co-autor: Frei Gilvander Luis Moreira
Como são construídos os significados do mundo? Quem nos diz o que é bom e mal, certo e errado. Quem diz para nós o que significa liberdade? Quem disse para nós o que significa igualdade?
Os significados do mundo, há algum tempo atrás, era construído em casa, com os pais e/ou parentes, na escola com os professores, na convivência com os amigos, na Igreja, no catecismo, e mais tarde no partido político, no sindicato, no mundo do trabalho. Estamos sempre construindo e reconstruindo os significados das palavras, os significados do mundo. Aprendemos na medida em que estamos abertos ao aprendizado. Quanto mais certezas temos, menos evoluímos, menos aprendemos, menos crescemos, pois não se cresce na certeza. O caminho do aprendizado é a dúvida e a humildade de saber que pouco se sabe diante de tantos mistérios.
Se no passado o universo de significados do mundo era construído na família, na comunidade, na escola, na Igreja, hoje este universo de sentido, de significados, é construído, principalmente, pela mídia, pela televisão, pelos periódicos, mas principalmente pela TV. Quem diz diariamente em nossa cabeça o que é bom ou mal? O que nos vai fazer feliz? O que é liberdade, que governo é bom, o que é moral e ético e qual a solução de todos os problemas? A mídia constrói os significados do mundo de parcela expressiva da população. Quem manda na TV? Muito poucos. Os proprietários dos meios de comunicação (jornais, revistas e TVs) que alcançam a grande maioria são muito poucos. Estas poucas pessoas, arrogantes, que defendem os seus próprios interesses, são as pessoas que constroem os significados do mundo para uma parcela grande das pessoas.
Outro dia um menino de doze anos me perguntou: o que é liberdade? O que é socialismo? O que é república? Você leitor já deve ter feito esta pergunta em algum momento, ou em vários momentos. Várias são as perguntas que nos fazemos: perguntas sobre o significado das palavras. Quem responde? Como podemos nos posicionar sobre algo que não conhecemos. Como podemos condenar sem que saibamos dos fatos e suas versões?
Consultando um dicionário francês da década de 60 do século XX procurei o significado de Colônia e colonizador. Para minha surpresa encontrei o seguinte significado: “colonizador é o povo amigo que leva cultura e desenvolvimento para os povos selvagens.” Com certeza, os muitos povos que sofreram colonizações experimentaram algo muito diferente do que amizade. Esta é a questão central que queremos levantar aqui. Pensar sobre quem nos diz sobre o que pensar e pior, como pensar.
Perguntaram-me outro dia sobre o que eu achava das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Elas são terroristas? Ora, para responder esta pergunta a primeira coisa que eu deveria saber é sobre as FARC. Quem são estas pessoas que integram este exército revolucionário? O que eles fazem? O que fizeram? Qual a relação com o narcotráfico? Qual a relação com o povo? Diante de tantas perguntas resolvi pesquisar. Li muito. Vários jornais do mundo inteiro. Livros, artigos, revistas e jornais. O que eu descobri foi apavorante. Uns dizem que as FARC são um movimento de resistência. Outros dizem que as FARC estão em conflito com o narcotráfico. Outros dizem que são terroristas. Outros dizem que estão aliados ao narcotráfico...etc...etc...etc. Depois de tudo respondi: como me posicionar sobre algo que está encoberto por detrás de tantos discursos e mentiras. Como condenar ou absolver o que não posso entender sem conhecer, e o conhecimento está propositalmente escondido de nós. As FARC aqui foi apenas um exemplo aleatório, mas não sem motivo, uma vez que encontramos pessoas condenando ou absolvendo sem nenhum conhecimento efetivo do que acontece.
Todas estas reflexões surgiram de uma notícia que li no Jornal Estado de Minas. Na notícia dizia o seguinte: “O anúncio ocorre exatamente dois anos depois de o presidente esquerdista Evo Morales ter lançado o programa de nacionalização do gás e do petróleo. Ontem, o presidente esquerdista decretou a estatização do controle.........” (Estado de Minas, sexta-feira, 02 de maio de 2008, p. 13, Economia)
Por que o mesmo jornal, quando escreve sobre Ângela Merckel, não se refere à Primeira-ministra direitista da Alemanha ou ao Presidente direitista dos Estados Unidos, ou ainda, ao Presidente direitista da França?
O que é ser direitista e esquerdista? Eu aprendi que ser esquerdista pode ter muitos significados. Ser esquerdista foi inclusive uma crítica que socialistas e comunistas fizeram a movimentos inconsistentes da esquerda. Em um sentido menos rigoroso do ponto de vista histórico, para mim a direita representa egoísmo, individualismo, competição, desigualdade social e econômica enquanto a esquerda representa a busca de igualdade, solidariedade e a eliminação da ignorância, da opressão e da miséria.
Neste conceito, que bom que o presidente da Bolívia seja esquerdista.
Pode ser que não estejamos certos sobre o presidente da Bolívia, mas vale sempre a dúvida, pois a dúvida nos obriga a buscar respostas. Que bom duvidar, assim temos a chance de aprender. Você vai dar uma chance à dúvida, e procurar algo além das certezas que a grande mídia quer construir para todos nós?
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