nacional.
É importante lembrar que o cloridrato de cocaína é um derivado do arbusto Erythroxylum Coca, espécie vegetal encontrada apenas em países vizinhos do Brasil, caso da Bolívia, Peru e Colômbia.
Esses países são considerados "nações amigas" com as quais o Brasil mantém relações bilaterais normais. Ainda assim, o governo federal não parece exigir deles, como seria o caso, um "controle responsável" da "importação" do veneno que é o cloridrato de cocaína e que vem destruindo a saúde/vida de milhares/milhões de brasileiros. O dano produzido é comparável, em mortes e incapacitações, ao de uma verdadeira guerra. Paradoxalmente, no caso da Bolívia, o governo brasileiro faz para ela até mesmo concessões econômicas extremas e descabidas juridicamente (como no rompimento pela Bolívia de obrigações contratuais), como se existisse um clima de contrapartida fraterna e colaborativa em algo tão fundamental como a contenção do "narcotráfico unilateral boliviano para o Brasil" de cloridrato de cocaína.
O governo brasileiro, em relação aos derivados de cloridrato de cocaína -- caso do "Crick", é incapaz não apenas de impedir a entrada dessa substância no país. As autoridades públicas do Brasil também não impedem, efetivamente, a comercialização local dessa e de outras drogas derivadas do Erythroxylum Coca. Isso vem gerando uma verdadeira epidemia, materializada nas "cracolandias", onde hoje é possível verificar, diuturnamente, brasileiros sendo literalmente destruídos física e moralmente e, junto com eles, famílias e comunidades inteiras.
Pari passu com tudo isso, a população afetada pelas drogas derivadas do cloridrato de cocaína não pode recorrer aos recursos médicos necessários, em função da inexistência de um mínimo de "doutrina de saúde pública" para tanto. E a epidemia "está aí", nos termos que referem as próprias autoridades dos governos estaduais e federal.
Epidemia que segue sem um mínimo de contenção efetiva, afetando gravemente, em sua esteira destruidora, também a segurança pública.
Como se a polícia pudesse conter um fenômeno que começa nas fronteiras e termina em uma verdadeira tragédia de saúde pública.
A "retórica oficial atual" sugere a existência de "centros de atendimento" para dependentes químicos, centros esses reais ou ainda por serem estabelecidos. Eles estariam baseados em um Sistema Único de Saúde (SUS), já falimentar, e que por isso mesmo não tem condições sequer de atuar eficientemente em áreas tradicionais de demanda por outros serviços médicos de rotina, que dizer do complexo fenômeno da dependência química.
Diante do quadro grotesco da falta de efetividade dos governos (federal e estaduais) e da inércia da saúde pública no contexto da "epidemia de crack", famílias de todas as classes sociais convivem hoje com seus parentes afetados e sem tratamento, indivíduos que inexoravelmente terminam mortos e/ou envolvidos com a criminalidade.
Isso acontece basicamente pelo cometimento de diversos delitos pelos dependentes químicos, no sentido de obter ilicitamente os recursos necessários (sempre extremos e inalcançáveis...) para sustentar tal dependência.
Entendido em seu extremo de abrangência, o problema da dependência química do "crack", em sua articulação com o "narcotráfico andino" (com origem na Bolívia, Peru e Colômbia) vai muito além da agressão à soberania nacional, na medida em que ele resulta em "baixas" de milhares/milhões de brasileiros, passando pelo impacto na saúde pública, e culminando com o esfacelamento do próprio Estado. A exemplo, é essa a situação que vive hoje o Rio de Janeiro, em uma conflagração cuja corrupção do narcotráfico já alcança até mesmo autoridades públicas e a integridade do Estado.
Evidentemente que a sociedade não só quer, como precisa desesperadamente de “mais saúde” para a contenção do fenômeno também sanitário da dependência química resultante das drogas de uso ilícito e do narcotráfico correspondente. Pelo menos, mais saúde...
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