Sejamos honestos: estamos atravessando um momento econômico comparável à década perdida dos anos de 1980 e um momento político similar ao vivenciado no início dos anos de 1990.
Do ponto de vista econômico, vamos acabar com esta balela de que falar em crise é sinônimo de pessimismo ou mau humor. Também vamos colocar de lado a retórica de que crise é sinal de oportunidade, ainda que evidentemente alguns setores possam se beneficiar desta conjuntura. O clichê do momento é a frase da obra de Nizan Guanaes: “Enquanto eles choram, eu vendo lenços”. O problema é que falta capital para fabricar lenços e faltam compradores para o produto.
Estamos diante de uma autêntica estagflação, ou seja, retração econômica, com projeção de queda do PIB entre 1 e 2% neste ano, associada à elevação dos índices de desemprego e uma inflação galopante decorrente de aumento das tarifas públicas e desvalorização do real. Na verdade, estamos colhendo os frutos de nossa baixa competitividade ocasionada pela conjunção de três fatores fundamentais: elevada tributação, falta de infraestrutura e baixa produtividade.
Temos uma carga tributária da ordem de 36% do PIB, uma das maiores do mundo, porém sem as devidas contrapartidas do ponto de vista da prestação de serviços públicos. Segundo o Portal Tributário, são 92 tipos de impostos, contribuições ou taxas. O cidadão de baixa renda acredita que não paga impostos por não sofrer retenção de IR no holerite, mas não sabe que um medicamento é tributado em 34%, um shampoo contém 44% de imposto, e um saco de arroz ou de feijão outros 17%, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT).
Nossa infraestrutura é precária. É fácil culpar a falta de chuvas para justificar a crise hídrica. E só não sofremos um apagão elétrico devido à queda na atividade econômica. Transportamos cargas por via rodoviária quando poderíamos ter adotado hidrovias ou o transporte ferroviário. Um importador demora três dias para ser informado do desembarque de sua carga no porto. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 55% dos brasileiros são atendidos por rede de esgoto. Falta-nos planejamento para otimização de recursos.
Já a produtividade é lastimável graças à educação medíocre que despeja uma legião de analfabetos funcionais no mercado de trabalho. Apenas para exemplificar, segundo relatório do Conference Board, organização que reúne mais de 1200 empresas de 60 países, um trabalhador norte-americano produz o equivalente a quatro brasileiros. É preciso dizer algo mais?
Sob a ótica política, façamos uma análise lúcida e apartidária. A atual presidente não tem maioria no Congresso, conta com apenas 10% de taxa de aprovação e está pagando o preço dos ajustes postergados no passado para garantir sua reeleição. Já a oposição continua em busca de um “Fiat Elba” (alusão ao estopim que levou à queda de Fernando Collor em 1990, muito diferente dos Porsche, Ferrari e Lamborghini apreendidos recentemente) capaz de endossar juridicamente um pedido de impeachment ao mesmo tempo em que não demonstra interesse em acelerar tal processo, pois quanto mais a crise se aprofundar, maior será o desgaste do atual governo, elevando as possibilidades de êxito nos próximos pleitos – a começar pelas eleições municipais do próximo ano.
Acrescente a este receituário outros fatores como a queda no preço das commodities, aumento do dólar, a bomba-relógio da previdência social, os reajustes do funcionalismo público e a crise de valores.
Diante deste cenário, não há boas perspectivas no curto prazo. As ações para reversão deste quadro dependem da superação do egoísmo e da vaidade política que assola este país. É necessária uma coalizão nacional capaz de promover as mudanças minimamente necessárias para que possamos começar a colher os resultados em 2017 ou 2018. O grande equívoco é esperar que as coisas resolvam-se por si mesmas, acreditando que, definitivamente, Deus é brasileiro...
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