Quanto vale sua empresa? E você?
Bem, todos estão dizendo que tudo está valendo menos. A Vale e a Petrobras estão valendo a metade, o mundo, até menos que isso. Bem, boa parte de quem faz esta avaliação é o mesmo pessoal que inventou as complicadíssimas operações financeiras que estão a ponto de quebrar o planeta.
Eu, como pessoa, continuo valendo a mesma coisa. Tudo o que sei fazer, que faço, continua o mesmo de antes da crise. Aliás, pensando bem, estou certo de que passei a valer mais ultimamente. Sim, por que já passei por momentos difíceis antes. Sei a quem recorrer: A Deus, que sempre me ajudou; aos valores internos, que sempre procurei seguir e que são um fundamento seguro em tempos de agitação e turbulência; à competência adquirida em estudo e nessa longa viagem; em disposição para trabalhar, sob quaisquer circunstâncias, para seguir em frente e não só alimentar os filhos, como também mudar o que eu puder da realidade, e para buscar sentido.
Eu valho mais na crise, porque continuo tendo o que sempre tive, porque na crise, durante ela, vão ser ainda mais necessárias as virtudes e atitudes que tenho, que fui obrigado a desenvolver para chegar até aqui. Cada vez que a Bolsa cai eu acordo valendo mais.
Não que eu não tenha medo da crise, tenho, me preocupo, é obvio, não sou um irresponsável. Apenas sei que com ela ou sem ela eu continuarei trabalhando e que as coisas que deram certo até hoje continuarão dando certo amanhã: fé, trabalho, dedicação, honestidade, dar mais do que é pedido, tratar os outros como gostaria de ser tratado. Isso funciona em qualquer cenário, mesmo naqueles (e talvez mais ainda naqueles) em que um grupo de pessoas age sem ética, querendo lucro exagerado, pensando apenas em seus próprios interesses e inventando ganhos sem o lastro do trabalho.
Fui criado num ambiente onde "a vida do homem não consiste na abundância dos bens que possui", onde se indaga aos meninos "de que adianta ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?", onde fé e trabalho são valores nos quais se acredita. Esse é um ambiente com menos glamour, luxo, lucros recordes, palavras e operações de nomes complicados... mas um ambiente que não perde valor quando as curvas do telão da Bolsa insistem em embicar para o chão.
Quanto maior a escuridão, maior diferença faz uma pequena chama. E fé, valores e trabalho são fogueiras acesas em meio a qualquer cenário. E a mente do homem é o primeiro dos cenários de decisão a respeito do que virá no amanhã.
Estou certo de que eu acordo valendo mais quanto maior for a crise. E as instituições e empresas onde estou não podem perder valor, listadas em Bolsa ou não, ao menos do ponto de vista do "valor" mais importante que existe.
Vamos vender menos? Há menos dinheiro em circulação? Tudo está mais barato? Ora, ora, ora, tempestades não são novidade para mim nem para as instituições e empresas onde trabalho. Continuarei a fazer as coisas como sempre fiz, e estaremos aqui depois dessa chuva... às vezes até por falta de opção, mas continuaremos a trabalhar e sabemos fazer isso.
O que determina meu valor não é o exterior, me recuso a acreditar que possa ser isso.
Viktor Frankl, um psicólogo que ficou anos nos campos de concentração da Alemanha nazista, nos quais perdeu toda sua família, foi obrigado a lidar com uma crise bem maior do que a nossa. No campo de concentração tudo está perdido, a família, a roupa do corpo, o emprego, o futuro, tudo. Todo o patrimônio e todas os direitos são desfeitos, confiscados. Fome, humilhação, medo, sofrimento e tortura são a regra.
Nesse cenário, bem pior do que o nosso de hoje, Frankl desenvolveu o que chamou de " a última liberdade humana", qual seja, a capacidade de "escolher a atitude pessoal que se assume diante de determinado conjunto de circunstâncias".
Este homem realizou sessões terapêuticas nos seus companheiros de prisão e um dos seus desafios era de "como despertar num paciente o sentimento de que é responsável por algo perante a vida, por mais duras que sejam as circunstâncias?". Para ele, "a vida tem um sentido potencial sob quaisquer circunstâncias, mesmo as mais miseráveis".
E logrou êxito ao provar sua tese numa situação tão extrema como a de um campo de concentração. A tese está em seu livro "Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração" (Ed. Vozes, 2008), de onde saíram as citações deste parágrafo (pp.7-10).
Se continuar tendo fé e trabalhando, adquirindo conhecimento e experiência, seguindo valores éticos e pessoais que sejam seguros, em 2009 estarei valendo mais do que em 2008. Não poderei dizer se isso dará mais ou menos que o CDI, o Dólar, o Euro, o ouro. Sei apenas que são referências que não se apequenam diante das crises, ao contrário.
Como diz o próprio Frankl (ob. cit, p. 10), sucesso e felicidade, e acrescentaria ainda riqueza e dinheiro – ao menos para serem obtidos de modo seguro –, têm um segredo. Para ele quanto mais se procura o sucesso e o transformamos em um alvo, maior a chance de errar. "O sucesso, como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior do que a pessoa, ou como subproduto da rendição pessoal a outro ser. A felicidade deve acontecer naturalmente, e o mesmo ocorre com o sucesso; vocês precisam deixá-lo acontecer não se preocupando com ele. Quero que vocês escutem o que sua consciência diz que devem fazer e coloquem-no em prática da melhor maneira possível. E então vocês verão que a longo prazo- estou dizendo a longo prazo! - o sucesso vai persegui-los, precisamente porque vocês esqueceram de pensar nele".
Esta é uma boa fórmula para 2009: dedicarmo-nos a uma causa maior, seguirmos a consciência e fazermos as coisas da melhor maneira possível. A longo prazo, isto terá como efeito colateral, como subproduto: sucesso, felicidade, riqueza, paz de espírito.
A crise atual é efeito colateral e subproduto de atitudes, valores e comportamentos equivocados e pode nos atingir, assim como o campo de concentração e o nazismo atingiram Frankl. Mas, como ele, dispomos da "última liberdade humana", de atitudes, valores e comportamentos alternativos, que servem de rumo, garantia e salvaguarda. Por isso, cada vez que a Bolsa cai, quem tem valores sólidos e está trabalhando, acorda valendo mais.
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